terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Feliz aniversário - 67 anos!

Rita Lee



Ovelha Negra




Ovelha negra
Rita Lee

Levava uma vida sossegada
Gostava de sombra
E água fresca
Meu Deus
Quanto tempo eu passei
Sem saber
Uh! Uh!

Foi quando meu pai me disse
"Filha, você é a Ovelha Negra
Da família"
Agora é hora de você assumir
Uh! Uh! E sumir!

Baby, baby
Não adianta chamar
Quando alguém está perdido
Procurando se encontrar
Baby, baby
Não vale a pena esperar
Oh! Não!
Tire isso da cabeça
E ponha o resto no lugar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Tchu! Tchu! Tchu! Tchu!
Não!
Oh! Oh! Ah!
Tchu! Tchu! Ah! Ah!

Levava uma vida sossegada
Gostava de sombra
E água fresca
Meu Deus
Quanto tempo eu passei
Sem saber
Han! Han!

Foi quando meu pai me disse
"Filha, você é a Ovelha Negra
Da família"
Agora é hora de você assumir
Uh! Uh! E sumir!

Baby, baby
Não adianta chamar
Quando alguém está perdido
Procurando se encontrar
Baby, baby
Não vale a pena esperar
Oh! Não!
Tire isso da cabeça
E ponha o resto no lugar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Tchu! Tchu! Tchu! Tchu!
Não!
(Ovelha Negra da Família!)
Tchu! Tchu! Tchu!
Não! Vai sumir!

Composição: Rita Lee

Mania de você



Os Mutantes:




Balada do Louco




Eles e ela estavam lá... uma noite em 1967




Domingo no Parque




Desculpe o auê




Baila Comigo




Tutti-Frutti:




Coisas Da Vida




Roberto de Carvalho:




Reza




Pagu




Gita



Gita
Raul Seixas

- Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho que Ele me falou

Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao teu lado

Você pensa em mim toda hora
Me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda
Mas hoje eu vou lhe mostrar

Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar

Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador
Eu sou, eu fui, eu vou

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou o seu sacrifício
A placa de contra-mão
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição

Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada

Por que você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra
Do fogo, da água e do ar

Você me tem todo dia
Mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você
Mas você não está em mim.

Das telhas eu sou o telhado
A pesca do pescador
A letra A tem meu nome
Dos sonhos eu sou o amor

Eu sou a dona de casa
Nos pegue pagues do mundo
Eu sou a mão do carrasco
Sou raso, largo, profundo

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão

Eu!
Mas eu sou o amargo da língua
A mãe, o pai e o avô
O filho que ainda não veio
O início, o fim e o meio
O início, o fim e o meio
Eu sou o início
O fim e o meio
Eu sou o início
O fim e o meio


Composição: Paulo Coelho / Raul Seixas

Metais, canhões e sinos... esse 2014 promete ser ruidoso

//////////////

Dançar e dançar... escolha o seu par



Bolero de Ravel








Ouvir escutar... não será tão difícil



Carmina Burana



Rhapsody in Blue



Abertura de 1812



Em 1880, Tchaikovsky foi solicitado a escrever algo para um concerto em Moscou que coincidiria com a Exposição de Arte e Indústria de 1881. Como a Catedral de Cristo Redentor (perto do Kremelin) que comemorava a humilhante derrota de Napoleão em 1812, estava em fase de conclusão, devendo ser consagrada durante o período da exposição, Tchaikovsky resolveu produzir uma peça que ficasse à altura desse evento. Tratou de atender à encomenda com sua habilidade costumeira, decidido a produzir uma peça que despertasse o fervor patriótico. "Será muito ruidosa", previu. 1812 acabou sendo apresentada num concerto, mas não do lado de fora da catedral, como seu autor havia esperado. Em parte, foi por haver imaginado uma apresentação ao ar livre que ele fez a obra muito ruidosa. Foi por essa razão que incluiu na partitura alguns trechos adicionais para metais, canhões e sinos.

Assim falou Zarathustra



O Guarani



Für Elise



Summer




domingo, 29 de dezembro de 2013

É preciso olhar devagar para as pedras que se tem nas mãos

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Fernando Pessoa



Manoel de Barros



Bertolt Brecht



Pablo Neruda



Oscar Wilde ou  Marcos Lara Resende?



Amigos loucos e sérios
 
Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Louco que senta e espera a chegada da lua cheia.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Pena, não tenho nem de mim mesmo, e risada, só ofereço ao acaso.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.

Marina Colasanti



Raquel Naveira



J L Borges



Fernando Pessoa



Alberto Caeiro



Maiakovski




Auto-ajuda: Desejos para 2014

?????????????????????


AS ROSAS NÃO FALAM
Cartola




VERDADE CHINESA
Emílio Santiago




Verdade Chinesa
Emílio Santiago


Era só isso
Que eu queria da vida
Uma cerveja
Uma ilusão atrevida
Que me dissesse
Uma verdade chinesa
Com uma intenção
De um beijo doce na boca

A tarde cai
Noite levanta a magia
Quem sabe a gente
Vai se ver outro dia
Quem sabe o sonho
Vai ficar na conversa
Quem sabe até a vida
Pague essa promessa

Muita coisa a gente faz
Seguindo o caminho
Que o mundo traçou
Seguindo a cartilha
Que alguém ensinou
Seguindo a receita
Da vida normal

Mas o que é
Vida afinal?
Será que é fazer
O que o mestre mandou?
É comer o pão
Que o diabo amassou?
Perdendo da vida
O que tem de melhor

