sábado, 31 de maio de 2014

Mel de uruçú.

Alceu Valença



Morena Tropicana




Tropicana (Morena Tropicana)
 
Da manga rosa
Quero gosto e o sumo.
Melão maduro, sapoti, juá.
Jaboticaba, teu olhar noturno;
Beijo travoso de umbú cajá.
Pele macia,
Ai! carne de cajú!
Saliva doce, doce mel,
Mel de uruçú.
Linda morena,
Fruta de vez temporana,
Caldo de cana caiana,
Vem me desfrutar!
Linda morena,
Fruta de vez temporana,
Caldo de cana caiana,
Vou te desfrutar!
Morena Tropicana,
Eu quero teu sabor.
Ai! Ai! Ioiô! Ioiô! (2x)
Da manga rosa
Quero gosto e o sumo.
Melão maduro, sapoti, juá.
Jaboticaba, teu olhar noturno;
Beijo travoso de umbú cajá.
Pele macia,
Ai! carne de cajú!
Saliva doce, doce mel,
Mel de uruçú.
Linda morena,
Fruta de vez temporana,
Caldo de cana caiana,
Vou te desfrutar!
Linda morena,
Fruta de vez temporana,
Caldo de cana caiana,
Vem me desfrutar!
Morena Tropicana,
Eu quero teu sabor.
Ai! Ai! Ioiô! Ioiô! (2x)
Morena Tropicana,
Eu quero teu sabor.
Ai! Ai! Ioiô! Ioiô! (2x)
Da manga rosa
Quero gosto e o sumo.
Melão maduro, sapoti, juá.
Jaboticaba, teu olhar noturno;
Beijo travoso de umbú cajá.
Pele macia,
Ai! carne de cajú!
Saliva doce, doce mel,
Mel de uruçú.
Linda morena,
Fruta de vez temporana,
Caldo de cana caiana,
Vou te desfrutar!
Linda morena,
Fruta de vez temporana,
Caldo de cana caiana,
Vem me desfrutar!
Morena Tropicana,
Eu quero teu sabor.
Ai! Ai! Ioiô! Ioiô! (2x)
Morena Tropicana!...



La Belle De Jour




Anunciação



Perfeita anunciação
 

Samba, chuva, chimarrão e sopão

Elza Soares

Uma mulher uma rainha mulher-rainha mulherainha com muitaaaa história e históriassss!


Se Acaso Você Chegasse





Se Acaso Você Chegasse

Composição: Felisberto Martins e Lupicínio Rodrigues

Se acaso você chegasse
No meu chateau e encontrasse
Aquela mulher que você gostou
Será que tinha coragem
De trocar nossa amizade
Por ela que já lhe abandonou?

Eu falo porque essa dona
Já mora no meu barraco
À beira de um regato
E de um bosque em flor
De dia me lava a roupa
De noite me beija a boca
E assim nós vamos vivendo de amor



Com que Roupa




Elza, Miltinho e Samba (1967), para a Odeon, com arranjos de Maestro Orlando Silveira apoiado pelo Maestro Nelsinho e Lyrio Panicalli. Samba e piano suingando!

Com Que Roupa?
Noel Rosa


Agora vou mudar minha conduta
Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com a força bruta
Pra poder me reabilitar

Pois esta vida não está sopa
E eu pergunto: com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Agora eu não ando mais fagueiro
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
Não consigo ter nem pra gastar

Eu já corri de vento em popa
Mas agora com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Eu hoje estou pulando como sapo
Pra ver se escapo desta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo
Eu vou acabar ficando nu

Meu terno já virou estopa
E eu nem sei mais com que roupa
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Seu português agora deu o fora,
Já foi-se embora e levou seu capital.
Esqueceu quem tanto amou outrora,
Foi no Adamastor pra Portugal,

Pra se casar com uma cachopa,
Mas agora com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Composição: Noel Rosa



Samba do Zirigidum




Elza arrasa quarteirão ao lado de Miltinho no Prêmio Sharp de Música, homenagem a Jackson do Pandeiro, em 1997. E me deixa aplaudindo em pé em pé empéempéempé



Não Ponha a Mão




Cadeira Vazia




Cadeira Vazia
 
Entra, meu amor, fica à vontade
E diz com sinceridade o que desejas de mim
Entra, podes entrar, a casa é tua
Já que cansaste de viver na rua
E os teus sonhos chegaram ao fim
Eu sofri demais quando partiste
Passei tantas horas triste
Que nem quero lembrar esse dia
Mas de uma coisa podes ter certeza
O teu lugar aqui na minha mesa
Tua cadeira ainda está vazia
Tu és a filha pródiga que volta
Procurando em minha porta
O que o mundo não te deu
E faz de conta que sou teu paizinho
Que tanto tempo aqui ficou sozinho
A esperar por um carinho teu
Voltaste, estás bem, estou contente
Mas me encontraste muito diferente
Vou te falar de todo coração
Eu não te darei carinho nem afeto
Mas pra te abrigar podes ocupar meu teto
Pra te alimentar, podes comer meu pão.

Composição: Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves


Nervos de Aço
Lupicínio Rodrigues


Você sabe o que é ter um amor, meu senhor?
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor,
Ao lado de um tipo qualquer?

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço,
Que nem um pedaço do seu pode ser?

Há pessoas de nervos de aço,
Sem sangue nas veias e sem coração,
Mas não sei se passando o que eu passo
Talvez não lhes venha qualquer reação.

Eu não sei se o que trago no peito
É ciúme, é despeito, amizade ou horror.
Eu só sei é que quando a vejo
Me dá um desejo de morte ou de dor.

Composição: Lupicínio Rodrigues



Não me diga adeus




Elizeth Cardoso e Elza Soares cantam "Não me diga adeus" no show "Sambão" (TV Record) por volta de 1974.


Malandro




A Carne




A Carne
 
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que fez e faz história
Segurando esse país no braço
O cabra aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
E esse país
Vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado
Mas mesmo assim
Ainda guardo o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar

A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Composição: Seu Jorge



Beba-me


 

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Gente Pobre

Fiódor Dostoiévski


Página 9

"Oh, estou farto desses contadores de história! Em vez de escrever alguma coisa útil, agradável, prazerosa, mas não, revolvem todos os podres da terra!... Pois eu os proibiria de escrever! Ora, o que parece isso: a pessoa lê... sem querer se pega pensando - e aí lhe vem à cabeça todo tipo de disparate; palavra que os proibiria de escrever; no fim das contas eu pura e simplesmente os proibiria."

Príncipe V. F. Odóievski


Do conto "O morto vivo", de 1839, de Vladímir Odóievski (1804-1869).

