sábado, 30 de novembro de 2013

50 fatos que mudaram a história do rock

Paolo Hewitt


Hewitt, Paolo, 1958 -
         50 fatos que mudaram a história do rock / Paolo Hewitt; tradução Leandro Woyakoski. - 1. ed. - Campinas, SP : Verus, 2013.












Time in a bottle - 1973

Jim Croce






Engarrafar O Tempo

Se eu pudesse poupar tempo em uma garrafa
A primeira coisa que eu gostaria de fazer
Seria guardar todos os dias além da eternidade
Apenas para gastá-los com você

Se eu pudesse fazer os dias durarem para sempre
Se palavras pudessem realizar desejos
Eu guardaria todos os dias, como um tesouro e, em seguida,
Novamente eu iria gastar com você

Mas nunca parece haver tempo suficiente
Para fazer as coisas que você quer fazer
Uma vez que você encontrá-los
Olhei ao redor o suficiente para saber
Que você é aquela com quem quero passar meu tempo

Se eu tivesse apenas uma caixa de desejos
E sonhos que nunca se tornou realidade
A caixa seria vazia, exceto para a memória de como
Que foram respondidas por você

Mas nunca parece haver tempo suficiente
Para fazer as coisas que você quer fazer
Uma vez que você encontrá-los
Olhei ao redor o suficiente para saber
Que você é aquela com quem quero passar meu tempo

Composição: Jim Croce





Eu Tenho Um Nome

Como os pinheiros alinhados nas estradas ventosas
Eu tenho um nome, eu tenho um nome
Como um pássaro cantante e um sapo coaxante
Eu tenho um nome, eu tenho um nome
E eu carrego isso comigo como o meu pai fez
Mas eu estou vivendo o sonho que ele manteve escondido.

Me movendo pela auto-estrada, rolando pela auto-estrada
Seguindo em frente pra vida não me ultrapassar.

Como o vento do Norte soprando no céu
Eu tenho uma canção, eu tenho uma canção
Como o lamento do bem-vindo e o choro dos bebês
Eu tenho uma canção, eu tenho uma canção
E eu carrego isso comigo e canto isto alto
Se isto me levar a lugar nenhum, eu chegarei lá orgulhoso.

Me movendo pela auto-estrada, rolando pela auto-estrada
Seguindo em frente pra vida não me ultrapassar.

E eu vou pra lá livre...
A vida do tolo que eu sou e sempre serei
Eu tenho um sonho, eu tenho um sonho
Eles podem mudar suas mentes, mas eles não podem mudar-me
Eu tenho um sonho, eu tenho um sonho
E eu sei que eu posso compartilhar isso se você quiser que eu o faça
Se você vai no meu caminho, eu irei com você.

Me movendo pela auto-estrada, rolando pela auto-estrada
Seguindo em frente pra vida não passar por mim
Me movendo pela auto-estrada, rolando pela auto-estrada
Seguindo em frente pra vida não passar por mim

Composição: Charles Fox / Norman Gimbel












"Dreamin 'Again"

Você não sabe que eu tive um sonho ontem à noite
Que você estivesse aqui comigo
Lyin ao meu lado tão macia e quente
e nós conversamos um tempo
e compartilharam um sorriso
e, em seguida, nós compartilhamos o amanhecer
Mas quando eu acordei
Ah, meu sonho ele se foi
Você não sabe que eu tive um sonho ontem à noite
E você estivesse aqui comigo 
Lyin ao meu lado tão macia e quente 
E você disse que tinha pensado sobre isso 
Você disse que estava indo para casa 
Mas quando eu acordei 
Oh , o meu sonho se foi 
Eu não sou o mesmo 
Você pode me culpar 
É difícil de entender que eu não posso esquecer 
Você não pode me mudar 
Eu não sou esse tipo de homem 
Você não sabe que eu tive um sonho ontem à noite 
E tudo ainda era 
E você estava ao meu lado tão macia e quente 
E eu sonhei que nós éramos amantes 
No limão perfumado chuva 
Mas quando eu acordei 
Ah, eu achei isso de novo, eu estava sonhando, sonhando novamente 
tinha sido sonhando ", sonhando novamente






Operator

Telefonista, bem, você poderia me ajudar com essa ligação?
Sabe, o número na lista está apagado
Ela está morando em L.A. com meu ex-melhor amigo Ray
Um cara que ela disse que conhecia bem e até odiava

Não é assim que todos dizem que a história acaba?
Bem, vamos deixar isso para lá
Me dê o número, se conseguir encontrá-lo
Assim eu ligarei apenas para dizer que está tudo bem e para provar

Que eu já me recuperei, aprendi a encarar na boa
Queria que as minhas palavras me convencesse
Que nada foi de verdade
Mas não é assim que me sinto

Telefonista, bem, você poderia me ajudar com essa ligação?
Bem, eu não consigo ler o número que você acabou de me dar
Há algo nos meus olhos, sabe, isso acontece de vez em quando
Eu penso nesse amor que poderia ter salvado minha vida

Não é assim que todos dizem que a história acaba?
Bem, vamos deixar isso para lá
Me dê o número, se conseguir encontrá-lo
Assim eu ligarei apenas para dizer que está tudo bem e para provar
Que eu já me recuperei, aprendi a encarar na boa
Queria que as minhas palavras me convencesse
Que nada foi de verdade
Mas não é assim que me sinto

Telefonista, deixe essa ligação para lá
Sabe, não há ninguém com quem eu realmente queira falar
Obrigada pela atenção,
ah, você foi muito mais do que prestativa

Pode ficar com a ficha telefônica
Não é assim que todos dizem que a história acaba?
Bem, vamos deixar isso para lá
Me dê o número, se conseguir encontrá-lo
Assim eu ligarei apenas para dizer que está tudo bem e para provar

Que eu já me recuperei, aprendi a encarar na boa
Queria que as minhas palavras me convencesse
Que nada foi de verdade
Mas não é assim que me sinto...

Auto-ajuda: Soprando ao vento

Bob Dylan


Quantos ouvidos o homem deve ter para ouvir a voz do amor?

A solidariedade, a compaixão. A decência.

Parece um tempo de insultos e gritos de trovão.

