sábado, 28 de novembro de 2015

Histórias de avoinha: o lugá das coisa num feita


Ensaio 67B – 2ª edição 1ª reimpressão


o lugá das coisa num feita

baitasar



Já faz algum dia, foi a resposta do josino pru prego

os dois papeava na loja da sapataria num faz munto tempo, mais o tempo daquela conversa num ia mudá a tristeza dum lado e otro. Um num usava oiá na direção do otro oiá

Vai ficar o tempo de tomá uma caneca do café da Contagotas?

o otro espiô pra fora da botica farmacêutica qui remendava bota, botina e sapato dos moradô villêro. Fez a medição do tempo qui podia ficá, num queria assustá com seu desaparecimento o controladô da obra santa. Comentô de preocupação

Os alarido do dia já tá embuchando as cô da noite. É coisa ligêra a troca dum pelo otro.

Dá tempo, Josino. O café já tá na quentura do gosto, o preto prego fungô e disse sentí o aroma do saboroso café. Num importava quem tava fazendo nem onde alevantava a quentura perfumada do café: o aroma ia espaiando o novo dia, provocando o gosto e chamando pra vivê de novo

Prego, chega de fingimento qui esse aroma num é do café...

o remendadô de botina se desacalmô

E havia de sê mais o quê?

Ocê sabe...

os dois se oiô sério, inté qui josino num se segurô e soltô sua meió risada de chacotice

Tô de brincadêra, Prego!

esse era um dos seus gosto de vivê. Num tinha muntos mais. Lembrô milagres, sentiu vontade de tê ela ali, na conversa com os amigo. Rindo. Dançando os óio. Saboreando os chêro. Os gosto. As palavra. As mão se oferecendo pra ajudá. Os pé indo e vindo. Os descuido, os cochicho, a voz se dando pra acalmá. Num tinha muntos gosto mais

o gosto do amigo era consertá o solado e engraxá as botina, as mão dava as claridade e os lampejo, apreciava arrumá o descuido com o pavimento dos pé. Remoçá os sapato. O amigo prego gostava de enfeitá e fortificá as bota enfraquecida pelo uso

Então, Josino?

O qui foi, Prego?

silêncio

a voz ficô escondida, tumbém gostava da serventia de ficá quieta. A vontade de falá ou num falá. A liberdade de sê da vida solta era bão. Levado voando. Parecia qui eles tinha munto tempo pra decidí o qui queria ou num queria fazê, como se a vida tava nas mão da vida, a vida inté parecia qui tava na vida deles, mais era uma otra vida qui tava, a vida qui era vida tava pra chegá

Fica prum gole do café?

Um golito bem pequeno...

Tome na sua vontade, hôme!

o josino sentô no pequeno banco qui o prego ofereceu pra sua acomodação

Num quero acostumá o gosto com as coisa boa.

os óio de um e otro se cruzô no acalanto das tristeza, parecia qui a alegria num durava munto. Alguma coisa ruim tava sempre pronta pra saí da sua toca. Inté a alegria tinha qui ficá escondida pra num preocupá nem ofendê os branco

Deixa de bobice, criolo. As coisa boa quando vem é pra deixá o sangue mais vivo e forte. Ajuda os pé continuá os caminho. As coisa qui nunca sara é as coisa num feita, essas ocê precisa voltá pra buscá depois do desaparecimento.

Eu num vô tê vontade de voltá. Num vô voltá. Num quero voltá tê essa vida desgraçada.

Ocê num pode deixá boiando as coisa num feita. Esse lugá das coisa boiando é um lugá qui num é lugá.

O amigo num se tome de preocupação com tanta cisma. Os ferimento curo com os unguento da terra qui cresce no mato. E as coisa num feita é só isso, coisa num feita.

É uma sombra silenciosa...

a preta contagotas entrô na loja com uma caneca e um bule fumegando. As mão ocupada. As vistas desocupada. A boca fechada. Veio dos fundo da casa. Mostrava qui num tava com vontade de tá onde tava. Uma muié preta qui o siô joaquim tinha emprestado pru prego, Vai usando, foi o recomendamento. E usava pra consolo das parte da carne qui num sossegava, Prego, ocê deve fazer uso da Maria Neusa nas tarefas de arrumação da casa, mas cuidado para não me estragar a mercadoria. Espero que ocê não esqueça que estou lhe dando para seu uso essa negra que podia guardar para meu contentamento, Num vô esquecê, Confio que assim seja.

o aroma e o vapô qui subia da caneca sumia nos gole do josino

Contagotas, me dê o bule qui eu mesmo sirvo.

a muié tinha nome de batismo, Maria Neusa, mais num era nome qui era munto lembrado

Essa num fala pra dizê se gosta ou se num gosta. É preciso apertá como um conta-gota.

o josino arregalô os óio

Apertá com as mão?

Não, hôme! E lá sô do feitio qui aperta alguém? Num é desse aperto. É preciso puruguntá inté ela num resistí de respondê uma resposta piquinina. Puruguntá de novo, otro revide piquinino. Uma muié conta-gota.

É bunita.

E eu num sei? Tenho qui escondê a boniteza do portuga. É tarado pela mestiçagem.

josino desviô os óio da contagotas, oiava bem longe, deitava na pedra do amô. As mão ocupada na sua muié encantada, os chêro do mato, as água da terra, a muié terra querendo enraizá

Prego, ocê num pensa os pensamento da alforria desta alforria dada qui num foi dada? Esse fingimento de alforria qui ocê ganhô...

preto prego agarrô a caneca das mão do josino e esperô contagotas derramá mais café do bule. Fungô o aroma. Sorriu com delícia e levô a caneca inté a boca. Bebeu o gole qui tava com vontade. Saboreô o gosto antes de sentí o amargo das palavra qui tinha pra dizê. Estendeu de volta a caneca pra visita

oiô na parede a carta de gratidão qui ele nunca pensô nem quis pensá. Inté a marca dele num foi ele qui colocô. Num sabia lê o escrito, mais tava com as palavra toda na cabeça. Ela ficava tão cheia daquele amontoado de palavra qui rodopiava inté qui vomitava letra a letra. Foi assim qui ele aprendeu a lê: vomitando. É assim qui os preto aprende as leitura da vida, baldeando do estômago prus óio, depois prus pé, inté chegá nos braço e saí da garganta as cantoria qui os branco num entende, tem medo e qué prendê ou matá, num importa. O portuga gostava de repetí inté na exaustão qui era um bão professô da carta, E quem escreveu a Carta, sinhô Alhures? Foi a mão do escravo?

antes da resposta sê feita, ele soltava um riso provocativo gelado, branco, sem alegria. Parecia um vento assobiando os defunto qui se atrevia saí do buraco da terra, Imagine, freguesia. Esses negros alforriados, e qualquer outro escravo, não sabem ler nem escrever. As tarefas das escrituras é coisa de branco, e soltô otra risada assombrada, pergunte para qualquer negro se ele quer aprender a ler ou escrever. Pergunte. Perca um pouco do seu tempo e pergunte. A resposta é sempre a mesma, parô de falá com intenção de aumentá a curiosidade, oiava pra platéia na intenção de medí o alcance do enredo alegado, ler e escrever não têm serventia. Os negros sabem o lugar em que cabem. E não tem cabimento esses neguinhos com nossos filhos na escola. Não consigo imaginar esses negros viajando para estudar na Europa. Esses não viajam mais de navio nem para irem até a África. Não saem mais daqui, soltô otra risada ruim qui fez os defunto voltá pru buraco da terra, não tem jeito: não vão mais se livrar das correntes!

Ô Prego, onde tu anda com os pensamento?

Mais café, Contagotas. Por favor, querida.

os três fez qui num foi dito o qui foi dito, num era feitio do prego falá com delicadeza: a boniteza qui o hôme espera encontrá na muié e a muié no hôme. Contagotas aproximô em silêncio e serviu o café. Nenhum riso. Nenhum agrado, mais os óio do hôme e da muié encontrô alguma razão pra seguí em frente

E daí, amigo?