Senta, se acomoda
À vontade, tá em casa
Toma um copo, dá um tempo
Que a tristeza vai passar
Deixa, prá amanhã
Tem muito tempo
O que vale
É o sentimento
E o amor que a gente
Tem no coração

(Repetir a letra)

(Final):
Senta, se acomoda
À vontade, tá em casa
Toma um copo, dá um tempo
Que a tristeza vai passar
Deixa, prá amanhã
Tem muito tempo
O que vale
É o sentimento
E o amor que a gente
Tem no coração (2x)

Composição: Carlos Colla/Gilson


UM HOMEM TAMBÉM CHORA
Gonzaguinha



LOGO AGORA
Emílio Santiago



PONTO DE INTERROGAÇÃO
Gonzaguinha



SAIGON
Emílio Santiago



É / O QUE É, O QUE É?
Gonzaguinha



E VAMOS À LUTA
Gonzaguinha



E vamos à luta
Luiz Gonzaga Jr.

Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói a manhã desejada

Aquele que sabe que é mesmo o couro da gente
Que segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
E entra num botequim
Pede uma ceva gelada
E agita na mesa logo uma batucada
Aquele que manda um pagode
E sacode a poeira suada da luta
E faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
(Nós estamos pelaí)

sábado, 28 de dezembro de 2013

Males de Origem

Manoel Bomfim

A América Latina

Bomfim, Manoel, 1868 - 1932.
        A América Latina: Males de Origem / Manoel Bomfim. Rio de Janeiro: Topbooks, 2005. Edição do centenário.


Nasceu em Aracaju no dia 8 de agosto de 1868, sendo seus pais Paulino José do Bonfim e Maria Joaquina do Bonfim.Realizou os preparatórios na capital sergipana, revelando, desde criança, grande talento.Estudou na cidade natal até os 12 anos. Em 1886 ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, transferindo-se para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1888, onde concluiu o curso em 1890, com a tese Das Nephrites.Ainda estudante, militou no “Correio do Povo”, redigido por Alcino Guanabara.

Em 1891, foi nomeado médico da Polícia Militar do Rio de Janeiro.No ano seguinte, passou a tenente-cirurgião da Brigada Policial, posto que ocupou até maio de 1894.Nesta época casou-se com Natividade de Oliveira que foi a sua companheira por toda a vida.Tiveram dois filhos: Aníbal e Maria.A filha faleceu em tenra idade provocando uma dor tão profunda em Bomfim que ele abandonou a Medicina.Ingressou no magistério oito anos depois de formar-se, lecionando Educação Moral e Cívica na Escola Normal do Rio de Janeiro, na qual assumiu a cátedra de Pedagogia e Psicologia.

Em viagem a Paris, em 1902,mandado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, a fim de estudar os estabelecimentos pedagógicos daquele continente,entre 1902 e 1903, também estudou Psicologia na Sorbonne (França), com o propósito de especializar-se nessa disciplina para estar em condições de melhor desempenhar as suas tarefas no “Pedagogium”. Bomfim estudou com Georges Dumas e Alfred Binet, com quem planejou a instalação do primeiro Laboratório de Psicologia Brasileiro, instalado em 1906 no Pedagogium, do qual foi diretor por quinze anos. De volta ao Brasil,em 1905, foi diretor interino da Instrução Pública do Rio de Janeiro e em 1906 foi nomeado Diretor Geral da Instrução Pública do Distrito Federal. Em 1907, foi eleito deputado estadual e como deputado defendeu importantes projetos no âmbito da educação.

Sua extensa obra abrange várias áreas de conhecimento: escreveu sobre História do Brasil e da América Latina, Sociologia, Medicina, Zoologia eBotânica, além de vários livros didáticos, dentre os quais estão alguns de Língua Portuguesa, em co-autoria com Olavo Bilac. Bomfim escreveu ainda, na área de Psicologia e Educação, Lições de Pedagogia (1915) e Noções de psychologia (1916), utilizadas como suporte para as suas aulas na Escola Normal. Em 22 de novembro de 1918, foi condecorado pelo rei da Bélgica com o oficialato da Ordem Leopoldo.Exerceu, durante muitos anos, notável atividade jornalística.Na obra Pensar e Dizer: estudo do símbolo no pensamento e na linguagem (1923), Bomfim demonstra domínio das mais importantes correntes de Psicologia de sua época. Escreveu também O methodo dos testes (1926); Cultura do povo brasileiro (1932); Crítica à Escola Activa, O fato psychico, As alucinações auditivas do perseguido e O respeito à criança. Sua obra revela um pensamento original, não articulado às idéias dominantes em sua época e sua interpretação do Brasil apóia-se na análise histórica da colonização, na exploração e na espoliação das riquezas do país, analisando as conseqüências sobre as condições culturais do povo.

Defende a expansão da educação pública como meio para a emancipação e para construção de uma sociedade democrática.Suas concepções de Psicologia - seu método e seu objeto - também são destoantes em relação a seus contemporâneos. Considerava o fenômeno psicológico como eminentemente histórico-social, constituído nas relações entre consciências, mediadas pela linguagem, esta entendida como produto e meio da socialização.

Criticava a pesquisa de laboratório, em condições que considerava restritas e artificiais. Propôs o método interpretativo para o estudo do psiquismo, baseado no estudo das múltiplas manifestações humanas, historicamente situadas. Bomfim antecipou algumas ideias posteriormente adotadas por Vigotski e Piaget, mas também de Ernst Bloch e Antonio Gramsci em sua interpretação da sociedade. Entretanto, Bonfim foi praticamente esquecido na historiografia brasileira, o que pode ser parcialmente explicado pela contraposição de suas idéias àquele que era em seu tempo o pensamento dominante.1 O autor foi redescoberto apenas em 1984, num ensaio de Darcy Ribeiro o classificando como o pensador "mais original da América Latina".2


Polêmica com Sílvio Romero

Ambos sergipanos, Manoel Bomfim e Sílvio Romero envolveram-se em uma das mais espetaculares polêmicas de sua época, chegando ao nível dos ataques pessoais.

