sexta-feira, 30 de novembro de 2012

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Me Deixas Louca

Elis Regina





Me Deixas Louca
Elis Regina


Quando caminho pela rua lado a lado com você
Me deixas louca
E quando escuto o som alegre do teu riso
Que me dá tanta alegria
Me deixas louca

Me deixas louca quando vejo mais um dia
Pouco a pouco entardecer
E chega a hora de ir pro quarto escutar
As coisas lindas que começas a dizer
Me deixas louca

Quando me pedes por favor que nossa lâmpada se apague
Me deixas louca
Quando transmites o calor de tuas mãos
Pro meu corpo que te espera
Me deixas louca

E quando sinto que teus braços se cruzaram em minhas costas
Desaparecem as palavras
Outros sons enchem o espaço
Você me abraça, a noite passa
E me deixas louca


Composição: Armando Manzanero / Versão: Paulo Coelho



quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O Tempo e o Vento

Érico Veríssimo

(Cruz Alta, 17 de dezembro de 1905 — Porto Alegre, 28 de novembro de 1975)
37 anos depois

Veríssmo, Érico: O Tempo e o Vento / O Continente, segundo tomo
    Érico Lopes Veríssmo. - Porto Alegre: Editora Globo, 1962.













terça-feira, 27 de novembro de 2012

Maria Rita canta Elis


Como nossos pais




Fascinação e Romaria




Águas de Março




Se eu quiser falar com Deus






Saudosa Maloca




Mamãe no Face

Zeca Baleiro





Mamãe No Face
Zeca Baleiro


Mamãe
Eu fiz o disco do ano
E até mesmo Caetano
Parece que aprovou
Mamãe
Eu sigo na minha rota
Veja só o Nelson Motta
Disse que o dico é show

Só falta
Que a Folha de São Paulo
Começe a incensá-lo
Dizer que eu sou o cara
Ou então
Que os rapazes da Veja
Me chamem pruma cerveja
Veja só que coisa rara

Mamãe
Não sou mainstream nem sou cult
Meu som assim vapt vupt
Caiu na boca do povo
Mamãe
É bom ser experiente
Ainda mais independente
Não ser velho nem novo

Só falta
Ser capa da Rolling Stone
O hype dos ringtones
O megahit no youtube
E as
Cantoras que há de sobra
Festejarão minha obra
Não saio mais desse clube

Mamãe
Eu fiz o disco do ano
Parece até que o hermano
Falou bem do Piauí
Mamãe
O fato é que eu tô na moda
Mamãe eu fiz um disco foda
Faz um download e ouve aí



Zeca Baleiro - O Disco do Ano (CD completo - 2012)