O qui ocê qué sabê, Josino?

Ocê num pensa os pensamento da alforria?

Na sapataria, o siô Joaquim num aprova donativo de qualqué coisa. O serviço feito tem valô só pra ele. Num tenho herança pra recebê, num tenho o qui juntá. Inté a muié qui tenho num tenho. Num foi escôia minha. Num tenho queixa dos atrativo e dos agrado da Contagotas, mais a Maria Neusa é negra forra do portuga. É a Maria Neusa qui existe, a Contagotas num é dessa existência. Ele num faz gosto nem qué sabê qui a religião case, eu mais ela. Num sô nem vô sê preto forro.

otro gole

otro silêncio

os pensamento precisava pensá

a caneca saiu e voltô inté as mão do prego

Ouví de escutá conversa do siô Joaquim com siá Maria Letícia qui tão com vontade de nomeá capitão-do-mato pra Villa.

a visita balançô os ombro pra subida e descida, o assunto num lhe dava interesse

É perda de tempo, esses branco num entra nos quilombo! Eu mesmo, parô as confidência, oiô prus lado, baixô a voz antes da continuação e fez recomendação, qui fique reservada nossa prosa de amigo.

Pois fale, hôme. Por acaso, já lhe dei razão pra desconfiança?

Tenho cisma com os ouvido nas parede...

as palavra baixô mais otro tanto

Nessa hora, tudo dorme... inté as parede. Agora, só tem escutação desse seu amigo, Contagotas e os espritu madrugadô. O Josino pode falá sem medo das parede, num precisa medí a importância das palavra.

josino voltô pras palavra qui queria soltá, mais sem soltá mais do qui devia sua voz. Segurô a caneca com as duas mão, os cotovelo encostado firme nas perna, o tronco nu caído pra frente, os óio na terra, a voz continuava menó qui tava. Desconfiado era e descofiado ia continuá

Eu mais a Milagres tamô pensando corrê pra serra de Tapes.

o prego dobrô-se e colocô as duas mão nas mão do amigo, num era do seu uso esse agarramento. O josino se assustô com aquele aceno de perigo, ficô mais cismado quando o otro baixô inda mais a voz qui gritava dos perigo

Ocê tá lôco! Morre os dois na distância...

os óio de um tava nos óio do otro, um tinha preocupação, o otro decisão

Se decidi qui vô, ninguém me segura.

o prego fez mais menó o tamanho da voz, um murmúrio pra ficá longe dos curioso daqui e de lá

Mais parece qui o capitão-do-mato vai sê um nêgo com promessa de ficá forro. Só precisa cumprí a entrega dos preto dos quilombo e de fora dos quilombo. Qualqué desgarrado, sem tê razão de tá vagando com cumprimento dos mando do seu dono, vagabundando, vai sê acorrentado e marcado.

o josino encoiêu a subida do lombo, depois desencôieu, encoiêu, desencôieu

Cada um acha o seu feitio pra vivê no meio dessa vida desgraçada. Uns ajuda, otros atrapáia. E munto mais qui uns e otros... num faz nada.




______________________


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Julia de Burgos (Puerto Rico)

Los Poetas del Amor (35)



Alba de mi silencio



En ti me he silenciado...
El corazón del mundo
está en tus ojos, que se vuelan
mirándome.

No quiero levantarme de tu frente fecunda
en donde acuesto el sueño de seguirme en tu alma.

Casi me siento niña de amor que llega hasta los pájaros.
Me voy muriendo en mis años de angustia
para quedar en ti
como corola recién en brote al sol...

No hay una sola brisa que no sepa mi sombra
ni camino que no alargue mi canción hasta el cielo.

¡Canción silenciada de plenitud!
En ti me he silenciado...

La hora más sencilla para amarte es ésta
en que voy por la vida dolida del alba.







Sor Juana Inés de la Cruz (México)




Contiene Una Fantasía Contenta Con Amor Decente



Deténte, sombra de mi bien esquivo,
imagen del hechizo que más quiero,
bella ilusión por quien alegre muero,
dulce ficción por quien penosa vivo.

Si al imán de tus gracias atractivo
sirve mi pecho de obediente acero,
¿para qué me enamoras lisonjero,
si has de burlarme luego fugitivo?

Mas blasonar no puedes satisfecho
de que triunfa de mí tu tiranía;
que aunque dejas burlado el lazo estrecho

que tu forma fantástica ceñía,
poco importa burlar brazos y pecho
si te labra prisión mi fantasía.







Pablo Neruda (Chile)




20 poemas de amor y una canción desesperada - Poema 1


Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.

Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.

Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
Ah los vasos del pecho! Ah los ojos de ausencia!
Ah las rosas del pubis! Ah tu voz lenta y triste!

Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.
Mi sed, mi ansia sin límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito.






Ocê nunca viu tanta oferta junta num só lugar... God Is Dead? ou nós bloqueamos o Céu?

Black Sabbath



God Is Dead?





Perdido na escuridão
Me afasto da luz
Tenho fé que meu pai, meu irmão, meu criador e salvador
Irão me ajudar a sobreviver à noite
Sangue na minha consciência
E assassinato na mente
Escapando da melancolia, me ergo da tumba rumo a um destino nefasto iminente
Agora meu corpo é meu santuário

O sangue corre livremente
A chuva se torna vermelha
Me dê o vinho
E fique com o pão
As vozes ecoam na minha cabeça
Deus está vivo ou Deus está morto?
Deus está morto?

Rios de maldade correm por terras mortas
Nadando em sofrimento
Eles matam, roubam e pegam emprestado
Não existe amanhã
Para os pecadores que serão punidos
Do pó ao pó, não é possível eximir sua alma
Em quem confiar quando corrupção e luxúria, o credo dos injustos
Te deixam vazio e incompleto?

Quando esse pesadelo vai acabar? Me diga
Quando vou poder esvaziar minha cabeça?
Alguém me dirá a resposta?
Deus está mesmo morto?
Deus está mesmo morto?

Para proteger minha filosofia até meu último suspiro
Eu a transfiro da realidade para uma morte em vida
Eu simpatizo com inimigos até a hora certa
Com Deus e satanás ao meu lado
Da escuridão surgirá a luz

Vejo a chuva se tornar vermelha
Me dê mais vinho
Não preciso de pão
Essas charadas que vivem em minha cabeça
Eu não acredito que Deus esteja morto
Deus está morto

Não tem para onde correr
Não tem para onde se esconder
Me pergunto se iremos nos encontrar de novo do outro lado
Você acredita em alguma palavra que a bíblia diz?
Ou é tudo um conto de fadas sagrado e Deus está morto?
Deus está morto

É isso

Mas em minha cabeça permanecem vozes me dizendo que Deus está morto
O sangue escorre
A chuva se torna vermelha
Eu não acredito que Deus esteja morto
Deus está morto




God Is Dead?



Lost in the darkness
I fade from the light
Faith of my father, my brother, my maker and savior
Help me make it through the night
Blood on my conscience
And murder in mind
Out of the gloom I rise up from my tomb into impending doom
Now my body is my shrine

The blood runs free
The rain turns red
Give me the wine
You keep the bread
The voices echo in my head
Is God alive or is God dead?
Is God dead?

Rivers of evil run through dying land
Swimming in sorrow
They kill, steal, and borrow
There is no tomorrow
For the sinners will be damned
Ashes to ashes you cannot exhume a soul
Who do you trust when corruption and lust, creed of all the unjust
Leaves you empty and unwhole?

When will this nightmare be over? Tell me
When can I empty my head?
Will someone tell me the answer?
Is God really dead?
Is God really dead?