O poderoso Sílvio Romero representava os intelectuais que consideravam o povo brasileiro como infantil ou semibárbaro, defendendo o branqueamento da população como solução para o “defeito de formação” étnica do brasileiro.

Ao contrário da maioria dos seus contemporâneos, Manoel Bomfim defendia a miscigenação que ocorreu historicamente no Brasil, valorizando-a e negando a validade científica das teorias racistas em voga. Via na educação o “remédio” para o atraso do Brasil, para a emancipação das classes populares. Esse sentido libertário que ele atribuiu à educação é um dos princípios básicos para a construção da cidadania.

Quando Manoel Bomfim lançou América Latina, Males de Origem (1905), Sílvio Romero já era um intelectual importante, conhecido como o “rei da polêmica”, enquanto Bomfim era apenas um novato audacioso . O livro foi a origem de uma áspera contenda entre os dois, pois ousava desmontar boa parte das convicções defendidas por Romero, como a teoria do embranquecimento da raça.

Em “O Rebelde Esquecido” (Topbooks, 2000), Ronaldo Conde Aguiar afirma que a guerra entre o pomposo Romero e o reles "manoelzinho" rendeu vinte e cinco artigos (quatrocentas páginas), de injúrias e ataques contundentes tendo a vítima revidado uma única vez.
















quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A doença da castidade

Ensaio 29B
baitasar
Mi fioneto, quem manda, por qui manda e como manda, sempre desinteressô essa preta velha, não sabia qui não sabê ou não querê sabê, fazia as coisa ruim ficá mais errada e triste, e as coisa boa só contecê pro patrão e os muito amigo dele. Dos conhecido pra baixo, não sobra ninguém qui não tem reclamação pra fazê do sinhozinho, o dono dos criado. Mais qué sabê, mi fioneto, pió qui não sabê é sabê errado, é se informá com os informante do patrão. Cada palavra qui sai do esconderijo - na garganta do enganadô das notícia - tem o mesmo caso pensado: botá na cabeça dos afoito desprevenido o conhecimento enganado, veneno qui mata aos pouquinho. É trabalhoso separá os bão das erva daninha, tem qui pensá no qui vê e no qui não vê, escutá o qui ouve e o qui não ouve, sê um bão ouvidô. O silêncio dos informante enganadô é o desenho da sua obediência. Eles só grita quando o patrão deixa, esconde os grito qui o patrão não qué escutá. Todo mundo tem patrão, não esquece, uns obedece mais qui os outro, mais ninguém deixa de obedecê, se deixá de cumprí as ordem tem qui sê castigado, tá escutando mi fioneto, Tô... a Avó não vê que tô no trabalho de cobrador das passagens, Ocê pensa qui sabe, mais o qui ocê sabe pode tá errado, ocê precisa conversá sobre o qui tá descobrindo, pra podê escutá, fazê o balanço dos conhecimento da própria cabeça e as notícia qui tá fora da cabeça, ocê tá me escutando, Tô, mas a Avó tem qui saí da roleta, Bobagem, tu mais parece com os preto do tempo do Josino, contando o numerário da riqueza pros dono branco, pelo menos, os preto da escravidão não tinha muita escolha: aceitá as marca da chibata e seguí vivendo té onde podia, ou fugí, ou roubá, ou matá, ocê tem a esperança da escola, Exagero seu, a Avó tem esse costume de abusá na quantidade do despropósito, Pois só paro as incomodação quando ocê prometê saí desse serviço e voltá estudá, Preciso dá no jeito de vivê: anão, preto e pobre, não tem muitos convites, Pois fica pió se não estudá, A Avó tá sentada na mesa do troco, preciso fazê minha obrigação, A sua obrigação é terminá os estudo, sê alguém preto na vida, incomodá os branco com a sua brilhantura e mostrá pros preto qui dá de conseguí, Vô pensá, vô pensá. O carro dos passageiro já começava ficá com mais movimento da entrada qui da saída, O mi fioneto qué ouví o fim da história do Josino, A Avó vai parar se eu fizé pedido, Não, Então, por que a Avó pergunta, Educação, mi fioneto, educação não qué dizê consideração demasiada, tem coisa qui é preciso dizê e ocê precisa escutá
—        O sinhô Padre chamou?
O padre se virô, tava na acomodação precária daquela sacristia em construção, um lugá qui precisava sê dentro, mais qui no tempo do erguimento tava fora da igreja. Um lugá de guardá os enfeite, as roupa da missa e o vinho. Ele tomava o cálice nas mão com o vinho qui era seu costume bebê, antes ou depois do almoço, tinha vez, qui tomava nas duas vez, antes e depois. O vinho lhe era gracioso e uma dádiva tê sido ajuntado à imagem do Siô Menino Deus, mais certo dizê, misturado no sangue do Siô da Cruz, assim, ele podia juntá o útil ao agradável.
O tomadô do Vinho Santo não tinha cisma nem vacilação qui o Siozinho foi espetado na Cruz, nem tinha desconfiança de creditá nas palavra do Fio de Deus: o sofrimento é o Caminho da salvação, A Avó não acredita, Queria sabê onde foi os preto qui morreu de apanhá, fome, adoecê e não tê cuidado de ajuda, Deve de tá tudo no céu, Um paraíso só de preto, Não, o Paraíso é um só, Hum... a mão qui segurô a chibata tá no mesmo Paraíso dos preto... hum... vantajoso isso, será qui tem escravo no Paraíso
O siô padre ofereceu um cálice do seu vinho. O visitante agradeceu e estendeu a mão. A fama da gostosura do vinho do padre precisava sê apreciada
—        Na verdade, sinhô Ouvidor-Geral do Governador, não chamei ninguém, fiz um pedido de audiência com sua Excelência.
O ajudante das ordens dada pelo governadô, com as tarefa de também escutá as reclamação de toda província, e mui especial, escutá as gente de importância da Vila, não se incomodava ou importava, qui no fim das coisa é igual, com as reclamação do reclamante de querê falá nos ouvido do governadô sem a intermediação do ouvidô. Sabia qui era assim, não se desgostava de não tê interesse pra quem protesta, mais aos poucos, ele mesmo, ia resolvendo os caso com decifração mais fácil, sem precisão do entendimento do governadô. Ele era o secretário negro do governadô, qui pouca gente ou quase ninguém soube, filho de uma escrava forra com um oficial da cavalaria do exército imperial. Um pardo qui podia escolhê sê preto ou dizê sê branco, de acordo com as conveniência
 —       Sinhô Padre, não quero parecer pretensioso nem desaforado, na verdade, fui nomeado os olhos e ouvidos do Governador, enquanto sua Excelência se mantém afastado, por motivo de repouso, e, se ele assim o quiser, fala através de mim.
Subiu o cálice com o vinho qui tinha na mão té o nariz, fungô dum lado e otro, depois olhô firme a aparência da tintura e levô à boca o enfeite de sangue da missa. O padre repetiu a parte de levá à boca. Tomô um trago, depois, parecendo mais aliviado, retomô o começo da conversa
—        Essa sua tarefa me parece um grande desafio, uma imensa confiança.
O pardo não se apressô em respondê, continuava com o vinho na boca, apreciava o gosto. Fechô as vista enquanto empurrava a existência duma bochecha à otra, té qui engoliu em silêncio, solitário.
Abriu as vista, parecia tê gostado
—        É justa a fama que tem o vinho do sinhô Padre.
O siô padre mediu o pardo pelo conhecimento do vinho, não era um qualqué, tinha gosto e confiava nele mesmo, sabia escutá o gosto do céu da boca. Não respondeu ao elogio. Ficô quieto, sabia qui o ouvidô não tinha terminado de dizê o qui queria dizê
—        Quanto a mim, sei que não sou feito o vinho, uma bebida romântica, não sou sonhador, me contento em ter a utilidade da água e não desperdiçar a fé do Governador. Parecido com o sinhô Padre, que não pode enfraquecer a Fé no trabalho do seu Sinhô.
O siô padre achô qui tinha chegado à encruzilhada da confiança: se tem confiança ou não se confia. A confissão é uma confiança qui os ouvido do siô padre faz escutação direta da falação do penitente com os ouvido do Siô da Cruz. Um jeito de ajudá o Siozinho, qui foi pregado pra modo de sê escutado, entendê as maldade feita: a chibata, a fome, a salmoura nas ferida, as corrente, a fogueira, a estupidez, o ódio da cô. Todo domingo tem arrependimento
—        E o sinhô Ouvidor-Geral tem alguma ambição que gostaria de realizar?
O pardo estendeu o braço com o cálice na mão. O siô padre tornô a tirá a rolha da boca da garrafa e, desta vez, encheu o copo da visita
—        O sinhô Padre é mui generoso. Obrigado. Eu tenho a vontade de chegar a ver de perto a Nossa Majestade Imperial, seria estar perto, bem perto, do pai que não tive, entreouvir ou lamentar o sentimento prazeroso de conhecer meu pai.
O siô padre precisô se acautelá pra não saí do seu costume de tomá só um cálice do vinho
—        E o arrependimento, o sinhô tem algum arrependimento que pudesse falar?
O vinho empurrado duma bochecha té a outra, voltava e ia, té qui ia descendo
—        Não chega a ser um remorso, mas não atendi o chamado que achava ter escutado.
O siô padre não resistiu à vontade de serví o seu cálice, tem vez qui o sangue fala mais alto e ocê repete aquilo qui jurô não respetí, inda bem, qui nas domingueira existe o modo de podê fazê da lamentação um sinal de arrependimento
—        E que chamado foi esse?
O pardo estendeu o braço com o cálice na mão, novamente. O siô padre retornô a tirá a rolha da boca da garrafa e, otra vez, encheu o copo da visita. Fez o mesmo com o seu cálice, afinal, nada melhó qui bebê com os amigo. O vinho aproxima as vontade e destrava a coragem
—        Não cumpri o chamado que achava ter escutado para ser padre.
O vinho não parava mais nas bochechas, descia direto da boca té a garganta, continuava descendo té subi pra cabeça
—        Bem, isso é uma surpresa.
As bochechas avermelhadas, o hálito quente, a euforia
—        E por que não atendeu ao chamado?
O pardo não sabe se qué confessá o pecado da traição: um peso a mais, um peso a menos, não ia mudá a força qui tinha qui fazê pra continuá indo em frente. Talvez fosse o vinho, ou não, ou a fala mansa do siô padre, pode sê qualqué coisa qui ocê acha de dizê qui é, e ele se confessô
—        Acho que o chamado não foi suficiente e claro. Por outro lado, o chamado das mulheres não deixava dúvidas, convincente e insistente. Fiquei com a convocação das mulheres. E o sinhô Padre nunca teve esse chamado?
O confidente levantô, como se algum vestígio desse tempo tivesse batendo na sua porta das memória, deixô o graal sobre a mesa, caminhô té a porta da sacristia. Os trabalhadô escravizado subia e descia com as pedra e as madeira, o vinho escorria das costa