domingo, 25 de novembro de 2012

Sarau da bíblia


Ensaio 18
baitasar

Abriu com lerdice frouxa os olhos, sentia uma carícia misteriosa, diferente talvez, uma meiguice inacessível, o lugar estava às escuras, mas não era o sombrio nanquim do lugar que o incomodava, não escutava os barulhos do dia acordando, não ouvia o rangido das roldanas nos trilhos do trem, a situação produzia um embaraçoso e perturbador incômodo em Sèzar: o gosto da obediência ao mesmo jeito que sempre foi. Caber no lugar, ter alguém que pudesse lhe dizer onde está — O absurdo é inútil...
Queria os desejos da Adelaide voltados para ele, como as flores se abrem, exalando o seu perfume e os seus amores. Tinha algo em carne-viva, além do gosto amargo que lhe subia da garganta e deixava a saliva grossa e grudenta. A língua entorpecida por tanta amargura diminuiu a força e o ímpeto para dizer uma prece, qualquer que fosse, para se salvar, mas não o impediu de dizer amém, Eu sou para minha amada, e os seus desejos voltam-se para mim. Vem minha amada, saiamos para o campo, passemos a noite nos pomares; madrugaremos para ir às vinhas, e ver se a vinha lançou seus rebentos, se as suas flores se abrem, se as romãzeiras estão em flor, ali te darei os meus amores. As mandrágoras exalam o seu perfume; e temos à nossa porta frutos excelentes, novos e velhos, que guardei para ti, minha amada.
Depois fechou o Livro.
Sèzar se apressa, ele sabe que o encantamento irá desinchando com o clareamento da noite — Sempre fico esperando que fiques, não vá embora, e sempre acontece... você se vai. Não será nunca? — está sentado na beirada do abismo, com as costas voltadas à mulher tapada pela névoa do escurecimento, deitada retorcida, enviesada sobre os lençóis brancos, engolida, esparramada, depois encolhida de novo. Volta o olhar, Adelaide sempre o surpreende com seus jeitos de se mostrar, ali, aberta aos seus olhos, perna sobre a outra, encolhidas, um quadril sobre o outro, de lado, os braços estendidos acima da cabeça, de frente, não pode ver seus olhos, mas aquela aquarela o convidava para ficar, sempre mais um pouco, até não partir mais, os pés procuram os chinelos — Meu Deus, como você é linda... e o encantamento acaba quando amanhece. — ela permanece imóvel, respira junto com o pequeno apartamento, mergulhada em memórias, em cheiros da saudade, os olhares mais tristes que já pode ver
—        Sèzar, estou cansada de gente complicada, vai até o banheiro tirar o amargo da boca e volta pra mim, ou sai e não volta mais. — ele caminha no pequeno apartamento até o quarto dos banhos, se vê pela luz do amanhecimento nas frestas, sente como se uma sinfonia lhe tivesse estourando os ouvidos, torturando com sua beleza delirante, as harmonias infinitas decifradas das cifras dos deuses. Adelaide o chama, pede que ele monte como se fosse cavalgar — Quero fazer uma pergunta...
Ele já está sentado, parece pedir um milagre para consertar tudo — Pergunte... — quem sabe uma pergunta para consertar tudo ele precise ouvir
—        Sèzar, eu sou a tua cela? — não sabe o que responder — Ou a tua sela?
—        Que ideia... de onde você tirou isso?
—        Num ônibus... num trem... na puta que o pariu... apenas responde...
O incenso envolve os dois naquela névoa, como um labirinto de recordações.
Saiu da cama procurando por uma saída, não estava no pequeno apartamento, não lembrava onde estava, procurava um rastro, um perfume, um amor deixado para trás. Espremia os olhos, mas a penumbra continuava forçando o clareamento do dia para fora do quarto — Bom dia, meu amigo.
Sèzar para no meio da passagem, seja o que for esse caminho, reconheceu aquela voz, voltou-se, espremendo os olhos, arreganhando os ouvidos, uma pequena sombra embaraçada parecia elevar-se da cama, durante aquele eclipse da memória, fechou os olhos, contou até dez, lentamente, assim ajudava clarear a mente e os olhos, consertou a respiração apressada, abriu os olhos, lá estava o anão, em pé na cama, a árvore nua, sem disfarces. Sentiu um pequeno e desconcertante pavor, não conseguia lembrar qualquer cerimônia que tenha participado para purificar o corpo. Não encontrava nenhuma motivação oculta para acordar nu com aquele anãozinho preto, na mesma cama. Não podia ser apenas coincidência num sonho, talvez Moriá tenha lhe aplicado à teoria da árvore do esquecimento, Será que eu esqueci que sou um macho? Meu Deus, não fica nada bem, isso tudo, eu sou um macho alfa.
