terça-feira, 30 de abril de 2013

O Elogio da Loucura

Erasmo, Desidério

Ensaios Filosóficos

Erasmo, Desidério, 1467 - 1536.
           Elogio da Loucura/Desidério Erasmo; tradução de Paulo Neves. - Porto Alegre: L&PM, 2011.
















sábado, 27 de abril de 2013

Neinho, ocê faz a vida vivê

Ensaio 36
baitasar

—        E o avô não tinha desconfiança?
Ele nunca soube se sabia, não reclamô, e sabe como é, quem se cala é porque deixa o acontecimento virá acontecido, não dá importância, deixa o tempo vivê os dia tudo igual, muitos dia do mesmo jeito, descansando junto, tem vez que enjoava, mais sempre que sentia saudade das coisa que podia sê e não são, convocava a avó e fazia do uso um abuso. Nunca quis fazê do queixume razão da vida, nem da morte. A vida se vai com o que tem que sê ou deixô de sê, e no mais de tudo, gostava do uso que o João me dava, não tinha queixa do jeito. Achava que podia tê mais jeito de uso das sem-vergonhice, mais também era modo bom, a avó ficava com incomodação no pescoço, na nuca, mais um tempinho depois passava. O avô até que tentava se controlá, mais chegava num ponto que perdia o controle, gostava assim; o João ainda descontrolado deitava no lado da avó, um preto com refinamento de formosura que ficava mais saboroso de gosto. A avó se deliciava
—        O avô ficou feliz com a barriga da avó?
Não era homê resmungadô, nem marido com costume da desconfiança, não fazia perdição do tempo com falação dos outro, se não tinha assunto ficava silencioso, não disperdiçava o escutá da avó com os maus espírito da língua solta da cobra. Se a avó tava de barriga a cria era dele, e pronto, não era assunto pra desacordo, nem do interesse de ninguém mais. Acompanhô a Vandinha desde o primeiro anúncio do aparecimento. Num fez cena de desgosto, nem enredo de novelista. O amô era dilúvio no sangue, circulava pelo avô que ficava mais forte, passava a sê outro. De todo jeito, o contista sumiu das redondeza
—        O safado fugiu quando descobriu que a avó tava embuchada!
Não fale desse jeito, é um jeito que não ensinei: nunca falá dos outro sem conhecê as causa das pessoa, e mesmo assim, toma cuidado de não falá maldade, mesmo quando a maldade tá vestida de bondade
—        A avó ainda gosta, faz defensório do safado.
Moleque, acalma a língua. O teu avô não precisa do ajutório da tua língua destravada. A avó levô tempo de muitos ano prá acabá com os excesso da tristeza até conseguí rejuntá a vontade com o corpo, nem o distanciamento dos ano desmanchava as marca do carvão na pele da avó, nenhuma borracha apagava o escrito por dentro. A avó viveu o que precisava vivê. Foi escolha da avó. Mania ocês tem de fazê os home com mais importância que ocês tem.
A avó não quis desgrudá dum enquanto tinha o outro, dê ocê o nome que pudé pra esse jeito que a avó resolveu experimentá. E o neinho se achá de modo espalhá a not[icia, se considere livre de guardá qualqué segredo. Não gosto de nenhuma escravidão, nem da língua, mais o neinho precisa tê compromisso com as palavra da boca, o lugá onde tá acorrentada a serpente enganosa tá cheio com as língua da boa intenção
—        E a barriga da avó?
Os treis de antes e os dois de depois não fizeram nenhuma cena de incomodação na barriga da avó, nem quando foi preciso usá o caminho da saída, chegaram sem maior confusão. Mais a minha neinha do meio não se aquietô na barriga: pulô, virô, acho até que já tava de antemão nos ensaio pros baile. Mais se aquietava com a mão do João, assim, não precisei escolhê o pai, os dois já tinha feito escolha de um pelo outro. Foi o caso de me fazê pensá que tinha errado nas conta dos dia, já não tinha certeza dos dia pra trás, podia sê o João e bem podia sê o neto do neto do Capitão, mais não me faltava confiança com os dia pra frente, a Maria Socorro havia de sabê atendê tanto eu, como a minha criança
—        Quem é essa, avó?
A parteira dos nascimento...
—        Nunca ouvi falá.
Antes dos doutô tomá conta de fazê nascê, o serviço era no feitio das mão da Socorro. Só quando a hora não tava boa, tinha jeito de complicação, o doutô era chamado. Antes, o preparatório e o feito ficava nas mão da parteira. As moça da primeira vez tinha a confiança das mãe e as que procurava os serviço de repetição pra fazê nascê chegava com os olho fechado, sabia que a Socorro também sabia o que fazê. Os meu tão por aí, por causa das mão dessa santa mulhé que tinha iluminação da Santinha