—        O sinhô não acha uma bobagem criar nos padres a doença da castidade?
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Leia também:

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

XI – Mitologia dos Orixás : Orô [89] [90]

Orô
Reginaldo Prandi
Orô é traído pela mulher e se afasta do mundo
Era uma vez um grande caçador, que gostava de andar pelo mundo sem parar. Seu nome era Orô e era filho de Iemanjá.
Orô viajava, caçava e conquistava seus amores. Todas as mulheres tinham uma queda por Orô e ele adorava estar em sua companhia. Um dia Orô achou que era hora de assentar-se na vida.
Orô casou-se.
Era então o caçador pacato, que esperava ansioso o nascimento do seu primogênito. Mas sua mulher o traiu e abortou seu filho. Orô não a perdoou e desde então odiou as mulheres. Retirou-se para as matas que cercavam a cidade e nunca mais mulher alguma o viu.
Quem de Orô se aproxima, de dia ou de noite, pode escutar sua voz cavernosa e horripilante, grave como o som dos berrantes. Vive na mata como um egum, como um egum perdido e solitário, longe do mundo que tanto mal lhe fez.
É o senhor da floresta, que guarda e assombra, e todos o temem e o evitam.
Evitam até mesmo ouvir o pavoroso som de sua garganta, especialmente as mulheres, que ele odeia e culpa por sua triste sina. Vive na mata, onde aplica sua justiça, devorando feiticeiros, criminosos condenados e mulheres adúlteras que os homens lhe entregam. Só os homens dele se aproximam. Nem as mulheres podem ver Orô, nem Orô quer ver as mulheres.
[89]

Orô assusta o povo com seus gritos
Uma vez, numa antiga cidade africana, estava para acontecer um grande festival, em que os antepassados egunguns desfilavam pelas ruas. Foi recomendado a todos que fizessem sacrifícios, que oferecessem carneiros e galos.
Dizem que Xangô fez sete vezes o ebó designado, enquanto Orô nem pensou em tal assunto. Assim, quando Orô saiu a dançar pelas ruas, todos o acharam muito bonito, mas dele fugiram aterrorizados, logo que ele recomeçou a berrar. Sua voz era profunda, rouca, cavernosa, como o som saído de um berrante. Seu grito era insuportavelmente apavorante.
A cidade ficou deserta, sem uma só pessoa na rua. Todos se esconderam de Orô.
Com Xangô, o único que fez o ebó, foi o contrário: quando saía à rua era um sucesso. Todas as mulheres do local o festejavam, presenteando-o com ojás e muitas roupas finas, até que por fim resolveram coroá-lo e pô-lo no trono como rei, depois de ele ter conquistado quase todas as mulheres do local.
Orô, coitado, a partir daquele dia viveu sempre escondido, viveu sempre longe dos demais, sempre temido pelo som horrendo de sua garganta. Vive deste então sozinho na floresta e quando sai à rua todas as mulheres se escondem, com medo de sua visão e de sua voz.
[90]
_________________
Leia também:

X – Mitologia dos Orixás: Orixá Ocô [82]
XII – Mitologia dos Orixás: Oquê [91] [92]

Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileiraMorte nos búziosIfá, o AdivinhoXangô, o TrovãoOxumarê, o Arco-ÍrisContos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundoMinha querida assombraçãoJogo de escolhas e Feliz Aniversário.


Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Um conto de amor

A vitória



Ontem o esporte se inscreveu nestas histórias que se perpetuam na vontade das pessoas de não esquecer. Um conto de fadas? Não. Um conto de terror? Não. Um conto do amor de uma vida inteira.






baitasar 


A propósito da vitória das meninas do handebol feminino, campeãs do mundo, ontem, lá na Sérvia, lugar que só visitei nos livros e nas imagens dos noticiários, ou ainda, em algum filme sobre guerras e intolerâncias, como tantas já vistas em todos os tempos e lugares do mundo, senti uma alegria profunda, um gosto irresistível de compartilhar aquela emoção viajada por continentes e oceanos, até chegar aqui, num tubo de imagem velho e cansado.

O entusiasmo não estava apenas dentro de mim, mas nos amigos e amigas do meu passado handebolista – é assim que se escreve? sei lá, não tem importância. Foi quando a nostalgia do cheiro da bola, dos gritos e apitos, os abraços e as lágrimas retornaram. Uma vitória construída em muitos anos. Existiram desistências, é certo, mas apenas para fortalecer a emoção das persistentes e incansáveis meninas Campeãs do Mundo!

“Eis por que a maior parte da nossa memória está fora de nós, numa viração de chuva, num cheiro de quarto fechado ou no cheiro de uma primeira labareda, em toda parte onde encontramos de nós mesmos o que a nossa inteligência desdenhara, por não lhe achar utilidade, a última reserva do passado, a melhor, aquela que, quando todas as nossas lágrimas parecem trancadas, ainda sabe fazer-nos chorar.” Marcel Proust

É isso: o conhecimento do passado está fora de si, está nos cheiros, na bola, nos apitos, nas viagens, nas cantorias, no grito de gol, os cheiros do vestiário, as conversas, as cobranças, os abraços, o consolo, e no rosto dos personagens a resistência coletiva dos treinos, a vontade de vencer.