Enquanto procurava desesperado despertar a memória, sua carne e seus ossos despertavam do que parecia ter sido uma noite selvagem. Andou até uma janela — Não dá pra abrir, temos abelhas nessa janela, se você abre as abelhas entram. — o aviso do anão o fez recuar, tem alergia à picada de insetos. Não gosta de picadas e isso o tem salvado, por enquanto. Queria encontrar uma árvore, essa tal de baobá, e caminhar no outro sentido, na sua volta, fazer da árvore do esquecimento a árvore da memória.
Tinha medo da pergunta que precisava fazer, ninguém viria salvar ninguém, não sabia, havia dias, nenhuma notícia da Adelaide, a única com chance de ajudar, Por que acordamos na mesma cama, parecia que caminhos misteriosos me levavam exatamente àquilo que eu procurava fugir.
A campainha da porta explodiu seu aviso estridente. Os dois se olharam, mudos e desconfiados, não iriam atender o chamado da campainha. Outro esbarrão do dedo na campainha, outro chamado, e mais outro, e outro — Meu amigo, vá ver o que se passa.
—        Nem pensar!
—        Os meus trajes não são adequados.
—        E os meus são? Nu em pelo. Além disso, é a casa do anão, o dono recebe as visitas, não é o visitante que se faz de dono.
Outro chamado
—        ¿Nadie va a ver quién está tocando el timbre maldito? — era a moça que Sèzar conheceu apenas com uma coisinha. A rapariga que estava sentada na cama, emergiu dos lençóis enrugados — É o que estamos tentando decidir.
A moça levantou da cama, Sèzar reparou que ela estava sem a coisinha que a tapava toda — Onde você vai?
—        Hasta que la puerta. — ela respondeu como se fosse o ato mais natural do mundo ir até a porta da campainha — Assim, nesses trajes... Maiami... — o anão se deu conta do ridículo da advertência, não havia traje algum, a Maiami, fosse quem fosse, estava pelada. Sem pelos é estar pelada... ela estava pelada. Sèzar e o anão estavam nus. É diferente. A Maiami não era preta, nem negra era, o nome era uma camuflagem, tinha a cor vermelha aborígene, cabia em qualquer lugar das Américas, desde que soubesse o seu lugar.
Aquilo tudo, em parte, diminuiu a necessidade de muitas perguntas, Quem é essa moça, não que isso lhe importasse em demasia, mas era o mínimo que lhe ocorria, à medida que algumas memórias da noite se mostravam fantásticas, descontroladas, ardentes e desencontradas.
Outro chamado.
—        ¡Carajo! Estas personas no se dan por vencidos...
O anão fez gesto de silêncio. A Maiami procurou algo entre os panos da cama — ¡Lo encontré! — enfiou as pernas, uma depois da outra, naquela coisinha e subiu até as virilhas — Pronto, agora vá mocinha.
Ordem dada, ordem obedecida. Saiu do quarto. Ouviram o abrir das fechaduras, depois sussurros e a porta se fechando. Os passos da moça se aproximavam — Voy a hacer café... ¿Quién más quiere?
Os dois continuavam parados no quarto, no mesmo lugar, esperando a resposta para tanta impertinência
—        Quem era? — quis saber o anão
—        ¿Usted no se va a usar? — advertiu que os encantamentos dos espíritos de la Montaña se vão com o amanhecido... e o que foi formoso fica sem propósito — ... erguido como una gota, una disminución... — a moça reconhecia que as cores da noite e a penumbra despiam as máscaras usadas como filtros do sol, os brilhos do abajur escondem, o deus Apolo revela. O anão deixou o sorriso escapar-lhe como a fumaça do cigarro se escapa da boca até desaparecer — O que se passou na porta? Quem era?
—        Dos señoras con muchos vestidos, largos y cerrados, sosteniendo una biblia cada uno.
—        Devagar, devagar, a mocinha mistura um pouco de tudo quando fala muito rápido. Então...
—        No se. — quando ela abriu a porta, as duas fizeram o sinal da cruz, uma ofereceu a bíblia à Maiami porque ela precisava rezar muito. E foram embora.
A moça largou o Livro sob a cama e foi para o banho, o café ficava para depois. O anão parecia se divertir com o constrangimento do amigo, já vestido com sua cueca e meias.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A Árvore do Esquecimento