O Furacão passou anos sentado com a bunda na cela do inferno inocente. Falsamente julgado. A história se repente e o vento é que tem a resposta... por que se repete? As montanhas e os mares não são livres por que você haveria de ser, Furacão? Por quanto tempo você vai resistir?

Eu sei, você continua a olhar para cima com o braço erguido, apontando o Furacão. O que for pra ser será. Mas e a vida de quem podia um dia ser o campeão, quem vai pagar? Se você é negro e pobre a sua chance é apenas não aparecer na rua. Talvez, lhe deixem voar para ver até onde tudo isso vai dar.

Os jornais não confie neles, pegam uma carona em qualquer mentira que lhes possam dar. Pegam sua vida e a deixam na palma da mão de qualquer tolo. Você é um tolo? Não, você não sabe onde isso vai dar, mas desconfia que o Furacão não vai mais lutar.
É quando você vira sua cabeça e finge que não vê o que vê.

As suas orelhas não escutam mais ninguém. Não tenho muito certeza, mas pode ter sido ele. Você diz.

Você se tornou um tolo. Apenas para ver no que tudo isso vai dar. Cartas marcadas. Circo de porcos. O Furacão sentado com a bunda em uma cela do inferno inocente.

Mr. Tambourine Man toque uma canção para mim. Não estou com sono e não há lugar onde ir nesta cela do inferno inocente. Eu o seguirei pelo vento, não estou morto para sonhar.




Soprando Ao Vento

Quantas estradas um homem precisará andar
Antes que possam chamá-lo de homem?
Quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim, e quantas balas de canhão precisarão voar
Até serem para sempre banidas?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento

Sim, e quantos anos uma montanha pode existir
Antes que ela seja dissolvida pelo mar?
Sim, e quantos anos algumas pessoas podem existir
Até que sejam permitidas serem livres?
Sim, e quantas vezes um homem pode virar sua cabeça
E fingir que ele simplesmente não vê?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento

Sim, e quantas vezes um homem precisará olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?
Sim, e quantas orelhas um homem precisará ter
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim, e quantas mortes ele causará até saber
Que pessoas demais morreram

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento?



Mr. Tambourine Man






Furacão

Tiros de revólver ressoam na noite dentro do bar
Entra patty valentine vinda do salão superior
Ela vê o garçon numa poça de sangue
Solta um grito "meu Deus, mataram todos eles!"
Aí vem a história do furacão
O homem que as autoridades acabaram culpando
Por algo que ele nunca fez
Colocando numa cela de prisão, mas houve um tempo
Em que podia ter sido o campeão mundial

Três corpos deitados ali é o que patty vê
E outro homem chamado bello rodeando misteriosamente
"Eu não fiz isso"ele diz e joga os braços pra cima
"Estava só roubando a registradora, espero que você entenda.
"Eu os vi partindo" ele diz e pára
"É melhor um de nós ligar pros tiras"
E assim patty chama os tiras
E eles chegam na cena com suas luzes vermelhas piscando
Na noite quente de new jersey

Enquanto isso, bem longe, em outra parte da cidade
Rubin carter e uns dois amigos estão dando algumas voltas de carro
O pretendente número um à coroa dos pesos-médios
Não tinha idéia do tipo de merda que estava para baixar
Quando um tira o fez parar no acostamento
Igualzinho à vez anterior e à outra vez antes dessa
Em paterson é assim mesmo que as coisas rolam
Se você é negro, melhor nem aparecer na rua
A não ser que queira atrair uma batida policial

Alfred bello tinha um parceiro e ele soltou um papo atrás dos tiras
Ele e arthur dexter bradley estavam só fazendo uma ronda
Ele disse "vi dois homens sairem correndo, pareciam pesos-médios
Pularam dentro de um carro branco com a placa de outro estado"
E a senhorita patty valentine apenas assentiu com a cabeça
Um tira disse: "esperem um minuto, rapazes, este aqui não está morto"
Então o levaram à enfermaria
E embora esse homem mal pudesse enxergar
Disseram a ele que podia identificar os culpados

As 4 da manhã eles arrastam ruby consigo
O levam para o hospital e o trazem escada cima
O homem ferido olha pra cima através de seu único olho moribundo
Diz, " por que vocês o trouxeram aqui dentro? Não é esse o cara!"
Sim, eis aqui a história do furacão
O homem que as autoridades acabaram culpando
Por algo que ele nunca fez
Colocando numa cela de prisão, mas houve um tempo
Em que podia ter sido o campeão mundial

Quatro meses depois, os guetos estão em chamas,
Rubin está na américa do sul, lutando por seu nome
Enquanto arthur dexter bradley continua no ramo do assalto
E os tiras estão apertando-o, procurando alguém pra culpar.
"Lembra daquele assassinato que aconteceu num bar?"
"Lembra que você disse ter visto o carro fugitivo?"
"Você acha que está a fim de brincar com a lei?"
"Não acha que talvez tenha sido aquele lutador que você viu correndo pela noite?"
"Não se esqueça de que você é branco"

Arthur dexter bradley disse: "não tenho muita certeza."
Os tiras disseram: "um rapaz como você precisa de uma folga da polícia
Te pegamos por aquele serviço no motel e agora estamos conversando com seu amigo bello
Agora,você não querter de voltar pra cadeia, seja um sujeito legal.
Você estará fazendo um favor a sociedade.
Aquele filho-da-puta é valente e está ficando cada vez mais.
Nós queremos botar o rabo dele pra fritar
Queremos pregar esse triplo assassinato nele
O cara não é nenhum cavalheiro"

Rubin podia apenas nocautear um cara com apenas um soco
Mas nunca gostou muito de falar sobre isso
"É meu trabalho", diria, "e eu o faço para ser pago
E quando isso termina, prefiro cair fora o mais rápido possível
Na direção de algum paraíso
Onde riachos de trutas correm e o ar é ótimo
E andar a cavalo ao longo de uma trilha"
Mas aí o levaram para a cadeia
Onde tentaram transformar um homem num rato

