segunda-feira, 30 de junho de 2014

O Estrangeiro (Itália)

Albert Camus







L'Étranger (em português O estrangeiro) é o mais famoso romance do escritor Albert Camus. A obra foi lançada em 1942, tendo sido traduzida em mais de quarenta línguas e recebido uma adaptação cinematográfica realizada por Luchino Visconti em 1967.

Faz parte do "ciclo do absurdo" de Camus, trilogia composta de um romance (L'Étranger), um ensaio (Le mythe de Sisyphe - O mito de Sísifo) e de uma peça de teatro (Calígula) que descrevem o aspecto fundamental de sua filosofia : o absurdo. O romance foi traduzido em quarenta línguas e uma adaptação cinematográfica foi realizada por Luchino Visconti em 1967. Recebeu o prêmio Nobel de Literatura


domingo, 29 de junho de 2014

As mãos

Ensaio 05AB

baitasar

Naquela cama tem um menino, sobre o menino um moço, sobre o moço uma mulher. Helga acaricia o moço deitado em sua cama. Molhado. Desliza em seu corpo estendido uma tolha umedecendo com as águas de Sèzar. Suave e delicadamente. Beija os pés, depois os joelhos. As coxas. Sente pequenas sacudidelas da carne que ressuscita. Sorri. Os galhos daquela grande árvore balançam contra o vento. Agitam-se para resistir, gritam os descuidados. Blasfêmia. É o antegozo da calmaria, a dor antemão da espera. Os ajustes que provocam nas profundezas as raízes. O aviso de que seja o que estiver por vir, elas estão cravadas firmes em nossas entranhas. A ventania só as fará balançarem. Irá fazer voarem as folhas que precisam tombar para o nascimento dos brotos. Quando as ventanias se aproximam antevejo além da morte o aparecimento de outra vida na mesma vida.

Ela continua secando os galhos daquele moço de águas paradas e raízes fundas, esperando contagioso e aborrecido a ventania. Pede para que se vire. Ele obedece. Escorrega as mãos nas costas do moço. As unhas rasgam as resistências e a ventania agita os galhos mais tenros. Em uma das mãos a toalha desliza de sacanagem uma grande aventura. Uma toalha que obedece a mão engalfinhada naquela luta de atração e retração e retensão. A outra mão não para. Continua rasgando as costas do moço. Coitado, parece que foi açoitado. Cicatrizes sublimes. Profundos e invisíveis riscos em Sèzar. Inclina-se e beija-lhe a nuca. Um beijo molhado e perfumado como as águas da mulher. A árvore se agita. Os ventos circulam. A mulher sente quando a raiz se desinquieta e se enfia na terra procurando o alimento para os brotos.

Pede para que se revire. Ele volta.

Ela está erguida sobre o homem. Os joelhos dobrados. Um em cada lado do bosque. Olham-se. Sorriem. O moço não está mais assustado. Está sendo transformado. Um bom trabalho, diz e sorri para si mesma, quem sabe o começo de uma obra-prima. Quer encantar o menino com pequenos movimentos, enxotar a dor do moço. Oferecer o seu pequeno feitiço, sem decoro ou decência.

Ela lustra o próprio corpo. Os joelhos dobrados. A toalha raspando a pele. A alegria no coração. Não quer educar. Não quer ensinar. Quer ser a cura. Quer desejar. Não quer adoecer pela indiferença do não-desejo. Escolhe o arrombamento da quietude morta. Tem medo da prostração indiferente que se esconde em fazer da agitação o não desejo da paixão. Escolhe a dor de desejar. E se mostra.

O moço não lhe tira os olhos. Não fecha os olhos, tem medo da ausência. A ausência é a dor que não suporta. Desde menino foi ensinado não desejar, não querer muito. Aprendeu a ficar indiferente a dor. O inimigo está fora, nunca estará dentro dele. Enquanto conseguir manter uma distância confortável das paixões e das fantasias imagináticas a realidade será apenas realidade, se nublada ou ensolarada, tanto faz, não depende dele. Um menino conformista. Deseducado para o mundo que talvez não acabe.

Queria um pai para conversar. Pedir ajuda. Bobagem, um pai não fala dos seus romances clássicos nem dos enredos obscenos das suas novelas, talvez lhe indicasse livros. A educação dos livros. Ansiava as palavras, chegam mais rápido e mais perto do seu coração. Mas, ele mesmo, é um analfabeto radiouvinte. Não aprendeu a escutar as maravilhas e os decibéis da paixão desejosa. Os engasgos e a rouquidão das confissões. Conseguiu fugir do ódio, mas não escapou da dor na prostração indiferente. Tem muitos livros explicando o vaivém, simplificando a ereção. A mão. O objeto que está longe. A ejaculação. E a culpa.

Livros não esclarecem coisas mais simples, por exemplo, o que Sèzar faz com as mãos? Ele está estendido entre os joelhos dobrados da mulher. Sente o pequeno monte, os pelos crespos roçam o bojo da sua cavidade abdominal, um rochedo. Está grávido. Tem a vida dentro de si. Sente orgulho da cinta larga dos seus músculos. O envaidecimento da sua juventude. A prontidão espontânea. E não sabe o que fazer com as mãos. Nem sabe quando usar as mãos. Tem medo de usar as mãos com medo e se mostrar todo: das mãos aos pés um garotinho em cima da cama. Que também já esteve embaixo da cama. Os adultos fazem tantas coisas escondidas. Coisas secretas. Sussurram silêncios solitários. E em uma dessas coincidências da vida, no único dia que deveriam espionar embaixo da cama, esqueceram. E o menino está ali


Quer me tocar? pergunta num sussurro

Quero, responde de imediato, mas prefiro esperar. Escolheu a dor que faz esperar. Demorar.

Entra pela janela a vivacidade e o divertimento de contar as estrelas. Foi assim que aprendeu a contar


Eu contava as estrelas, confessa outro segredo.

Depois aprendeu as leituras com as estrelas, cada uma com um nome conhecido. No início dessa aventura de batizar cada uma das estrelas, pensou nos amigos. Uma estrela, um amigo. Não tinha tantos amigos. Não tinha nenhum amigo. Não iria funcionar

Por que o mocinho não me toca?

Ele não responde. Mas ela sabe que ele não iria desistir. Ficava horas deitado na escuridão do seu quarto observando as estrelas, procurando formas, fazendo contornos. Apontava o dedo para uma das estrelas e ligava os pontos, um a um. Desenhava cadeiras, mesas, quadros, bolas, mas o que mais admirava eram os seios que brilhavam pendurados no céu de estrelas. Muitos seios. Muitos. Tamanhos e formas infinitas. Um infindo da eternidade. Sinuosos, curvos, maiores, menores. O coração. Dois seios são um coração

O prazer precisa da dor para existir, esperar é um bom exercício de disciplina, ele tenta lhe explicar suas teorias

Ela para a toalha. É tão prática. Olha para o moço entre suas pernas. Está séria, querendo entender. Ele está sério, tentando adivinhar as letras que consegue desenhar. Não são tantas letras para tantas estrelas. Decide que precisa juntar as estrelas para usar todas. E assim, foi juntando estrelas até ter o seu nome entre as estrelas. Os exercícios da caligrafia com a ponta dos dedos na Via Láctea o atraiam bem mais que os exercícios com a ponta do lápis no papel.

Desvia o olhar do quadro de estrelas, tenta ensinar

Não é dor física, Helga. É a dor de tomar uma decisão.

A mulher lhe sorri. Disfarça que o compreende, elogia sua coragem para resistir àquele ataque de sacrifícios. Menino ou moço, não são muito diferentes, gostam de serem elogiados por sua coragem e estupidez 


Meu Deus, eu amo como ele respira, e depois?

Não foi feita para ficar esperando o sono chegar, ser dominada pela desistência, se for domada que seja pela exaustão do esforço para entender o moço. Não gosta der engabelada

Sèzar... você é feliz com essas suas teorias?