—        E correu tudo bem?
Na hora do transitório, Maria Socorro anunciô, A criança sentô!, começô a choradeira, depois veio a correria. É sempre assim, na chegada da notícia ruim, o primeiro que se pensa é chorá, depois que a cantoria das lágrima espanta o medo, tem alguém que há de escolhê e perguntá, E agora, o que a gente faz?, O que dê pra sê feito ia sê feito pela Socorro, fiz o meu anúncio, Não há de sê nada, ela já vira a cabeça pra saída, foi a resposta da mulhé santa.
Era o tempo de dá tempo ao tempo.
O tempo se passô e a minha pretinha não se ajeitava. O teu avô queria corrê até o doutô, não deixei, não era hora, disse que tinha confiança na Socorro, Mais a situação tinha complicação que não valia corrê nenhum risco, falava o avô já mais nervoso que eu, Quem tá parindo sô eu, então, fico com a Socorro, o doutô não sabe rezá, nem pede ajuda, inté parece que pro doutô o dinheiro tem mais importância que a vida, E se o doutô sabe que não tem ninguém do outro lado escutando, não tem nada, Ele não sabe, respondi pro seu avô, mais tem, tem que sabê falá, tem que aprendê escutá, E se ele sabe que quando terminô... terminô, Ó João, isso lá é hora de desaconselhá, não tenho confiança em gente que não reza, só gosta de juntá dinheiro além do que precisa. Parece assombração de gente, os espírito tem muito pra ensiná, precisa sabê escutá, Ouviu João, precisa sabê escutá, O que eu sei melhó é enxergá
—        O doutor veio?
Não veio. Ninguém foi chamá, fiquei com a última palavra e perguntei, O que a Socorro acha, o tempo se passô e a minha criança não se colocô na saída, Minha filha, deixa com essas mão aqui, ela falava com os olho, parecia que já sabia de alguma coisa que os outro não sabia, Tô na sua mão, minha mãe. Fechei as vista, ela diminuiu as luz do quarto. A única luz que ficô vigiando foi essa daqui, ela ilumiô as nascença de todo fio, herdô o direito de ficá na cabeceira da cama até o fim que acabá com a avó. As coisa tem a vida das lembrança, mais não faz a vida vivê, ocê faz a vida vivê, não perde tempo de não sabê vivê.
A Socorro fez oração.
Mandô que eu precisava tomá muita água e esperá mais um pouco. Fazia o que a Socorro mandava, também rezava, modo de que, uma boa reza alargava as oportunidade da boa feitura. A verdade, é que o tamanho da dô só sabe quem tá sentindo.
A Socorro colocô as mão na redondeza da avó... apalpô, resmungô, até que começô a empurrá o meu bebê pra fora da barriga, com a conversa macia das mão. Um pouco rezava, outro tanto conversava, outro empurrava, o serviço do convencimento das mão da Socorro tinha ajuda da falação, sumariava assim, É preciso convencê o rebento não fazê resistência as mão, modo de fazê recuo e sê colocá na saída, outro tanto, é preciso rezá, pedí aos espírito de poupá a criançada, já hão de tê uma vida vivida de muita dureza, não carece de enxarcá a cabeça com mais sofrimento, peço pra eles deixá nascê, agarrá a vida, que os mais velho ofereça a generosidade, o gosto da nascença, vão conversando com a Socorro, Tô sentindo que a moleca qué ajudá, Eu te pari, ela vai criá, eu vô te tirá, em nome do Deus, do Pai, do Filho e do Espírito que é Santo, Tá doendo, Ela ajudô, tá na saída... agora, é com ocê, minha filha, Então, já tá feito, Toma a cachaça com arruda.
Tem aqueles que prefere à morte, tem medo de sê rejeitado, virá sobra, ficá só com a espera esperada da vida, mais tem aqueles que luta pela vida melhorada, se agarra no amô da família até inaugurá a soltura da imaginação. Os preto é uma só família
—        No fim, tudo acaba bem.
Isso tudo não é o fim, neinho, é só o começo. O umbigo curava com fumo e azeite de mamona, até caí. Tinha o resguardo de quarenta dia pra avó, nada de lavá a cabeça, carregá peso, varré a casa, nem tomá vento, quarenta noite abaixo de sopa, farinha de milho e caldo de galinha. No começo não fazia reclamação, depois enjoava
—        Mas era pro bem da avó...
Nem tudo que é pro bem tem gosto bão.