Todas as cartas de rubin já estavam marcadas
O julgamento foi um circo de porcos, ele não teve a menor chance
O juiz fez das testemunhas de rubin bêbados das favelas
E para os brancos que assistiam, ele era um vagabundo revolucionário
E para os negros, apenas mais um crioulo maluco
Ninguém duvidava que ele tinha apertado o gatilho
E embora não conseguissem produzir a arma
O promotor público disse que era ele o responsável
E o juri, todos de brancos, concordou

Rubin Carter foi falsamente julgado
O crime foi de assassinato "em primeiro grau" adivinha quem testemunhou?
Bello e bradley,e ambos mentiram descaradamente
E os jornais, todos pegaram uma carona nessa onda
Como pode a vida de um homem desses
Ficar na palma da mão de algum tolo?
Vê-lo obviamente condenado numa armação
Não teve outro jeito a não ser me fazer sentir vergonha
De morar numa terra onde a justiça é um jogo

Agora todos os criminosos em seus paletós e gravatas
Estão livres para beber martinis e assitir o sol nascer
Enquanto Rubin fica sentado como buda em uma cela de 3 metros
Um inocente num inferno vivo
Essa é a história do furacão
Mas não terá terminado enquanto não limparem seu nome
E devolverem a ele o tempo que serviu
Colocado numa cela de prisão, mas houve um tempo
Em que podia ter sido o campeão mundial


Diana Pequeno




Katie Melua





Zé Ramalho







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Auto-ajuda: Baladas

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Eu quero sê cuidada, mas ocê não vai me cuidar

Ensaio 27B
baitasar
Essa briga qui podia acontecê, entre os estancieiro do charque e couro contra os qui achava bão como tava as ordem do governo imperial, era dissentimento dos irmãos da Irmandade. A desavença tinha chance de terminá em luta. Não devia. Mais do jeito qui ia nem o tempo e o vento resolvia, ia acabá dum jeito ou doutro quando acabá as conversá.
O conde Humaitá (titulatura inventada pela boca da Maria Cobra, qui se espalhô como o vento esparramado nas ondulação das pastagem sem embaraço nem luta, criô uma verdade qui não existia, serviu pra refrescá as história contada do siô Menino Cabral) resmungô no meio dos dente
—        Bestice... quem tem muito está sempre chorando que tem pouco...
Foi tê acabado de dizê e sentiu no arrepiu dos pelo qui falô além da conta. O telhado do conde era feito de vidro, aquilo dito foi um destrambelho da pavonice, falô mais qui podia ou devia. Precisava aprendê  guardá pro seu próprio divertimento – e prudência de proteção – os pré-juízo qui tinha daqueles homens de pose e fortuna declarada ou escondida. Não queria tê dito, não quis sê ouvido, mais foi.
Não teve bom senso nem sorte, o siô juiz ouviu sua indiscrição e lhe perguntô direto, com a voz grave e nas vista de todos
—        E vosmecê, o Menino Cabral, é a favor do imposto cobrado no comércio do charque mais o couro? — o siô Menino precisava pensá mais rápido qui todos, sentiu qui as vista de espiá e os ouvido de espreitá tava tudo virado pra ele, concentrado nas afirmativa, o pântano dos interesse contrariado dum lado e doutro é pegajoso, gruda como os namoro novo: o tempo todo
—        Não me entenda mal, acredito que tudo se resolve com as doações ficando mais fortes.
Decepcionô os dois lado, mais fez o contentamento do siô padre, pareceu qui os peito estufado desavolumô, o assunto daquele encontro voltô nos trilho: as doação.
Ficô decidido na reunião qui dali por diante, o obreiro chefe tinha o devê do próprio ofício de fazê o registro dos donativo com o nome dos doadô, assim o fingimento de dizê qui deu e não deu, oferecê e não cumprí
—        E quem vai vigiá o obreiro chefe?
A pergunta agitô os irmão.
O siô Menino, no jeito qui deu, sumiu. Caminhô com os passo de corrida té a rua dos Pecado. Precisava tá num lugá de mais alegria e confiança. Respeitava a casa dos gracejo desavergonhado, não tinha luxo, mais oferecia discrição decência recato, a timidez pendia pra sem-vergonhice. Conhecia Maria Cobra, gostava da prosa daquela muié, a descuriosidade de fazê pergunta errada. Não tinha disfarce de sê o qui não é, Sou puta, mas gosto de sê bem cuidada, lhe serve assim, foi a primeira pergunta qui fez pro siô
—        Meu conde, somos um negócio ilegítimo, por isso, somos uma afronta, uma imoralidade. Vai chegá o dia qui vão querê algum sinal, um aviso marcado na testa: puta! Um lenço amarelo no pescoço!
O conde Humaitá sabia, não precisava perguntá, ouviu da boca do padre qui o legisladô já tinha as lei dos pecado da carne fraca — As prostitutas terão que usar um lenço amarelo, sempre que saírem à rua. — foi o qui bastô pro amarelo sumí da moda das domingueiras. Escondido das prateleiras e miudezas. As pessoa boa não comprava nada na cô amarelada. As tintura do colorido amarelo foi enxotada. Quem gostava do amadurado amarelento passô a desencorajá do gosto. Passô a dizê pilhéria grotesca e cômica do uso do pano alourado. A obediência da lei havia de caí no desuso, mais té lá, a Vila tava na falta de pano dourado. Asilado. Mais muito havia de se passá té o amarelo recuperá o seu prestígio entre as senhora da Vila.
Pelo visto, as história do pescado e as pedra, a primeira pedra qui não foi jogada, não tinha muito valô na Vila, era parte das história qui se escolhia esquecê. As muié qui fosse direita precisava se protegê do bordel: aglomeração desleal das muié qui não fosse direita. Então, se queria entrá nas disputa dos marido das muié direita, precisava usá o lenço amarelo pra caminhá nas calçada da Vila: a confissão qui era puta, pra todo o mundão da Vila, mais o Pai Filho Espírito Santo, qui já devia sabê.  
As família não podia perdê as fortuna dos cuidado do chefe da família, na causa de uma qui otra calcinha rendada. Não havia compaixão, uma vez qui é para sempre será, não podia endireitá. Nenhuma das muié direita ia lhe visitá ou convidá como visita. Não havia propósito. Elas por lá, as sinhás por cá
—        Por sorte e competência, os homens das leis são clientes da casa, conhecem os dois lados. Sempre trabalhei ilegal, eles fazem as lei e o jeito de pulá o cercamento nós ensinamos. É só fechá uma das vista.
—        A Maria Cobra goza ou se faz de gozada?
A muié pediu mais vinho, o Raposa voltô com o Poesia, o vinho, mais um prato com um naco de queijo. Largô no chão porque os dois tava no rente do piso. Serviu a caneca da Maria, olhô o siô, esperô o consentimento pra serví. Saiu do lugá levando o Poesia.
Maria Cobra tomô o vinho e mordeu o queijo, ofereceu pro siô
—        Vosmecê sabe como eu gosto de sê usada, mas ocês não se impõem na minha vida, isso não é um dilema, é assim. O que mais gosto é saber que o cliente está deleitando-se, gostando do que estou fazendo.
O siô abocanhô otro pedaço, derramô o vinho boca pra dentro
—        Como ocê sabe que eu gosto?
Ela lhe deixô vê o seu sorriso maroto
—        Ocê volta, não volta?
Ele lhe deixô vê o seu. Ela continuô o palavrório
—        Quando um casal tá na cama é muito íntimo e romântico, não é apenas volúpia ou comércio, mas não tem que achar que é amor. Gosto de saber que os homens ficam atraídos por mim. E quando vale a pena deixo que me digam o que devo fazer. Aprendi que o amor é um fantasma que assombra e some. — um pequeno gole da caneca — Nunca desejei ser homem: los hombres matan la vida que las mujeres crean: soy más que hombre y menos que dios
O siô Menino Cabral sentiu o gosto do mofo na boca, Maria Cobra não era uma vigarista exótica. Ele não tinha medo daquela muié, nem do perfume barato
—        O que me deixa molhada é sentir o cabelo do homem na minha pele.
—        Fico aceso só de pensar...
—        O siô conde é muito doce, mas não sabe o que estou pensando, o que eu gosto... quero mais vinho...
O siô se virô e pegô na garrafa, ofereceu pra Maria Cobra, ela aceitô o oferecimento assanhado, levô a garrafa nos lábio e aproveitô o vinho qui se derramava na boca e pelos cantos da boca, escorreu no pescoço té a bacia da intimidade. O siô colocô a cabeça no caminho do vinho e tomô com lambidas
—        Eu adoro a enxurrada de desejos que me provoco. Ocê está gostando de matar a sede?
—        É divertido beber o que ocê está tomando, parece que a Maria Cobra gosta de ser tomada como vinho.
Ela pede que ele lhe mostre seu corpo, desabotoe um pouco e liberte a pele. Ela é tão muié, ele tão homem
—        Como ocê está... que delícia, vem querido... minha nossa...
—        Como ocê gosta?
—        Ei! Calma! Às vezes, é bom lento e suave, outras, forte e rápido, mas precisa sê atencioso.
Pouca coisa assusta Maria Cobra, nada a derruba, quando não sabe se tá subindo ou descendo e a dô aumenta, ela se esforça mais, Eu aguento, coloque tudo aqui dentro.
Sente que precisa tê alguma afinidade, mais não tem. É quando tem o medo de virá um animal, um buraco sem passado. Ela deseja as coisa qui as outra diz qui faz com a alma e o coração, Eu quero sê cuidada, mas ocê não vai me cuidar