Ele não responde. Ela continua. Ela não para.

É contra sua vontade estar nessa cama?

Ele não responde. Quer as estrelas. Não quer palavras, prefere o palavreado das mãos, pelo menos por enquanto prefere o palavreado das mãos. A fantasia das mãos

Me dê as suas mãos.

Ele reponde... obedecendo.

Ela examina as mãos do menino

Hum... hum..., inclina-se até a sua mesinha da cabeceira. Abre a gavetinha com seus dedinhos, pega uma tesourinha


Achei.

Corta as unhas do menino. Bem curtinhas. Quase na carne.


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As alucinações desatadas da jaula
Ensaio 04AB

A Boitatá (Brasil)

Contos de Animais Fantásticos


Apresentação

A lenda da Boitatá aparece em várias versões, com pequenas variações de narrativa e no nome, por todo o território brasileiro: Baitatão, no Nordeste; boitatá, Bitatá, Batatá e baitatá, no Sul. Entretanto, a concepção é sempre a de uma entidade protetora dos campos naturais.
A presente narrativa baseia-se nas versões do Sul, mais precisamente na do Rio Grande do Sul. Foi selecionada e recriada por Mitsue Morissawa.



Isto foi há muitos anos, no tempo em que não existiam máquinas, os animais andavam livres nas matas ou nos campos e os índios eram mais numerosos que os brancos. Havia tanta terra disponível que era possível mudar de um lugar para outro sem problemas.

Uma tribo buscava um novo lugar para se estabelecer.

Foram muitos dias de andança até chegar a uma planície extensa, com árvores e água em quantidade. Uma grande alegria tomou conta de todos. As crianças corriam pelo prado atrás de preás, chamando os adultos quando viam caça grande, algum veado ou caititu.

A noite foi chegando devagarinho, enquanto as mulheres preparavam a canjica e os homens conversavam sobre o trabalho do dia seguinte. Os mais jovens preparavam os instrumentos de caça. De resto, foi tudo como em dia de mudança.

Antes de se deitar, o mais velho entre os homens disse com orgulho:

"Faremos um roçado tão grande, que, quando o queimarmos, o incêncio vai esconder o Sol."

Todos festejaram sua fala. E ele acomodou-se na rede para dormir.

Depois do tempo normal de sono, abriu os olhos, mas estava muito escuro, coisa que estranhou. Nem um feixe de luz! "Deve ser muito cedo ainda", pensou. "Acho que estou com vontade de fazer o dia amnhecer." e fechou os olhos novamente. Mas as horas passavam lentamente, sem que um fio de luz anunciasse o Sol. Um menino comentou que os grilos não cantavam, que não havia vento nem orvalho.

A escuridão e o silêncio foram deixando todos assustados. Fora o murmúrio das pessoas, só o canto do quero-quero fazia-se ouvir de vez em quando. Mas não era um canto normal, insistiam as mulheres. Trazia uma ponta de angústia, que elas sentiam como um mau presságio.

De repente, uma luz riscou o céu. Inicialmente um brilho suave, mas, depois, antes que começassem a festejar, um clarão mais forte que o de um raio, fazendo o verde do mato ficar branco feito leite e cegando por instantes os olhos de todos os viventes. Tudo despertou, de repente: lagartos, cobras, grilos, preás, pássaros, ventos, capim... mas num escarcéu de pânico e terror. Depois a luz foi diminuindo, até que se tornou possível ver que o Sol havia aparecido e a noite se fora.

Vendo que a calma voltava e que os homens juntavam suas ferramentas para o trabalho, o índio mais velho reuniu todos e advertiu:

"Aquilo que vimos antes de o Sol aparecer, era a Boitatá. Ela veio para nos avisar que não devemos fazer a queimada."

"E o que é a Boitatá?" perguntou ansioso um dos meninos.

O velho se pôs a contar a história que havia escutado de seus avós:

"Faz muito tampo, houve uma grande inindação na Terra. Todos os animais, depois de fugir para os lugares mais altos, tentando salvar-se, foram tragados. Não houve toca ou copa de árvore que escapasse. As águas cobriam tudo, como se quisessem levar o mundo. Nem a boiguaçu, a cobra grande, que hibernava, pode continaur seu sono. Mas, como era bicho tanto da água como da terra, saiu nadando tranquilamente. Quando as águas começaram a baixar, foram surgindo ilhotas, e aí se viu a mortandade. A boiguaçu começou, então, a devorar os animais mortos, mas somente os olhos deles. E quanto mais as águas baixavam, mais bichos apareciam para satisfazer sua gula. Sendo bicho sem pelo nem pena, sem escama nem casca, seu corpo foi ficando transparente e iluminado. Cada olho que ela comia era uma luzinha que se acendia dentro dela. Desse modo, depois de haver comido tantos, a boiguaçu transformou-se em uma claridade que serpenteava pelo chão. Os primeiros que a viram não a reconheceram. Deram-lhe o nome de Boitatá (cobra de fogo). Embora tivesse comido muitos olhos, eles não a alimentaram, apenas a iluminaram, de modo que acabou morrendo. Mas a luz que estava dentro dela escapu e saiu por aí, sem rumo, asustando as pessoas e perseguindo os desprevenidos. Essa luz é a Boitatá, que, por sua gula, foi condenada a vigiar para sempre os campos virgens contra os que querem incendiá-los. E ela só aparece no verão, como uma bola de fogo, correndo pelas planícies de um lado para outro, incansável, sem queimar as plantas ou as árvores, sem esquentar a água dos rios ou dos lagos. No inverno tirita de frio, mete-se numa toca e repousa."

"Então, teremos de abandonar este lugar?" perguntou um jovem.

"Não será preciso" dise o velho. "Apenas não poderemos por fogo no roçado para a limpa e o plantio. Teremos muito mais trabalho, mas obteremos bons resultados."

"E se a Boitatá aparecer de novo?" perguntou uma das crianças, para se certificar que não havia mais perigo.

"Digo a todos" respondeu o velho " aquilo que me disseram meus avós: ela só virá para nos vigiar, para ter certeza de nossas boas intenções. Quando a virem, bastará fecharem os olhos e permanecerem imóveis sem respirar, até sentirem que ela se foi. Pois, do contrário, a Boitatá os perseguirá e aturdirá até matá-los."

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Contos de Animais Fantásticos
                  Co-Edição Latino-Americana
                  1986
Editora Ática; Editorial Norma, Colômbia; Subsecretaria de Cultura, Equador; Editorial Piedra Santa, Guatemala; Promoción Editorial Inca S.A, Peru; Ediciones Huracan, Porto Rico; Editora Taller, República Dominicana; Ediciones Ekaré-Banco del Libro, Venezuela.

"Prólogo

Os animais sempre estiveram presentes na história e no desenvolvimento humanos. Algumas vezes temidos, outras venerados, os animais são parte significativa da vida do homem.

Desse estreita convivência, surge o caudal de narrações que recriam e enriquecem a visão sobre estes seres. Na literatura, os animais ganham um significado próprio; nas fábulas, por exemplo, dão lições de moral e de comportamento social. Além disso, são inúmeros os exemplos de animais nascidos da imaginação e da fantasia humanas. É frequente a presença desses animais fantásticos em lendas que falam das nossas origens, assim como é comum esses seres extraordinários estarem relacionados com experiências amorosas. Às vezes, os animais transformam-se em forças da natureza, que ajudam ou prejudicam o homem. Ou, ainda, em certas ocasiões, veem-se seres humanos transformados, momentanea oupermanentemente, em animais de grande força e poder.

Nesta recopilação de contos latino-americanos, os protagonistas são todos animais fantásticos surgidos na tradição literária popular."