To safeguard my philosophy until my dying breath
I transfer from reality into a living death
I empathize with enemies until the time is right
With God and satan at my side
From darkness will come light

I watch the rain as it turns red
Give me more wine
I don? t need bread
These riddles that live in my head
I don? t believe that God is dead
God is dead

Nowhere to run
Nowhere to hide
Wondering if we will meet again on the other side
Do you believe a word what the good book said?
Or is it just a holy fairy tale and God is dead?
God is dead

Right

But still the voices in my head are telling me that God is dead
The blood pours down
The rain turns red
I don? t believe that God is dead
God is dea





Iron Man




Has he lost his mind?
Can he see or is he blind?
Can he walk at all
Or if he moves will he fall?
Is he alive or dead?
Has he thoughts within his head?
We'll just pass him there
Why should we even care?

He was turned to steel
In the great magnetic field
When he travelled time
For the future of mankind

Nobody wants him
He just stares at the world
Planning his vengeance
That he will soon unfurl

Now the time is here
For iron man to spread fear
Vengeance from the grave
Kills the people he once saved

Nobody wants him
They just turn their heads
Nobody helps him
Now he has his revenge

Heavy boots of lead
Fills his victims full of dread
Running as fast as they can
Iron man lives again!

Composição: Bill Ward / Geezer Butler / Ozzy Osbourne / Tony Iommi


Homem de Ferro


Ele enlouqueceu?
Ele pode ver ou ele é cego?
Ele pode andar direito
Ou se ele se mover ele cairá?
Ele está vivo ou morto?
Tem pensamentos em sua cabeça?
Vamos apenas passar por ele
Por que deveríamos nos importar?

Ele foi transformado em aço
No poderoso campo magnético
Quando ele viajou no tempo
Para o futuro da humanidade

Ninguém o quer
Ele só contemplava o mundo
Planejando sua vingança
Que em breve se realizaria

Agora é a hora
Para o homem de ferro espalhar o medo
Vingança que vem da sepultura
Matando as pessoas que um dia salvou

Ninguém o quer
Apenas viram a cabeça
Ninguém o ajuda
Agora ele tem sua vingança

Botas pesadas de chumbo
Enche suas vítimas de terror
Correndo o mais rápido que elas podem
O homem de ferro vive novamente!





Children of the Sea




Paranoid



Paranoid 1970




Sabbath Bloody Sabbath





terça-feira, 24 de novembro de 2015

Rayuela - Julio Cortázar: Capítulo 6

Capítulo 6


  
La técnica consistía en citarse vagamente en un barrio a cierta hora. Les gustaba desafiar el peligro de no encontrarse, de pasar el día solos, enfurruñados en un café o en un banco de plaza, leyendo-un-libro-más. La teoría del libro-más era de Oliveira, y la Maga la había aceptado por pura ósmosis. En realidad para ella casi todos los libros eran libros-menos, hubiese querido llenarse de una inmensa sed y durante un tiempo infinito (calculable entre tres y cinco años) leer la opera omnia de Goethe, Homero, Dylan Thomas, Mauriac, Faulkner, Baudelaire, Roberto Arlt, San Agustín y otros autores cuyos nombres la sobresaltaban en las conversaciones del Club. A eso Oliveira respondía con un desdeñoso encogerse de hombros, y hablaba de las deformaciones rioplatenses, de una raza de lectores fulltime, de bibliotecas pululantes de marisabidillas infieles al sol y al amor, de casas donde el olor a tinta de la imprenta acababa con la alegría del ajo. En esos tiempos leía poco, ocupadísimo en mirar árboles, los piolines que encontraba por el suelo, las amarillas películas de la Cinemateca y las mujeres del barrio latino. Sus vagas tendencias intelectuales se resolvían en meditaciones sin provecho y cuando la Maga le pedía ayuda, una fecha o una explicación, las proporcionaba sin ganas, como algo inútil. "Pero es que vos ya lo sabes", decía la Maga, resentida. Entonces él se tomaba el trabajo de enseñarle la diferencia entre conocer y saber, y le proponía ejercicios de indagación individual que la Maga no cumplía y que la desesperaban.

De acuerdo en que en ese terreno no lo estarían nunca, se citaban por ahí y casi siempre se encontraban. Los encuentros eran a veces tan increíbles que Oliveira se planteaba una vez más el problema de las probabilidades y le daba vueltas por todos lados, desconfiadamente. No podía ser que la Maga decidiera doblar en esa esquina de la rue de Vaugirard exactamente en el momento en que él, cinco cuadras más abajo, renunciaba a subir por la rue de Buci y se orientaba hacia la rue Monsieur le Prince sin razón alguna, dejándose llevar hasta distinguirla de golpe, parada delante de una vidriera, absorta en la contemplación de un mono embalsamado. Sentados en un café reconstruían minuciosamente los itinerarios, los bruscos cambios, procurando explicarlos telepáticamente, fracasando siempre, y sin embargo se habían encontrado en pleno laberinto de calles, casi siempre acababan por encontrarse y se reían como locos, seguros de un poder que los enriquecía. A Oliveira le fascinaban las sinrazones de la Maga, su tranquilo desprecio por los cálculos más elementales. Lo que para él había sido análisis de probabilidades, elección o simplemente confianza en la rabdomancia ambulatoria, se volvía para ella simple fatalidad. "¿Y si no me hubieras encontrado?", le preguntaba. "No sé, ya ves que estás aquí..." Inexplicablemente la respuesta invalidaba la pregunta, mostraba sus adocenados resortes lógicos. Después de eso Oliveira se sentía más capaz de luchar contra sus prejuicios bibliotecarios, y paradójicamente la Maga se rebelaba contra su desprecio hacia los conocimientos escolares. Así andaban, Punch and Judy, atrayéndose y rechazándose como hace falta si no se quiere que el amor termine en cromo o en romanza sin palabras. Pero el amor, esa palabra...


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Rayuela - Julio Cortázar: Capítulo 5

Rayuela - Julio Cortázar: Capítulo 7





Insensatez

Toquinho & Vinicius








Canto de Oxum





Canto de Xangô
Baden Powel e Vinícius de Moraes





Canto de Ossanha
Baden Powel e Vinícius de Moraes




"O canto da mais difícil
E mais misteriosa das deusas
Do candomblé baiano
Aquela que sabe tudo
Sobre as ervas
Sobre a alquimia do amor"

Deaaá! Deeerê! Deaaá!

O homem que diz "dou"
Não dá!
Porque quem dá mesmo
Não diz!
O homem que diz "vou"
Não vai!
Porque quando foi
Já não quis!
O homem que diz "sou"
Não é!
Porque quem é mesmo "é"
Não sou!
O homem que diz "tou"
Não tá
Porque ninguém tá
Quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha
Traidor!
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor...

Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!...

Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou
Não!
Eu só vou se for prá ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...

Amigo sinhô
Saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha
Não vá!
Que muito vai se arrepender
Pergunte pr'o seu Orixá
O amor só é bom se doer
Pergunte pr'o seu Orixá
O amor só é bom se doer...

Vai! Vai! Vai! Vai!
Amar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Sofrer!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Chorar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Dizer!...

Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou
Não!
Eu só vou se for prá ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...

Vai! Vai! Vai! Vai!
Amar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Sofrer!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Chorar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Dizer!...(2x)



Composição: Baden Powell / Vinícius de Moraes




Samba em prelúdio
Baden Powell & Vinícius de Moraes




Eu sem você
Não tenho porquê
Por que sem você
Não sei nem chorar
Sou chama sem luz
Jardim sem luar
Luar sem amor
Amor sem se dar...

E eu sem você
Sou só desamor
Um barco sem mar
Um campo sem flor
Tristeza que vai
Tristeza que vem
Sem você meu amor
Eu não sou ninguém...

Ah! Que saudade!
Que vontade de ver
Renascer nossa vida
Volta querido
Teus abraços
Precisam dos meus
Os meus braços
Precisam dos teus...

Estou tão sozinho
Tenho os olhos cansados
De olhar para o além
Vem ver a vida
Sem você meu amor
Eu não sou ninguém...

Ah! Que saudade!
Que vontade de ver
Renascer nossa vida
Volta querido
Teus abraços
Precisam dos meus
Os meus braços
Precisam dos teus...