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Uma foguista do diabo

Ensaio 3A - 2ª edição

baitasar

Foram cem anos de bajuladores cortesãos, galanteios, baldas e cismas, paixões e caprichos, ordens e contraordens. Uma vida breve, mas intensa. Cumpri meus compromissos com as meninas. Nunca deixei minhas flores do mal murcharem por secura da atenção. É bem do jeito que o General explicava entre os rolos de fumaça do seu charuto cubano e tragos da nossa cachaça
—      Esse é o nosso segredo, certo meninas?
Os amigos e os inimigos nunca souberam do costume do padrinho com a bebida e o fumo. O que era feito e dito não poderia ser quebrado pela indiscrição. E não bastava ter a etiqueta de gostosa, era preciso bom senso e ética. Assustou, neném? A fama se faz para o bem e para o mal, depois de feita não tem desfeita
—      Os segredos do padrinho em confiança na casa, daqui não saem.

O padrinho tinha vez que chegava e se ia direto para o quarto. Com a foguista. Chegava com o sorriso da travessura já pensada e pronta. Checava desimpedido. Outras, ele ficava com a conversa das meninas, saboreando os cubanos, a cachaça pura guardada para ele. Uma encomenda especial guardada para um vigilante especial da casa. E a vigília do padrinho se provou necessária
—      La Piedra não é dona da casa, por acaso. Conhece o dito que serve para os casos de controle, como o seu e o meu. É o olho da dona que engorda o negócio.
—      Não tem coisa mais certa que tenha sido dita, General.
—      Por favor, aqui não tenho posto militar.
—      Desculpe, padrinho. Esqueci.
Os homens podem ficar desapiedados e bestializados querendo as meninas como suas coisinhas. Ficava na decisão de cada menina o que poderia suportar. Costurávamos nossos retalhos de fantasias para suavizar nossas vidas e humanizar homens sem ouvidos para fábulas. As conversas com as meninas foram as melhores partes da vida de trabalho na casa. O padrinho tinha bom gosto com os presentes e jeito no trato com as meninas. Na casa não tinha costume de maldades. Coisas que se ouviam nos cochichos das ruas. Em todo caso, o padrinho foi a segurança das meninas por um longo tempo. Bons tempos foram aqueles. Pena que o tempo já passado não volta, dá uma saudade do padrinho conversando com as meninas, fumando e bebendo.
Madrugadas com chuva
—      Está chovendo, padrinho.
—      A chuva me enche de vontades na cama.
No caso de querer fazer filho, se fosse o caso, escolheria o tempo das chuvas. É quando plantamos maíz en la Montaña. Um ano com chuva boa e as plantações crescem bem. Os homens têm trabajo y la plata. E comida na mesa.
De qualquer jeito, não foram muitas as vezes que desejei fazer algum filho. Houve um tempo que esperava o homem extraordinário, incomum. Desperdicei-me esperando. Deveria ter experimentado mais. Depois que os filhos da casa nasceram essa vontade sumiu. Já tinha os meus filhos.
Vocês
—      E o meu cigarro?
Faz um bom tempo que a casa perdeu o seu comércio habitual e refinado. Depois do sumiço do padrinho, os movimentos na casa não foram mais os mesmos. Sentimos a falta dele. O homem sabia controlar o descontrole. E Olalla sabia desobedecer os desregramentos do padrinho. A casa entrou em decadência. Os bons costumes da casa perderam o jeito exclusivo. As oportunidades deixaram de ser discretas e reservadas. Qualquer puta cansada das ruas consegue abrir sua casa com aparência de seriedade
—      Mamãe, por que o padrinho se afastou da casa?
Perguntas, perguntas e mais perguntas, não quero responder, não preciso responder, me esqueçam. Mas esse moço com esse cabelo vermelho me lembra alguma coisa ou alguém, se parece com um foguista
—      Não sei, moço. Mas deve ter tido suas razões. — pronto, respondi.
Mas o moço não ficou satisfeito. Não sei não é resposta. Eu sei. Estou tão cansada. Não sei as horas nem os dias. O meu tempo não tem mais futuro. Acabei, aqui. Eu sabia as razões dos desvios no caminho. Nunca esqueci o padrinho. Mas tem importância que fica desimportada na poeira do chão. E quando chega o tempo de manter conversa com os espíritos antigos é sem importância a belezoca do corpo.
Os sete filhos criados.
Sete.
E não é conta de mentirosa. Nenhum a menos ou a mais.
Cumprida da vida na hora de partir.
—      Trabalhem, meninas. La Piedra cuida de tudo. — cada filho um pai, uma mãe. Mães diferentes. Pais desconhecidos. Eu, a mãe de todos. Imaginando vidas. Sempre cuidei das minhas meninas. Nunca deixei de cuidar o interesse das interessadas sobre a solução do embaraço — O que a menina quer fazer?
Não achava justo tomar decisão que não era minha, nem fazer fingimento que o embaraço de barriga não tinha influência nos ânimos da freguesia
—      Quero tirar... — sentia o aperto do molestamento, mas a decisão não requeria consideração. Cuidava do negócio como meu negócio. As meninas cuidavam do corpo como seu corpo.
Cada menina com a sua valentia
—      O que a menina quer fazer?
—      Quero deixar... — os olhos me alegravam. Oferecia a criação da casa.
A mocinha sementeira Olalla não disse que sim nem que não. Tinha tempo para muitas conversas até decidir os cuidados que ia ter. O tempo tinha futuro – Tudo bem, minha filha. Enquanto a sementeira não arredonda, o feitio é o mesmo.
Tem tempo
—      E quando crescer? — a maior belezura do tempo é o futuro. Dá ânimo e cria à vontade. Parece que tem tempo para todo futuro e tem futuro para todo tempo. Até que chega o dia que o tempo tem mais passado que futuro. E a inquietação, antes um ligeiro desconforto, apressa as urgências. Não haveria mais disfarces para esconder a menina cheia de vida.
Depois da brotação, outro dia, outra escolha, partir com o filho ou deixar na criação da casa
—      Vai doer? — dei um passo na direção da menina Olalla, tantas meninas assustadas. Peguei suas mãos entre as minhas, podia sentir sua respiração cismada.
La Piedra envelhecia
—      Para sempre, menina... para siempre.
Cuidava dos preparativos, não descuidava dos cuidados. El tiempo passa de um jeito ou de outro, era preciso se aprontar. Isso não é ensinado, vem do nascimento de cada dia. A urgência vem de saber da vontade do tempo em passar, seguir em frente. Nunca vi desânimo no tempo nem percebi diminuir sua vontade em devorar a atualidade. Não para. Não cansa. Devasta as putas mais e antes que as esposas. Desgraçadas das putas e das esposas que envelhecem, descarregam do corpo o futuro, ficam carregadas com as cicatrizes do tempo no passado
—      Coitadas das mulheres.
—      Por que, General?
—      O tempo esfria tudo.
Os tempos do General foram quentes, mas também esfriaram. As quenturas não eram do ar mormacento, afinal os trabalhos já quase chegavam às horas da friagem na alvorada
—      A menina está pronta? — a menina Olalla fez respiro profundo, um sorriso tristonho e saiu calada.
O ventilador quebrado.
Outros tempos e não ficaria quebrado.
No quarto, a foguista aproveitava a ventoinha parada, fazia escapar do padrinho o suor grosso e quente dos eu corpo de macho. Preparava o padrinho para o futuro. Adubava. Adiava. Amanhava. E manipulava. Fazia também trabalhos da educação e provocação do padrinho. Tudo premeditado.
Até que chegava o futuro e o padrinho suplicava
—      Me come... me come...