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Leia também: 

Lenda de Abel e Caim
A chuva
Contos e Lendas de Amor - México

Declaração de Amor

Carlos Drummond de Andrade


Canção de Namorados I



Dai-me, Senhor, assistência técnica 
para eu falar aos namorados do Brasil.
Será que namorado escuta alguém?
Adianta falar a namorados?
E será que tenho coisas a dizer-lhes
que eles não saibam, eles que transformam
a sabedoria universal em divino esquecimento?

sábado, 28 de junho de 2014

O Processo (França)

Kafka






Resenha do filme “O Processo"

Em certa manhã, Joseph K., um gerente de banco, é despertado por dois detetives com a notícia de que está preso e de que um processo está sendo movido contra ele. Ao tentar saber o motivo da acusação, os guardas lhe negam a informação, o que o leva a pensar que tudo se trata de uma brincadeira de seus colegas de escritório. No entanto, ao tentar seguir o curso normal de sua vida, Joseph, que passa a estar,então, sob constante vigilância de guardas, percebe que está mesmo sendo processado, muito embora não consiga descobrir qual crime cometeu e não esteja encarcerado, pois, como disse a personagem de sua senhoria, sua prisão era abstrata.

O filme explora a obscuridade do sistema jurídico das sociedades modernas ao retratar a deformidade da racionalidade de um homem, como outro qualquer, que é submetido ao gigantismo da máquina judiciária. O personagem principal, com o avanço da história, se vê cada vez mais confuso e indefeso diante do Estado, que lhe nega a possibilidade de defesa e de maiores detalhes sobre o caso.

“O Processo”, de Orson Welles, baseado no livro de mesmo título de Franz Kafka,faz uma desconstrução da realidade e da Lei como a conhecemos hoje, para transformá-la em algo que está acima de tudo e de todos e fora da compreensão dos seres humanos.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

César Vallejo (Perú)

Y SI DESPUÉS DE TANTAS PALABRAS...



¡Y si después de tantas palabras,
no sobrevive la palabra!
¡Si después de las alas de los pájaros,
no sobrevive el pájaro parado!
¡Más valdría, en verdad,
que se lo coman todo y acabemos!

¡Haber nacido para vivir de nuestra muerte!
¡Levantarse del cielo hacia la tierra
por sus propios desastres
y espiar el momento de apagar con su sombra su tiniebla!
¡Más valdría, francamente,
que se lo coman todo y qué más da...!

¡Y si después de tanta historia, sucumbimos,
no ya de eternidad,
sino de esas cosas sencillas, como estar
en la casa o ponerse a cavilar!
¡Y si luego encontramos,
de buenas a primeras, que vivimos,
a juzgar por la altura de los astros,
por el peine y las manchas del pañuelo!
¡Más valdría, en verdad,
que se lo coman todo, desde luego!

Se dirá que tenemos
en uno de los ojos mucha pena
y también en el otro, mucha pena
y en los dos, cuando miran, mucha pena...
Entonces... ¡Claro!... Entonces... ¡ni palabra!




Dulce María Loynaz (Cuba)

ESTÁ BIEN LO QUE ESTÁ...

Está bien lo que está:
Sé que todo está bien.
Sé el Nexo.
Y la Razón.
Y hasta el Designio.
Yo lo sé todo,
lo aprendí en un libro sin páginas,
sin letras y sin nombre ...
Y no soy como el loco
que se quema los dedos trémulos
por separar la llama rosa de la mecha negra ...
Pasó volando y me rozó la frente...
Era buena la Vida:
Había rosas.
Unos minutos antes me había sonreído un niño...
Pasó volando y me rozó la frente.
No sé por dónde vino
ni por dónde se perdió luego pálida y ligera...
No recuerdo la fecha.
No sabría decir de qué color era ni de qué forma;
no sabría, de veras, decir nada.
Pasó volando... -había muchas rosas...-
y era buena la Vida todavía...




Amado Nervo (México)

IV
ANTE UN CRUCIFIJO

¡TÚ, SÓLO tú!... No quiero en la existencia
más amor que tu amor sublime y santo.
¡Sea la idea de tu ser mi sola creencia
y el canto de mi amor mi solo canto!

¡Tú, sólo tú! Mirándote de hinojos
quiero encontrar mis solos embelesos,
¡bañarte con el llanto de mis ojos,
cubrirte con el fuego de mis besos!...

¡Qué dicha! Tú, mi aliento, mi alegría,
templo de Dios de quien la fe recibo,
dulce consuelo y esperanza mía,
luz con que miro y aire con que vivo...

Tú, sólo tú, mi corazón agitas,
por eso estoy aquí de amores lleno,
besando con delicias infinitas
la llaga sacrosanta de tu seno.

Por eso estoy aquí de amor llorando...
¡Te adoro con delirio!... ¡Quién pudiera
morir, tu omnipotencia confesando,
sobre las rojas ascuas de una hoguera!




Andrés Eloy Blanco (Venezuela)

EVOCACIÓN INDÍGENA

Subiendo hacia San Félix, donde el río enseña dos dientes,
donde el río enseña, bien cerrados,
los dos puños de Piar exprimiendo la Hazaña,
subiendo hacia San Félix vimos el arco iris
que hacía el arco indio sobre su cuerda de aguas,
Y entonces recordé, amigos,
aquella lección de Historia que leímos en la infancia,
la primera lección de Historia,
en que nuestra leyenda nos inaugura el alma:
Recordad la primera lección:
nos dice que Colón nos descubrió en su tercer viaje
y habla de las corrientes aquellas que detuvieron a Colón.

Simple clase de Historia, clara como una mañana
sencilla como el día de la primera novia,
sueño de las primeras madrugadas,
simple clase de Historia, como un día domingo,
con misa de ocho y ropa almidonada,
clase de Historia que nos cuenta el día
en que venían las carabelas de España,
mientras , ajeno a todo lo que del mar viniera,
para su novia, por los montes, buscaba flores Sorocaima.
Por el estrecho tempestuoso,
las tres carabelas avanzan,
otra vela se iza en las espumas
que abanican las piedras de la costa de Paria,
las tres carabelas vienen
pero del lado de los indios las veinte bocas las aguardan.

Y al enfilar hacia el Océano libre,
una sombra se levanta;
abiertas las piernas sobre el Delta,
aferrado al suelo que sus tesoros guarda,
el Orinoco de sus muslos mojados,
que tiene oro en los pies y el Sol en las espaldas
y la cabeza entre los cielos,
en una mano tiene un arco y con veinte flechas dispara,
y luchan las tres naves por avanzar y en vano
porque en el Delta le rechaza
el viejo indio autónomo
que nació en la Parima y creció en la Guayana,
y tiende el arco indígena, si, tiende el arco iris
y lanza veinte flechas si vuelan veinte garzas...



quinta-feira, 26 de junho de 2014

Somos Todos Diferentes (Índia)

Taare Zameen Par






Resumo:

Do que trata o Filme?

O filme Somos Todos Diferentes (Taare Zameen Par,Índia,2007) trata de um assunto muito delicado e importante, a dislexia. E da falta de conhecimento e informação do educador para observar e diagnosticar esses casos.

Porque Ishaan Awashi apresentava desinteresse pela escola?