Estou tão sozinho
Tenho os olhos cansados
De olhar para o além
Vem ver a vida
Sem você meu amor
Eu não sou ninguém
Sem você meu amor
Eu não sou ninguém
Sem você meu amor
Eu não sou ninguém...






Samba da volta
Toquinho & Vinicius








domingo, 22 de novembro de 2015

Bolero, Ravel

Retratos da Vida








Jorge Donn -1982






Maya Plisetskaya - choreography by Maurice Béjart






Wiener Philharmoniker - Maurice Ravel - Bolero - Gustavo Dudamel






Retratos Da Vida (Bolero) ( Les Uns et les autres) trailer





Enquanto o mundo batalhava entre si durante a Segunda Guerra Mundial, quatro família de distintos países - Estados Unidos, França, Alemanha e Rússia - se cruzam em circunstâncias históricas e se unem através da dança e do drama. Este clássico decalca o Bolero de Ravel, com um coreografia marcante de Jorge Donn em pleno Trocadero parisiense. A música tornou-se uma verdadeira febre na época lançada sendo quase impossível ouvir a música e não associá-la ao filme. Composto de um elenco de extraordinários atores - James Caan, Robert Houssein, Geraldine Chaplin, Nicole Garcia, Fanny Ardant - sob a direção do renomado diretor Claude Lelouch, destacado pela criação de diversas obras primas do cinema de arte, Retratos da Vida é, sem dúvida, um dos filmes mais marcantes de sua época e continua encantando platéias do mundo inteiro.




Last scene of Les uns et les autres (1980) - le boléro de Ravel (aka Bolero)




sábado, 21 de novembro de 2015

Teatro Pedagógico: a mentira finge que nos liberta do sonho que nunca se completa

Parábolas de uma Professora



a mentira finge que nos liberta do sonho que nunca se completa


baitasar e paulo e marko




continuo em meu passado. juro que não estou atordoada nem em fuga para esse pretérito, um outro tempo de lamentações. apenas canso de ouvir e ver as mesmas tentativas vestidas com as vozes e imagens deste tempo presente. nas recordações de um outro período passado e que, como este, também passará sem modificar o cotidiano. nada de grandioso aconteceu nem acontece. apenas a corrosão lenta do tempo. estendo a mão para algum corrimão. nada. procuro as provas da nossa ineficácia coletiva. o destino das crianças, jovens e adultos é vir às nossas escolas. a maioria continua saindo da fôrma mansa e inocente até suas casas, mas em algumas coisas evoluimos

Colegas, colegas, vamos nos concentrar aqui, deixando as conversas paralelas. Precisamos fazer as quatro turmas, nesta manhã.

Por que marcar conselho de classe para tantas turmas em uma manhã? É óbvio que não conseguiremos falar e pensar com a calma e lucidez necessária.

Tudo bem, tudo bem, estamos todos aqui no conselho, vamos começar.

Qual a turma?

Turma 44, Quarta Série.

Não estou entendendo, não deveríamos começar pela turma 41? Eu não tenho a turma 44.

Sei lá, apenas pensei em começar por esta turma para liberar os professores que só têm a turma 44.

Sim, e eu? Não tenho a turma 44 e gostaria que os conselhos seguissem a numeração das turmas normalmente. Primeiro a turma 41, após a turma 42, e assim por diante.

não lembro o final deste diálogo, mas todos os conselhos se iniciavam neste ritual, choques de interesses, para sair antes do horário determinado. demorar-se o menos possível, ir-se, ou ficar a completar os livros de freqüência diária dos alunos, em algum canto despercebido, solitário e quieto, quando me percebo morta. mas enfim, começávamos. estamos discutindo um aluno quanto a sua aprovação ou reprovação, lembro a professora da matemática defendendo a tese da reprovação

Gurias, o chiquinho não tem condição para ser aprovado. Está muito fraquinho nas Operações Matemáticas. Apresenta muitas dificuldades, não entrega os trabalhos, é assíduo, mas com algumas faltas. Já mandei chamar o pai, a mãe e nada, ninguém compareceu aos meus chamados. tenho todos os registros.

Isso é muito importante: ter todos os registros!

Os pais já morreram. Ele vive com um dos irmãos e dizem, não sei bem a história toda, que este irmão é soldado de uma boca de fumo aqui perto.

Militar?

Nas aulas de Educação Física ele é um ótimo aluno.

Ah! Todos gostam de jogar bola.

Nas aulas de Educação Artística é um aluno muito criativo, concentrado, atencioso, participativo, não tenho nenhuma queixa.

Puxa, gurias! Mas Educação Física e Educação Artística eles gostam de fazer, ninguém reprova.

Até acho que eles gostam de participar das aulas de Artes e Educação Física porque não estamos preocupados em aprová-los ou reprová-los, raramente ocorre uma reprovação.

Caminhando dentro desta irresponsabilidade ou do ativismo espontâneo é mais fácil.

Estou cansada de encontrar colegas que ganham para fazerem o mesmo trabalho, mas o fazem de maneira irresponsável. Como podemos aprovar sem parâmetros de avaliação? Existem pré-requisitos de uma série para outra que não podemos ignorar por conforto ou descaso.

Posso fazer uma pergunta?

Claro.

Os conteúdos de Matemática da Quarta Série não serão repetidos na Quinta Série?

Sim, no próximo ano, estaremos reformulando os conteúdos e os estaremos repetindo na Quinta Série. Os conteúdos da Quarta Série estarão diluídos, reciclados com os conteúdos da Terceira Série deste ano.

A Quarta Série vai deixar de existir?

Não, a Quinta Série repetirá os seus conteúdos básicos...

Por quê?

Para não transformar em unidocência estas Quartas Séries.

Por quê?

Sobraram muitos professores do quadro.

Não entendi.

Na unidocência apenas um professor atende as turmas.

Ah! Colocando-as nas áreas de estudo, podem ter professores de Língua Portuguesa e Estrangeira, Geografia e História, Educação Física e Educação Artística, bem como, de Ensino Religioso.

Isso.

Então, por que reprovar? Qual a lógica?

não existe lógica humana na reprovação quando se vive para ser mais negando a contradição de ter mais, quando sou mais humana na paciência, no carinho, na esperança e no amor, encontro no meu aluno a mim mesma

a mentira finge que nos liberta do sonho que nunca se completa



às vezes, fico perturbada com a desesperança, tanto minha como de meus colegas, parecemos companheiros mórbidos e sem chama do humano na beira do abismo, querendo escrever, alguns não foram feitos para a escrita e a leitura. parece bobagem, mas nunca vou escrever como as minhas professoras. lindas. nossa transparência é infeliz, dá muita vontade de chorar e chorar, calorão depois do leite quente derramado, E vocês, não sentem vontade de ir às lágrimas, não sentem saudades daquelas lourinhas higiênicas das manhãs com a televisão, ninguém responde, todos ocupados, Professor, ninguém vai entender o que eu escrevo, E alguém já tentou entender, exclamo ressentida. olho às pessoas, multidões, converso com muitas delas e as encontro tristes, barulhentas, com medo do silêncio e de suas lacunas, parecem sempre vestidas, Vão achar graça, esse está inseguro para se aventurar no mundo desconhecido das pessoas letradas, Quem, Sei lá, eu não sei escrever. afinal, quem somos, se não o mal e o bem que nos habita, confundo e da alma no fundo vêm estas vertigens que estremecem meus pés e me jogam aqui, em sonhos de cantigas virgens, vou na busca dos sons derramados. decorei esse poeminha