Ela comia.

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Leia também:
Ensaio 02A - 2ªed / O que não é ensinado

terça-feira, 27 de maio de 2014

Paralelo 30

Boi, boi, boi... boi da cara preta





01. Que se Passa? (Bebeto Alves) -> 00:01- 02:54 02. Sem rei (Cláudio Vera Cruz) -> 02:56 - 06:17 03. Águias (Nelson Coelho de Castro) -> 06:21 - 08:25 04. Maria da Paz (Carlinhos Hartlieb) -> 08:26 - 11:54 05. Água Benta (Nando D'ávila) -> 11:57 - 14:30 06. Fronteiras (Raul Ellwanger) -> 14:34 - 17:23 07. Te Procuro Lá (Raul Ellwanger) -> 17:25 - 19:19 08. De banquetes e de Jantares (Bebeto Alves) -> 19:22 - 22:48 09. Ruínas de um Sonho (Cláudio Vera Cruz) -> 22:51 - 26:28 10. Admirado por Todos (Carlinhos Hartlieb) -> 26:32 - 30:27 11. Como Relâmpagos no Céu (Nando D'ávila) -> 30:33 - 33 12. Rasa Calamidade: htt p://youtube/LU-hxH0e3NE



Claudio Vera Cruz
Ruínas de um sonho




Nelson Coelho de Castro
Ver-te / Algo teu




Ver-te
Nelson Coelho de Castro

Foi tão bom te ver rever-te ver-te
Como antes de rever-te nos vimos
Agora no solitário agora
Ver-te verte tudo com sabor e tudo
Do primeiro louco ver-te

No mais o coração ainda está apaixonado
Como apaixonado ainda está o ver-te
E ver-te novamente verte o ver-te igual
E necessariamente é preciso sempre ver-te

Algo teu diz a minha vida
Como tudo então
De um caminho novo
Ai, vou me mandar
Ao fim aonde não sei mais eu vou
Pois me vale o rumo
que o teu coração me dá

Composição: Nelson Coelho de Castro


Raul Ellwanger
O Pequeno Exilado



Pequeno Exilado
Raul Ellwanger


Participação Especial: Elis Regina

Navegas, navegas, navegas
Lá do outro lado do oceano
Na palma da mão já carregas
Vinte mil leguas de sonhos

Seguindo o teu pai que te leva
À bordo dos teus nove anos
Pequeno exilado sem pátria
Navegas teu barco de engano

Navegas teus olhos molhados
Na capital dos franceses
Carregas teus olhos chorados
Contando dias e meses

Menino crescido tem terra
Teu único plano primeiro
É ver terminar tanta espera
É ser cidadão brasileiro

Guerreiro do Bairro da Glória
Duende do Bairro Floresta
Vem cá conhecer nossa história
Malandros, calçadas e festas

Só quero te ver na cidade
Cantando em bom português
Canções de gritar liberdade
Daquela que usa o francês

-Vou me embora
-Vou me embora

Navegas, navegas, navegas
Lá do outro lado do oceano
Na palma da mão já carregas
Vinte mil leguas de enganos

Guerreiro do Bairro da Glória
Duende do Bairro Floresta
Vem cá conhecer nossa história
Malandros, calçadas e festas

Boi, boi, boi
Boi da cara preta...

Composição: Raul Ellwanger



segunda-feira, 26 de maio de 2014

Pegadas

Bebeto Alves





Pegadas

Nas pegadas das minha botas
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade de meus versos
O sonho dos meus amigos
Caminhando pelas ruas de
uma cidade americana
Eu percebo que não quero migalhas
Nem tampouco medalhas
Isso tudo é ilusão
Vendo as mesmas mentiras
num país desenvolvido
Armado até os dente para a guerra
Me dói o coração
Perceber a situação que estamos
envolvidos sem perspectivas
De qualquer solução
Nas pegadas...
É quando penso na razão que nos leva a acreditar
Que estamos mudando um país
Uma voz vem lá de dentro que me diz
Que o sistema no fundo é o mesmo
e em nós se perpetua
E não cabe mais aqui e agora
essa máquina que nos fez aprendiz
De um poder vagabundo
Nas pegadas das...
E não podemos mais
desperdiçar energia
Com uma vazia retótica estética
amordaçando o grito de um coração
Que luta contra toda falta de perspectiva
e informação do pensamento
Abatido pelos mísseis imperialistas
dentro de sua própria nação
com toda falta de cultura, sensibilidade,
amor, respeito e educação
Nas pegadas...
E fico puto ao constatar que
desperdiçamos tempo parados em segredo
Bebendo num bar que nos feriu
a memória e nos tirou a força humana
O único sentido de revolução de um ser
O objetivo intrínseco de um homem
novo de qualquer geração
Para toda e qualquer falta de possibilidade
Tem que haver reação
Nas pegadas...
E agora eu sei que o que nos ensinou a esperar inutilmente
Foi a burocracia, o misticismo e a religião
Esperar por Deus, por alimento, pão
Esperar que as coisas mudem num próximo momento
E eu atento contra a culpa e o sofrimento
judaico-cristão
Contra toda dúvida e medo
Com muita insatisfação
Nas pegadas...
Caminhando pelas ruas de uma cidade americana
Eu lembro o poeta Duclós que disse-me estar a salvo -
não é se salvar
E eu complementaria, hoje em dia
se sentir salvo é esperar pela salvação
E nada nos salvará
Um dia, ainda, nos aniquilarão
Parodiando Russians do Tting
eu também diria
Então espero que os brasileiros amem seus filhos,
de coração
Nas pegadas...



Nei Lisboa
Faxineira




Carlinhos Hartlieb
Maria da Paz




Almôndegas
Gaudêncio sete luas




Vitor Ramil 
Loucos de Cara



Loucos de Cara
Kleiton Ramil / Vitor Ramil

Vem, anda comigo pelo planeta
Vamos sumir!
Vem, nada nos prende, ombro no ombro
Vamos sumir!

Não importa que Deus
Jogue pesadas moedas do céu
Vire sacolas de lixo
Pelo caminho

Se na praça em Moscou
Lênin caminha e procura por ti
Sob o luar do oriente
Fica na tua

Não importam vitórias
Grandes derrotas, bilhões de fuzis
Aço e perfume dos mísseis
Nos teus sapatos

Os chineses e os negros
Lotam navios e decoram canções
Fumam haxixe na esquina
Fica na tua

Vem, anda comigo pelo planeta
Vamos sumir!
Vem, nada nos prende, ombro no ombro
Vamos sumir!

Não importa que Lennon
Arme no inferno a polícia civil
Mostre as orelhas de burro
Aos peruanos

Garibaldi delira
Puxa no campo um provável navio
Grita no mar farroupilha
Fica na tua

Não importa que os vikings
Queimem as fábricas do cone sul
Virem barris de bebidas
No rio da prata

Boitatá nos espera
Na encruzilhada da noite sem luz
Com sua fome encantada
Fica na tua

Poetas loucos de cara
Maldito loucos de cara
Pirados loucos de cara
Ah, vamos sumir!