A minha memória está lá fora, em 1969, primeira série ginasial, aluno do professor Marquinhos - Colégio Carlos Chagas – viajamos de Canoas até a Vila Scharlau, em São Leopoldo, era o dia do handebol, organizado pelo professor Benno. Um menino com 12 anos campeão. Um dia para não esquecer. Outros houve, mas naquele dia descobri o meu esporte, a minha paixão. Meus primeiros torneio são memórias fora de mim que essas meninas fizeram deslizar em meu rosto já marcado pelas cicatrizes do tempo.

Eu vivi para ver isso!

sábado, 21 de dezembro de 2013

Fatos que mudaram a história do Rock (04)

Pete Townshend compõe My Generation

The Who


Trecho do livro 50 fatos que mudaram a história do rock...

Data: junho de 1965, Belgravia, Londres

"É a música que define o The Who, uma canção com um riff de guitarra clássico que sempre será associado a Pete Townshend, compositor da banda, e a década na qual nasceu. 'My Generation' foi composta em 1965 e, quase meio século depois, sua capacidade de reduzir o ouvinte à submissão permanece plenamente intacta. 'My Generation' é um dos principais hinos dos anos 1960 e da juventude em geral. E poderia nunca ter sido composta se não fosse a família real."










Live at Woodstock



Minha Geração

As pessoas tentam nos colocar pra baixo (falo da minha geração)
Só porque estamos por todos lados (falo da minha geração)
As coisas que eles fazem parecem terrivelmente frias (falo da minha geração)
Espero morrer antes de ficar velho (falo da minha geração)

Refrão:
Minha geração, essa é a minha geração, baby

Por que vocês todos não desaparecem (falo da minha geração)
E não tentam entender o que nós dizemos (falo da minha geração)
Eu não estou tentando causar uma grande sensação (falo da minha geração)
Só estou falando sobre a minha geração (falo da minha geração)

Refrão

Por que vocês todos não desaparecem (falo da minha geração)
E não tentam entender o que nós dizemos (falo da minha geração)
Eu não estou tentando causar uma grande sensação (falo da minha geração)
Só estou falando sobre a minha geração (falo da minha geração)

Refrão

Minha, minha, minha, minha geração

As pessoas tentam nos colocar pra baixo (falo da minha geração)
Só porque estamos por todos lados (falo da minha geração)
As coisas que eles fazem parecem terrivelmente frias (falo da minha geração)
Espero morrer antes de ficar velho (falo da minha geração)

Refrão

Estou falando sobre a minha geração (minha geração)
(8x)


Composição: Pete Townshend

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Outras histórias:

Fatos que mudaram a história do Rock (03)
Elvis Presley and Frank Sinatra

Fatos que mudaram a história do Rock (05)
BOB DYLAN adota a guitarra elétrica


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Auto-ajuda: Mafalda

1º dia das férias






Mais Auto-ajuda:

Auto-ajuda: Mafalda, às vezes vocês não se sentem um tanto indefinidos?



A Whiter Shade Of Pale

Procol Harum









A Polêmica e Misteriosa Letra de A Whiter Shade Of Pale – Procol Harum – 1967

paintboxtalks





Enquanto o mundo se deleitava com o álbum Sgt. Pepper’s, dos Beatles, a música que estava em primeiro lugar nas paradas britânicas era A Whiter Shade Of Pale, o primeiro single do Procol Harum. A canção, que mistura rock, classissismo e música barroca, tem mais de 900 versões de outros músicos e estabeleceu um conexão da banda com os Beatles e Jimi Hendrix. Sua importância é tal que abriu as comportas do rock para trabalhos como Bohemian Rhapsody, do Queen, e toda a obra de Rick Wakeman. Assim como Money For Nothing, do Dire Straits, nasceu de uma conversa ouvida casualmente, Keith Reid, tomando café, ouviu alguém dizendo para uma garota “You’ve gone a whiter shade of pale”, e BUMMM! aí estava o título da canção que começou exatamente assim: pelo título. A letra faz referência a Shakespeare, a Milton, e contém elementos sobrenaturais e mitológicos. Até hoje estudiosos tentam explicar o seu significado sem completo sucesso. A música é romântica, trágica e sombriamente mágica. De difícil tradução, A Whiter Shade Of Pale fala sobre muitas coisas e muitas outras ficam subentendidas. As traduções que encontrei na Internet, para o português, não me satisfizeram nem um pouco, nem puderam me servir de base, então eu mesmo fiz a tradução e adaptação da letra para o português. A métrica e a poesia ficaram, sim, prejudicadas, mas o conteúdo não. Fiz o possível para que a mensagem ficasse clara para vocês e o trabalho é revelador. Leiam e tirem suas conclusões.

“Translúcida E Pálida Como A Morte”

“Dançamos um alegre fandango, Deslizando em círculos pelo soalho / Eu estava me sentindo meio mareado,/ A multidão gritava pedindo mais. O lugar rangia duramente/ e o teto voou para longe,/ Quando pedimos um outro drink/ O garçom trouxe uma gamela.

Era uma hora tão tardia, Que quando a mariposa contou sua história,/ A face dela, antes apenas fantasmagórica,/ Tornou-se translúcida e pálida como a morte.

Disse ela, “Não há o que discutir,/ A verdade é evidente, pode-se ver”./ Mas eu estava perdido em meu baralho,/ e não permitiria que ela se tornasse uma das dezesseis virgens vestais/ que partiam para o litoral.

Embora meus olhos estivessem abertos, talvez tenham sido fechados. E era uma hora tão tardia,/ Que quando a mariposa contou sua história,/ A face dela, antes apenas fantasmagórica,/ Tornou-se translúcida e pálida como a morte.