—        O siô conde precisa dormir.
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Leia também:

Ensaio 26B - Os tributos do charque e do couro

Ensaio 28B - Ocê não pensa os pensamento da alforria?

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Cultura sem gíria (massificada pasteurizada homogeneizada adulterada) leite que não é leite


Sensacional! Vejam a paródia de como a Rede Globo mata os sotaques do Brasil


novembro 26th, 2013 by mariafro



Ano passado, conversando com Alberto Perdigão (que já foi apresentador da Rede Globo em Fortaleza) e com algumas jornalistas cearenses, eles me contaram que a Globo obriga seus jornalistas, apresentadores, repórteres a fazerem fono! Isso claramente para que percam a entonação do português regional, ou seja, o sotaque cearense, baiano, pernambucano… enfim o que para o sudestino de Rio e São Paulo é o sotaque nordestino. Aqueles sotaques que o José Serra não compreende, lembram-se?

Hoje, Fernando Monteiro me mostra este vídeo espetacular onde os atores exemplificam de maneira bem-humorada exatamente este processo de massificação e pasteurização global que transforma tudo num pastiche, até mesmo nossos diversos falares.


Fernando Monteiro diz: “vão neutralizar o cão não o nosso sotaque!” Tá dito!

Cadê o sotaque cabeça? Opsss não pode falar cabeça. O povo voltou do Rio e tá tentando entrar nos eixos. Viva ao sotaque brasileiro! o.O






Me gritaron negra

Victoria Santa Cruz





Ritmos Negros del Perú
Nicomedes Santa Cruz




"América Latina"
Nicomedes Santa Cruz











sábado, 23 de novembro de 2013

Auto-ajuda: Construção do Conhecimento


Vasconcellos, Celso dos Santos


Vasconcellos, Celso dos Santos, 1956 -
      Construção do conhecimento em sala de aula / Celso dos S. Vasconcellos. - São Paulo ; Editora Libertad, 1993. - (Cadernos Pedagógicos do Libertad ; 2)


Prefácio

Nas discussões que ocorrem nos ambientes educacionais, são muito comuns determinadas dicotomizações, antinomizando posições e posturas do processo da educação, quase sempre apontadas como insuperáveis e comprometedoras dos objetivos que persegue. Destacam-se entre outras, as contraposições entre teoria e prática, entre processo social e processo educacional, entre conhecimento abstrato e realidade concreta, todas elas refletindo inextinguíveis ecos do dualismo platônico, encalacrado quase que arquetipicamente nas profundezas cavernosas da cultura ocidental. na verdade, nos últimos tempos, conforme o demonstra a literatura da área, as questões colocadas por essas dicotomias vêm sendo diretamente enfrentadas e discutidas, uma vez que o debate filosófico-educacional tem procurado referenciar-se mais radicalmente a uma antropologia da unidade do ser e da ação do homem, afinal, o sujeito/educando.