Ishaan Awashi apresentava desinteresse pela escola por não ter suas necessidades preenchidas, e por ver o mundo de forma diferente não conseguia se adaptar a ele e era visto pelos outros como um delinquente irresponsável e preguiçoso, como não entendia o que via agia de forma deslocada e desinteressada. Ishaam apresenta características da dislexia, transtorno hereditário que acarreta dificuldades na aprendizagem, porém é mal interpretado durante quase toda a sua trajetória, devido a falta de conhecimento deste distúrbio e ao modelo pedagógico desempenhado pela instituição de ensino que utiliza a pedagogia tradicional, dificultando a relação professor-aluno. Outro fato importante está ligado a família, pois o lado afetivo necessita ser compensado e a não compreensão acarreta uma possível discriminação ou exclusão social devido a suas potencialidades que não foram desenvolvidas.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Buffalo Soldier

Bob Marley






Is this love



Is This Love
Whitesnake


I should have know better than to let you go alone
It's times like these I can't make it on my own
Wasted days and sleepless nights
And I can't wait to see you again

I find I spend my time waiting on your call
How can I tell you baby my back's against the wall
I need you by my side to tell me it's all right
'Cause I don't think I can take it anymore

Is this love that I'm feeling?
Is this the love that I've been searching for?
Is this love or am I dreaming?
This must be love
'Cause it's really got a hold on me
A hold on me

Can't stop the feeling
I've been this way before
But with you I've found the key to open any door
I can feel my love for you growing stronger day by day
And I can't wait to see you again
So I can hold you in my arms

Is this love that I'm feeling?
Is this the love that I've been searching for?
Is this love or am I dreaming?
This must be love
'Cause it's really got a hold on me
A hold on me

Is this love that I'm feeling?
Is this the love that I've been searching for?
Is this love or am I dreaming?
Is this the love that I've been searching for?

Is this love or am I dreaming?
Is this the love that I've been searching for?

Composição: David Coverdale / John Sykes



No Woman No Cry



Não, mulher, não chore


Não, mulher, não chore
Não, mulher, não chore
Não, mulher, não chore

diga, diga
Diga eu me lembro quando costumávamos sentar
Num jardim público em Trenchtown
Observando os hipócritas
Misturando-se com a boa gente que encontramos
Bons amigos temos
Oh, bons amigos perdemos
Pelo caminho
Neste grande futuro
Você não pode esquecer de seu passado
Então enxugue suas lágrimas, eu digo!

Não, mulher, não chore
Não, mulher, não chore
Queridinha, não derrame nenhuma lágrima
Não, mulher, não chore

Eu disse que me lembro quando costumávamos sentar
Num jardim público em Trenchtown
E então Georgie fazia fogueiras
E a lenha ardia a noite toda!
Então nós cozinharíamos mingau de farinha de milho
O qual compartilharei com você

Meus pés são minha única carruagem
Portanto, tenho que ir em frente
Oh, enquanto eu estiver fora


Tudo ficará bem!
Tudo ficará bem!

Não, mulher, não chore
Não, mulher, não chore

Eu digo queridinha
Não derrame nenhuma lágrima
Não, mulher, não chore




Could you be loved



Você poderia amar e ser amado

Você poderia amar e ser amado?
Você poderia amar e ser amado?

Não deixe eles te fazerem de bobo
ou mesmo tentar escolarizar você! Oh, não!
Nós mandamos em nossa mente
Então vá pro inferno se o que você tá pensando não é certo
O amor nunca nos deixaria sozinhos
Na escuridão deverá aparecer a luz

Você poderia amar e ser amado?
Você poderia ser amado, ai agora! - E ser amado?

(A estrada da vida é rochosa e você pode tropeçar também
Então enquanto você aponta seu dedo
outro alguém está te julgando)
Ame o seu irmão!
(Você poderia ser - poderia ser - você poderia ser amado?
Você poderia ser - você poderia ser amado?
Você poderia ser - poderia ser - você poderia ser amado?
Você poderia ser - você poderia ser amado?)

Não deixe mudarem você
Ou mesmo rearranjá-lo! Oh, não!
Você tem uma vida pra viver
Eles dizem somente, somente
Que somente o mais ajustado dos ajustados deve viver
Mantenha-se vivo! Eh!

Você poderia amar e ser amado?
Você poderia ser amado, ai agora! - E ser amado?
(Você não vai perder sua água, até que você fique seco
Não importa como você tratá-lo
o homem nunca ficará satisfeito.)
Diga alguma coisa!
(Você poderia ser - poderia ser - você poderia ser amado?
Você poderia ser - você poderia ser amado?)
Diga alguma coisa! Diga alguma coisa!
(Você poderia ser - poderia ser - você poderia ser amado?)
Diga alguma coisa! (Você poderia ser - poderia ser amado?)
Diga alguma coisa! Diga alguma coisa! (Diga alguma coisa!)
Diga alguma coisa! Diga alguma coisa!
(Você poderia ser amado?)
Diga alguma coisa! Diga alguma coisa! Reggae, reggae!
Diga alguma coisa! Rockers, os roqueiros!
Diga alguma coisa! Reggae, reggae!
Diga alguma coisa! Rockers, os roqueiros!
Diga alguma coisa! (Você poderia ser amado?)
Diga alguma coisa! Uh!
Diga alguma coisa! Come on!
Diga alguma coisa! (Você poderia ser -poderia ser
você poderia ser amado?)
Diga alguma coisa! (Você poderia ser - poderia ser amado?)
Diga alguma coisa!
(Você poderia ser - poderia ser - você poderia ser amado?)
Diga alguma coisa! (Você poderia ser - poderia ser amado?)