Disse ela: “Estou em casa, na praia do adeus”/ embora na verdade, estivessemos no mar,/ Então levei-a pelo espelho e a forcei a concordar, dizendo: ‘Você deve ser a sereia que levou Netuno para para cavalgar.’/ Ela, porém, me sorriu com tamanha tristeza que minha ira dissipou-se imediatamente.

Sendo a musica o alimento do amor/ a risada, então, é sua rainha/ Igualmente se o que está oculto será revelado/ então o que é imundo será purificado pela verdade.

Minha boca, como uma cartolina, abriu-se de um lado a outro de minha cabeça

Afundamos rapidamente e nos despedaçamos no leito do oceano. ”

Abraços Progressivos!!!

Tupi


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OProfessor achou uma outra tradução


Um Tom Mais Claro de Palidez


Nós dançamos o suave fandango
Batemos palmas pelo salão
Eu estava me sentindo meio enjoado
Mas a multidão pedia mais
O barulho no salão estava ficando maior
Enquanto o teto voava para longe
Quando pedimos mais uma bebida
O garçom trouxe a bandeja

E foi aí que mais tarde
Enquanto o moleiro contava sua história
O rosto dela, a princípio apenas fantasmagórico
Ficou um tom mais claro de palidez

Ela disse: Não há razão nenhuma
E a verdade é fácil de ver
Mas eu me distraía no meu jogo de cartas
E não a deixava ser
Uma das dezesseis virgens vestais
Que estavam partindo para o litoral
E embora meus olhos estivessem abertos
Seria melhor se eles estivessem fechados

E foi aí que mais tarde
Enquanto o moleiro contava sua história
O rosto dela, a princípio apenas fantasmagórico
Ficou um tom mais claro de palidez


Talvez você mesmo faça a sua tradução. Tá na preguiça? Então vá escutando...


A Whiter Shade Of Pale

We skipped the light fandango
Turned cartwheels 'cross the floor
I was feeling kinda seasick
But the crowd called out for more
The room was humming harder
As the ceiling flew away
When we called out for another drink
The waiter brought a tray

And so it was that later
As the miller told his tale
That her face, at first just ghostly
Turned a whiter shade of pale

She said, 'there is no reason
And the truth is plain to see
But I wandered through my playing cards
And would not let her be
One of sixteen vestal virgins
Who were leaving for the coast
And although my eyes were open
They might have just as well've been closed

And so it was that later
As the miller told his tale
That her face, at first just ghostly
Turned a whiter shade of pale





Depois vieram:

Dire Straits - Money For Nothing





Queen - Bohemian Rhapsody





Rick Wakeman - Journey to the Centre of the Earth






Journey to the Centre of the Earth
Full Album 1974












quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Gente Pobre

Fiódor Dostoiévski


Anteontem Bíkov esteve aqui. Eu estava sozinha, Fiódora havia saído. abri-lhe a porta e assustei-me ao vê-lo que não conseguia me mover do lugar. Senti-me empalidecer. Ele entrou rindo alto, como de hábito, pegou numa cadeira e sentou-se.


Dostoiésvki, Fiódor, 1821-1881
        Gente pobre / Fiódor Dostoiésvki; tradução, posfácio e notas de Fátima Bianchi - São Paulo: Ed. 34, 2009.

