É participando desse empreendimento esclarecedor que Celso Vasconcellos vem trazer, através deste seu livro, uma valiosa contribuição tanto mais que ele coloca e desenvolve essa discussão, não mais num plano puramente especulativo, mas naquele plano bem concreto e imediato da prática real do educador. É isso mesmo: sem perder, em nenhum momento, o apoio rigoroso de seus referenciais teóricos, a exposição/reflexão de Celso parte da experiência concreta do trabalho pedagógico na sala de aula, onde ele acontece de maneira efetiva e imediata. A abordagem desenvolvida pelo autor já é uma experiência muito palpável da unidade profunda dos processos envolvidos na relação educacional. Com razão, afirma que é na sala de aula que "o professor tem sua prática, seleciona conteúdos, passa posições políticas, ideológicas, transmite e recebe afetos e valores". A relação pedagógica, cerne da efetivação da formação humana, é mediada pela própria realidade, pois nela se "dialoga" sobre o mundo real. A educação não se reduz a eventuais automatismos da escola e de seus procedimentos didáticos, ela pulsa a sociedade e seus processos vitais.

O conhecimento é a grande categoria do processo educacional: mas nem no plano subjetivo - o da consciência do sujeito -, nem no plano objetivo - o da cultura -, ele é algo de puramente especulativo, teórico, estratosférico. O conhecimento é estratégia fundamental e privilegiada de vida. Não de uma vida puramente biológica, transitiva, mas de uma vida práxica que se constrói, histórica e socialmente, no cotidiano que emoldura e catalisa nossas experiências. Assim o conhecimento é mediação central do processo educativo. E aí ele se constrói concretamente, supondo evidentemente intencionalidade, metodologia e planejamento.

Os educadores interessados em compreender mais a fundo o sentido de sua prática, encontrarão no livro deste dedicado, competente e compromissado companheiro de caminhada, elementos substantivos, que são construtivamente apresentados a partir de uma experiência que, sem dúvida, lhes é comum. À pertinência dos temas, à perspicácia e à sensibilidade da colocação dos problemas, deve-se acrescentar a acessibilidade ao texto. Celso conseguiu unir com maestria as exigências críticas de uma filosofia da educação rigorosa e coerente às posturas operacionais de uma didática lúcida e eficaz. Estou certo de que a leitura deste texto trará aos educadores, numa desejável unidade, elementos fundamentais para a compreensão e ferramentas adequadas para a fecundação de sua prática.

Identificando-me com esse objetivo, só posso mesmo sentir uma enorme satisfação em prefaciá-lo, recomendando-o a todos os companheiros dessa desafiadora caminhada da educação.

São Paulo, janeiro de 1994
Antônio Joaquim Severino










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Mais Auto-ajuda:

Auto-ajuda: Tolerantia

Auto-ajuda: Soprando ao vento

VIII – Mitologia dos Orixás: Ossaim [72]

Ossaim
Reginaldo Prandi
Ossaim dá uma folha para cada orixá
Ossaim, filho de Nanã e irmão de Oxumarê, Euá, e Obaluaê, era o senhor das folhas, da ciência e das ervas, o orixá que conhece o segredo da cura e o mistério da vida. Todos os orixás recorriam a Ossaim para curar qualquer moléstia, qualquer mal do corpo.
Todos dependiam de Ossaim na luta contra a doença.
Todos iam à casa de Ossaim oferecer seus sacrifícios. Em troca Ossaim lhes dava preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abô, beberagens. Curava as dores, as feridas, os sangramentos; as disenterias, os inchaços e fraturas; curava as pestes, febres, órgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos os males.
Um dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todos os orixás deveriam compartilhar o poder de Ossaim, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura.
Xangô sentenciou que Ossaim dividisse suas folhas com os outros orixás.
Mas Ossaim negou-se a dividir suas folhas com os outros orixás.
Xangô então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Ossaim para que fossem distribuídas aos orixás.
Iansã fez o que Xangô determinara.
Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Xangô.
Ossaim percebeu o que estava acontecendo e gritou: “Euê uassá!”.
“As folhas funcionam!”
Ossaim ordenou às folhas que voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossaim. Quase todas as folhas retornaram para Ossaim. As que já estavam em poder de Xangô perderam o axé, perderam o poder de cura.

O orixá-rei, que era um orixá justo, admitiu a vitória de Ossaim.
Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossaim e que assim devia permanecer através dos séculos.
Ossaim, contudo, deu uma folha para cada orixá, deu uma euê para cada um deles. Cada folha com seus axés e seu ofós, que são as cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam.
Ossaim distribuiu as folhas aos orixás para que eles não mais o invejassem. Eles também podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si.
Ossaim não conta seus segredos para ninguém, Ossaim nem mesmo fala.
Fala por ele seu criado Aroni.
Os orixás ficaram gratos a Ossaim e sempre o reverenciam quando usam as folhas.
[72]
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Leia também:
VII – Mitologia dos Orixás: Otim [69]
IX – Mitologia dos Orixás: Iroco [79]

Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.


Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O livro que quero ler na eternidade?