Parceiros loucos de cara
Ciganos loucos de cara
Inquietos loucos de cara
Ah, vamos sumir!

Vem, anda comigo pelo planeta
Vamos sumir!
Vem, nada nos prende, ombro no ombro
Vamos sumir!

Se um dia qualquer
Tudo pulsar num imenso vazio
Coisas saindo do nada
Indo pro nada

Se mais nada existir
Mesmo o que sempre chamamos real
E isso pra ti for tão claro
Que nem percebas

Se um dia qualquer
Ter lucidez for o mesmo que andar
E não notares que andas
O tempo inteiro

É sinal que valeu!
Pega carona no carro que vem
Se ele não vem, não importa
Fica na tua

Videntes loucos de cara
Discrentes loucos de cara
Inquietos loucos de cara
Ah, vamos sumir!

Latinos, deuses, gênios, santos, podres
Ateus, imundos e limpos
Moleques loucos de cara
Ah, vamos sumir!

Gigantes, tolos, monges, monstros, sábios
Bardos, anjos rudes, cheios do saco
Fantasmas loucos de cara
Ah, vamos sumir!

Vem, anda comigo pelo planeta
Vamos sumir!
Vem, nada nos prende, ombro no ombro
Vamos sumir!

Bixo da Seda

domingo, 25 de maio de 2014

06 - General Calçacurta

O Cadáver do Calçacurta – 3ª edição revisada
Marchando em círculos
baitasar

Estiquei o rabo do olho. Acho que para ser mais educado devo dizer que espiei pelo canto do olho. Espionava o morto sem o morto saber. Uma pequena ação diplomática. Nesse momento, os vermes comunistas avançam de todos os lados em direção do General. Eu sou o último obstáculo para atingirem as carnes do morto. Vermes lobisomens. A agonia do desmanche havia começado. Não há mais vida, só gases.

Nenhuma reação do morto

-          Senhor, me permite sinceridade?

Nada.

Acho que o meu atrevimento deixou o morto calado. Acabaram-se os contatos com o mundo exterior. O rosto parece inchado, os olhos parecem de morto. Fechados. Colados com esparadrapo

-          Desembucha, soldado!

Levei outro susto. Tentou levantar. Suas mãos e uma das pernas tremiam. Estendeu-me uma das mãos tremelicando. Sempre com dificuldades conseguiu sentar-se, mas sua perna direita não parava de tremer
-          Soldado, estou pensando em me matar com um tiro.
-          Mas o senhor já morreu.
-          Isso não é morte de verdade para um soldado. Derrame.
Esse é o momento em que se fala antes de pensar, depois vem o arrependimento; é preciso ser desassombrado
-          Senhor, estou ficando sem jeito por não sentir a sua falta, e perceba que não se passou nenhum dia do seu passamento. Na verdade, tem muita gente achando que o senhor se acabou muito tarde. E já há outros dizendo que o mundo ficou melhor. As pessoas estão festejando.
Pronto, disse. Consegui.
Ele precisava saber.
Tudo ali exalava o cheiro da morte e escombros. A sanha destrutiva contra os desafetos, a agonia sanguinária das torturas, os suspeitos de deserção morriam amordaçados. O medo de ser acusado de deserção e cair nas mãos do tribunal secreto decretava o silêncio.
Não importa o tempo que levei para lhe dizer isso. Não foi por medo, não tenho medo do General. Foi só uma questão de encontrar as melhores palavras e colocá-las na boca, no momento certo. Acho que o senhor pode achar isso tudo um acerto de contas. Dane-se e pense o que quiser. O General nunca se importou em ser querido, acho que sempre se sentiu como um grande pai severo do povo. Um pai que ensina pelo castigo, pelo grito das ameaças. Um pai que mata por medo e cobiça. Um pai que importava mais que continuassem lhe odiando.
Queria ser odiado e temido, nunca fez qualquer esforço para ser amado. Tinha os filhos diletos que foi adotando pelo caminho. Para esses deu tudo que pode e quis. Os filhos odiados experimentaram o seu poder de juiz e algoz. Prendia, torturava e decretava pena de morte.
Acho que o mundo ficou melhor
-          Por quanto tempo, chupa-racha?
Estremeci de medo.
Sabia que ele ainda me mandava. Apertei as mãos com força, estava com raiva. Caminhava ao lado do ataúde, ia dos pés à cabeça e voltava aos pés. Até ficar cansado dessa incontinência. Não podia mudar o trajeto ao meu comando, para circundar a caixa fúnebre com uma volta completa, regressando sobre minhas pegadas, precisava existir uma contraordem as ordens dadas.
Continuei indo e vindo.
A batida da botina no chão, marchando e voltando. Um, dois, feijão com arroz; três, quatro, panela no prato; cinco, seis, tudo outra vez. Sem uma outra ordem não poderia me desobedecer. Nem começar o desfile circular nas redondezas do ataúde.
Continuei indo e vindo
-          Soldado!
Estremeci de novo, acho que jamais vou desacostumar de estremecer.
Acordou.
Já era tempo.
Quase acredito que o General é um morto-vivo. Parei a marcha para lá e cá. Eu me parecia com uma vareta verde tremendo
-          Sim senhor, senhor!
Fiz meia-volta, volver! Parei de tremer. Uma estátua de barro. Sentia orgulho de mim mesmo, minha ignorância, sacrifício e desinteresse pessoal. A melhor missão é cumprir às ordens.
O General parecia me gozando do ataúde
-          Parece que o saldado perdeu o controle da mão...
Não entendi a sua observação
-          O controle da mão, General?
Ele estava se divertindo, o filho-da-puta estava rindo da minha cara, mal conseguia evitar as gargalhadas
-          Abra as mãos.
Obedeci, claro. Abri as mãos.
Olhei uma, depois a outra.
Lá estava o animalzinho. Morto em minhas mãos. Tornei a fechar e abrir as mãos, o corpo continuava na palma de uma das mãos. Era verdade, dei a esmo dois passos
-          Soldado, cuidado com o alinhamento do corpo!
Pensei em me desculpar, afinal a intenção não era matar
-          Errei a mão, General.
-          Eu sei, esse dia chega para todos nessa profissão. Errar é humano.
Continuava com a mão fechada. O animalzinho escondido entre meus dedos encurvados. Uma mortalha nas mãos. Voltei minha atenção para o ataúde
-          Por que o senhor não me avisou?
-          Avisar do quê? Por quê? Somos um time que só joga para vencer, noventa milhões em ação, pra frente...
-          Por que, General? Era uma vida!
-          Isso mesmo, filho. Apenas uma vida; as outras, noventa milhões, estão salvas.
Não sabia o que fazer, nem os delírios do General ajudavam. Respirava rápido e cortado. Comecei a chorar
-          Soldado se recomponha! Aqui, não tem lugar para maricas!
-          Errei a mão, senhor...
-          Porra, chega dessa merda! Morreu... morreu. Paciência.
-          E agora?
O morto saiu do ataúde e parou ao meu lado. O hálito parecia com o chorume  insuportável do lixo. Passou o braço em meus ombros
-          Acontece, filho. Essas coisas acontecem. O que importa é o que você vai fazer.
Fazer isso ou aquilo é uma questão que a etiqueta das conveniências resolve. Têm coisas que são o que são. Posição de sentido. Continência. Descansar. Rezar. Gosto tanto destas aparências, elas cativam. Depois de um tempo passamos a sentir falta da tropa
-          O senhor é um homem de sorte, teve a vida na tropa. Nunca teve doença...
-          Que história é essa de doença, soldado?
As respostas levavam a outras respostas, o fim não era só o fim era o começo. Ele sabia que os fios desencapados podiam chegar em outras histórias que só a conversa não alcançava, mas as conversas podiam mostrar desvios e incoerências para os fios desencapados
-          Dessas que se pega no mato.
Deu um passo à frente e me levou junto
-          Era preciso intimidade com a natureza, mas já fui mordido por bicho.
-          Escapou da malária?
Começamos andar ao redor do ataúde, me conduzia como se eu só pudesse ser como eu era um cumpridor de ordens
-          Essa febre atacava os velhos e os novos. Não adiantava fumaça nem mosquiteiros. Fiz a tarefa de muito soldado caído pela febre. Tem um cigarro, filho?
Olho o morto espantado. Nunca vi o General de cigarro na boca. Perguntei se ia começar essa cisma depois de morto
-          Agora não importa mais. Não se morre duas vezes, né chupa-racha?
Não queria dividir os meus cigarros com um morto que anda. Um fantasma
-          E as suas ordens proibindo o cigarro?
Paramos de andar em círculos. Ficamos frente a frente. O chorume continuava insuportável
-          Não eram ordens, filho.
Todos sabiam dos riscos por desobedecerem suas vontades e não vontades. Até mesmo as ordens que jamais existiram precisavam ser cumpridas.
Ordens são ordens.
A linha de comando não podia ser quebrada. Soldados não são bonecos, somos homens que cumprimos ordens, homens que não fazem perguntas. Soldado obedecendo ordens deve se sentir como um peixe na intimidade das águas, ágil e decidido. Um soldado determinado.
Fazer o certo ou o errado é uma ordem que você recebe de si mesmo. E a ordem mais importante que um soldado aprende obedecer é obedecer suas ordens. Sentido. Continência. Descansar. Jurar. Gosto destas ordens. As aparências. Conheço pessoas boas que jamais farão coisas ruins, pelo menos, que se possa descobrir. Lutam o tempo todo consigo mesmas, não são pervertidas como esses comunistas.
Não gosto do assunto comunista. É conversa perigosa. As paredes têm ouvidos e olhos. Mas de tudo que escutei, um pouco ali, outro tanto aqui, o General rosnava que era o mato o único impedimento de arrancar todos os comunistas da face da terra. Não tinham firmeza, eram desorganizados, sem preparação nas armas. O armamento dos comunistas não tinha munição. Essa gente tinha sinais de fanatismo. Ficavam com os dentes estragados para se misturarem com os nativos da floresta.
Foi preciso enfrentar esses fanáticos
-          Faltou para esses filhos-da-puta o filho-da-puta argentino. Esse morreu e não deixou saudade, soldado. Logo, logo, cai no esquecimento.
Na mata os dentes estragados não podiam mais morder. Contam que a história do Curupira vermelho foi a mais complicada
-          Nem tanto, nem tanto.
Mas até o General descobrir que o danado usava os chinelos ao contrário para despistar, o senhor ia para um lado e o danado ia para o outro
-          O vermelho Curupira deu trabalho, mas o serviço da limpeza foi feito. Hoje, os dentes estragados são o que são: relaxamento.
-          Tudo passa, General.
-          Filho, isso ainda não acabou... não acaba nunca. O preço é a eterna vigilância.
-          Eu sei, General.
Deu uns passos atrás e retornou na sua acomodação. Eu segui minha vigília ao redor do ataúde. Agora, marchava em círculos.