Three Little Birds




Get Up Stand Up




Stir It Up




One Love




I Shot The Sheriff




Redemption Song



Satisfy My Soul



Positive Vibration




terça-feira, 24 de junho de 2014

As alucinações desatadas da jaula

Ensaio 04AB
baitasar
A ousadia da paixão foi uma demasia que Sèzar nunca permitiu aos seus excessos solitários ingovernáveis da vontade. Monólogos monótonos. Cinco contra um. Uma demasia. Covardia. Quase uma ditadura. Alucinações incontroláveis. Até que Helga desatou da jaula suas alucinações da carne. No seu devaneio sedutor noviço quis devorar os dias com chuva ou com sol. Não conseguia evitar a vontade de engolir as noites com estrelas e a escuridão do quarto. Quis comer Helga inteira, numa só mordida. Teve que aprender a esperar e ser comido.
Ela o fez confiar e desejar.
Mostrou como esparramar-se nas conversas com as vontades do corpo. A solidariedade com a outra vontade. Humilde, amoroso e corajoso. Nem todos têm essa coragem para aprender. Matam a vida. Sèzar sempre quis a vida, lastimava a falta da solidariedade com a vida e o egoísmo imaginário do ódio
—        Sèzar, as brincadeiras não são para sempre. — enrolou-se no lençol e foi ao banheiro. O noviço ficou deitado, olhando sua bela companhia caminhando, tornando-se uma ausência
—        E o que é para sempre? — perguntou àquela sua deusa heroica que lhe seduziu o desejo imaginário que tinha medo do real, ela continuava lhe tocando mesmo na ausência
—        Nada, Sèzar. Nada é para sempre. Com o tempo perdemos os movimentos peristálticos da paixão, nos tornamos azedos como limões mofados. — e calou-se. O silêncio no banheiro vinha como uma ausência que estava nele. Levantou. Em um breve instante duvidou que aquele quarto fosse real. Procurou o lençol para se enrolar. Sorriu de si mesmo. Um homem não se esconde, precisa se mostrar. Disfarces são as substâncias das mulheres. Ele queria se exibir. Aparentar-se homem. Caminhou até o banheiro e parou na porta
—        Eu sei, eu sei. Pelo menos, acho que sei. Cada coisa que desejo e deixo de fazer é um desaproveitamento do desejo... é eu sei, estou dizendo bobagens. — abriu os olhos para reconhecer a deusa do desejo, que nem mesmo os olhos conseguiam descrever nem preparar para o que viria. Ela estava sentada, olhando para ele. Sentiu que o olhar e a memória daquele olhar poderiam deixar uma etiqueta, um protocolo de lamentos e contentamentos — Tenho medo das grades do circo com seus altares e jaulas.
—        Tenho mais medo dos arrojos de heroísmo do ódio.
Até aquela tarde, ela procurava as brincadeiras do amor, ele caminhava a esmo devorando a solidão do refrigerador, das comidas congeladas. Não sabia se queriam o que viria
—        Sèzar... fecha a porta, por favor. — a intimidade pode ser obscena
—        Por que?
Helga ergue o queixo e o olha, é a sua vez de enfiar-se nele. Vendar seus olhos para alguns mistérios. A inteligência não precisa publicar todos os segredos. Reconhece a boniteza daquele amigo que se metamorfoseou em seu amante. Lembra que não foi sob a luz da lua cheia, nem a beira da praia encoberta no crepúsculo, nem na meia luz do cinema, que aconteceu o primeiro beijo. Não foi um beijo disfarçado de fingimento, foi bonito e intenso
—        Sèzar, a paixão não resiste à porta do banheiro aberta.
Ele sorri e dá um passo atrás, antes de fechar a porta, diz
—        Você tem razão, de novo. O que nunca existiu para nós, apenas não existiu para nós porque não foi visto. Não lembramos o que não existiu para nossos olhos. — fecha delicadamente a porta.
O fogo precisa ficar escondido da desatenção do mundo inventado sem desejo. A fogueira não sobrevive só do olhar do outro, nem apenas da intenção. A desordem está cheia de boas intenções, assim, como, os ordeiros estão afogados em más intenções. O beijo só é real no beijo, não é antes nem depois, mas é na lembrança que fica mais real que na realidade. É como é lembrado. Por isso, não morremos quando não somos esquecidos. Os amores incompletos que não desistem esperam o desejo de outros amantes, guardam na memória as lembranças das ausências. As lágrimas e os risos não são uma declaração de amor em vão porque o que não lembramos não existe mais, mesmo que exista, a menos que aconteça de novo. E os amores incompletos? Os amores incompletos não desistem até que desistem. Quando não queremos que algo exista, esquecemos. Então, não acontece mais. E os amores incompletos não são mais amores.
Por isso, no jogo seguinte, Sèzar voltou aos braços da TOC gremista. Cantou com o Daniel e o Gustavo a sua purificação
—        Esse amor descontrolado
            Nunca vou deixar de lado
            Eu te sigo onde for
            Eu te sigo tricolor!
Na Geral gremista tinha a avalanche, as bandeiras, a batucada furiosa, os gritos. Era preciso pular, berrar, esquecer os costumes da vida. Às vezes, dava para ver o jogo, e no gol vinha o êxtase. A avalanche da alegria, a encarnação do prazer. Era preciso estar atento ao deslizamento da torcida gremista. Não tinha como se esconder do prazer de descer correr as escadarias da geral até o limite físico do muro. Correndo e esperneando para esparramarem-se no útero gremista. Uma avalanche orgástica. O eco dos gritos que não faz caso do muro segue em frente, supera as grades, os tijolos, está lá dentro do gramado. Entre as ramas verdes e tenras florescendo pisoteadas, regadas pelos suores e lágrimas derramadas. O terreno majestoso das quatro linhas que separa homens e meninos, realidade e fantasia.
Ele espera deitado de costas na grama branca
—        Sèzar, estou pronta. — a porta se abre, novamente.
É preciso desafiar a própria alegria, reencontrar o conhecido. Não basta ser guerreiro, gritar insânias. A realidade não se curva aos personagens que parecem o que não são. Ela o convida para aceitar a vida, retirar os enfeites. Ele caminha dois passos atrás. A mulher entra no chuveiro e some na névoa inquieta e suave. Acena para o moço penetrar na bruma úmida e fértil da imaginação. Deslembrar todas as outras vidas que tem.
Não responde. Entra e fecha a porta. Mais dois passos à frente. A mão da moça revela-se através da cortina esfumaçada para pegar na sua mão. O moço inquieto e curioso atravessa o nevoeiro e toca em seus cabelos. Um pequeno amontoado de fios curtos e crespos. Beija dois pequenos povoados e arrebita os dois pequeninos bicos. A mão se solta das mãos da moça e sobe. Afrouxa os músculos da nuca, impondo sem incomodar. Decifrando o desejo. De vez em quando faz algum pedido estranho e avisa que perdeu o medo. É a mulher que ama o homem que exagera as voltas com os dedos. O arrebatamento o faz antecipar os próprios movimentos.
Abraça a mulher com paixão. Ela oferece a boca inteira. Canela e maçã. O gosto da Via Láctea dos sonhos. Está dobrado sobre os joelhos. Ela em pé, os dedos enfiados em seus cabelos. A boca molhada. Os beijos. O jasmim. O jardim. As reticências da língua esquiva e nervosa se enfiam. Ele reza sem queixas ou arrependimentos. Ela o acolhe inteira, molhada e atrevida
—        Que delícia... — agarra seus cabelos molhados e ajeita do seu jeito o menino.
Sèzar devora todas as águas. A boca louca e insatisfeita querendo outra vez estar livre para ele com seus beijos molhados. Adora aqueles costumes da vida.
Ele levanta desajeitado
—        Por onde andam teus olhos?
—        Estão onde está a luz da lua cheia.
Os joelhos adormecidos. A boca alagada. Ela desce a mão e lhe segura. Forte e decidida
—        Adoro!
Os beijos das duas bocas não afrouxam. Os músculos retesam. Helga dobra os joelhos e engole a insônia, o ar tristinho, a tevê na madrugada, as meias de lã, os chinelinhos de pelúcia, forrados, quentinhos. Repete que gosta daquela doçura, os versos de amor, o sabor picante que queima por inteiro. Não há trégua. Ela fincada até os joelhos nas águas cálidas. Ele em pé se oferece por inteiro. Sólido. Erguido. Os dedos enfiados em seus cabelos molhados. Esquece o medo, as dietas e as medidas. Lembra que pode abrir os olhos. Esquece e não abre os olhos. Lembra que aguenta gemer, avisar como é bom. Esquece-se de avisar. Tudo é bom. Na bruma apenas o zumbido insistente dos seus não gemidos, da sua não tristeza
—        Vou derramar o meu amor...
—        Bruxo, me espera.
Ela levanta. Atrevida. Pega em sua mão. Fecha o chuveiro. O silêncio das águas para. A mulher e o moço caminham do nevoeiro. Entram no quarto
—        Deita. — não é pedido, nem alguma ordem, é o desenho de um mapa
—        Estamos molhados... — ele nunca saiu do banheiro antes de secar o chão
—        Adoro!
O moço deita. Não fecha os olhos
—        Se você quiser pode fechar os olhos... é melhor para adivinhar.
—        Você é linda.
Ela não acredita em bobagens de menino
—        Quer que apague a luz? — a mulher continua em pé, ainda não subiu no gramado branco
—        Não. Eu escolho quando apago meus olhos. — é a sua resposta para a sua mulher. Sente-se um pouquinho dono dela. Um homem. Quer poder abrir os olhos e ver para lembrar ou fechar para adivinhar.
Ela quer lhe mostrar que o moço pode lembrar o que não vê
—        Feche os olhos... se quiser.

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Leia também: 
O Futebol nem é tão importante, mas a Festa
Ensaio 03AB


As mãos
Ensaio 05AB

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A Metamorfose (Alemanha)

Franz Kafka







Filme baseado na obra clássica "A Metamorfose" do escritor Franz Kafka. Até o momento, a adaptação cinematográfica mais fiel a obra



Jorge Luis Borges (Argentina)

LOS ENIGMAS


Yo que soy el que ahora está cantando
Seré mañana el misterioso, el muerto,
El morador de un mágico y desierto
Orbe sin antes ni después ni cuándo.

Así afirma la mística. Me creo
Indigno del Infierno o de la Gloria,
Pero nada predigo. Nuestra historia
Cambia como las formas de Proteo.

¿Qué errante laberinto, qué blancura
Ciega de resplandor será mi suerte,
Cuando me entregue el fin de esta aventura

La curiosa experiencia de la muerte?
Quiero beber su cristalino Olvido,
Ser para siempre; pero no haber sido.




Rubén Darío (Nicarágua)

CANTOS DE VIDA Y ESPERANZA
A José Enrique Rodó

I
Yo soy aquel que ayer no más decía
el verso azul y la canción profana,
en cuya noche un ruiseñor había
que era alondra de luz por la mañana.