Museu AfroBrasil - Ritos e Ancestralidade




Este interessante vídeo nos apresenta uma das abordagens feitas no Museu AfroBrasil de São Paulo, o ritual da árvore do esquecimento, o Baobá é uma dessas instigantes abordagens que nos oferece a reflexão de que é impossível um indivíduo se esquecer de suas origens e principalmente de sua identidade cultural, porque muitos prisioneiros africanos ao chegar aqui no Brasil conseguiram plantar os seus costumes, costumes esses que são cultivados através de algumas palavras, gestos, danças, entre outros que fazem parte da nossa identidade cultural.

O Baobá africano







quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Lavagem cerebral

Gabriel - O Pensador





Lavagem Cerebral
Gabriel O Pensador



Racismo preconceito e discriminação em geral
É uma burrice coletiva sem explicação
Afinal que justificativa você me dá para um povo que precisa de união
Mas demonstra claramente
Infelizmente
Preconceitos mil
De naturezas diferentes
Mostrando que essa gente
Essa gente do Brasil é muito burra
E não enxerga um palmo à sua frente
Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente
Eliminando da mente todo o preconceito
E não agindo com a burrice estampada no peito
A "elite" que devia dar um bom exemplo
É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento
Num complexo de superioridade infantil
Ou justificando um sistema de relação servil
E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação
Não tem a união e não vê a solução da questão
Que por incrível que pareça está em nossas mãos
Só precisamos de uma reformulação geral
Uma espécie de lavagem cerebral

Não seja um imbecil
Não seja um ignorante
Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante
O quê que importa se ele é nordestino e você não?
O quê que importa se ele é preto e você é branco?
Aliás branco no Brasil é difícil, porque no Brasil somos todos mestiços
Se você discorda então olhe pra trás
Olhe a nossa história
Os nossos ancestrais
O Brasil colonial não era igual a Portugal
A raiz do meu país era multirracial
Tinha índio, branco, amarelo, preto
Nascemos da mistura então porque o preconceito?
Barrigas cresceram
O tempo passou...
Nasceram os brasileiros cada um com a sua cor
Uns com a pele clara outros mais escura
Mas todos viemos da mesma mistura
Então presta atenção nessa sua babaquice
Pois como eu já disse racismo é burrice
Dê a ignorância um ponto final:
Faça uma lavagem cerebral

Negro e nordestino constroem seu chão
Trabalhador da construção civil conhecido como peão
No Brasil o mesmo negro que constrói o seu apartamento ou que lava o chão de uma delegacia
É revistado e humilhado por um guarda nojento que ainda recebe o salário e o pão de cada dia graças ao negro, ao nordestino e a todos nós
Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói
O preconceito é uma coisa sem sentido
Tire a burrice do peito e me dê ouvidos
Me responda se você discriminaria
Um sujeito com a cara do PC Farias
Não, você não faria isso não...
Você aprendeu que o preto é ladrão
Muitos negros roubam mas muitos são roubados
E cuidado com esse branco aí parado do seu lado
Porque se ele passa fome
Sabe como é:
Ele rouba e mata um homem
Seja você ou seja o Pelé
Você e o Pelé morreriam igual
Então que morra o preconceito e viva a união racial
Quero ver essa musica você aprender e fazer
A lavagem cerebral

O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista
É o que pensa que o racismo não existe
O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você
Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca
E desde sempre não para pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando
Qualquer tipo de racismo não se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural
Todo mundo é racista mas não sabe a razão
Então eu digo meu irmão
Seja do povão ou da "elite"
Não participe
Pois como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice

E se você é mais um burro
Não me leve a mal
É hora de fazer uma lavagem cerebral
Mas isso é compromisso seu
Eu nem vou me meter
Quem vai lavar a sua mente não sou eu
É você

O Almirante Negro

João Cândido - 22 de novembro de 1910

Não foi o primeiro nem será o último líder popular a ser condenado pelo domínio dos fatos...

Vamos por partes:

1ª parte

O Almirante Negro vira Navegante Negro, isso tudo lá pelos anos de 1973





2ª parte

A verdade histórica sendo restabelecida depois de 100(?) anos...

"Almirante Negro"
- (O Mestre-Sala Dos Mares) - letra sem censura, em 20/agosto/2010 (Rio-RJ)




O Mestre-Sala dos Mares (título liberado)

Compositores: Aldir Blanc e João Bosco
Ano: 1973


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"ALMIRANTE NEGRO" (Título original)
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(Letra original)

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a história não esqueceu

Conhecido como Almirante Negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar, na alegria das fragatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas jorravam das costas
dos negros pelas pontas das chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que a exemplo do marinheiro gritava - não!

Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias

Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais

Salve o Almirante Negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo...

3ª parte

O negro rebelado que virou Almirante Negro, depois de 100 anos vira novela (perderam(?) o centenário da Revolta da Chibata). Será interessante observar como a teoria do domínio dos fatos aparecerá na preguiça histórica ou liberdade poética do autor.

Não entenderam?

As aulas de história... tão importantes...