_______________

Leia também: 
Ensaio 35 - O lugá de respeito dos preto
Ensaio 37 - Amo ocê, avó... A avó sabe


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Pare, olhe, escute (seu coração)

Diana Ross & Marvin Gaye

Stop, look, listen to your heart





Pare, olhe, escute (seu coração)

[Marvin]

Você está sozinha o tempo todo
Isso nunca te surpreende?
Você já se perguntou por que
Parece se apaixonar frequentemente?
Você já amou de verdade
Ou apenas fingiu, oh, querida?
Por que se enganar?
Não tenha medo de se ajudar
Nunca é tarde demais, tarde demais para

Parar, olhar e escutar seu coração
Ouça o que ele diz
Pare, olhe e escute seu coração
Ouça o que ele diz
Amor, oh, amor, amor

[Diana]

Embora você tente, você não consegue esconder
Todas as coisas que sente de verdade
Dessa vez decida
Que você se abrirá, deixará entrar
Não há vergonha em se dividir o amor que você sente por dentro
Então se entregue
De ponta cabeça e apaixone-se
Nunca é tarde demais, tarde demais para

Parar, olhar e escutar seu coração
Ouça o que ele diz
Pare, olhe e escute seu coração
Ouça o que ele diz
Amor, amor, amor

[Ambos]
Querido, querido, pare e olhe
(Pare agora mesmo e preste atenção no seu coração)
Oh, preste atenção no seu coração, ouça o que ele está dizendo
(Você não vê que não é tarde demais)
Pare e olhe
E preste atenção no seu coração, ouça o que ele está dizendo

Pare e preste atenção no seu coração agora mesmo
(Pare, olhe)
(Preste atenção no seu coração, ouça o que ele está dizendo)
Oh, você não percebe que não é tarde demais
(Pare, olhe)
(Preste atenção no seu coração, ouça o que ele está dizendo)
Querido, pare e olhe
E preste atenção no seu coração, ouça o que ele está dizendo
Pare, amor
(Pare agora mesmo e preste atenção no seu coração)
E preste atenção no seu coração, ouça o que ele está dizendo
(Ooh, ooh, você não percebe que não é tarde demais)



Aretha Franklin

I say a little prayer




The moment I wake up
Before I put on my makeup
I say a little pray for you
While combing my hair now,
And wondering what dress to wear now,
I say a little prayer for you

Forever, and ever, you'll stay in my heart
and I will love you
Forever, and ever, we never will part
Oh, how I love you
Together, forever, that's how it must be
To live without you
Would only meen heartbreak for me.

I run for the bus, dear,
While riding I think of us, dear,
I say a little prayer for you.
At work I just take time
And all through my coffee break-time,
I say a little prayer for you.

Forever, and ever, you'll stay in my heart
and I will love you
Forever, and ever we never will part
Oh, how I'll love you
Together, forever, that's how it must be
To live without you
Would only mean heartbreak for me.

I say a little prayer for you

I say a little prayer for you

My darling believe me, ( beleive me)
For me there is no one but you!
Please love me too (answer his pray)
And I'm in love with you (answer his pray)
Answer my prayer now babe (answer his pray)

Forever, and ever, you'll stay in my heart
and I will love you
Forever, and ever we never will part
Oh, how I'll love you
Together, forever, that's how it must be
To live without you
Would only mean heartbreak for me (oooooooooh)