em minha carne percebo as gentes esquecidas da obrigação de sonhar, estão num vazio e escuro brejo de sapos coaxando e o cricri dos grilos. a lenda adormecida se confunde com nossas histórias de reis e rainhas, num reino de tolos e espertos enganando, mostrando-nos caminhos sem luz, Circo, tudo é circense, Eu não quero, sei que não consigo, continua se negando a correr riscos no mundo das letras. suspiro num breve respirar, ah, minha adolescência e suas manhãs, perfumando de infinito meu único grito de suave delinqüência, Afinal, quem somos, pergunto, e me de imediato, sem nem mesmo pronunciarem uma única palavra, respondem, O mal que vence o bem, que também somos e não acreditamos, às vezes, pertencemos ao bem que vence o mal, que também somos e não pensamos, existimos como o ninguém sem vintém, tento continuar o diálogo dentro de mim, Pensar e escrever a importunância imaterial do meu pensamento é difícil, canso e pergunto, Alguém acredita que vai dar certo pensar e escrever? ninguém realmente irá se importar, retorno ao suspiro breve, ah, mulher que sou não esquece minha adolescência, tempos de suaves e doces delinquências de não saber, não querer e não encontrar caminhos capazes de me dizer, Eu sou o chão seguro e macio em que pisa, venha e me acompanhe, cobiço esta frase nos olhos sinceros de alguém, Professor Abá, o senhor já saltou dentro de um poço, ele não sabe o que responder, nós, seus alunos o ajudamos, É escuro e a gente não sabe se vai encontrar água ou um pulo sem fundo para o centro do mundo-nada, de qualquer maneira vai ser ruim, Não vou pra esse tal de computadô porque não sei escrever o que penso que quero escrever e não sei ler o que o outro pensou escrever e quer que eu leia, O senhor já pensou no desgosto do outro quando descobrir que não conseguimos ler o que ele escreve, A vida devia ser melhor, a gente é nada, Sei que um dia vou encontrar a mulher da minha vida. somos o eco de nossos gritos em sonhos que achamos em olhos que choram e bocas que calam, creiamos o que somos, afinal, não somos tão assustadores e tão trouxas, Professor, a gente não tem cara de babaca, temos muito suor nesta nossa vida, queremos ser bons alunos descobrindo as letras e as palavras, penso que continuamos ingênuos, A gente vai atrás da lua e encontra a verdade escura, e se conserva pura, dá-se à vida nua, recebe violência e curra, Você minha alma tua toca a carne de leve com carinho e em silêncio, como alguém que gosta e luta pela lua, Pra quê vai servir, eu não sei lê, não entendem porque ela não é parecidinha com as gostosonas da televisão, os chinelos que não são havaianas, não são falsos



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Mestre Espirro Mirim Grupo Cordão De Ouro






Besouro




"Eu não posso porque eu sou menino. Eu não posso porque eu sou pobre. Eu não posso porque eu sou preto."

"Menino um dia você vai ser homem. Pobre quem sabe, amanhã você pode ser rico. Agora... preto, meu filho, é pra vida inteira.Preto com muito orgulho de sua cor."



Iemanjá é dona Janaína que vem

Chimarruts






Hoje o reggae bate forte na cabeça,
Como vento bate forte lá no litoral.
E as ondas são como a batida da guitarra,
Ou então como no toque do meu berimbau.
E as estrelas são meu grito de alegria
E euforia quando o dia é de carnaval.
Então eu danço com meu povo e minha mente gira,
Pois a alegria tem que tomar conta do lugar.
Que de maldades eu estou cheio e quero fantasia,
Porque sou filho de Ogum e de mãe Iemanjá.

Iemanjá vem lavar a nossa fé
E Ogum pai do sol
Ilumina o meu caminho eu quero viajar.

Pois hoje eu quero viajar prá lá do céu,
Onde não haja fronteiras para me barrar.
Quero subir nas estrelas e de lá ver o mar,
Ver o sorriso da criança livre a brincar.
E vou plantar uma semente no seu coração,
Para colher futuramente uma nova nação.
Desigualdades e injustiças há de acabar,
Porque sou filho de Ogum e de mãe Iemanjá



Composição: Rafael Machado/Rodrigo Luíz




Angelique Kidjo






Melody Gardot






Maria Bethânia






Baden Powell







Ponto de Yemanjá - Umbanda






Hip Hop

Dança de rua




Dança de Rua de Alagoa Grande (PB)





Break Dance






Street Battle






Rotterdam - Breakin Battle






Tire meu fôlego

Take My Breath Away




o amor machuca
o amor deixa cicatrizes
amor da minha vida
você me feriu
você não pode ver
então você acha que pode diferenciar
o Paraíso do Inferno

em algum lugar secreto
o preconceito existe em todos nós
não conseguia dizer como me sentia
não reconhecia a mim mesmo
eu espero você
ilusão e ironia do destino
e eu espero sem você
é uma mágoa
nada mais que uma mágoa
te pega quando você está triste
neste oceano sem fim

em algum lugar secreto




Berlin






It's A Heartache 1978
Bonnie Tyler







With or without you
U2






Streets of Philadelphia
Bruce Springsteen






Wish You Were Here
Pink Floyd






Love of my life
Queen








Love Hurts
Nazareth




quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Histórias de avoinha: onibàtà, sapateiro: é bão tê obrigação de respeito com os espritu


Ensaio 66B – 2ª edição 1ª reimpressão


onibàtà, sapateiro: é bão tê obrigação de respeito com os espritu


baitasar



na manhã seguinte, bem cedinho, munto antes dos galo se batê em pavonice e cantá o começo da lida na roça, munto primêro qui o calô abrí os braço e as claridade do dia desabotoá as vista pra oiá essa apertada esquina do mundão, o preto josino já tava alavancado. Durumiu munto pôco. O escravo josino foi deitá com o recosto do lombo ardendo e deitá assim num dá gosto. Deitá com lonjura da muié milagres num tinha riamba qui colocava cura na saudade

o hôme josino saiu na procura do pai véio mandiguêro. Num queria assuntá os lanho com ajuda dos branco. Passô longe da botica farmacêutica do boticarista juca curadô. Cruzô com o camará farol, Ainda na lida, Camará Farol?

A lida da iluminação num termina antes das claridade assumí as obrigação própria. E o Josino vai pra onde tão antes do dia vingá?

Vô indo prus lado do Preto Véio Mandiguêro.

Faz bem, faz bem tê as obrigação de respeito com os espritu cumprida. E na Villa num tem ninguém mais conhecedô e respeitado pelos espritu das fôia qui o Preto Mandiguêro.

Ayún.

Àse.

os hôme voltô os passo pru destino dos caminho já traçado. Cada um pru seu lado. Os lanho feito no josino pela chibata nas mão do capitão era pôca cousa, quase uma gentileza, se fosse compará ou inventariá os castigo usado pra dobrá as vontade dos preto da senzala. As condenação de correção pra fazê valê as decisão de capricho dos dono da casa grande

das machucadura qui carregava marcada uma qui otra doia mais, as dô num é igual, mais nenhum lanho desalentava mais qui o lanho das saudade da sua milagres. A lonjura da preta dos seus encanto de hôme lhe dava mais banzo qui os fiô qui num ia tê, Tem dia qui a tristeza fica maió. É quando sô derrotado dinovo dinovo e dinovo. Preto Véio, só queria uma veiz num perdê, ficá de namorice com minha preta. Podê acordá com a doçura dos perfume e os dengue acalorando da muié bemquerê. E sê o hôme qui segura as ventania com as mão pra acomodá o sossego no arredó da muié bemquerê, sê quem assopra nas suas fôia a frescura. Sentí o encorajamento do seu oiá qui movimenta umas tremura de arrepio aqui e ali, e mais lá e cá, inté qui vem fresca e dócil a calmaria. Quero sê o brasêro qui encoraja e cochicha. E faz cócega. E móia as terra da muié. Quero sê muntos hôme de amô pra Milagres. Fazê a língua entrá atrevida e saí sem os cuidado do juízo, moiada de afogada. Nenhum juízo.

o mandiguêro pai véio alevantô do seu banquinho. Os pé no chão nu e cru. Tava fumando seu cachimbo de barro. Escutando. Defumando na volta do mundo do josino os chêro do mato, do alecrim, alho mais arruda e sal