Teatro Pedagógico 03
baitasar
As palavras marcam as ideias das histórias feitas ou desfeitas com um timbre de destacado ou irrelevante. Eu continuava parada com a térmica na mão, no abrigo, insignificante irrelevante, calada, o palavrório ia e vinha, livre e desobediente, queria ouvir um desfecho com um final romântico. Sou o meu espelho, a inflexão das minhas combinações acredita no desenlace poético, na virtude das palavras que revelam outras harmonias, arranjos com outras vontades. Precisava ficar. Sair seria deserção
—        Cabayba, qual a utilidade do nosso trabalho?
Queria possuir essa insistência suave e decidida, ser assim, resistente ao ódio e a raiva das caras feias, vozes aterradoras anunciando o fim do mundo. Elas não me assustam, mas me causam uma profunda tristeza. Não tenho medo do fim do meu corpo nem da indisciplina dele, como não me assustam as poesias e os romances que não irei ler, necessito a poesia e os romances que já tive. Sou assim mesma, gosto demais daquilo que já tenho, mas não me impedem de abrir outros livros.
O Marko não busca desacreditar qualquer reflexão, repete que precisamos olhar de frente a cruz, enfrentar o sorriso fabricado, têxtil, o elogio hipócrita, afrontar a desumanidade de maneira radical, sem concessões destravancar o caminho do entendimento até que as ideias se desvestem do ódio para acariciar e ensinar
—        Ajudar essa gente se tornar gente. — ela não parecia querer sair do seu cinismo e torpor natural. A zombaria e a indiferença marcavam suas ideias, tramavam suas palavras com um pequeno sorriso, disfarçado pelo rumorejo rouco da voz carcomida. Não quero esse teatro de desistências para mim, vou embora antes
—        Estamos obrigados a educar o cidadão que a nossa sociedade precisa. E o que a sociedade necessita?
—        Marko... — virou-se para mim, um professor doce e determinado
—        Sim... — continuei calada, nos olhamos, recebi um sorriso afetuoso de acolhimento, a Camila ao meu lado continuou
—        Precisamos médicos, engenheiros, advogados, professores, mas... — o Marko sentou, escutava Camila, atento a cada palavra e inflexão da voz.  Numa de tantas conversas que tivemos, ele me disse, não para ensinar ou narrar algum feito espetacular, apenas para explicar-se, desculpar-se dos seus silêncios,  Minha amiga, dialogar com a outra pessoa é mergulhar nas palavras que são ditas e naquelas que ficam travadas na garganta, conformadas, separadas da concretude
—        Com licença, Camila... — essa voz reconheceria em qualquer lugar: Abigail — ... médicos, engenheiros, no meio dessa gente, feia, pobre, se não é impossível, é muito pouco provável. Tenha dó. — não podemos negar nosso DNA, podemos lutar, mas no primeiro descuido ele se manifesta firme e forte, desfocado de humanidade imagina que se importa, mente pra si mesma que sabe o que não sabe, o foco sempre são os líderes, eles caminham enquanto outros se escondem ou sentam para um chimarrão. E os que nem sabem que não sabem ficam pelo caminho, morrem no chão frio, desassistidos
—        Abigail, só um instante. Entendo o Marko, mas a questão é que já temos muitos médicos, engenheiros, advogados, veterinários, etc etc etc, essa gente precisa parar de fazer filhos. Pobre e a filharada só cria mais miséria e desgraça.
—        Não é verdade Cabayba. — somente o Marko para denunciar um pedacinho dessa história mal contada, a cilada da história contada pelo meio, as meias verdades que não escondem, mas não deixam que apareça o embuste da história  — No mundo dos pobres não têm médicos... ah, faltam condições de trabalho para os médicos, parte da verdade, Cabayba, precisamos de médicos que antes de entenderem de exames, entendam de gente... ah, mas existem médicos maravilhosos, parte da verdade, Cabayba, não há tantos médicos maravilhosos quanto necessitam os que não podem pagar, os pobres. Essa é a questão, quais as características, conduta e qualidade de personalidade dessa mão de obra qualificada? O projeto da personalidade como produto da educação deve estar baseado nas exigências da procura da sociedade... — eu não sei das outras, mas eu gostaria de ficar escutando o Marko, a reunião que precisamos é essa, o amálgama das ideias é a discussão das ideias, a prática e a discussão da prática, o que deu certo, o que não deu certo, o que precisamos mudar, buscar nas ideias as revoluções da prática. Eu continuo fixada no mesmo lugar, ao lado do fogão, a térmica na mão.
A Cabayba levanta, deixa seu copo de iogurte vazio sobre a mesa, caminha até a porta do abrigo, faz uma careta, mais uma das suas máscaras
—        Marko, educar quem não escuta e não quer ouvir? Brigam, xingam, gozam em nossa cara, levantam, saem, os palavrões, os xingamentos, o descontrole... não resisto mais, para mim, essa história acabou! E não tem final feliz...
Antes que pudesse sair do abrigo o Marko lhe perguntou, suave e direto
—        E o que lhes mostramos? Um copo de iogurte na mesa?
Muitos crimes passionais seriam evitados se pudéssemos vigiar a solidão do próprio egoísmo. A Cabayba não respondeu, saiu sorrindo.
Fico para trás, desenterrando os meus sonhos da realidade sempre inacabada, incessantemente inconclusa.
Queria ter sido fecundada com a vida de uma filha, não sei por que não me dei esta vida, sou uma mulher frágil, oculta pela altura das árvores que plantei. Não sou boazinha nem bruxinha. Estou assustada com o último cigarro que fumei. Venho decidindo parar, mas não será hoje. A práxis que pode me fecundar, outra filha, outra mulher. Sinto que não quero morrer, quero te amar. Nossa pele macia sem as rugas que chegam mais tarde. As lambidas da tua língua molhada e quente. Os avisos para ter cautela. O teu corpo aprendendo o meu, sumindo no meu. Amo muito, tudo isso. Delícia. Adoro a sinfonia dos teus amares em mim. A tua boca me faz querer os teus beijos. Necessito teu colo, mas há horas que, todavia, mais indigente e miserável me sinto. Quando de pertinho, fico olhando tua boca e sinto crescendo aquela vontade de te devorar, mas se te procuro na aurora só vou te encontrar no crepúsculo, o apaixonamento do reencontro. Queria que o amor fosse a obra-prima da minha vida.
—        As ações na escola, Camila, não têm esse alcance histórico... — pronto, perdi alguma coisa, mas continuo em pé, a garrafa térmica na outra mão — ... senão estaríamos formando jovens sem iniciativa crítica, criativa e humana, mas grandes ecos de declinações, códigos gramaticais, fórmulas matemáticas. Por graças, sabe-se lá do que, conseguimos sobreviver às inquietações críticas do cotidiano.
A Cabayba retorna ao abrigo, pega o copo vazio e coloca na lixeira. Agora, enfrenta o discurso do Marko, em silêncio
—        A realidade é maior que a escola.
—        É isso, Samuel, caminhamos a reboque. Fazemos história contando as histórias.
—        A escola somos todos... precisamos reconhecer o que é necessário ensinar e educar.
—        Que grande novidade, Camila!
—        As duas têm razão, uma banalidade que não fazemos não é modernidade, a inovação seria escutar o aluno, indo além de pegar em sua mão.
Continuo escutando, não quero atrapalhar, sei que é besteira, poderia contribuir, mas continuo na minha preguiça. O Marko, físico esbelto, cabelos curtos, óculos sobre o nariz, estatura mediana, impõem-se nos gestos exatos. A voz perfeitamente modulada, cordial, sem nenhuma vaidade, sorriso bondoso. A energia da vida está mergulhada em seus sonhos que iluminam e incendeiam a sua volta. Sinto que terei saudades do tempo em que conversamos sobre essa confusão que é viver.
—        Marko, você acredita que a nossa vida social está se desenvolvendo e aperfeiçoando? E os nossos jovens? — a Cabayba é um desafio constante, mas é preciso escutá-la, assim, podem-se confrontar ideias, concepções e práticas, penoso é acarear o silêncio que só espera o momento do bote, não se arrisca, quando muito mexerica.
O Marko se mantém serenamente firme e disposto no embate. Os meus pensamentos se transportam das suas palavras. Recordo acusações que a educação socialista tornaria a escola sem gosto, sem cores democráticas. Vejo a mim e meus colegas, todos crescidos e educados nos preceitos mais significativos da Academia; severos, conservadores e preconceituosos. Afinal, quem uniformiza quem? Desde quando decorar é ser feliz? Quem deforma quem?
Não tenho medo da morte, não quero ficar pelos cantos, tortinha. Peço que me acabem num gesto de humanidade, libertem as dores da minha alma solidária. Enterrem meu corpo balzaquiano com alguma novela balzaquiana. A leitura não será só um passatempo, me fará ver o que sou, escutar o que não sei, o que não quero ou necessito, o amor na plenitude, dona de mim.
Que livro quero ler na eternidade?