sábado, 20 de abril de 2013

O lugá de respeito dos preto


Ensaio 35
baitasar
Quando enfiei os olho na nêga, não conseguia nem deixá caí uma píscadela, menô que fosse, não queria perdê das vista, corrê o risco do sumiço, já fazia, no pouco que contava, cinco dia e noite correndo no encalço: chegava perto, ficava longe; brincadeira modo de cansá a teimosia do animal que ainda não foi domado, fazê perdê as esperança, assim não precisa usá da força mais que a necessidade. Mercadoria avariada não dava valô. A teimosia fez a nêga dormi em toca, pendurada em galho, comendo folha, virô bicho causo do atrevimento que carregava nas ideia. Ali, tava a mercadoria, a valentia amarrada no pescoço, via o sangue nas veia, as vista brilhava no escuro, parecia duas lua cheia
—        Ocê é a nêga Laetitia?
Nenhuma resposta com a língua, as vista examinava o mato, o corpo retesava, o sangue das veia corria e saltava, correnteza que não saia do redemoinho, como os preto que tentava fugi sem lugá pra escapá. A nêga forte e decidida ficô amarrada, mais assanhada de pulá no pescoço modo de quebrá, me arrancá o coração com os dente, enfiá as garra na carne até sobrá a carcaça abandonada, sem olhá pra trás, fugindo. Repeti a pergunta, até que o chicote da língua desenrolô das ideia, misturado com afobação da respiração que ia e voltava
—        Ocê é a nêga Laetitia?
—        E se fô?
—        Volta daqui, sendo ou não sendo.
—        Olho, e mais olho, até entendê como deve sê um embaraço pro preto acorrentá outro preto, fazê a aliança com o branco mais forte, como deve sê dificultoso pro preto sê branco, a terra dos preto tá sempre repegando ele, um preto que mente o que não é, não é preto nem é branco, acinzentô. A escravidão não é a natureza, um dia havia de acabá. É preciso escolhê o lado que tá na corda.
Dei puxão de aviso no aperto do pescoço, a corda aumentô o apetite, parecia que a nêga ficava mais metida, mais vaidosa, a beleza forte das mulhé da decisão. Não sei o como, nem o por quê, mais a nêga me parecia se arrumando pras festa da família, trançando os cabelo, os colorido dos pano, os fio de conta, as cantoria, o orgulho do futuro no quintal da casa. Puxei o aperto
—        Agora, ocê começa voltá no bem ou no mau, a nêga Laetitia escolhe.
A mulhé do outro lado da corda tinha as mão enfiada na terra, até onde a terra deixava. Quero lhe perguntá da sua vida, pegá na mão e levá na sombra da gerivá. Sabia que assim não ia sê
—        Antes de segui de volta, ocê me responda: é a natureza de ocê levá de volta os preto fujão? Quem tá preso nessa corda? Ocê ou eu?
—        Não sei o certo, mais a corda mostra quem manda, quem obedece. Se soltá a corda ocê continua fujona do dono de ocê.
—        Não tenho dono!
—        Ocê tem dono... tem dono, sim.
Dei outro puxão na corda e apontei a trilha da volta. Tava do lado certo da corda, tava do lado da lei que prende e manda soltá. O aperto no pescoço havia de fazê ela entendê que até a inteireza e a retidão tem dono. É preciso sobrevivê, escolhê um lado não adianta, é preciso escolhê o lado certo, o lado que vive
—        Covarde! Medroso!
—        É ocê que tá na ponta do laço.
—        Nada é pra sempre, nem ocê, nem eu, nem o laço.
—        Pode até sê, mais enquanto não se termina tudo, tenho um serviço que precisa de acabamento com a entrega da fujona. Nunca deixei de colocá qualqué mercadoria no lugá, não tenho extravio de preto, carrego todos de volta, não há de sê ocê que não volta.
Pergunto se tem precisão da tornozeleira de latão juntá os pé na corrente. Não responde que sim nem que não. Decido que não. Os pé acorrentado faz encumpridá a estrada. Amarro as mão nas costa com a corda do pescoço, a ponta continua na mão de quem obedece.
Foi assim que o avô do avô colocô as vista da vigilância na nêga Laetitia e carregô com puxão e empurrão até o casarão dos Canela Preta. O que fazê com aquela preta? O tempo com a aprisionada desmanchava a solidão, mais do que nunca ele queria que ela tivesse do seu lado. A presença da Laetitia pareceu revelá ao Capitão a verdade da sua vida deserta, disfarçada de branco. Um preto solitário de preto na volta. Ninguém. Um homem desabitado de conversa. Não tinha nenhum de vez enquanto em sua vida. Não era só a beleza da mulhé, o cheiro da fêmea, os formigamento...
—        Não fico com preto que laça preto.
—        Não sei fazê outra coisa.
—        Aprenda.
... ela lhe fazia pensá, mostrava um mundo que não precisava sê do jeito que é, emprestado pelos branco
—        Ocê não pode evitá a vida de vivê.
—        Nem ocê!
—        Mais posso ensiná que tem vez que a vida não é vida, é morte extraviada, ocê zanzando feito morto-vivo, esperando mais nada que a terra cobrí a carne fedida.
As memória daqui e de lá, que o avô do avô quis contá, se misturô com as saudade que deu jeito de alembrá. Até que o neto do neto encontrô o lugá do casarão que acobertô os seus pecado, chegô carregado das história, apaixonado com a memória
—        Esse foi o neto do neto de quem?
Neinho, pra trás do pai tudo é avô, pra frente do fio, tudo é neto. O atravessado podia sê o neto do neto do Capitão. Acho que maluquei, passava o dia, todo dia pensando, não, não era pensando, sentindo o tal Capitão. Parecia que tinha colado na avó, na casa, nas coisa. Um jeito muito estranho. O avô parecia enrolado na saudade.
Queria o amô que tinha do avô do avô.
Continuo sentindo os carinho, não saiu da cabeça, não saiu das raiz, não sabia o que fazê com isso tudo, queria ele aqui, parece que ele tá aqui. Eu e a nêga Laetitia.
Morro da saudade.
Os banho frio já nada resolvia, a vontade chegava num jeito de afogá o modo de respirá, a quentura na pele não tinha lugá, tava por todo lugá da nêga, por isso, saiu do poço. A escravidão foi uma ignorância que não se acabô no aterramento do esquecimento. As criança que vem depois não tem interesse de sabê, nem a professorinha sabe bem do que fala pra molecada. Não sabe que os branco tão nas mão dos preto, a puliça, o macumbeiro, o motorista do patrão, as babá. Nem os preto sabe que tem os branco nas mão. É isso, cabelo ruim ou tá armado ou tá preso. O neinho não acha graça?
—        Não gosto, é gracejo do branco pra ensinar o lugar do preto.
Até que pode sê essa vontade dos branco, mais os preto precisa enterrá a mentira dos branco fazendo do cabelo ruim o cabelo bom. Mostrá o encantamento das cabeça com penteado dos preto: trançado, adornado com búzio, com ouro, com a cabeça raspada, fazê da cabeça o lugá sagrado do corpo. O lugá de respeito dos preto.