João Cândido anistiado na Revolta da Chibata é preso e condenado por participar da Revolta da Ilha das Cobras (não participou, mas as provas não eram necessárias, apenas o domínio dos fatos)


Revolta da Chibata - De Lá Pra Cá - 28/03/2010












Esse pedacinho o baitasar foi buscar na enciclopédia livre Wikipédia

Revolta da Chibata

Ver artigo principal: Revolta da Chibata

No dia 22 de novembro de 1910, João Cândido, ao assumir, por indicação dos demais líderes, o comando do Minas Gerais e de toda a esquadra revoltada, controla o motim, faz cessar as mortes, e envia radiogramas pleiteando a abolição dos castigos corporais na Marinha de Guerra brasileira. Foi designado à época, pela imprensa, como Almirante Negro. Por quatro dias, os navios de guerra Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro apontaram os seus canhões para a Capital Federal. No ultimato dirigido ao Presidente Hermes da Fonseca, os revoltosos declararam: "Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na Marinha brasileira". A rebelião terminou com o compromisso do governo federal em acabar com o emprego da chibata na Marinha e de conceder anistia aos revoltosos. Entretanto, no dia seguinte ao desarmamento dos navios rebelados, dia 27, o governo promulgou em 28 de novembro um decreto permitindo a expulsão de marinheiros que representassem risco, o que era um nítida quebra de palavra, uma traição do texto da lei de anistia aprovada no dia 25 pelo Senado da República e sancionada pelo presidente Hermes da Fonseca, conforme publicação no diário oficial de 26 de Novembro, levado ao Minas Gerais pelo capitão Pereira Leite.

Expulsão da Marinha

Pouco tempo depois do decreto que quebrou a anistia e de boatos de que o Exército iria se vingar dos marinheiros, houve a eclosão de um novo motim entre os fuzileiros navais, ligados à Marinha, no quartel da ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, em 9 de Dezembro de 1910. Não tinha ligação com a Revolta da Chibata, nada exigia, não tinha qualquer organização. Durante o dia 10 o motim foi reprimido pelas autoridades, Marinha e Governo, com um bombardeio implacável sobre pouco mais de duas centenas de amotinados ilhados (na Revolta da Chibata eram 2.379 homens, 3 encouraçados e um cruzador, alvos móveis e fortemente armados), e serviu de justificativa para Hermes da Fonseca demandar e obter do Senado aprovação do estado de sítio (lei marcial) neste mesmo dia. João Cândido chegou a ordenar tiro de canhão sobre os marinheiros-fuzileiros amotinados na Ilha das Cobras para provar sua lealdade ao governo. Mas de nada adiantou. Com o estado de sítio, centenas de marinheiros foram dados como mortos ou desaparecidos e 2000 marinheiros foram expulsos da Marinha. Nove foram fuzilados a bordo do Navio Satélite, que levava 105 marinheiros rebeldes para serem jogados nos seringais do Acre, destino dos 96 que lá ainda chegaram vivos.

Apesar de não haver participado da conspiração (se é que houve) deste segundo levante, João Cândido foi expulso da Marinha, sob a falsa acusação de ter favorecido os fuzileiros rebeldes. Foi preso em 13 de Dezembro no quartel do exército, e transferido no dia de natal (24 de dezembro de 1910) para uma masmorra na Ilha das Cobras, onde 16 de seus 17 companheiros de cela morreram asfixiados. Em abril de 1911 foi transferido para oHospital dos Alienados, como louco, mas recebeu alta e voltou para a Ilha das Cobras, de onde foi solto em 1912, absolvido das acusações juntamente com nove companheiros. À época, o seu defensor foi o rábula Evaristo de Moraes, contratado pela Ordem de Nossa Senhora do Rosário e dos Homens Pretos, que declinou o recebimento dos honorários que lhe eram devidos.

Banido da Marinha, João Cândido sofreu grandes privações, vivendo precariamente, trabalhando como estivador e descarregando peixes na Praça XV, no centro do Rio de Janeiro.

De acordo com a sua ficha, nos quinze anos em que permaneceu na Marinha, foi castigado em nove ocasiões, preso entre dois a quatro dias em celas solitárias "a pão e água", além de ter sido duas vezes rebaixado de cabo a marinheiro. A sua ficha registra ainda dez elogios por bom comportamento nos últimos três meses antes da revolta.

A sua vida pessoal foi profundamente abalada pelo suicídio de sua segunda esposa (1928). Em 1930 foi novamente detido, acusado de subversão.






Nota com o rodapé: o baitasar adulterou a ordem das partes, afinal, tudo começa com João Cândido, na Revolta da Chibata, mas parece que não gostamos muito da história (desconfiamos das bocas e canetas envesgadas?), apreciamos conhecer essas estórias através da música, das novelas, dos cinemas (como se os escritores e poetas não tivessem lado)... enfim, o baitasar gosta d'O Mestre-Sala dos Mares (título liberado), música do Aldir Blanc e João Bosco, com a Elis cantando, desde a sua primeira audição, ele não lembra o ano (nem tem importância), e depois, muitos anos depois, descobriu que o tal mestre-sala era o Almirante Negro (título original), uma outra história começou a ser cantada... começamos nossa pequena estória com Elis, o resto é apenas domínio dos fatos.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Feitoria

Giba Giba & Serrote Preto



Trabalhar até morrer...

Show "O Ronco do Bugio/2000" (Palcos da Vida - TVE).
Teatro de Câmara Túlio Piva - Porto Alegre.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Tempos modernos (1936)

Charlie Chaplin

Depois de um feriadão prolongado... a recomendação do baitasar são tempos modernos!



Modern Times, 1936 - Nesse filme não há meio termo, Chaplin realmente quis passar uma mensagem social. Cada cena é trabalhada para que a mensagem chegue verdadeiramente tal qual seja. E nada parece escapar: máquina tomando o lugar dos homens, as facilidades que levam a criminalidade, a escravização. O amor também surge, mas surge quase paternal: o de um vagabundo por uma menina de rua.