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Teatro Pedagógico 02 - Iogurte na mesa

TP 04 - Maldito ou bendito, eu não sei


sábado, 16 de novembro de 2013

Auto-ajuda: Tolerantia

Tolerância



Tolerância. Se queres ser tolerante ouve o que cada um te diz. Não será nenhuma rendição. Escutar pode ajudar. Abraçar pode dar certo. Tem vezes, quase sempre?, se você perde a amorosidade pelo que faz, o café desce quadrado amargo, a família, o táxi, o ônibus não são gentes, são coisas. E você também é um coisa, um gramado artificial. Pensa o que lhe dizem para pensar, você quer a chave da felicidade. Um livro que lhe ensine tudo. A viver. Reza para o seu deus que não é o mesmo deus do vizinho. É um deus mais poderoso, mais certo, mais atento, um grande chefe! E o idiota do vizinho não crê no seu deus. Você sabe (como você sabe, você não sabe) que o deus do seu vizinho não é deus, é um contrapeso imbecil. Um idiota. Um deus babaquara. Palerma. Tolo. Cruel. Capaz de ir à janela e cuspir nas pessoas. E você acredita que foi abençoado. Ungido. Você entra no seu carro e aumenta o volume do rádio. O outro lado da cidade vai ouvir ouvir ouvir pam pam pam ra ta ta ta... Os carros dos outros existem para abrirem caminhos para você. Existem para você ser feliz. Você precisa ser feliz. Até que você descobre que os outros não se importam com você nem você com os outros. Um tapete. Um carpete. Uma bofetada. Um tijolo. O dedo duro apontando. Imbecil.

Pare!

Você precisa conhecer a maior flor do mundo. Então, o pássaro e o homem irão se encontrar. Use a imaginação da tolerância e saia do quarto escuro do medo ódio intolerância... avoando


















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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A Civilização do Espetáculo

Mario Vargas Llosa


"Não é indubitável aquilo em que acreditaram tantos educadores e filósofos otimistas, ou seja, que uma educação liberal, ao alcance de todos, garantiria um futuro de progresso, paz, liberdade e igualdade de oportunidades, nas democracias modernas..."

Vargas Llosa, Mario
           A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura / Mario Vargas Llosa ; tradução Ivone Benedetti. - 1.ed. - Rio de Janeiro : Objetiva, 2013
































quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Os tributos do charque e do couro