El dueño fuí de mi jardín de sueño,
lleno de rosas y de cisnes vagos;
el dueño de las tórtolas, el dueño
de góndolas y liras en los lagos;

y muy siglo diez y ocho y muy antiguo
y muy moderno; audaz, cosmopollita;
con Hugo fuerte y con Verlaine ambiguo,
y una sed de ilusiones infinitas.

Yo supe de dolor desde mi infancia,
mi juventud... ¿fue juventud la mía?
Sus rosas aún me dejan la fragancia...
una fragancia de melancolía...

Potro sin freno se lanzó mi instinto,
mi juventud montó potro sin freno;
iba embriagada y con puñal al cinto;
si no cayó, fué porque Dios es bueno.

En mi jardín se vió una estatua bella;
se juzgó de mármol y era carne viva;
un alma joven habitaba en ella,
sentimental, sensible, sensitiva.

Y tímida, ante el mundo, de manera
que encerrada en silencio no salía,
sino cuando en la dulce primavera
era la hora de la melodía...

Hora de ocaso y de discreto beso;
hora crepuscular y de retiro;
hora de madrigal y de embeleso,
de "te adoro", de "¡ay!" y de suspiro.

Y entonces era en la dulzaina un juego
de misteriosas gamas cristalinas,
un renovar de notas del Pan griego
y un desgranar de músicas latinas.

Con aire tal y con ardor tan vivo,
que a la estatua nacían de repente
en el muslo viril patas de chivo
y dos cuernos de sátiro en la frente.

Como la Galatea gongorina
me encantó la marquesa varleniana,
y así juntaba a la pasión divina
una sensual hiperestesia humana;

todo ansia, todo ardor, sensación pura
y vigor natural; y sin falsía,
y sin comedia y sin literatura...:
Si hay un alma sincera, ésa es la mía.

La torre de marmil tentó mi anhelo;
quise encerrarme dentro de mí mismo,
y tuve hambre de espacio y sed de cielo
desde las sombras de mi propio abismo.

Como la esponja que la sal satura
en el jugo del mar, fué el dulce y tierno
corazón mío, henchido de amargura
por el mundo, la carne y el infierno.

Mas, por la gracia de Dios, en mi conciencia
el Bien supo elegir la mejor parte;
y si hubo áspera hiel en mi existencia,
melificó toda acritud el Arte.

Mi intelecto libré de pensar bajo,
bañó el agua castalia el alma mía,
peregrinó mi corazón y trajo
de la sagrada selva la armonía.

¡Oh, la selva sagrada! ¡Oh, la profunda
emanación del corazón divino
de la sagrada selva! ¡Oh, la fecunda
fuente cuyo virtud vence al destino!

Bosque ideal que lo real complica,
allí el cuerpo arde y vive y Psiquis vuela;
mientras abajo el sátiro fornica,
ebria de azul deslíe Filomela.

Perla de ensueño y música amorosa
en la cúpula en flor del laurel verde,
Hipsipila sutil liba en la rosa,
y la boca del fauno el pezón muerde.

Allí va el dios en celo tras la hembra,
y la caña de Pan se alza del lodo;
la eterna vida sus semilas siembra,
y brota la armonía del gran Todo.

El alma que entra allí debe ir desnuda,
temblando de deseo y fiebre santa,
sobre cardo heridor y espina aguda:
así sueña, así vibra y así canta.

Vida, luz y verdad, tal triple llama
produce la interior llama infinita.
El Arte puro como Cristo exclama:
¡Ego sum lux et veritas et vita!

Y la vida es misterio, la luz ciega
y la verdad inaccesible asombra;
la adusta perfección jamás se entrega,
y el secreto ideal duerme en la sombra.

Por eso ser sincero es ser potente;
de desnuda que está, brilla la estrella;
el agua dice el alma de la fuente
en la voz de cristal que fluye de ella.

Tal fué mi intento, hacer del alma pura
mía, una estrella, una fuente sonora,
con el horro de la literatura
y loco de crepúsculo y de aurora.

Del crepúsculo azul que da la pauta
que los celestes éxtasis inspira,
bruma y tono menor ¡toda la flauta!,
y Aurora, hija del Sol ¡toda la lira!

Pasó una piedra que lanzó una honda;
pasó una flecha que aguzó un violento.
La piedra de la honda fué a la onda,
y la flecha del odio fuése al viento.

La virtud está en ser tranquilo y fuerte;
con el fuego interior todo se abrasa;
si triunfa del rencor y de la muerte,
y hacia Belén... ¡la caravana pasa!




Gabriela Mistral (Chile)

BESOS

Hay besos que pronuncian por sí solos
la sentencia de amor condenatoria,
hay besos que se dan con la mirada
hay besos que se dan con la memoria.

Hay besos silenciosos, besos nobles
hay besos enigmáticos, sinceros
hay besos que se dan sólo las almas
hay besos por prohibidos, verdaderos.

Hay besos que calcinan y que hieren,
hay besos que arrebatan los sentidos,
hay besos misteriosos que han dejado
mil sueños errantes y perdidos.

Hay besos problemáticos que encierran
una clave que nadie ha descifrado,
hay besos que engendran la tragedia
cuantas rosas en broche han deshojado.

Hay besos perfumados, besos tibios
que palpitan en íntimos anhelos,
hay besos que en los labios dejan huellas
como un campo de sol entre dos hielos.

Hay besos que parecen azucenas
por sublimes, ingenuos y por puros,
hay besos traicioneros y cobardes,
hay besos maldecidos y perjuros.

Judas besa a Jesús y deja impresa
en su rostro de Dios, la felonía,
mientras la Magdalena con sus besos
fortifica piadosa su agonía.

Desde entonces en los besos palpita
el amor, la traición y los dolores,
en las bodas humanas se parecen
a la brisa que juega con las flores.

Hay besos que producen desvaríos
de amorosa pasión ardiente y loca,
tú los conoces bien son besos míos
inventados por mí, para tu boca.

Besos de llama que en rastro impreso
llevan los surcos de un amor vedado,
besos de tempestad, salvajes besos
que solo nuestros labios han probado.

¿Te acuerdas del primero...? Indefinible;
cubrió tu faz de cárdenos sonrojos
y en los espasmos de emoción terrible,
llenáronse de lágrimas tus ojos.

¿Te acuerdas que una tarde en loco exceso
te vi celoso imaginando agravios,
te suspendí en mis brazos... vibró un beso,
y qué viste después...? Sangre en mis labios.

Yo te enseñé a besar: los besos fríos
son de impasible corazón de roca,
yo te enseñé a besar con besos míos
inventados por mí, para tu boca.

Tango (Argentina)

El dia que me quieras





El Día Que Me Quieras
Carlos Gardel


Acaricia mi ensueño
el suave murmullo
de tu suspirar.
Como ríe la vida
si tus ojos negros
me quieren mirar.
Y si es mío el amparo
de tu risa leve
que es como un cantar,
ella aquieta mi herida,
todo, todo se olvida.

El día que me quieras
la rosa que engalana,
se vestirá de fiesta
con su mejor color.
Y al viento las campanas
dirán que ya eres mía,
y locas las fontanas
se contarán su amor.

La noche que me quieras
desde el azul del cielo,
las estrellas celosas
nos mirarán pasar.
Y un rayo misterioso
hará nido en tu pelo,
luciernagas curiosas que verán
que eres mi consuelo.

El día que me quieras
no habrá más que armonía.
Será clara la aurora
y alegre el manantial.
Traerá quieta la brisa
rumor de melodía.
Y nos darán las fuentes
su canto de cristal.

El día que me quieras
endulzará sus cuerdas
el pájaro cantor.
Florecerá la vida
no existirá el dolor.