Corre gira Pai Ogum
Fiô qué se defumá
A vontade tem fundamento
É preciso prepará
com incenso, benjoim
alecrim e alfazema
defuma fiô da fé
com as erva da jurema

o preto véio engolia e soprava fumaça nos lanho do josino. Parecia chupá o fumo inté embebedá a cabeça e o corpo como se bebida de cachaça fosse. Conversava dos espritu com josino. Tava no transe do caminho qui num era aqui e num era lá. Tava no meio como uma ponte ligando os incenso, a carne viva e as imaginação da morte qui vive. Comia a cachaça. O preto josino tava encantado pela vida ausente. Os protetô qui tinha chegado deslizava pela fumaça. As baforada continuava. As mão do pai véio tava guiada contra os feitiço dos lanho de branco. E sem reza, sem cantoria, sem dança, o transe do silêncio, como se os espritu tivesse tomado numa tristeza inconformada, o pai véio curava os lanho. Usava a força curativa nas compressa feita do sumo do açoita-cavalo. Escutando. Benzendo. Rezando. Humilde

o josino fungô o desencanto do seu alívio dos lanho da carne qui o pai véio consertava, mais os lanho daquela vida num parecia tê remendo. O mais véio resmungava na língua dos antigo qui viaja no tempo das memória, um andamento de existência antes deste mundão de escravo, Escuta com os óio e vê com o coração. Munta vida vai chegá e partí inté acabá a serventia das corrente nas canela preta. Os branco é munto preguiçoso das lida qui dá calo nas mão, bôia nos pé e suô de sangue. Eles num gosta de gemê, prefere fazê sofrê, tudo no nome do próprio conforto e bem-está. E mais tempo vai ficá a escravidão nos coração dos preto e nas mão dos branco. Vai durá mais qui a vontade de acabá, mesmo depois de acabada essa serventia amaldiçoada e malvada. Os branco vai continuá agarrado com as corrente atarraxada nas canela preta. Num vai se desfazê das bem-feitoria qui juntô nesse tempo de escravidão, tem mais gula qui bão coração. Eles foi ensinado e ensina o qui aprendeu: gostá de tê os preto na sua serventia com incumbência de tudo qui é atendimento, inté os mais feio. É gente qui fala coisa ruim dos preto, mais tá sempre qui pode enrolado nos pano de cama com as preta. E as branca... vai chegá o dia qui elas vai preferí tá de assunto de cama com os preto. Isso incomoda.

É verdade, Pai Véio. Sinto nas carne essas tristeza e cobiça.

Mifio, tem precisão de juntá as luta qui passô mais as luta qui ocê tá fazendo com as luta qui vai ví. Mais num é só assim, é preciso juntá os preto qui se foi mais os preto qui tá aqui com os preto qui vai ví. E lutá as luta da vida com amô na vida. O amô une tudo qui é vida, faz grudá as pessoa. É a vida qui faz a vida se rí dela mesma. O amô é o mestre das coisa da natureza qui tá nas benzedura. Ajôeia, mifio.

o josino dobrô as perna, fincô os jôeio no terrêro da mãe terra, tava desembarcado dos navio negrêro. Fez silêncio e esperô mais reza. Inté qui o mais véio começô suas cantoria de resmungação com pedido e oferecimento. Esperava as bença da sorte se combiná. Chamô os sonho do dia fasto e nefasto, queria tê a decifração dos espritu pra tanto nefasto, pelo menos, um palpite pra desalgá a vida

Pai Véio, acho qui algum desafeto me carregô a mão com mandinga...

Deixa, mifio. Esse pai vai procurá as aplicação pra desfazê o feito.

num sabe se foi, num sabe se num foi, mais lhe pareceu qui a mãe terra abriu o chão e ele enraizô as carne. Depois môiô as raiz com o mesmo sangue qui vazava dos lanho mais o suô qui gotejava da testa e escorria no peito e nas coxa. Ajuntô as ponta da vida com as água dos óio. E da mãe terra saiu brotando mais vida: os preto da vida intêra

Pai João d’Angola com sua ternura, sentado no tronco ele benze esse preto qui tem o nome de Josino. A estrela de Oxalá seu ponto vai iluminá. Ele é o Pai João d’Angola, nosso protetô.

as reza aliviô a alma. As erva e o unguento descarregô as ardidura dos lanho nas costa. O josino tava agarrado nas terra do chão. E assim ficô inté as terra soltá as raiz qui brotô do preto, inté tá alimentado pra continuá. Agradeceu o preto véio e saiu. Tinha precisão de chegá no tempo de começá os serviço do dia na obra santa. Na volta das benzedura, parô pra dizê uma qui otra palavraria com o preto prego. Sapatêro da mão cheia qui atendia na loja do siô joaquim

esse tal siô joaquim foi um portuga da gema munto esperto e bão com a própria bondade. Gostava de se mostrá pra freguesia da loja, Esse negro aqui, apontava o dedo pru preto sapatêro, é o Nêgo Prego. Ele agradece todos os dias os meus sentimentos de humanidade e patriotismo. Eu lhe comprei a alforria dos quefazeres campeiros. As estâncias não são bons lugares para os negros. Hoje, ele é um alforriado folgado que ganha seu sustento de casa e comida. Vive aqui na loja. Nunca lhe encostei um dedo. E jamais precisou. De mais a mais, negro não pode ter ganho. Imagina um negro dono de loja, vai querer parecer gente!

a mesma ladainha, uma ou duas veiz, nos dia qui o portuga aparecia na loja. Ele parecia tê sido encantado com ovo choco e fumo de corda bem ruim, nem o siô bão jesus ia podê livrá o preto prego daquele encosto ruim

na parede, atrás do balcão, o lojista dava destaque prum quadro pensurado. Num era desenho nem pintura, mais uma carta do agradecimento do preto prego pela alforria recebida do seu novo siô. Explicava qui num tinha sido escrita do próprio punho do prego purqui, Vosmecês sabem que os negros não sabem escrever nem ler. São muito preguiçosos e não atinam com essas coisas mais complexas, mas com um martelo, alguns pregos e pedaços de couro, esse seu estado de quase selvageria ganha um bom uso. Assim, eles ganham importância. Esse aqui, apontô pru preto prego qui consertava botas fidalga e num saiu do qui tava fazendo, sentado tava, sentado ficô, é um ótimo sapateiro. E eu fiz um bom investimento, voltô as vista pra carta-gratidão, todos podem ver a marca do Nêgo Prego, a mesma que ele usa no couro.

a carta tava lá, numa letra bonita, pra quem chegava na sapataria. Um desenho de letra branca. Depois do começo das apresentação, se a freguesia num corria, ele sempre teve gosto de lê a carta escrita do próprio punho da maria letícia, Eu fui escravo, começava a leitura sempre com a voz mais solene qui sabia fazê, e muito regozijo senti quando o sinhô Joaquim de Alhures me permitiu ser livre. A liberdade me foi concedida por sua generosidade. Quando o alvedrio não é readquirido por esforço próprio, mas sim restituída ao escravo pela generosidade do sinhô branco, como foi no meu caso, então, além do regozijo, experimento o mais profundo sentimento de gratidão. É por isso que reconhecendo seu coração altamente generoso, verdadeiramente magnânimo, faço todos acreditarem que se ontem era cativo, na humilde condição de escravo, serei, de hoje em diante, sempre seu cativo unicamente pelo nobre sentimento da gratidão e pela mais respeitosa e profunda amizade. Vai abaixo, minha marca.

nem o siô joaquim creditava na própria generosidade, confiava mais nos ganho qui chegava das mão do prego. Ele inté ensinava o fiô sê benevolente com os preto quando pudesse, mais fosse sempre firme, Meu filho, mantenha os freios sempre curtos, que o animal pode querer atropelar!