______________________

Leia também: 
Ensaio 34 - A avó vestida só com uns arrepio

Ensaio 36 - Neinho, ocê faz a vida vivê


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Se eles são bonituuus... sou alãn deilõn

NEY MATOGROSSO

Balada do Louco





Balada Do Louco
Os Mutantes


Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz


Composição: Arnaldo Baptista / Rita Lee


Os Mutantes








quinta-feira, 18 de abril de 2013

Guerra de Canudos - É de novinho que se aprende que do chão não passa....

Criminalizando o que não entendemos...

(parte 18/18)

































........







_____________________________


Documentário : Quem não é padre, dá conselhos!


terça-feira, 16 de abril de 2013

Um tema anônimo, plural, folclórico

Atahualpa Yupanqui

Duerme negrito

todo niño negro deveria poder comer, provar... pena que a vida tem outras letras!




Duerme Negrito
Atahualpa Yupanqui


(Arrullo)

Duerme, duerme, negrito,
que tu mamá está en el campo,
negrito...

Te va a traer
codornices para ti.
Te va a traer
rica fruta para ti.
Te va a traer
carne de cerdo para ti.
Te va a traer
muchas cosas para ti
Y si el negro no se duerme,
viene el diablo blanco
y ¡zas! Le come la patita,
¡chacapumba!

Duerme, duerme, negrito,
que tu mamá está en el campo,
negrito...

Trabajando,
trabajando duramente,
trabajando sí.
Trabajando y no le pagan,
trabajando sí.
Trabajando y va tosiendo,
trabajando, sí.
Trabajando y va de luto,
trabajando sí.
Para el negrito chiquitito,
trabajando, sí.

Duramente, sí.
Va tosiendo, sí.
Va de luto, sí.
Duramente, sí

Duerme, duerme, negrito,
que tu mama está en el campo,
negrito...

Composição: recopilado - Atahualpa Yupanqui (música)