La noche que me quieras

...
Composição: Alfredo Le Pera / Carlos Gardel



La Cumparsita




Os gringos até que tentam





Tango Por una Cabeza



A media luz



Carlos Gardel




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domingo, 22 de junho de 2014

Pablo Neruda (Chile)

Agua sexual


Rodando a goterones solos,
a gotas como dientes,
a espesos goterones de mermelada y sangre,
rodando a goterones,
cae el agua,
como una espada en gotas,
como un desgarrador río de vidrio,
cae mordiendo,
golpeando el eje de la simetría, pegando en las costuras del
alma,
rompiendo cosas abandonadas, empapando lo oscuro.

Solamente es un soplo, más húmedo que el llanto,
un líquido, un sudor, un aceite sin nombre,
un movimiento agudo,
haciéndose, espesándose,
cae el agua,
a goterones lentos,
hacia su mar, hacia su seco océano,
hacia su ola sin agua.

Veo el verano extenso, y un estertor saliendo de un granero,
bodegas, cigarras,
poblaciones, estímulos,
habitaciones, niñas
durmiendo con las manos en el corazón,
soñando con bandidos, con incendios,
veo barcos,
veo árboles de médula
erizados como gatos rabiosos,
veo sangre, puñales y medias de mujer,
y pelos de hombre,
veo camas, veo corredores donde grita una virgen,
veo frazadas y órganos y hoteles.

Veo los sueños sigilosos,
admito los postreros días,
y también los orígenes, y también los recuerdos,
como un párpado atrozmente levantado a la fuerza
estoy mirando.

Y entonces hay este sonido:
un ruido rojo de huesos,
un pegarse de carne,
y piernas amarillas como espigas juntándose.
Yo escucho entre el disparo de los besos,
escucho, sacudido entre respiraciones y sollozos.

Estoy mirando, oyendo,
con la mitad del alma en el mar y la mitad del alma
en la tierra,
y con las dos mitades del alma miro al mundo.

y aunque cierre los ojos y me cubra el corazón enteramente,
veo caer un agua sorda,
a goterones sordos.
Es como un huracán de gelatina,
como una catarata de espermas y medusas.
Veo correr un arco iris turbio.
Veo pasar sus aguas a través de los huesos.




Mario Benedetti (Uruguay)

¿Por qué no hay más viajes a la luna?


Cuando el bueno de armstrong dio aquellos pasos
todos registramos cómo se movía
tosco / pesado / en un suelo blancuzco
¿o era de piedra pómez? ¿quién se acuerda?

durante un rato estuvo cavilando
y la escafandra o como se llamase
impedía que viéramos sus ojos
pero juraría que su mirada era
de pereza o abulia

algo debió explicar a su regreso
algo diferente al discurso de gloria
que le ordenaron pronunciar eufórico
entre medallas flores vítores y guirnaldas

algo debió decir en privado a sus jefes
algo importante inesperado

verbigracia / cuando estaba allá arriba
caminando como un zoombie en la luna
mi general mi coronel pensé en ustedes
y se me ocurrió no sé por qué
que debía matarlos con urgencia
uno a uno / dos a dos / etcétera

o verbigracia dos / cuando andaba allá / heroico
pisando las feísimas arrugas del satélite
imaginé que así debía ser la muerte
es decir el paisaje de la muerte

o verbigracia tres / cuando estaba en selene
paseando por la nada como un imbécil
setí el asco infinito de la ausencia del hombre
y me dije qué mierda estoy haciendo aquí

algo así debe haber confesado a sus jefes
con su estrenada voz de robot disidente
y quizá por eso los dueños del poder
postergaron sine die los viajes a la luna.





Frederico García Lorca (España)

Veleta
Julio de 1920

(Fuente Vaqueros, Granada)

Viento del Sur,
moreno, ardiente,
llegas sobre mi carne,
trayéndome semilla
de brillantes
miradas, empapado
de azahares.

Pones roja la luna
y sollozantes
los álamos cautivos, pero vienes
¡demasiado tarde!
¡Ya he enrollado la noche de mi cuento
en el estante!

Sin ningún viento,
¡hazme caso!,
gira, corazón;
gira, corazón.

Aire del Norte,
¡oso blanco del viento!
Llegas sobre mi carne
tembloroso de auroras
boreales,
con tu capa de espectros
capitanes,
y riyéndote a gritos
del Dante.
¡Oh pulidor de estrellas!
Pero vienes
demasiado tarde.
Mi almario está musgoso
y he perdido la llave.

Sin ningún viento,
¡hazme caso!,
gira, corazón;
gira, corazón.

Brisas, gnomos y vientos
de ninguna parte.
Mosquitos de la rosa
de pétalos pirámides.
Alisios destetados
entre los rudos árboles,
flautas en la tormenta,
¡dejadme!
Tiene recias cadenas
mi recuerdo,
y está cautiva el ave
que dibuja con trinos
la tarde.

Las cosas que se van no vuelven nunca,
todo el mundo lo sabe,
y entre el claro gentío de los vientos
es inútil quejarse.
¿Verdad, chopo, maestro de la brisa?
¡Es inútil quejarse!

Sin ningún viento.
¡hazme caso!
gira, corazón;
gira, corazón.

As virtudes do sexo sem berro (Cuba)

... na definição de um "escritor barato"




Fabio Hernandez


Um poeta português disse que as cartas de amor são ridículas. Mas mais ridículo ainda é não escrever cartas de amor. Tenho um acréscimo à voz do poeta: algumas cartas de amor ultrapassam os limites do ridículo. São pomposas, verborrágicas, exageradas. A grande carta de amor é necessariamente simples e objetiva. Assim como a grande declaração de amor. A simplicidade é bela ao falar e ao escrever. Uma pessoa afetada na forma de se comunicar com as demais é afetada em outras esferas. “A verdade tem que falar uma linguagem simples, sem artifícios”, escreveu um filósofo da Antigüidade. O amor também. Isto é, se for verdadeiro.

As virtudes da economia ao se expressar têm notáveis exemplos históricos. Conta-se que os embaixadores de uma cidade grega tentavam convencer o rei de Esparta a aderir a uma esforço de guerra. O espartano deixou-os falar longamente. Depois disse: “Não lembro do começo nem do meio da argumentação de vocês. Quanto à conclusão, simplesmente não me interessa”. Num outro caso, dois arquitetos atenienses disputavam a honra de construir um grande edifício. A platéia à qual cabia a escolha ouviu um extenso discurso do primeiro arquiteto. As pessoas já se inclinavam por ele quando o segundo disse apenas: “Senhores atenienses, o que este acaba de dizer eu vou fazer”. Para o pensador romano Sêneca, nos grandes arroubos da eloqüência há mais ruído que sentido”.

Os espartanos serão eternamente reverenciados pela simplicidade com que viviam e se expressavam. Uma vez perguntaram a uma autoridade de Esparta por que os espartanos não colocavam por escrito as regras da valentia para que os jovens pudessem lê-las. A resposta foi que os espartanos queriam acostumar seus jovens aos feitos e não às palavras. “O mundo é apenas tagarelice e nunca vi homem que não dissesse antes mais do que menos do que devia”, escreveu o filósofo francês Montaigne. (Realmente sinto que estou exagerando nas citações. Deus, pareço um almanaque. Mas olho para trás e tento cortar algumas citações, e não consigo, não por mérito meu, mas dos donos das frases. Dá para deletar a seguinte reflexão do escritor e historiador Plutarco? Disse ele: “A palavra expõe-nos, como nos ensina o divino Platão, aos mais pesados castigos que deuses e homens podem infligir. Mas o silêncio jamais tem contas a dar. Não só não causa sede como confere um traço de nobreza”.)