o portuga evitava tê essa conversa com a própria muié, uma mulata qui ele desembestô qui devia batizá. E batizô maria letícia. Depois embirrô qui devia casá. E casô. A mulata lhe deu o fiô qui ele batizô joaquim manuel. Fiô de joaquim precisava sê joaquim mais alguma coisa. A mulata escapô da escravidão e aceitô o mundo do casamento. Ganhô importância e consideração na casa e na loja. Fora disso, num ganhava convite de visita. A muié num reclamava. A esposa num queria sabê de nada qui pudesse entristecê o oiá de atrevimento do esposo ou as reza na igreja santa. Concordava com tudo. Achava mais custoso arrumá o sorriso desfeito do marido. Queria aliviá o peso das pegada no chão. Num queria sabê de mais história de aflição na sua volta. Num mesmo. Num saia da casa sozinha mais qui os passo inté o casarão das reza e do perdão. Num precisava sê mais do qui já era: a muié do portuga sapatêro. Tinha um mundo só dela. Gostava assim

o josino gostava de aparecê na loja da sapataria pra ficá de prosa com o preto prego, mais só ficava inté bem antes do siô joaquim levantá dos pano dormido. Chegava cedo. Aparecia adiantado, antes das terra ganhá as quentura e as pegada do dia

É bão o amigo tê obrigação de respeito com os espritu.

Eles manda, eles governa a mãe Terra.

O amigo chegô da Humaitá, quando?

os trabáio na villa podia parecê mais ameno qui nas estância, mais na cidade tumbém num tinha munta alegria do bem vivê. Podia inté sê convidado pra confraria dos preto livre, escravo, criolo ou mulato, mais num se dava o trabáio de respondê. Num era coisa ruim tá na irmandade, eles se dedicava à educação religiosa e caridade social, tumbém ajudava nos tempo de doença ou enterro cristão dos preto. A irmandade tava comprometida com a libertação dos escravo e fazê aparecê na villa os canto e as dança qui tanto assustava os branco, mais num queria mais qui tá com sua milagres





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terça-feira, 17 de novembro de 2015

XXV – Mitologia dos Orixás: Onilé [242]

Onilé


Reginaldo Prandi




Onilé ganha o governo da Terra



Onilé era a filha mais recatada e discreta de Olodumare. Vivia trancada em casa do pai e quase ninguém a via. Quase nem se sabia de sua existência. Quando os orixás seus irmãos se reuniam no palácio do grande pai para as grandes audiências em que Olodumare comunicava suas decisões, Onilé fazia um buraco no chão e se escondia, pois sabia que as reuniões sempre terminavam em festa, com muita música e dança ao ritmo dos atabaques. Onilé não se sentia bem no meio dos outros.


Um dia o grande deus mandou os seus arautos avisarem: haveria uma grande reunião no palácio e os orixás deviam comparecer ricamente vestidos, pois ele iria distribuir entre os filhos as riquezas do mundo e depois haveria muita comida, música e dança. Por todos os lugares os mensageiros gritaram essa ordem e todos se prepararam com esmero para o grande acontecimento.


Quando chegou por fim o grande dia, cada orixá dirigiu-se ao palácio na maior ostentação, cada um mais belamente vestido que o outro, pois este era o desejo de Olodumare. Iemanjá chegou vestida com a espuma do mar, os braços ornados de pulseiras de algas marinhas, a cabeça cingida por um diadema de corais e pérolas, o pescoço emoldurado por uma cascata de madrepérola. Oxóssi escolheu uma túnica de ramos macios, enfeitada de peles e plumas dos mais exóticos animais. Ossaim vestiu-se com um manto de folhas perfumadas. Ogum preferiu uma couraça de aço brilhante, enfeitada com tenras folhas de palmeira. Oxum escolheu cobrir-se de ouro, trazendo nos cabelos as águas verdes dos rios. As roupas de Oxumarê mostravam todas as cores, trazendo nas mãos os pingos frescos da chuva. Iansã escolheu para vestir-se um sibilante vento e adornou os cabelos com raios que colheu da tempestade. Xangô não fez por menos e cobriu-se com o trovão. Oxalá trazia o corpo envolto em fibras alvíssimas de algodão e a testa ostentando uma nobre pena vermelha de papagaio. E assim por diante. Não houve quem não usasse toda criatividade para apresentar-se ao grande pai com a roupa mais bonita. Nunca se vira antes tanta ostentação, tanta beleza, tanto luxo. Cada orixá que chegava ao palácio de Olodumare provocava um clamor de admiração, que se ouvia por todas as terras existentes. Os orixás encantaram o mundo com suas vestes. Menos Onilé. Onilé não se preocupou em vestir-se bem. Onilé não se interessou por nada. Onilé não se mostrou para ninguém. Onilé recolheu-se a uma funda cova que cavou no chão.


Quando todos os orixás haviam chegado, Olodumare mandou que fossem acomodados confortavelmente, sentados em esteiras dispostas ao redor do trono. Ele disse então à assembléia que todos eram bem-vindos. Que todos os filhos haviam cumprido seu desejo e que estavam tão bonitos que ele não saberia escolher qual seria o mais vistoso e belo. Tinha todas as riquezas do mundo para dar a eles, mas nem sabia como começar a distribuição. Olorum refletiu por um bom tempo e disse que seus próprios filhos tinham feito suas escolhas. Ao escolherem o que achavam o melhor da natureza, para com aquela riqueza se apresentar perante o pai, eles mesmos já tinham feito a divisão do mundo. Então Iemanjá ficava com o mar, Oxum com o ouro e os rios. A Oxóssi deu as matas e todos os seus bichos, reservando as folhas para Ossaim. Deu a Iansã o raio e a Xangô o trovão. Fez Oxalá dono de tudo o que é branco e puro, de tudo o que é o princípio, deu-lhe a criação do homem. Destinou a Oxumarê o arco-íris e a chuva. A Ogum deu o ferro e tudo o que se faz com ele, inclusive a guerra. E assim por diante. Confirmou Exu no cargo de mensageiro dos deuses, pois nenhum outro era capaz de se movimentar como ele. Mas como Exu se cobrira todo com búzios para a reunião, e como búzio era dinheiro, Olodumare também dava a ele o patronato dos mercados e o governo das trocas.


Olodumare deu assim a cada orixá um pedaço do mundo, uma parte da natureza, um governo particular. Dividiu de acordo com o gosto de cada um. E disse que a partir de então cada um seria o dono e governador daquela parte da natureza. Assim, sempre que um humano tivesse alguma necessidade relacionada com uma daquelas partes da natureza, deveria pagar uma prenda ao orixá que a possuísse. Pagaria em oferendas de comida, bebida ou outra coisa que fosse da predileção do orixá. Os orixás, que tudo tinham ouvido em silêncio, começaram a comemorar, cantando e dançando de júbilo. Mas Olorum-Olodumare levantou-se e pediu silêncio, pois a divisão do mundo ainda não estava concluída. Disse que faltava ainda a mais importante das atribuições. Que era preciso dar a um dos filhos o governo da Terra, o mundo no qual os humanos viviam e onde produziam as comidas, bebidas e tudo o mais que deveriam ofertar aos orixás. Disse que dava a Terra a quem se vestia da própria Terra. Quem seria?, perguntavam-se todos. “Onilé”, respondeu Olodumare. “Onilé?”, todos se espantaram. Como, se ela nem sequer viera à grande reunião? Nenhum dos presentes a vira até então. Nenhum sequer notara sua ausência. “Pois Onilé está entre nós”, disse Olodumare, e mandou que todos olhassem no fundo da cova, onde se abrigava, vestida de terra, a discreta e recatada filha. Ali estava Onilé, em sua roupa de terra. Onilé, a que também foi chamada Ilé, o país, o planeta. Olodumare disse que cada um que habitava a Terra pagasse tributo a Onilé, pois ela era a mãe de todos, o abrigo, a casa. A humanidade não sobreviveria sem Onilé. Afinal, onde ficava cada uma das riquezas que Olodumare partilha com os filhos orixás? “Tudo está na Terra”, disse Olodumare. “O mar e os rios, o ferro e o ouro, os animais e as plantas, tudo”, continuou. “Até mesmo o ar e o vento, a chuva e o arco-íris, tudo existe porque a Terra existe, assim como as coisas criadas para controlar os homens e os outros seres vivos que habitam o planeta, como a vida, a saúde, a doença e mesmo a morte.” Pois então, que cada um pagasse tributo a Onilé, foi a sentença final de Olodumare.