Mercedes Sosa - Duerme Negrito




sexta-feira, 12 de abril de 2013

A avó vestida só com uns arrepio


Ensaio 34
baitasar
Não pude vencê eu mesma, ficava com um pé lá, na ventania, outro cá, na calmaria, querendo os feitiços da caixinha das música com o Capitão, e os encantamento do avô pra modo de cria os dois moleque e a sapeca da Ana
—        A avó sofreu da miragem, eu sei como é, tenho alucinação com a professora da geografia, tem vez que tá onde não tá, outra vez, não tá onde parece que tá, e na vez que tá onde parece que tá... eu não tô. A miragem parece que nunca se junta com a vontade.
É mais fácil vivê sem o conforto da comida que vivê sem os dente, eles dão tapeação de boniteza, depois que se vão cai os cabelo e fica a vontade de fazê o mundo girá do contrário. A avó tava perdida na dúvida, queria o colo do enfeitiçamento e o regaço do conforto, tinha dois dono e duas vida, até que a sua tia Vanda enraizô e não queria desfazê o feito. Tive que escolhê um pai: fiquei com o que já tinha da certeza. Com o zelo nasce o recolhimento, um dia a avó vai sê assoprada da vida, não sobra nada além das história que se há de conta com aparência da verdade ou engano da mentira, isso não muda, as história tem cô, mais a maldade fica embaciada pela cabeça do vento
—        A avó tá de falação pra lá e cá, pra dá no jeito de não dizê que o avô não é o pai da tia?
Tô dizendo que pode sê e pode não sê, mais de todo jeito ele ficô de pai de toda cria que ma pariu, tinha os direito e os fato. Parecia que me fazia prenha pra me assegurá por aqui, sabia que eu não desistia de nenhum
—        E a tia sabia?
Nessa altura dos sentimento, filho é o criado e pai é o que criô, tem coisa que é como é, o jeito conserta o defeito. O neinho olha a avó com olho de estranhamento
—        Não sabia dessa avó...
Ninguém conhece ninguém, lá na fundeza da escuridão tudo é sozinho, se arriscá um palpite nem o próprio se conhece, parece até uma inutilidade ocê vivê e o outro não ou ocê não vivê e o outro não, mais alguém sempre há de vivê
—        A avó vai querer os bolinho frito?
Nunca recusei de fazê os bolinho, o neinho sabe modo do quê? Era o que a avó e o atravessado comia com café preto, forte e sem doçura. Toda vez que fazia, tava mais perto da latência. Na cama não conversava nenhuma prosa, só tinha palavra de desatino que provocava a vontade da gula, era quando os dois se ria da vida, arrancava os pecado e semeava na cama, sem as crença e os medo, sem os gemido da superstição, desaprendido dos queixume, era quando a avó desejava o que tinha. Depois, era a vez dos bolinho frito. O Capitão gostava que a avó fizesse cantoria do Cartola e do Noel, pena que a avó foi tê conhecimento do menino Lupi depois do sumiço do atrevido. Gostava de podê vê o sorriso do atentado enquanto o azeite dorava os bolinho e a avó cantasse o menino da Vingança, esse era um eita eita... neinho arretado de bão, Ocê sabe o que é tê um amô, meu senhô...
—        ...
... tê loucura por uma mulhé
e depois encontra esse amô, meu senhô
nos braço de um tipo qualqué
—        ...
Tinha certeza que depois me convidava pra sentá, pegava na mão da avó, tirava o aventá da avó e colocava dobradinho na cadeira sem estofado. A avó ficava vestida só com uns arrepio. Não desgrudava os olho da avó, era um tempo que a avó gostava de sê vista sem disfarce de roupa. Depois, muito tempo depois, essa ideia dava na avó muita preguiça...
—        É?
... como se fosse uma história cumprida que não se queria começá, isso tudo puxava muito da memória, chega num dia que nem tem mais da curiosidade do jeito que se termina. Os dois conversava, o café preto, os bolinho, aos pouco, pra modo de não assuntá, a avó sentia que as lembrança fazia entrada no sangue e reencarnava a borboleta, mais tarde, mais forte, voltava a sê eu mesma, outra vez dona de dois mundo, buscando a mesma vida, em silêncio
—        A avó ainda quer os bolinho frito?
Na mesa, as caneca de barro, um pequeno empurrãozinho e chega o tabuleiro com os bolinho frito. Coloco um na boca e dou risada, a quentura é da fervura do sangue, do tabuleiro da carne viva, das coisas fora das vista, um leve aperto dos dedo faz a soltura dos castelo no ar. Inda sinto o cheiro da sua boca quente e desavergonhada. Sentava com as costa no estofado encarando as suas vista. O atravessado levantava e vinha sentá no meu lado, enfiava o braço atravessado nos braço da avó e ajeitava a cara grande no ombro da avó, sentia um grande amargo na boca, Minha preta, tem vez que não consigo fazê a vontade se encontra com o corpo, Hoje, parece que o meu amô tá com o excesso da tristeza
—        A avó tá com a voz quente e macia.
É a voz das lembrança boa
—        A avó pode dizê como encontrou esse amor?
Não foi a avó que encontrô... foi ele que encontrô a avó.
Disse que vinha de modo a cumprí pedido do avô do avô: achá a nêga Laetitia e dizê que fez tudo pra voltá, a correnteza da escravidão foi mais forte e não deixô, mais ali tava ele de volta... não tava mais a caminho, tinha chegado.

____________________

Leia também: 

Ensaio 33 - A avó é um pedaço do acontecido 
Ensaio 35 - O lugá de respeito dos preto