Também no amor, há mais “ruído que sentido” nas frases espalhafatosas ditas ou escritas. A mais genuína, a mais poderosa declaração de amor é, muitas vezes, o olhar silencioso, o gesto mudo, e, no entanto, estamos quase sempre inclinados a berrar nossa paixão. Na cama, sobretudo, trava-se muitas vezes uma competição para ver quem gritar mais alto, um torneio de gemidos geralmente insinceros e ensurdecedores que cada parceiro acredita, numa mistura de ignorância e ingenuidade, serem excitantes. O berro amoroso incomoda o ouvido e dificilmente chega ao coração. E provoca não orgasmos maravilhosos, não maratonas sexuais inacreditáveis, mas simplesmente sede.


O cubano Fabio Hernandez é, em sua autodefinição, um “escritor barato”.

O Estudante (México)

O Coração Não Cansa de Aprender







"Isso me faz lembrar das nossas festas..."
"O quê? Isso?"
"É claro que o ambiente era diferente...a música era diferente, não tão agitada, mas.. Você se lembra do Salão Riviera?"
"Eu me lembro perfeitamente. Foi lá que nos conhecemos."
"É verdade... você... estava sentada em uma mesa com um grupo de amigas. Eu estava tão nervoso. Mas tomei coragem... eu me aproximei de você... e cumprimentei você respeitosamente."
"Muito sério você me perguntou se podia sentar-se comigo."
"E te ofereci uma coisa para beber."
"Eu pedi um refrigerante. E quando você foi todas as minhas amigas queriam saber quem era você."



Obrigado pela dica, meu filho!

sábado, 21 de junho de 2014

Andrés Eloy Blanco (Venezuela)

La Órbita del Agua


Vamos a embarcar, amigos,
para el viaje de la gota de agua.
Es una gota, apenas, como el ojo de un pájaro.

Para nosotros no es sino un punto,
una semilla de luz,
una semilla da agua,
la mitad de lágrima de una sonrisa,
pero le cabe el cielo
y sería el naufragio de una hormiga.

Vamos a seguir, amigos,
la órbita de la gota de agua:
De la cresta de un ola
salta, con el vapor de la mañana;
sube a la costa de una nube
insular en el cielo, blanca, como una playa;
viaja hacia el Occidente,
llueve en el pico de una montaña,
abrillanta las hojas,
esmalta los retoños,
rueda en una quebrada,
se sazona en el jugo de las frutas caídas,
brinca en las cataratas,
desemboca en el Río, va corriendo hacia el Este,
corta en dos la sabana,
hace piruetas en los remolinos
y en los anchos remansos se dilata
como la pupila de un gato,
sigue hacia el Este en la marea baja,
llega al mar, a la cresta de su ola
y hemos llegado, amigos... Volveremos mañana




César Vallejo (Perú)

BORDAS DE HIELO

Vengo a verte pasar todos los días,
vaporcito encantado siempre lejos...
¡Tus ojos son dos rubios capitanes;
tu labio es un brevísimo pañuelo
rojo que ondea en un adiós de sangre!

Vengo a verte pasar; hasta que un día,
embriagada de tiempo y de crueldad,
vaporcito encantado siempre lejos,
¡la estrella de la tarde partirá!
Las jarcias; vientos que traicionan; vientos
¡de mujer que pasó!
Tus fríos capitanes darán orden;
¡y quien habrá partido seré yo...!




Dulce María Loynaz (Cuba)

AMOR ES...

Amar la gracia delicada
del cisne azul y de la rosa rosa;
amar la luz del alba
y la de las estrellas que se abren
y la de las sonrisas que se alargan...
Amar la plenitud del árbol,
amar la música del agua
y la dulzura de la fruta
y la dulzura de las almas dulces....
Amar lo amable, no es amor:

Amor es ponerse de almohada
para el cansancio de cada día;
es ponerse de sol vivo
en el ansia de la semilla ciega
que perdió el rumbo de la luz,
aprisionada por su tierra,
vencida por su misma tierra...

Amor es desenredar marañas
de caminos en la tiniebla:
¡Amor es ser camino y ser escala!
Amor es este amar lo que nos duele,
lo que nos sangra bien adentro...

Es entrarse en la entraña de la noche
y adivinarle la estrella en germen...
¡La esperanza de la estrella!...

Amor es amar desde la raíz negra.
Amor es perdonar;
y lo que es más que perdonar,
es comprender...
Amor es apretarse a la cruz,
y clavarse a la cruz,
y morir y resucitar ...

¡Amor es resucitar!




Amado Nervo (México)


III

LA INMENSA EXPRESIÓN
DE LOS AMORES


SI AMOR suspira el aura placentera,
si amor dicen del ave las querellas,
si con letras de fuego las estrellas
amor van escribiendo por la esfera,
si lo expresa la flor de la pradera
que del sol a las cándidas centellas
sus hojas abre porque deje en ellas
el rocío de los cielos primavera,
si palpita el amor en cuanto existe,
si todo lo publica en tono vario,
las estrellas, los mares y las flores,
un Dios que de la carne se reviste
muriendo por el hombre en el Calvario,
¿no es la inmensa expresión de los amores?

sexta-feira, 20 de junho de 2014

70 anos e um dia! Maravilha!

Chico Buarque



Cálice




Apesar de Você




Vai passar (1984)




Meu Guri




Construção



Construção
Chico Buarque


Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague


Composição: Chico Buarque



Anos Dourados



Choro Bandido

Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim

Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim

Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons


Composição: Chico Buarque / Edu Lobo

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Frederico García Lorca (España)

Si mis manos pudieran deshojar


10 de Noviembre de 1919
(Granada)

Yo pronuncio tu nombre
en las noches oscuras,
cuando vienen los astros
a beber en la luna
y duermen los ramajes
de las frondas ocultas.
Y yo me siento hueco
de pasión y de música.
Loco reloj que canta
muertas horas antiguas.

Yo pronuncio tu nombre,
en esta noche oscura,
y tu nombre me suena
más lejano que nunca.
Más lejano que todas las estrellas
y más doliente que la mansa lluvia.

¿Te querré como entonces
alguna vez? ¿Qué culpa
tiene mi corazón?
Si la niebla se esfuma,
¿qué otra pasión me espera?
¿Será tranquila y pura?
¡Si mis dedos pudieran
deshojar a la luna!



Pablo Neruda (Chile)

Soneto XII

Plena mujer, manzana carnal, luna caliente,
espeso aroma de algas, lodo y luz machacados,
qué oscura claridad se abre entre tus columnas?
Qué antigua noche el hombre toca con sus sentidos?

Ay, amar es un viaje con agua y con estrellas,
con aire ahogado y bruscas tempestades de harina:
amar es un combate de relámpagos
y dos cuerpos por una sola miel derrotados.

Beso a beso recorro tu pequeño infinito,
tus márgenes, tus ríos, tus pueblos diminutos,
y el fuego genital transformado en delicia
corre por los delgados caminos de la sangre
hasta precipitarse como un clavel nocturno,
hasta ser y no ser sino un rayo en la sombra.



Mario Benedetti (Uruguay)

Amor de tarde

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cuatro
y acabo la planilla y pienso diez minutos
y estiro las piernas como todas las tardes
y hago así con los hombros para aflojar la espalda
y me doblo los dedos y les saco mentiras.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cinco
y soy una manija que calcula intereses
o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas
o un oído que escucha como ladra el teléfono
o un tipo que hace números y les saca verdades.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las seis.
Podrías acercarte de sorpresa
y decirme "¿Qué tal?" y quedaríamos
yo con la mancha roja de tus labios
tú con el tizne azul de mi carbónico.







Maravilha! 70 anos!

Chico Buarque


Teresinha






Pedaço de mim



Pedaço de Mim
Chico Buarque


Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

Composição: Chico Buarque


Todo o sentimento




Futuros Amantes




Geni e o Zepelim



Geni e o Zepelim
Chico Buarque


De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada

Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato

E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir

Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim

A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de ideia!"

Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir

Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni!

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro

Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela)
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos

Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão

Vai com ele, vai, Geni!
Vai com ele, vai, Geni!
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni!

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco

Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado

Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir

Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Composição: Chico Buarque



MPB Especial 1973