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Leia também:
O Cadáver do Calçacurta – 3ª edição revisada / 05 - Sal grosso

Musical Saracura

Xote da Amizade






Mais quem foi, quem foram




Toda moça




Bolero-lero




Flor




Tango da Mãe




 Tango da Mãe

Todo menino que se prende
Pela mão de sua mãe
Diz que vai longe
Mas não passa do portão
Fica no muro ao lado dela
Atrapalhado com a rua
Enquanto o tempo
Estraçalha o coração

Todo menino que se preza
Fala mal de sua mãe
Diz que vai bem
Enquanto a velha passa mal
Fica no leito ao lado dela
Atrapalhado com a vida
Enquanto a velha
Se estrebucha de ferida

Como dói ser mamãe
Dar de leite pro menino
Pra depois ele morrer
Pela nação
Como dói ser mamãe
Dar de leite pro menino
Pra depois ele morrer
Na alienação

Composição: Claudio Levitan



Saracura - 1982
O primeiro e único disco do Saracura




 

sábado, 24 de maio de 2014

100 anos de Música em Porto Alegre

Histórias do Sul







Histórias do Sul


Documenta Rio Grande e Histórias do Sul

No ar de 22 de abril a 6 de junho de 2014

Exibições de terça a sexta-feira, às 20h

Reprises aos sábados, às 23h30 e 00h,
e aos domingos às 15h30 e às 16h

A TVE apresenta, de 22 de abril a 6 de junho, o Documenta Rio Grande, com 12 documentários inéditos realizados por produtoras de todo o estado, e o Histórias do Sul, com quatro minisséries também inéditas e produzidas por realizadores gaúchos.

O material foi produzido por iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura, que em 2012 lançou o Edital ‘Rio Grande do Sul Polo Audiovisual – Fundo de Apoio à Cultura (FAC)‘. Para a produção dos documentários e minisséries, foram destinados R$ 1,26 milhão às produtoras locais.

Com a participação de 16 produtoras gaúchas da capital e do interior do estado, a TVE abre a janela para exibição de produção local e independente, fomentando a realização audiovisual regional. O Documenta Rio Grande apresenta 12 filmes com assuntos como meio ambiente, crime organizado, gastronomia, relações entre cidades da fronteira do Brasil com outros países; a identidade cultural, memória; arte, o resgate da história de um grupo de teatro e de um clube fundado pela comunidade negra; road docs que revelam histórias pelo caminho; o folguedo e o escotismo.

A diversidade de temas também revela a variedade de locações onde foram realizadas as produções: Caçapava do Sul, Farroupilha, Santa Cruz, Osório, Nova Bréscia, Chuí, Jaguarão, Aceguá, Santana do Livramento, Quaraí, Artigas, Rivera, Rio Branco, Barra do Quaraí, Bella Unión, Araricá, Bom Princípio, Sapiranga e Presidente Lucena.