A reunião vai começar

Teatro Pedagógico 05
baitasar
Por onde começar e ficar longe desse canibalismo em nome do amor? O que é uma escola saudável? Queria lembrar a boniteza do início, o encantamento misturado à arrogância reformadora da juventude, inconformada de morrer antes do dia. Enfrentando a miudeza dos dias se repetindo embaciados e invisíveis, a mistura das teses, as rendas bordadas com os miseráveis. Outro mundo impossível.
Exagero nas contas das pontas de cigarro. Queria terminar mais um com uma boa tragada e um suspiro profundo. As fumaças me ocultam.
Nada de chamarem para a reunião.
Um dia destes, que não recordo com clareza, conheci um homem muito humilde que gostava de martelar coisas na madeira. Usava pregos enferrujados, entortados, recuperados. Comprei algumas gramas de pregos e dei para o homem humilde. Aquelas poucas gramas de pregos fizeram um homem muito feliz. Vi no seu rosto um sorriso incontrolável, largo e completo. Quantas vezes vi esse mesmo sorriso? Algumas gramas de prego e a felicidade. Algum dia, talvez eu precise me contentar com alguns pequeninos goles de ar
—        Ano que vem quero o mesmo ano-ciclo... — essa é Fernanda Maura, as escolas sempre têm pelo menos uma Fernanda Maura, conhecida pelo esforço que faz para manter a circunstância de mais antiga, garantia para fazer suas escolhas
—        Maura, você não cansa de se repetir?
—        Samuel , os anos de experiências me ensinaram que cada turma é diferente da outra, mas podem ter os mesmos conteúdos. — respondeu com um olhar de terna dor por seu colega, ele ainda não chegou onde ela já esteve, mas conseguiu sair.
O meu olhar atento passeia no seu entorno. É preciso alguma prática para ouvir com os olhos
—        Já chegou o formulário do remanejo?
—        Pensando em sair, Eduardo?
Estou sentada tentando ler meus e-mails, quase desisto, não consigo me concentrar, eu sei que esse é um problema meu, mas
—        Vai depender da biometria da Ághata? — respondeu lacônico e cansado.
Eu não sabia dessa biometria.
O remanejo abre um conjunto de novas oportunidades, solicitar a transferência de escola, mudar, pôr-se em outro lugar, novos ares, maneiras diferentes de perguntar e responder, outro aluno, outra rotina, outras formigas, outras cigarras
—        Gurias, hoje, se houver reunião, vou sugerir a leitura da parábola: “A xícara transbordante”. Vocês conhecem?
—        Eu não conheço, Jacobina.
—        Nem eu.
Eu também não conhecia, mas fiquei calada, queria ler meus e-mails
—        Querem ouvir?
—        Claro, Jacobina. Mas não seria melhor na reunião?
—        Agora, gurias... é só um minutinho, vou resumir. Lá, na minha outra escola, é diferente. Conversávamos mais sobre as coisas práticas para desmanchar alguns nós do dia-a-dia. Todas nós sabemos que é na prática que as coisas se resolvem. — esta é a Jacobina, em estágio probatório na matrícula mais nova, poderia se queixar das dores nas pernas, escadas demais para subir ou descer, mas se mantém disposta e coerente
—        Estamos ouvindo.
—        Obrigada, Acemira. O título desta parábola oriental é: “A xícara transbordante”. Certa vez, um mestre oriental recebeu uma visita que queria saber algo sobre o conhecimento. Mas, em vez de ouvir, o visitante só falava sobre as suas ideias. Falava falava e falava, enquanto ouvia o mestre resolveu servir um chá, encheu a xícara do visitante até transbordar e continuou a derramar o chá, finalmente, o visitante não se conteve e exclamou, Não vês que a xícara está cheia, Sim, respondeu o mestre parando de derramar, És como está xícara, estás cheio de tuas próprias ideias, e terminou perguntando, Como queres que te mostre o conhecimento, se não me trazes uma xícara vazia? — ficamos em silêncio
Continuo em silêncio, ensino aprendendo, mostro caminhos caminhando, mas não caminho só, o caminho é andante, outras histórias, disfarces, não posso ficar alheia aos inúmeros processos e mudanças sociais do cotidiano, minhas e deles, câmbios nossos. A consciência política do cotidiano para perceber e reconhecer as profusas teorias pedagógicas assentadas em realidades diversas do universo do nosso aluno e responder se manteremos o já criado ou questionamos o que está posto, desvelar o não explicitamente exposto: uma fila de cordeiros
—        Você os vê como xícaras vazias, na espera, aguardando o depósito bancário do conhecimento. Como será que eles a veem, Jacobina? Como uma chaleira ou um bule de porcelana? Uma antiguidade sem utilidade que podem jogar no chão e quebrar? — o Samuel não parece brincar. Ninguém parece se importar, os disfarces se multiplicam na medida das pessoas caladas. A colega faz um gesto de inconformidade e parece querer responder ao Samuel, mas se cala, obedecendo ao sinal da Acemira
—        Alguém viu a minha bolsa? A reunião já começou?
—        Nãoooooo!
A fenda pedagógica é tamanha que parece não ter fundo, talvez a pedagogia seja uma traição inevitável e absolutamente necessária à educação popular na fabricação de eunucos. Histórias tristes e de lembrança dolorosa não são instrutivas apenas para acalmar a dor das senhoras e senhores armados de giz, talvez devamos aprender com a nossa história. Não podemos esquecer que o poder cria o seu próprio poder, a fraude pedagógica – consciente ou inconsciente – com as classes populares volta a me atormentar. Os invisíveis.
Estranho isso de apontar aparência para gente invisível que desaparece sem brilho sob o cobertor de terra. Catacumbas. Nomes desconhecidos. Uma guerra de mortos e sobreviventes feridos de morte. Os gritos rolam uns sobre os outros, perdem lascas. A partida da vida não tem volta, mas tem gosto de dor repetida. A árvore está muito envelhecida e continua agarrada a vida por suas raízes imensas, tentáculos de astúcia.
Pelo movimento, parece que a reunião vai começar
—        Colegas, queria me desculpar pelo atraso, mas estou chegando do velório de um colega que faleceu nesta madrugada.
O silêncio é instantâneo.
Este é o Aguinaldo, diretor da escola.
—        Fiquei sem meu celular, enfim... vamos começar.
—        Meu Deus, quem foi, Aguinaldo?
—        O Mauro.
Nos olhamos mudas, não conheço, Eu também não conheci, Não lembro
—        Ele trabalhou há muitos anos, aqui na escola. Estava bem velhinho, mas dizem que muito lúcido, até quando evocava Makarenko e Paulo Freire para suas conversas teóricas e debates pós-modernos.
—        Conheci, diz Jacobina, um dinossauro.
Ficamos chocadas. Alguns lembram outras não recordam nada, não conheceram, mas ficou no ar a promessa que cedo ou tarde alcança todos. Ninguém é esquecido, a escolha é simples: viver junto ou viver só. Não tenho medo, mas parece que, num breve instante, a solidão desabou sobre o abrigo, acabávamos juntos. Um breve coletivo. Uma mesma espécie. Ninguém sabe quando será para valer. Rostos mortais, mascarados, iludidos com o teatro, disfarçados com a soberba, uma espécie de deus desconhecido. É desconcertante a indulgência da perfeição sem sabedoria, o apego da esperança à vida sem vida, Um mal não é um mal para quem não o sente
—        O que foi Anita?
—        Nada, Marko. Os pensamentos escapando pela boca. Recitando o que já foi dito há muito tempo.
O Aguinaldo continuava parado, esperando os murmúrios silenciarem. É preciso ter paciência e, por vezes, elevar a voz acima das vozes murmurantes

—        Colegas, a reunião já vai começar... sala 14!
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Leia também:
TP 04 - Maldito ou bendito, eu não sei

TP 06 - As regras do mais forte