Um trabalhador de uma fábrica...Chaplin) tem um colapso nervoso por trabalhar de forma quase escrava. É levado para um hospital, e quando retorna para a "vida normal", para o barulho da cidade, encontra a fábrica já fechada. Vai em busca de outro destino, mas acaba se envolvendo numa confusão: ao ver uma jovem...Paulette) roubar um pão para comer, decide se entregar em seu lugar. Não dá certo, pois uma grã-fina tinha visto o que houve e entrega tudo. A prisão para ele parece ser o melhor local para se viver: tranqüilo, seguro e entre amigos. Mesmo assim, os dois acabam escapando e vão tentar a vida de outra maneira. A amizade que surge entre os dois é bela, porém não os alimenta. Ele tem que arrumar um emprego rapidamente.

Consegue um emprego numa outra fábrica, mas logo os operários entram em greve e ele mete-se novamente em perigo. No meio da confusão, encontra uma bandeira...vermelha), que julga ter caído de um caminhão e chama pelo dono, enquanto acena com ela. Um grupo de militantes surge atrás dele, e "junta-se" ao vagabundo. A polícia chega e o toma como líder. Vai preso ao jogar sem querer uma pedra na cabeça de um policial.

Paulette consegue trabalho como dançarina num music Hall e emprega seu amigo como garçom. Também não dá certo, e os dois seguem, numa estrada, rumo a mais aventuras.

domingo, 18 de novembro de 2012

Sarau na névoa sinuosa


Ensaio 17
baitasar


O anão abriu os braços e deu alguns passos na direção da voz misturada com a penumbra da casa, uma névoa escondida do espírito do sol, fechada de fora para dentro, imaginou o anão pedindo por ajuda, perdido naquela caverna de deuses, ninfas e pastores, Onde está o presente, onde ficou o passado
—        Hola, jefe ...
Estavam num túnel, uma luz atrofiada e abatida chegava daquele fim de tudo e desenhava um corpo com voz sensual, melodiosa, com cheiro moleque – uma luz no fim do túnel nem sempre é uma saída – Sèzar parou de chorar, firmou às vistas, como se estivesse entrando numa sala de cinema, às escuras, apertou os olhos, esfregou, mas, quem quer que fosse, continuava escondida na cautela da indefinição do seu pequeno apartamento, caminhando nua em sua direção, como se estivesse fluindo pelo ar daquele mistério de luz e neutralidade, se desvendava passo a passo, pequenos, um pé à frente do outro, por vez, os joelhos se tocam levemente, o pequeno vazio de luz entre as coxas era um vestígio por onde começar com a língua e a saliva grossa do desejo, as curvas do quadril, Sèzar sentia a voragem como um pé-de-vento dos pelos na sua boca, reunidos do entalhe das virilhas que se juntam e se abrem, o relento da noite, o pântano escorregadio, encharcado, o ventre, o cordão umbilical, a cintura moldada pelas mãos finaliza as curvas daquele quarto e sobem até os ombros, descem pelos braços longos, delicados, as mãos macias, atrevidas, quase juntas a ele, ergue uma das mãos, displicente, até os cabelos vaporosos, negros, desalinhados, como se estivessem ainda desacordados de uma longa noite de amores, olhos enviesados para baixo, um comedido sorriso de mistério e revelação, Sèzar endireita os olhos, vê os seios na Adelaide, pequenas cuias morenas, os bicos apontados para ele, derramando em suas mãos — Adelaide...
—        Ah, aí está você, amorzinho... — a luz daquele final de tudo desenhava uma mulher com contornos generosos, passos sinuosos — ... venha conhecer o meu amigo...
Sèzar tinha parado de chorar, se aquilo tudo fosse uma armadilha, Essa armadilha é muito gostosa, foda-se tudo mais, to nessa.
Sacudiu a cabeça, tentava afastar os maus presságios, estremeceu o corpo, avisava que estava pronto para o que vier a ser tudo aquilo
—        O que foi meu amigo?
—        Nada não, nada. — não era a diamba dando rebote de carência, o rapaz não controlou a língua, avançou o sinal da boa vizinhança, fez elogio de gostosura àquela aparição inesperada de mulher, um milagre da beleza escondida do espírito do sol, na névoa sinuosa da casa azulada
—        Meu amigo, essa é a Maiami...— sentia vontade que o anão parasse de se referir a ele, de dizer: ‘Meu amigo, meu amigo...’, afinal, tinham acabado de se conhecerem, não podiam e não deviam ser amigos, não tinham nada em comum, a começar pelo tamanho de um e do outro, não tinham lembranças juntos, não cresceram juntos – o anão ainda estava crescendo – não fazem academia juntos, não sofreram juntos, não riram juntos, não guardam segredos de um ou de outro, e além disso, acabou de conhecer a mulher do amigo, quer dizer, do amigo anão, não é isso, Eu quero comer essa... tira isso do pensamento. Mulher de amigo é como se fosse homem, amizade antes da beleza
—        Oi, eu sou o Sèzar. — cínico, a diamba não lhe roubou a boa educação, quase conseguiu fazer um fingimento de indiferença, quando a tal Maiami, mulher do seu novo quase amigo, rasgou com leveza o véu da penumbra usando só uma coisinha.