Quatro contos visuais inspirados no Bar Ocidente, uma história de auto conhecimento e solidariedade entre um grupo de adolescentes, a música produzida em Porto Alegre desde 1913 e um campeonato de bocha realizado em cidades fictícias. Esses são os temas das séries Histórias do Sul, exibidas a partir do dia 13 de maio.

Produtoras: Artéria Filmes; Clip Produtora; Coletivo Catarse, Coletivo Garapa; Colateral Filmes; Epifania Filmes; Estação Filmes; Modus Produtora de Imagens; Moviola Filmes; Panda Comunicação; ph7 Filmes; Rainer Cine; Sociedade Cultural União; TV Ovo; Verte Filmes e Zeppelin.

Confira a programaçâo:



Bocheiros
13 de maio – 3a.feira – Episódio 1 – (reprise sábado 23h30)
14 de maio – 4a.feira – Episódio 2 – (reprise sábado 00h)
15 de maio – 5a.feira – Episódio 3 – (reprise domingo 15h30)
16 de maio – 6a.feira – Episódio 4 – (reprise domingo 16h)

Bocheiros mostra sobre a rivalidade entre duas cidades, as fictícias Sereno do Sul (Santa Tereza) e Nova Serração, que se mobilizam em torno do Campeonato Mundial de Bochas que ocorrerá em Sereno do Sul, reabrindo velhas cicatrizes que o tempo não foi capaz de curar. Os Capivaras, time de Sereno do Sul, precisam vencer os arqui-inimigos de Nova Serração, os Guarás. Assim, o campeonato mundial acaba por se transformar em uma disputa regionalizada que aumenta a rivalidade entre as duas cidades.

Direção: Boca Migotto Roteiro: Leo Garcia, Luciano Braga, Marcela Bordin, Thiago Duarte e Tomás Fleck Produção Executiva: Mariana Müller e Pedro Guindani Direção de Arte: Bernardo Zortea Direção de fotografia: Bruno Polidoro Realização: Epifania Filmes





Porto Alegre 100 anos de Música

20 de maio – 3a.feira – Episódio 1 – (reprise sábado 23h30)
21 de maio – 4a.feira – Episódio 2 – (reprise sábado 00h)
22 de maio – 5a.feira – Episódio 3 – (reprise domingo 15h30)
23 de maio – 6a.feira – Episódio 4 – (reprise domingo 16h)

Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Por essas ruas, nos últimos 100 anos, passou de um tudo. Modismos, revoluções de pensamento, revoluções de fato. Momentos de copiar o mundo lá fora e momentos de um orgulho provinciano que só por aqui se sabe ter.

Cada dia destes 100 anos tem o seu som. E a soma de todos estes sons, é a cara dessa música, sobre a qual tanto se discute e tão pouco se concorda. Nesta série de quatro episódios, voamos no tempo da cidade, com Arthur de Faria, em busca dessa música, dos seus diferentes ritmos e melodias e principalmente dos seus variados personagens. Uma história que começa em 1913 e vai até hoje.
Direção Rene Goya Filho, Apresentação e pesquisa Arthur de Faria,  Direção de Produção Vivian Schäfer, Produção Executiva Laura Lautert, Direção de Fotografia Pablo Chasseraux, Rafael Berlezi e Rafael Wilhelm, Direção de Arte Janaína Falcão, Montagem Daniel Dode, Dregus de Oliveira, Leandro Schirmer e Rafael Berlezi,  Produção Estação Filmes.


Partiu?!

27 de maio – 3a.feira – Episódio 1 – (reprise sábado 23h30)
28 de maio – 4a.feira – Episódio 2 – (reprise sábado 00h)
29 de maio – 5a.feira – Episódio 3 – (reprise domingo 15h30)
30 de maio – 6a.feira – Episódio 4 – (reprise domingo 16h)

“Partiu?!” é uma história de auto conhecimento e solidariedade, que mostra os desafios que um grupo de adolescentes tem de passar para atingir os seus objetivos. Samuel (Giorgio Donatto) é amigo de Andressa (Juliana Silva), que após a trágica perda do pai, resolve ir procurar o avô. Sua única pista é um pingente em forma de navio, que o pai da garota lhe deu antes de morrer. Agora, Samuel ajudará a amiga a fazer uma jornada pelo Rio Grande do Sul, tentando descobrir qual o significado deste presente. Ao mesmo tempo, que tenta criar coragem para contar à Andressa sobre seus verdadeiros sentimentos por ela, Samuel tem que impedir que Giovani (Pedro Saul), amigo dos dois e garoto mais popular da escola, que também está junto nessa jornada, fique com a garota.
 
Roteiro: Bruno Carvalho e Edison Rodrigues; Direção: Bruno Carvalho; Direção de fotografia: Felipe Rosa; Direção de arte: Fernanda Jorge; Montagem Rafael Coelho; Música original: Augusto Stern e Fernando Efron; Produção: Eduardo Christofoli e Pedro Atoniutti; Produção executiva Eduardo Christofoli; Realização: Colateral Filmes
 
 


Ocidentes

3 de junho – 3a.feira – Episódio 1 – exibição na madrugada de terça para quarta, às 1h30 – (reprise sábado 00h)

4 de junho – 4a.feira –exibição na madrugada de quarta para quinta, às 1h30 -  Episódio 2 – (reprise sábado 00h30)

5 de junho – 5a.feira – Episódio 3 – exibição na madrugada de quinta para sexta, às 1h30 (reprise na madrugada de sábado para domingo 1h)

6 de junho – 6a.feira – Episódio 4 – exibição na madrugada de quinta para sexta, às 1h30 (reprise na madrugada de sábado para domingo 1h30)

A cidade vista através de histórias que se passam no Ocidente, o bar que acompanhou os descaminhos artísticos e amorosos de gerações e gerações. Entre os sabores particulares das madrugadas dos últimos anos, Ocidentes mostra como o DNA festeiro de Porto Alegre foi sofrendo mutações no decorrer de quatro décadas. As celebrações noturnas, as preferências etílicas, os gestos e as gírias temperam quatro contos visuais inspirados no Bar Ocidente. Ao mesmo tempo em que cada história é independente, possuindo personagens particulares, a progressão dos episódios cria uma narrativa que mapeia alterações nas relações humanas e sociais. As formas de falar, dançar, namorar, se relacionar e comunicar variam de época para época e ajudam a contar uma história de Porto Alegre através de uma das facetas mais interessantes da vida. A vida noturna.

Série não recomendada para menores de 18 anos.

Direção geral: Fabiano de Souza / Direção dos Episódios: Carlos Gerbase, Fabiano de Souza, Bruno Polidoro e João Gabriel Queiroz / Roteiros: Carlos Gerbase, Fabiano de Souza, Bruno Polidoro, Livia Pasqual e João Gabriel Queiroz / Direção de fotografia: Bruno Polidoro e João Gabriel Queiroz / Direção de arte: Enio Ortiz e Ana Musa Produção Executiva: Jéssica Luz, Milton do Prado e Fabiano de Souza Montagem: Milton do Prado / Som direto: André Sittoni e Tomaz Borges / Edição de Som e Mixagem: André Sittoni / Música: 4Nazzo / Realização: Rainer Cine

 

Fatos que mudaram a história do Rock (10)

Sergeant PEPPER


O lançamento

Data: 19 de maio de 1967, estúdio Abbey Road, Londres


Trechos do livro 50 fatos que mudaram a história do rock...