sábado, 6 de abril de 2013

A avó é um pedaço do acontecido


Ensaio 33
baitasar
Meu neto, desculpa a avó fazê de ocê as orelha que há de escutá as memória escondida, nesse peito aqui. Lembro de alguma coisa, esqueço de outra, isso me parece do modo de envelhecê, comum ocê guarda na memória o futuro e a avó perdê o futuro. E aprendê de recordá o passado, fazê o mundo girá no contrário
—     A avó quer que esse neto aqui guarde a caixinha da música?
Neinho, essa vai com a avó... promete pra avó
—     Se a avó quer assim, é assim que vai ser.
Neinho, ocê vai encontrá na vida amigo que inventa o que ocê não é, outros pouco, bem pouco, mais amigo, que vai mostrá que ocê não é um preto sem passado. Vai aprendê que o passado com a avó é um pedaço do seu acontecido
—     A avó ensinou que é falta de juízo carregar a tristura dos outro e suportar a própria tristezura.
A avó sabe, mais é o meu tempo errado do lugar vazio, a tristezura de tê ficado no mesmo lugá, guarnecendo o esconderijo da nêga Laetitia, esperando o Capitão voltá. Acho inté que ele voltô e a avó não soube sabê
—     A caixinha da música?
A avó olha no espelho e esquece em que espelho deixô o Capitão da caixinha. Ele jurô que voltava. Um homem que com a terra da sua pele dava comida pra minha raiz, e com a ventania perfumada do seu cheiro de boca nos monte de chocolate da avó, inventava os sonho. Sonhava que dormia abraçada naquela ventania, quando tava triste queria escutá o barulho das folha, queria o sabô no travesseiro de folha, era meu bem querê, e chorava, bem baixinho, pra modo de não acordá o teu avô. Tava enfeitiçada, mas não conseguia arrancá as raiz pra botá as asa, não me levô pra avoá. Deixava o cheiro do amô e as marca das mão que voava, Sempre que precisá companhia pra avoá me chama... delícia, delícia, assim ocê me mata
—     O bicho voador era um safado!
Não diz assim, a avó fez o que queria fazê. Não precisa sê em todos os dia, mais, em algum mais que em outro, precisamô dizê, Ocê, me faz falta!, em algum dia, mais que em outro, queremô escutá, Ocê me faz falta!, até que, entre tanta coisa dita e não dita, gostamô de escutá, Ocê pode não me fazê falta, mais, tenho dia, não é em todo dia, ocê é tudo que preciso. E pronto, por algum dia, não todo dia, as palavra basta, mais nada que faça impedimento de falá, Em todos os dia, ocê faz falta!, e não seria mentira
—     O avô não perguntava como a avó tava?
Se perguntava não tinha ouvido pra escutá, tava mergulhada no desespero daquela saudade que não tinha aviso pra alívio, dormia nas mão do avô, com a caixinha das música enfiada no travesseiro, tanta noite que não foi boa, sonhava de tê uma boa noite de verdade, mais não vinha nenhum presságio. Se não perguntô foi porquê já sabia, Tô bem, meu marido. O avô sabia da mentira, e ficava calado, cansado com tanta tentativa, Além da tristeza, marido, não tenho nada, é só tritura, não quero mais esse corpo. Foi quando o avô achô que tava na necessidade de conversá com doutô. Disse que não queria, ele insistiu, até que dei aceitação
—     O avô conseguiu lhe levá... quando foi isso?
Sua tia Vanda já tava na feitura, mais não tinha pista do acontecido, faltava costume de contá atraso no sangramento de mulhé. De modo que chegamô no seu doutô, nem tava satisfeita nem tava incomodada, a tristura me tomava conta. As mão tava no colo, um dedo acariciava a ponta dos outro dedo, o olho tava abaixado, olhando o acariamento que não vinha. Não tinha o que dizê, então ficava no meu silêncio. Até que o doutô médico abriu a porta e mando os dois entrá. Não sabia como ele havia de fazê ajudamento com a caixinha das música. Entramô
—     E a avó queria o quê?
Não sabia, tava esperando a vida enquanto acumulava as ruga na mocidade. Tinha um vulcão no corpo que precisava adormecê, não podia recorrê a verdade, havia decidido dá ao tempo mais tempo. O douto sento do seu lado da mesa, sentei com o teu avô do nosso lado da mesa, depois do bom dia, fez silêncio, pra mim pareceu um silêncio cumprido como a minha tristura, mais pode que não foi, O senhor é parente?
—     O marido.
Faltava a caixinha das música, se o doutô escutasse aquela belezura, com certeza ia entendê. Por acaso, marido fica com as parte inusitada do corpo dolorida, depois da deitação? Inté pode, marido não é amigo, mais precisa sabê as rima e dizê baixinho enquanto o múmia se mexe de um jeito que não consegue entendê, precisa gostá da poesia que escreve por dentro, acordando, entrando e ficando, o fogo da palha que acende rápido precisa descobri o jeito de fazê queimá devagarinho, paixão que não se tem por amigo, Como ela está? doutô, não pergunta isso pra esse marido que nada me conhece, que não me sabe, que não me inventa, que não sabe se me dá ou tira. Pergunta pra mim, me olha e pergunta: como eu tô, se não pergunta é porque já sabe, Tô bem, doutô, o seu doutô sabe que é mentira, o marido sabe que é mentira, mais não tem remédio pra essa tristura, O que foi que aconteceu?
Não aconteceu nada, talvez, quando começá o inventário da vida, tenha uma falência em plena luz do dia, em meio às ruas que nunca andei, e pronto, acabô a nêga Letitia, sem ideia, que nunca saiu do poço. Não gosto por teimosia, mais por causa da gostosura, me sinto o tempo todo aprisionada daquele cheiro da boca, um sorriso de apaixonado que fica guardado na caixinha das música. Com um pouco da imaginação, quando abro a caixinha escuto o sorriso da gostosura, Não vejo nada que possa dizer que a senhora está com alguma doença, levantamô do lado de cá da mesa, apertamô as mão
—     Obrigado, doutô.
Não tem do quê, os exame do doutô não mostra a alma ou a espera que não termina, uma carícia que não começa, as ausência do homem que sempre deixa só, sem mimo, sem carinho, tudo que faço e não faço queria fazê junto, mais é um homem pra comê e deixá partí, até o resto da vida.
Na saída, a cor do anoitecimento já pintava e tirava o calô das rua. O dia foi de sol, agora era de lua. Coloquei meu abraço direto na cintura e a cabeça no peito do marido. Colocô o abraço esquerdo em cima dos ombro da avó. Caminhava lentamente, com o silêncio, melhó não dizê nada
—     Te amo.
Eu sei, ali, sem nenhum futuro, seguindo o rumo do pé, esperando alguma estrela aparecê, algum encanto, uma ilusão, Vamô tomá um café?
—     Sim. Vamô.