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Leia também: 
Ensaio 16 - Sarau da diamba 
Ensaio 18 - Sarau da bíblia

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Do fundo do meu coração

Adriana Calcanhotto




Do fundo do meu coração
Roberto e Erasmo Carlos

Eu, cada vez que vi você chegar,
Me fazer sorrir e me deixar
Decidido, eu disse nunca mais
Mas, novamente estúpido provei
Desse doce amargo quando eu sei
Cada volta sua o que me faz

Vi todo o meu orgulho em sua mão
Deslizar, se espatifar no chão
Vi o meu amor tratado assim
Mas, basta agora o que você me fez
Acabe com essa droga de uma vez
Não volte nunca mais pra mim

Mais uma vez aqui
Olhando as cicatrizes desse amor
Eu vou ficar aqui
E sei que vou chorar a mesma dor

Agora eu tenho que saber
O que é viver sem você

Eu, toda vez que vi você voltar,
Eu pensei que fosse pra ficar
E mais uma vez falei que 'sim'
Mas, já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

Mais uma vez aqui
Olhando as cicatrizes desse amor
Eu vou ficar aqui
E sei que vou chorar a mesma dor

Se você me perguntar se ainda é seu
Todo o meu amor, eu sei que eu
Certamente vou dizer que 'sim'
Mas, já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim


Fafá



Raça Negra



Erasmo e Adriana





Roberto Carlos - Do Fundo Do Meu Coração (1986)


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Sarau da diamba


Ensaio 16
baitasar
Enquanto o anão de nome Davi procurava as chaves da casa, entre resmungos e ofensas, pra si mesmo, Sèzar, que já se esvaziava dos efeitos devastadores da diamba, lançou um olhar curioso desconfiado à fachada descascada, a casa do seu novo amigo anão. Era possível perceber que os donos ou inquilinos da casa, com o passar dos anos e usos que fizeram dela, se preocuparam com a aparência cansada e o desbotamento das paredes, mas a cada nova pintura, o pintor, fosse quem fosse, não se dava o trabalho de retirar a tintura antiga, passava tinta nova por cima da velha, e as camadas descascadas ficavam como anotações do tempo, o velho e o novo que sempre vem, o mesmo jeito diferente, a casca dura como os anéis de crescimento das árvores.
Hoje, suas cascas de embelezamento estão descascadas, acabam por exumar o passado, revelando o véu das tintas que escondia o passado de muitas cores, até a medula dos alicerces. Vida extraordinária dessa casa que aloja vidas — Achei!
Por cima da túnica de tintas, uma cobertura azul, por certo, a última tentativa de reencontrar o vigor do passado, sem muita convicção, os tempos são outros, não são tempos de aspiração sutil dos domínios profundos dos espíritos, são tempos que exigem a confiança absurda e cega na devoção à fé — As chaves...
Logo abaixo da epiderme azulada descolorida e desbotada, se pode distinguir o amarelo. A cor amarela, possivelmente, se associa há um período de resplendor da casa, brilho, jovialidade, a alegria da sabedoria, através da razão e da lógica — ... encontrei as minhas chaves...
A camada seguinte, logo abaixo da amarela, é vermelha.
O vermelho pode indicar que os moradores estivessem procurando vida nova, sinalizando reinícios inéditos. Sèzar diminuiu a liberdade dos pensamentos ao perceber uma pequena mancha de tinta verde, O verde também faz parte da história destas paredes, pensou, enquanto imaginava as pessoas procurando a sua segurança e proteção: a liberdade, uma casa com harmonia e equilíbrio no mato, Mas não começou assim, está desconfiado que lhe falta a instalação, o tempo da fundação, pega o seu canivete - presente da Adelaide – e raspa aquela pequena amostra de tinta verde, não estava errado, viu surgir a cor laranja, que, por certo, deu bênçãos à vida, confiança e coragem, em tempos autoritários, esmagadores, desumanos — Vamos entrar... encontrou alguma coisa?
—        Apenas imaginando o passado das coisas. — aquelas paredes descascadas foram fundantes da tintometria, ciência inventada pelos resquícios da diamba no Sèzar, estimava a vida e a morte, a compra e a venda daquelas paredes, como as impressões digitais das suas cascas, vestígios das vidas sumidas, descascadas até o osso.
O anão enfiou a primeira chave na fechadura que fica na altura dos joelhos, depois ergueu-se na ponta dos pés e destravou a do meio — Pronto, meu amigo, aqui não tenho jardins, nem recuos, o amigo está entrando na casa erguida desde a escravidão dos pretos – era como ele imaginava pela quantidade de pele descascada
        O primeiro morador foi um capitão-do-mato, Nêgo Bagão, um preto liberto que vivia de caçar os pretos que sonhavam com a liberdade, era emprego do gosto dos brancos que tinham comprado os braços e as pernas dos pretos desembarcados, mas não conseguiam esfolar as assombrações das saudades, os pretos escravizados não deixavam das vidas de antes das correntes: os brancos tinham medo do incêndio que o preto fujão podia acender.
—        O preto caçando o preto desertor.
—        Ele sabia da sua importância de serventia para os brancos, nem tinha ilusão de boa vizinhança com os escravizados. Foi o começo do trágico serviço de pulícia que fez o preto emprisionar o preto, o disparo de estreia de pulícia na escravidão, que não teve mais fim.
Desde que o dinheiro foi inventado, investimento feito não pode virar prejuízo — Esse capitão-do-mato... como é mesmo o nome...
—        Nêgo Bagão.
—        Isso... esse Nêgo Bagão deve ter se tornado figura das mais importantes: cuidar das seguranças dos brancos no trato com os fujões.
—        Fazia juízo do fato e o decidido tava decidido. Foi um jeito de sobreviver com algum lucro.
—        E o prejuízo?
—        O jeito era entregar à desgraça alguns pretos e não perder os dedos. Afinal, para comprar mais anéis, bastava a chibata no lombo dos pretos.
—        Então, foi sujeito de fama.
—        A reputação pública de caçador do Nêgo Bagão vinha do serviço bem executado, conhecia como poucos a cabeça do fujão, desvendava os atalhos do mato.
—        Quantas histórias aqui dentro...
—        E lá fora... meu amigo, a notoriedade do Nêgo Bagão durou até a consciência negra enfrentar o patrão.
O visitador branco fez uma última olhação, antes de entrar nas suas entranhas históricas, ficou com a impressão desconfiada, um sexto sentido feminino, sensibilidade, resquícios da diamba, ou mania de procurar ver o que não aparece porque desapareceu, que a rua se juntou ao calçamento da calçada, quando a casa tinha a cor vermelha, depois, a calçada se grudou na casa, acabando com os recuos de jardins, no tempo da casa amarela. A rua e a calçada se alargavam sem muitas perguntas, comeram o jardim de mato, encostaram na única porta e janela de vista com a frente — É uma porta?
—        O quê?
—        Ali, ao lado, enterrada até a metade...
—        A entrada da senzala pra preto fujão que ficava cadeiado no porão, até acalmar. Tá sem uso faz um bom tempo... o portão do inferno. Mas, meu amigo, vamos entrar.
O bem-estar invisível da diamba, sensação alucinógena da iluminação, havia sumido, Sèzar voltava ao mundo comum da vida e da morte, e, por um breve instante, soube que estava entrando numa armadilha — Preta! Chegamos, vista alguma coisinha!
Com cada um é um jeito diferente, o Sèzar, quando evapora toda a diamba, acredita que está sendo perseguido. Fica nervoso, desconfiado, Merda, deve ser algum código: chegou mais um otário; saia de um pensamento para outro de um jeito letárgico, Estou encarcerado!
Um cabeludo desgovernado, um cometa em rota de colisão, perdido dos beijos e mãos da sua Adelaide – engraçada e triste essa mania das pessoas ficarem donas umas das outras - enrolado na fumaça da diamba. Sentou no chão e chorou, Eu paro, meu amor, a diamba não me domina, apenas pra relaxar... pra escrever.
O anão fechou a porta, uma penumbra cinzenta se enrolou nos pés do Sèzar. Um túnel. Apertou os olhos com força, baixou a cortina dos olhos se espremendo, assim acha que enxerga com mais clareza no escuro — Levante-se, meu amigo.
O anão tinha a voz de um anjo, mas não podia ser um anjo, nunca havia imaginado um anjo anão, nunca haviam imaginado um anjo preto. Nas aulas do catequizador, tempo anterior da primeira comunhão - estudo dos pré-requisitos da comunhão, abandonou os estudos assim que recebeu o boletim de aprovação: a hóstia, mas não pode deixar de visitas periódicas em casamentos, falecimentos, batizados... momentos de reunião familiar – jamais foi cogitado pelo catequista que anões e pretos fizessem parte do mundo angelical
—        Preta! Venha cá, dê um jeito de cumprimentar o meu amigo...