"No dia 19 de maio de 1967, um grupo cuidadosamente selecionado de jornalistas, DJs e fotógrafos (incluindo a jovem norte-americana Linda Eastman) se dirigiu ao número 24 da Rua Chapel, em Londres. Era a casa de Brian Epstein, empresário dos Beatles. Todos estavam ali para ouvir um disco que viraria o mundo de pernas para o ar: O nome era Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band. Também estariam presentes na festa os autores dessa obra extraordinária - os Beatles."




SSgt Pepper's Lonely Hearts Club Band





1. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band - 0:00
2. With a Little Help from My Friends - 2:02
3. Lucy in the Sky with Diamonds - 4:46
4. Getting Better - 8:15
5. Fixing a Hole - 11:03
6. She's Leaving Home - 13:39
7. Being for the Benefit of Mr. Kite - 17:14
8. Within You Without You - 19:53
9. When I'm Sixty-Four - 24:57
10. Lovely Rita - 27:35
11. Good Morning Good Morning - 30:17
12. Sgt Pepper's (Reprise) - 33:00
13. A Day in the Life - 34:20


"PEPPER se encaixava perfeitamente no então chamado verão do amor. Um álbum com personalidade tão cordial e tão cheio de invenção que logo se perdoam suas fraquezas"


"Provavelmente a capa de disco mais icônica que já existiu. Criada por Peter Blake, foi a primeira a trazer a letra das músicas. Foi inúmeras vezes citada por bandas e revistas."


"Strawberry Fields Forever foi a primeira música que a banda gravou, e ela era diferente de tudo o que já haviam tentado. Tudo nela - a estrutura, o som geral, a letra oblíqua - era inovador e inspirador. Demorou cerca de 45 horas para que a sua gravação ficasse perfeita."



Strawberry Fields Forever 








"PEPPER consumiu cinco meses da vida deles e foi gravado nos horários mais aleatórios."


"Depois da finalização de Strawberry Fields Forever, a banda voltou sua atenção a uma nova música de McCartney chamada Penny Lane... A EMI estava ávida por lançar um novo compacto do grupo. Para tirar a gravadora do seu pé, o grupo lhe deu o que possivelmente pode ser chamado de o maior compacto pop da história: Strawberry Fields Forever de um lado e Penny Lane do outro."



Penny Lane







"Embora vivesse se entupindo de LSD, a droga não afetava a enorme competitividade de Lennon. Longe disso. Em um curto espaço de tempo, ele compôs Lucy in the Sky with Diamonds, Being for the Benefit of Mr Kite... Good Morning Good Morning e A Day in the Life. McCartney revidou com Getting Better, Fixing a Hole e a refinada She's Laving Home."



Lucy In The Sky With Diamonds






She's Leaving Home







"Em 3 de junho, Sgt. Pepper entrou nas paradas britânicas e ali permaneceu por 201 semanas. Sobreviveu 175 semanas nas paradas norte-americanas. O disco vendeu 32 milhões de cópias e vive sendo indicado como o melhor de todos os tempos. Porém, mais que tudo isso, naquele verão de 1967, os Beatles mostraram a todos as grandes possibilidades do formato do álbum - para benefício de todos nós."



A Day In The Life







 
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Outras histórias:

Keith Richards e Mick Jagger

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Por isso eu corro demais

Adriana Calcanhoto







 Por Isso Eu Corro Demais
Adriana Calcanhotto


Meu bem qualquer instante
Que eu fico sem te ver
Aumenta a saudade
Que eu sinto de você
Então eu corro demais
Sofro demais
Corro demais só pra te ver meu bem

E você ainda me pede
Para não correr assim
Meu bem eu não suporto mais
Você longe de mim
Por isso eu corro demais
Sofro demais
Corro demais
Só pra te ver meu bem

Se você está ao meu lado eu só ando devagar
Esqueço até de tudo, não vejo o tempo passar
Mas se chega a hora de pra casa te levar
Corro pra depressa outro dia ver chegar
Então eu corro demais
Sofro demais
Corro demais
Só pra te ver meu bem

Se você vivesse sempre ao meu lado
Eu não teria
Motivo pra correr
E devagar eu andaria
Eu não corria demais
Agora corro demais
Corro demais
Só pra te ver meu bem
Composição: Roberto Carlos


Roberto Carlos




 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

histórias davóinha: Nasceu preto e escravizado 11cp

casarão canela preta


Nasceu preto e escravizado
Ensaio 11cp – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



o grandão entrou na porta do fundo. ele era maior que o 69. mancava com a perna esquerda. a calça de brim desbotada, parecendo suja, ficava por cima da bota de gesso. deve ter quebrado o pé ou algo assim. marchava na direção da roleta. um passo, uma batida, Boa tarde.

Boa tarde, respondi. precisei puxar a cabeça para trás e subir o queixo

Achei que não tinham me visto. Obrigado, como se isso fosse possível, não enxergar um poste

O senhor poderia ter embarcado na frente.

Não podia, um senhor distinto, bem educado e gentil

Por que? Todos do 171 embarcaram na porta da frente.

sem afetações ensaiadas ou arroubos enfeitados, estendeu-me a mão com cem cruzados, Pegue, por favor. Ainda não havia pago a passagem.

o passageiro pagava uma tarifa de setenta e cinco cruzados. peguei seu dinheiro e lhe dei vinte e cinco cruzados. o seu troco. o grandão do pé quebrado girou a roleta até que a cabeça deu um estalo e travou. estava feita sua mudança de lugar. a sua passagem mancando do corredor do fundo para o corredor da frente. a roleta era o divisor dos compartimentos, antes e depois de pagar. um homem de bem, um exemplo de passageiro educado, se tivesse que arriscar um palpite, diria que o homem só pode ser um professor, Demora muito para prosseguirmos?

procurei nas minhas memórias tudo que avóinha havia ensinado com insistência e muita recomendação. lembrei elogios e advertências com a gentileza, repetia quase sempre que a boa educação ia abrir mais portas do que fechar. o grandão já tinha liberado o passadiço, a porteira continuava aberta, Não demora, senhor. É só o tempo de todos subirem.

tornei a virar as vistas para o largo dos enforcados. lá estava ela, parecia conversando, parecia rezando. no final, é tudo conversa, Miúdo, óiali. A árvore dos enforcado. Lugá onde upretu Josino foi enforquilhado.

olhei. não parecia sinistra nem lembrava o uso de tristeza que deram para os seus braços. braços fortes para aguentar o peso dos preto até depois do espírito ganhar soltura. A liberdade dos preto tardava, mas chegava nos braços daquela imensa árvore, Avóinha conheceu ele?

ela deu uns passos na direção de cá, voltou a ficar triste e cansada, Naquele tempo, avó era otra coisa. Num deu jeito de conhecê Josino. Mais agora, usdois, iô e ele, andamô proseando.

espetei as vistas com jeito de curiosidade nas sombras das árvores, Ele tá aqui?

avóinha balançou a cabeça do jeito que mostrava sua tristeza e enjoava o espírito sem um corpo, até que se balançou e chorou, Num tá. Inda bem qui num tá. é muntu tempo pra ficá pendurado, aquele choro não tinha lágrima, mas tinha a dor descida na estrada das águas. um caminho de sofrimentos, abandonos e mortes, ele jurô qui num coloca mais o gargalo da boca aqui, um pomá dipretu.