Ensaio 26B
baitasar

Os cinco mandante da Vila tava reunido embaixo das vista da Irmandade. Depois da festa pra recebê de abraço aberto o siô Menino Cabral e o compromisso do siôzinho com os princípio de conduta dos associado, tudo regado com sangue de bode e vinho, começô a concentração nos trabalho de governança da Vila.
Os associado estabelecia e ajeitava as regra qui não andava ou qui caminhava pouco a pouco, não tinha novidade. As notícia nova foi o batizado do Menino Cabral, herdeiro, por casamento com a siá Casta Antão, das terra do Humaitá e do lugá na confraria da paz, sossego e harmonia. A confraria era a Vila qui era a confraria, o qui uma queria a otra também havia de querê.
Levô um ano bem cheio, desde a morte do véio Antão – dono das terra do Caminho Novo, qui pra muitos era terra de banhado sem serventia -, pro siô Menino Cabral sê chamado e tê a sua assunção, precisô esperá o tempo do luto, depois convencê o padre qui era homem mui leal e de valô. Os donativo do siô Menino Cabral, anunciado pra obra Santa, fez o serviço de convencê qui o siô era gente de muita fé, desapegado das ganância, pronto pra serví, ao invés de sê servido, bem pió podia sê: homem com gosto de se serví.
O qui tava feito, tava feito, a reunião precisava seguí pra frente com os assunto. Obedecê a ordem do dia, té qui o padre atropelô a encadeação das questão dos motivo da reunião. Soltô a carta escondida na manga da sua batina preta – engomada por mão qui conhecia o ofício de passadeira – na mesa dos negócio
—        É isso, então! — o padre já tava em pé, qui as palavra a sê dita não tinha a mesma emoção dita sentada — Mexemos em quase tudo e não mudamos nada, pois do jeito que vai, melhor dizendo, do jeito que não vai, é preciso suspender as domingueiras!
O enviado pelo Pai Filho Espírito Santo pra cuidá dos desviados, os desgarrado da crença no Sinhô, não podia deixá por menos, Quero lembrar a todos vocês que o dia vem amanhã, mas não se sabe como ele vem, pode chegar venturoso, como pode vir para levar o dito pelo não dito, é sempre bom saber que a fé no Senhor nos protege e oferece a vida eterna.
O medo da morte, o desconhecimento do qui vem depois disto daqui, era prosa qui arroto nenhum desdenhava. E acabá com a domingueira, por qualqué tempo, longo ou curto, era o mesmo qui fechá as porta do sacramento, deixá de fora da casa do Pai Filho Espírito Santo as pessoa com fome de pão e sede do vinho – o corpo e o sangue do sacramento, a confirmação da graça
—        Isso, não! — todos tavam em pé, qui a resposta da ameaça feita precisava teatro do mesmo tamanho, a dô ensiná o pecadô a gemê, o ferido é capaz de berrá mais qui o ferimento pode doê.
As domingueiras e os enforcamento era o lugá de aliviá a raiva, rezando ou babando, tudo se via na luz da manhã. Era triste, mais era alegre, torcendo pra acabá logo, e não acabá, olhando o padre qui falava doce pro candidato da forca e deixava escondida nas palavra do medo as sua ameaça com o inferno, O Sinhô lhe perdoa, mas os homens não podem lhe perdoar, as famílias encarando o enforcado, as crianças fazendo birra, querendo rapadura, as mocinhas namorando, as beatas esfregando as coxas, retorcendo as mãos, as calça molhada, uma qui otra boca rezando, rogando por alguma graça, torcendo por alguma desgraça, Bem qui a corda do enforcado podia arrebentá, Em que isso ia adiantá, ordem do juiz é pra sê cumprida, Assim, podia começá tudo de novo.
Pro enforcado a certeza qui o dia da vida eterna havia lhe chegado, a vida eterna no inferno decretada pela justiça do homem, acatada pela divina
—        Não é concebível! — o legisladô Bicão levantô a voz mais qui a maioria, voltô no assunto de criá um imposto provisório de construção pra obra Santa, nada muito pesado, nem tão leve qui não fosse valê o esforço de arrecadá
—        Não é pra tanto... — voltô a dizê o juiz. Todos já tinham sentado, qui a teatração agora exigia mais calma, comedimento e perícia com as palavra. Raciocínio de solução pra diminuí o tamanho dos ânimos qui já tava exaltado. O aviso tinha sido dado de um lado e do otro, não era queda de braço, mais era preciso tê  cuidado com as força metida naquela confusão — ... esse assunto de aumentar os donativos não pode virar penalidade forçada, ajudou: vai subir, não ajudou: vai descer.
—        Mas essa é a trama: quem ajuda fica mais em cima nas considerações da missa, quem ajuda menos fica mais embaixo. O tamanho da ajuda mostra a medida da altura.
O chefe das pulícia anunciava qui sabia fazê cumprí as lei e enxergava as medida qui cada pilantra e malfeitô  merecia apanhá
— Tem vez que não dá tempo de esperar pelo juiz, nem pelo inferno. — gostava de repetí quando perdia por falecimento um qui otro negro
—        Isso tudo é balela, conversa inventada... o já doado se fosse usado com economia, sem abuso ou indiscrição, já se teria visto da obra o fim... — o visconde Bonfim, qui tinha suas terra nos arredô do Caminho do Meio, não plantava nem criava nada nas terra, só deixava crescê os  mato ruim, era homem de vista cumprida, esperava a cidade crescê, assim vendia cada pedacinho das terra pelo preço qui jurava qui pagô, mais tudo qui é gente apostava qui não pagô, se pagô foi pro escrivão fazê as escritura, inventá uma compra qui nunca existiu — ... o amigo fazedor das leis enlouqueceu!
A reunião da Irmandade virô panela no fogo, se a quentura das labareda não diminuí a fartura dos alimento vai queimá
—        Aumentar o quê? Aonde?
—        No charque e no couro! — foi o grito qui se ouviu do meio pro fundo da reunião. Os bode caminhava dum lado e otro, borbulhando, mexidos com a colhê de pau do padre
—        Irmãos, essa reunião é pra discutí as doações...
—        E as doações não chegam?
—        Nem pensar no charque! — foi otro grito de horrô qui se ouviu do meio pro fundo do salão, o mexido borbulhava, a tapadura da panela estremecia
—        Logo agora, que os fio-da-puta dos platinos tão de bobagem, querendo compensação pro nosso gado pastar do lado deles. — otro estancieiro com medo da diminuição dos lucro
—        Já começaram a coleta?
—        Ainda não, mas é uma questão que o tempo não resolve, mais dia ou menos dia, ela vem...
—        Meus filhos... meus filhos... o charque não é o assunto a ser resolvido nesta reunião. — o padre não queria qui um assunto tão amotinadô tivesse misturado com as doação. É um tempo de muita desconfiança e revolta dos estancieiro com o governo imperial
—        Não, padre! Aqui, em outro lugar, os imposto no comércio do couro e do charque é assunto de muita importância. Os fios-da-puta platinos estão colocando o couro e o charque mais barato direto em São Paulo e no Rio de Janeiro... — o estancieiro e o padre tavam em pé, as vista de um cravava nas vista do otro — ... se o governo imperial não quer baixar os tributo do nosso couro e charque, então que faça tributação no charque e no couro dos platinos!
—        Meu filho, vosmecê está desatinado, eu sei... precisamos de menos taxas, mas...
—        Não sou seu filho, padre. Sou o que o governo imperial conhece por sucre, estancieiro-soldado, e do jeito que os platinos são tratados, chega a dar na vontade ficar do lado deles, riscar no chão outras fronteiras!
Os dois continuava sem sentá, qui discussão daquela é feita do fio a pavio erguido em cima das perna, té qui o legisladô Bicão pediu a palavra. Ele também achô melhó alevantá
—        Mas quem foi que falou em aumentar os tributos do charque?
O chefe das pulícia não deu tempo pra resposta alguma, ainda com as mão marcada do bode, levantô a voz pra se anunciá na controvérsia

—        Assim, ocês acabam criando uma guerra!
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Ensaio 25B - O Poesia