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Leia também:
Ensaio 15 - Sarau do anão 
Ensaio 17 - Sarau na névoa sinuosa

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A História do Samba


Contando a História do Samba

Santos, Elzelina Dóris dos.
       Contando a história do samba. / Elzelina Dóris dos Santos; coordenação de pesquisa: Marcos Antônio Cardoso; colaboração pedagógica: Edinéia Lopes Ferreira. - Belo Horizonte: Mazza Edições, 2003.
















Pelo Telefone - Donga



Baiano - Pelo telefone (1917)

domingo, 11 de novembro de 2012

Comprei o meu

Uma confraria de tolos

Começar a ler é fácil... o difícil é parar!

Toole, John Kennedy, 1937 - 1969
       Uma confraria de tolos / John Kennedy Toole; tradução de Alice Xavier. - 1ª ed. - Rio de janeiro: BestBolso, 2012.

Título original norte-americano:
A CONFEDERACY OF DUNGES

Copyright 1980 by Thelma D. Toole












sábado, 10 de novembro de 2012

Sarau do anão


Ensaio 15
baitasar

Livros são negócios que precisam vender, assim como a informação do jornal precisa alienar, se não tem vendição, por si só, o comerciante aplica um empurrão, que pode ser pequeno ou grande, o tamanho do empurrão vai depender da indecência e cara de pau do dono da banca — Esse seu livro, moço, nem com empurrão dos grandes!
—        Por quê?
—        Ninguém conhece o moço. A importância do moço é a mesma... vivo ou morto.
—        Mas é um romance histórico, é sobre o medo, a violência, o negro... a liberdade, a ditadu...
—        Espera, moço.
—        Qual a parte que o senhor não entendeu?
—        O moço é que não entendeu... não interessa o livro, ninguém conhece o moço. — àquela altura do monólogo percebeu que os dois estavam contracenando, mas o teatro estava vazio, as portas estavam fechadas, saiu até lá fora para ver o movimento das pessoas chegando, não havia pessoas chegando, a porta se fechou. Ele estava fora. Sèzar bateu uma, duas, três vezes, ou mais, não lembra, até que um porteiro abriu uma pequenina fresta e perguntou a senha. Ele não conhecia a senha
—        Deixe-me ver se entendi: um sujeito conhecido na locomotiva escreve bobagens, com jeito de sério, intelectual descolado, com os brilhos da submissão, fácil de entender, não se arrisca, vira sucesso de vendas, leitura obrigatória...
—        É isso, o livro precisa ser alienado, não pode virar estoque para as traças, são apenas negócios.
—        E essa gente toda com vontade, escrevendo como se fossem locomotivas descarriladas...
—        Os gênios vêm mesmo, cedo ou tarde saem das nuvens para chover. O problema são os medíocres desconhecidos...
—        E os editores medíocres?
Sèzar pegou seu manuscrito, aquele que o levaria a lista dos mais vendidos, o calhamaço estava no mesmo lugar, não foi mexido. Julgado pelas aparências da sua desimportância — Se o moço anda nu na rua, vira celebridade e tem seus quinze minutos de sucesso, mas escrever um livro... — um silêncio constrangedor entre o que podia, mas não queria, e o autor da peça literária — ... se o moço me permite um conselho... — claro, que ele permite, sim. Um pequeno sinal, qualquer coisa que lhe deixe ir em frente, uma possibilidade, uma esperança. Ganhar de volta a confiança para conseguir o que deseja. As pessoas precisam de ordens ligadas aos seus interesses, tendências, que os sábios as façam ver melhor os caminhos — ... moço, arrume um bom emprego, se case, tenha filhos, plante árvores...
—        Obrigado... seu filho-da-puta!
Saiu para a rua. Sentiu-se seguro enfiado na multidão, caminhando de um lugar nenhum para outro algum. Perdido. Desperdiçado. Esbanjado. Desconhecido. Parou por parar, numa esquina qualquer, ele mesmo era qualquer um, as pessoas não desviavam, levou trombadas, empurrões, não pareciam surpresas com mais um maluco parado, em pé, atrapalhando o seu ir e vir de cardume. Não era mais que outro idiota perturbado. Olhou para o seu manuscrito uma última vez, lançou tudo para o alto e saiu caminhando por dentro daquela enxurrada sem rosto, sem paladar, sem amorosidade, sem rabo. Não olhou para trás, o murmúrio da imaginação era melhor — O voo do romance que mudaria o mundo, que jamais seria lido. — lembrou o bilhete da Adelaide: “... voltar a tricotar”.
—        Dane-se o mundo da humanidade, não se importam com o ferro em brasa, com a carne viva marcada, tinham dono! — ele também teria um dono. Sentia falta da sanidade de estar com Adelaide, uma possibilidade de ser importante para alguém, um só alguém que fosse. Queria exercitar o seu egoísmo. Existem pessoas que transformam as roupas que usam em obras de arte, misturam simplicidade com brilho, são roupas inesquecíveis. Outras não precisam das roupas, elas são a própria arte, a perturbação da imaginação, o imagismo da estética, é quando os olhos ficam sem as palavras. Adelaide transforma penumbra em luz, preguiça em gozo, longe em perto.
Sèzar continua seguindo a turba: caminham, caminha, a mesma estrada. Ouve um ruído de freios, o cheiro da borracha arrastada pelo asfalto, tentando se agarrar, fazendo parar. Depois vieram as ameaças, os palavrões, olha para os lados, intui que é com ele. Não bastava se ignorado, agora a caravana queria a desforra. Está parado sozinho, em meio ao tráfego da outra caçada: os carros.
Parte do corpo da multidão se partiu, uma foi em frente e continua com seus passos apressados à frente, a outra parte, está parada, esperando o aviso para prosseguir. Se ele quer andar na multidão precisa reagir como mais um naquela enxurrada de corpos — Senhor Sèzar, temos interesse em publicar seu romance.
—        Verdade?
—        Gostamos do seu jeito de escrever. — o maluco do Sèzar não queria entrar em polêmicas desnecessárias, um jeito de escrever com lápis, mas sem borrachas — Ah... que bom... — gato escaldado não se atira em qualquer bacia com água
—        Quanto o senhor estaria disposto a investir?
—        Não entendi...
—        Tudo tem um custo. — o Sèzar paga. O editor edita e fica com o dinheiro. Entrega os livros para o Sèzar, ele sai pelo mundo vendendo, por isso, é bom ter amigos
—        Não tenho dinheiro, nem amigos.
—        Que pena... tenho certeza que seria um sucesso. — essa não foi a primeira nem a última porta que se fechou porque ele não tem amigos — Moço! — uma voz se repetia chamando o tal moço, era com ele, o moço era ele: Sèzar!
Na calçada, onde todos esperavam, um gigante gritava pelo tal de moço, que era ele — Cuidado, moço! — o gigante desceu da segurança daquele pedaço de chão, correu pelo asfalto até segurar na mão do Sèzar, um colosso de mão que o levou em segurança para o território da aglomeração. Vaias e aplausos eram ouvidos. Ele tivera seus quinze minutos de fama — Não sei o que me aconteceu...
—        Sonhando acordado, moço.
—        Sèzar... meu nome é Sèzar, e, na verdade, é um pesadelo, não é um sonho.
—        Esses atropelos nos acontecem, vez que outra.
—        Obrigado, senhor...
—        Davi.
—        Obrigado, senhor Davi. — o sinal para os pedestres libera a manada em segurança. Sèzar está indeciso, agora que tem os olhos abertos não sabe para onde ir — Davi, apenas Davi, um jornalista desempregado. — ele olha novamente para o salvador da mão gigante que se decompõem: um anão. O homem é um anão. Um homem anão negro. Estende a sua mão gigante que aperta a pequenina mão do anão

—        Sèzar, um escritor sem livro. — é bem isso, escritor sem livro publicado é o mesmo que estar desempregado, com as mesmas chances de um gigante ser um anão, um jornalista negro publicado, um escritor empregado, ali está os dois, a ficção que se muda com a realidade
—        Vamos até minha casa tomar umas cervejas.
—        Isso... uma cerveja, estou precisando de uma cerveja. — assim, já aproveita a casa do anão para passar à noite. Que vergonha! O anão fala sozinho durante o andamento. Ele vai pensando que a diamba já está se perdendo. Quando chegam e o anão o convida para entrar... a diamba já se perdeu. Sèzar não pode evitar um encrespo de remorso — Que bobagem eu fui fazer...

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Ensaio 14 - Sarau: ele são muitos, eles é um só 
Ensaio 16 - Sarau da diamba