E o que ele fez?

avóinha me fez um olhar que nunca tinha visto, forças violentas lhe escapavam das vistas, como os ventos empurram as águas até a praia do arco-íris, empilhando os grãos um por cima do outro. o inferno bem que podia ser assim: os corpos empilhando, as ondas de fogo lambendo os grãos empilhados, marés irascíveis e coléricas, Nasceu pretu e escravizado. Assim, foi trabaiá na feitura da igreja santa.

não era essa a resposta que eu queria, mas não adiantava retrucar. avóinha come o mingau fervendo, pelas beiradas. o preto josino, por certo, tinha sido acusado de crime e sido condenado. tinha curiosidade de saber do crime de preto que fez o josino ficar pendurado na forca. mas tinha que esperar pelo complemento e do jeito que avóinha gostava de responder

não sabia de nenhuma igreja santa. até pode ser que tenha, mas é mais comum de existir homem santo do que lugar santo, Onde é a tal igreja santa?

pareceu um não sei o que quando me olhou antes de responder, Já vi qui ocê num conhece nada de nadica. Tem qui sabê procurá os esclarecimento informativo. Sentado nesse balcão ocê virô alvo dos zombeteiro.

tinha vez que davó parecia querer me impacientar. quando era assim, eu acabava dando menor importância para as conversas da avóinha, Fecha atrás, João! Vamos embora!

os passageiros aplaudiram minhas ordens. eu dando ordens. as coisas sobem pra cabeça. acabara de ter meus quinze segundos de fama e não foi preciso cantar ou me mostrar uma caricatura engraçada. o 69 não tinha mais lugares vazios para sentar. o senhor grandão se foi pelo corredor com o gargalo da boca dobrado, mancando, 1 e 2. olhando para o chão. calmo. calado. não havia muitos lugares no corredor. ninguém levantou para que pudesse sentar. chegou embaixo do alçapão no teto. enfiou a cabeça naquele quadrado da ventilação. endireitou o pescoço. os ombros do grandão roçando o corrimão pendurado no telhado de lata. fechei os olhos.

a cabeça que carrego nos ombros balançou, não pude evitar os pensamentos da história acontecida e da história se passando. o grandão com o pescoço esticado no alçapão, o josino com o pescoço esticado na ponta da corda, apertado pelo nó que se fechou. quebrado. ninguém se importa com o professor, muito menos com o preto josino.

um outro tipo parou ao lado do sujeitão. não alcançava o corrimão aéreo. um sujeito pequenino que tentou uma vez pegar o corrimão aéreo, ficou na pontinha dos pés e não passou disso, desistiu. jamais alcançaria no pega-mão do céu. desisti. eu nem teria tentado. acho que só eu conseguia entender sua frustração com os risos contidos e olhares de pena. encostou a cabeça no sujeitão e dormiu. o filho protegido pelo pai. escorado.

lá fora, escurecendo. os pretos continuavam pendurados no pomar de pretos. mais de duzentos anos amarrados pelo pescoço nos cabides daquelas árvores. esperando que a história fosse contada. a memória zanzando perdida. ainda vá ter o dia que o branco vem e corta a memória. sinto raiva do silêncio da história. já tivemos pena de morte na villa que serviu de uso nos preto.

o joão torto arrancou o 69 do largo dos enforcados.

avóinha ficou. não quis subir. queixou-se que tava toda perfumada e a multidão encharcou o caminhão com suor e falação. parecia tristinha. calada. o rocinante trotava como um galante e idoso soldado aposentado chamado às pressas ao combate.

outra parada, mais passageiros. nenhum desceu.

uma senhora pendurada com sua bolsa no ombro. muito descuidada. uma tentação para qualquer um. acho que já vi essa senhora, mas sou muito ruim para lembrar pessoas. a bolsa pendurada no ombro, a mão agarrada no corrimão aéreo. continuava se aproximando. acho que vai ter dificuldades com a roleta. as larguras de uma e de outra não combinavam. é isso. eu sabia. é a professora da biblioteca. muito querida, Boa tarde, professora.

olhou para mim, surpresa. mas respondeu com educação. e não poderia ser diferente, os professores são sempre muito educados. mudam um pouquinho quando estão com os alunos, mas também, com esses pequenos bagunceiros não há cristão que resista, Boa tarde, estendeu-me o valor da passagem enquanto se ajeitava para passar na roleta. parou. não desistiu, apenas parou. olhou-me diretamente, pude perceber a sua curiosidade e o seu problema com rostos e nomes. o seu problema é o meu problema professora, O senhor foi meu aluno?

ela precisava saber como eu a conhecia, Não, fui econômico, aprendi com davó, a melhor professora de todas, esses jeitos de desacomodar o conforto de quem acha que sabe tudo

Imaginei que não. Eu lembraria.

foi a minha vez de sentir o que não foi dito. claro, ela lembraria. quem esqueceria um aluno anão e negro? um rabanete preto marcaria sua memória, chamaria sua atenção respondendo a chamada do início da aula. sofri com a cena que poderia estar acontecendo em sua cabeça agora, mesmo que não tenha existido, mas se não existiu antes, tá acontecendo aqui, bem na minha frente

Tô aqui, professora, Onde? Onde, meu querido? Meu restinho de gente..., o pescoço esticado como um farol salva-vidas

não poderia esquecer. ninguém esquece

A senhora não lembra porque eu não gostava de ir à biblioteca, foi a minha vez de regatear com as memórias dela

Que pena, Não gostava de ler, E agora, gosta?

Assim, assim...

É ... parece que ninguém gosta mais de ler, coloquei a mão na roleta para oferecer minha ajuda de força. um pequeno ajeito daqui e dali, pronto, passou

Obrigada, querido, Obrigado, por tudo que a senhora me ensinou, Tá bem. Tchau.

não havia lugares desocupados no corredor. a terceira fileira começou a ser formada. o chão de lata tava atravancado com pés e sapatos, Por favor, mais um passinho à frente.

passinhos, empurrões, apertos. uns mais juntos que outros. as mãos no corrimão aéreo, nos bolsos, nas bolsas, nas coxas, Psiu, Pensei que avóinha não tinha embarcado.

ela soltou a gargalhada da faceirice. as tristezas tinham ficado lá atrás, E num tinha.

avóinha tava bem ali, na minha frente, sentada na roleta. elegante. bonita. os olhos tavam na cor da bisbilhotice, a brilhadura do brilho que embelezava tudo




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