__________________

Leia também:
Ensaio 32 - A morte tava viva na avó 
Ensaio 34 - A avó vestida só com uns arrepio

terça-feira, 2 de abril de 2013

Lua nova demais

Menina de Rua





Lua nova demais
Elisa Lucinda

Dorme tensa a pequena
sozinha como que suspensa no céu
Vira mulher sem saber
sem brinco, sem pulseira, sem anel
sem espelho, sem conselho, laço de cabelo, bambolê
Sem mãe perto,
sem pai certo
sem cama certa,
sem coberta,
vira mulher com medo,
vira mulher sempre cedo.

Menina de enredo triste,
dedo em riste,
contra o que não sabe
quanto ao que ninguém lhe disse.
A malandragem, a molequice
se misturam aos peitinhos novos
furando a roupa de garoto que lhe dão
dentro da qual mestruará
sempre com a mesma calcinha,
sem absorvente, sem escova de dente,
sem pano quente, sem O B.
Tudo é nojo, medo,
misturação de “cadês.”

E a cólica,
a dor de cabeça,
é sempre a mesma merda,
a mesma dor,
de não ter colo,
parque
pracinha,
penteadeira,
pátria.
Ela lua pequenininha
não tem batom, planeta, caneta,
diário, hemisfério,
Sem entender seu mistério,
ela luta até dormir
mas é menina ainda;
chupa o dedo
E tem medo
de ser estuprada
pêlos bêbados mendigos do Aterro
tem medo de ser machucada, medo.
Depois mestrua e muda de medo
o de ser engravidada, emprenhada,
na noite do mesmo Aterro.
Tem medo do pai desse filho ser preso,
tem medo, medo
Ela que nunca pode ser ela direito,
ela que nem ensaiou o jeito com a boneca
vai ter que ser mãe depressa na calçada
ter filho sem pensar, ter filho por azar
ser mãe e vítima
Ter filho pra doer,
pra bater,
pra abandonar.

Se dorme, dorme nada,
é o corpo que se larga, que se rende
ao cansaço da fome, da miséria,
da mágoa deslavada
dorme de boca fechada,
olhos abertos,
vagina trancada.
Ser ela assim na rua
é estar sempre por ser atropelada
pelo pau sem dono
dos outros meninos-homens sofridos,
do louco varrido,
pela polícia mascarada.

Fosse ela cuidada,
tivesse abrigo onde dormir,
caminho onde ir,
roupa lavada, escola, manicure, máquina de costura, bordado,
pintura, teatro, abraço, casaco de lã
podia borralheira
acordar um dia
cidadã.
Sonha quem cante pra ela:
“Se essa Lua, Se essa Lua fosse minha...”
Sonha em ser amada,
ter Natal, filhos felizes,
marido, vestido,
pagode sábado no quintal.

Sonha e acorda mal
porque menina na rua,
é muito nova
é lua pequena demais
é ser só cratera, só buracos,
sem pele, desprotegida, destratada
pela vida crua
É estar sozinha, cheia de perguntas
sem resposta
sempre exposta, pobre lua
É ser menina-mulher com frio
mas sempre nua.

(Poema encomenda,1995)