Onilé, orixá da Terra, receberia mais presentes que os outros. Deveria ter oferendas dos vivos e dos mortos, pois na Terra também repousam os corpos dos que já não vivem. Onilé, também chamada Aiê, a Terra, deveria ser propiciada sempre, para que o mundo dos humanos nunca fosse destruído. Todos os presentes aplaudiram as palavras de Olodumare. Todos os orixás aclamaram Onilé. Todos os humanos propiciaram a mãe Terra.


E então Olodumare retirou-se do mundo para sempre e deixou o governo de tudo por conta de seus filhos orixás.

[242]



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Leia também:


XXIV – Mitologia dos Orixás: Olocum [238] [239]

XXVI – Mitologia dos Orixás: Ajê Xalugá [243] [244]


Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.



Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.


domingo, 15 de novembro de 2015

Amado Nervo (México)

Los Poetas del Amor (34)




El fantasma y yo


Mi alma es una princesa en su torre metida,
con cinco ventanitas para mirar la vida.
Es una triste diosa que el cuerpo aprisionó.
y tu alma, que desde antes de morirte volaba,
es un ala magnífica, libre de toda traba...
Tú no eres el fantasma: ¡el fantasma soy yo!

¡Qué entiendo de las cosas! Las cosas se me ofrecen,
no como son de suyo, sino como aparecen
a los cinco sentidos con que Dios limitó
mi sensorio grosero, mi percepción menguada.
Tú lo sabes hoy todo..., ¡yo, en cambio, no sé nada!
Tú no eres el fantasma: ¡el fantasma soy yo!







María Eugenia Caseiro (Cuba)



Esperar


Las ventanas se apagarán un día;
hagamos cuenta que hasta aquí
lo habías previsto, lo había previsto
polvo polvo el polvo
lunijunto de barrancos
blancos palacios de hueso
cal y arena que se mueven
prolongado flujo
esperándote, esperándome
esperándonos.






Julia de Burgos (Puerto Rico)



Íntima


1

Se recogió la vida para verme pasar.
Me fui perdiendo átomo por átomo de mi carne
y fui resbalándome poco a poco al alma.

Peregrina en mí misma, me anduve un largo instante.
Me prolongué en el rumbo de aquel camino errante
que se abría en mi interior,
y me llegué hasta mí, íntima.

Conmigo cabalgando seguí por la sombra del tiempo
y me hice paisaje lejos de mi visión.

Me conocí mensaje lejos de la palabra.
Me sentí vida al reverso de una superficie de colores y formas.
Y me vi claridad ahuyentando la sombra vaciada en la tierra desde el
hombre.




2

Ha sonado un reloj la hora escogida de todos.
¿La hora? Cualquiera. Todas en una misma.
Las cosas circundantes reconquistan color y forma.
Los hombres se mueven ajenos a sí mismos
para agarrar ese minuto índice
que los conduce por varias direcciones estáticas.

Siempre la misma carne apretándose muda a lo ya hecho.
Me busco. Estoy aún en el paisaje lejos de mi visión.
Sigo siendo mensaje lejos de la palabra.

La forma que se aleja y que fue mía un instante
me ha dejado íntima.
Y me veo claridad ahuyentando la sombra
vaciada en la tierra desde el hombre.



sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Teatro Pedagógico: ai-5

Parábolas de uma Professora 


ai-5


baitasar e paulo e marko





Consegui, brado para mim mesma, estou em minhas lembranças e no meu presente de sonhos e pesadelos, constatar a repetição de meus devaneios aflitivos no presente é demais

E o que tem tudo isso a ver conosco, as nossas escolas não estão cicladas?

este professor botto começa enervar a todos, no abrigo reparam que ele está diferente, mas ainda não sabem bem em quê. mais um vítima de si mesmo. ou se faz de vítima? notaram sem inveja que o seu tronco está ligado ao abdômen por uma cintura estreita, sua cabeça está livre e apoiada ao tronco por um pescoço fino e com antenas que se dobram ao meio. não parece ser carnívoro, espécies consideradas mais primitivas, mas apreciador de substâncias açucaradas e fungos. suas partes bucais parecem adaptadas para morder e ingerir alimentos líquidos. aparentemente, não é nômade, mas é somente isso, por enquanto, Por que não pede licença e vai para casa chorar, reclamar do cafezinho frio, da família das crianças, do alarido no pátio durante as aulas de educação física, intento de pedir como ato verbal de protesto

imagino que a solução para o seu caso é tomar chá verde, bem quentinho, namorar bem devagarinho, olhos nos olhos, passar nos recursos humanos e assinar a sua demissão, Se não gosta do que faz por que continua por aqui, pergunto desaforadamente em silêncio, apenas com a intenção de manter subjugados, em silêncio, a todos e todas que procuram a escola, ou a resposta se acha na incapacidade e medo de fazer um outro caminho de trabalho, uma outra profissão

Querido, até alguns anos, estes também eram nossos números, diria que em algumas escolas os números se apresentavam mais mortais. Saqueadores dos sonhos de milhares de alunos e alunas. Chegamos a ter índices de reprovação acima de cinqüenta, por vezes, sessenta ou setenta por cento.

A reprovação em nome do que e de quem?

Acredito que deva ter sido uma reprovação em nome do Deus da Tradição da Família e dos Bons Costumes, pois todos nos julgamos caridosos. Homens e mulheres de fé, cheios e transbordadas de um imenso sentimento de solidariedade, mas com muita saudade do poder imensurável que tínhamos nos momentos de aprovar ou reprovar, eis o nosso AI-5 que usávamos sem critérios e sem muito sofrer. Sem muito alarde.

Quantos jovens e velhos foram jogados ao mar de pés e mãos amarrados?

Amordaçados!

Tudo bem, estou sendo injusta, muitas vezes, vislumbrávamos uma leve sensação de injustiça sendo cometida e ficávamos chateadas um pouquinho, mas era só!

a lia continuava com seu discurso forte, avivando as memórias com a sua fala, ouvia-se o murmúrio do desconforto. as alunas de estágio do magistério presentes à reunião, apenas se olhavam sem entender muito essa história de reprovação e ai-5, também seria pedir muito que compreendessem essas siglas, quando muito estavam aqui, hoje, e amanhã ali, comandando suas tribos, impulsionados por tudo que por ora desaprendiam conosco. lamúrias, queixumes e ausências. aquelas em exercício de prática que por sorte eram escalados para o comando de professoras competentes e comprometidas, conseguiam ter uma visão menos turva do que as esperava mais adiante. compromisso. aquelas designadas para turmas com professoras menos competentes ou professores menos criativos e determinados em realizar suas tarefas de educador, logo apresentavam os sintomas dos mestres, pouco ou nenhum envolvimento com os alunos. gritos. palavras de ordem. e sempre que possível, passar a turma adiante. para que alguma outra se incumbisse das suas tarefas. não são todas, não são todos, mas são muitas e muitos. transmitiam poderes, jovens aprendizes delegadas. descompromisso. a escola também tem sua culpa nesta formação equivocada, quando os escala para jogar nos mais variados times, geralmente, de acordo com as biometrias, as faltas e os atrasos. o cobertor curto. digo, a bem da verdade, que quase nunca vi, esbarrei ou percebi seus professores orientadores de estágio perambulando pela escola. quem sabe, não venha a ser esta a primordial atribuição, já devem ser tantas, supervisionar os estágios com regularidade e constatar pessoalmente o que acontece. as variadas matizes que sempre tomam o rumo do humor dos seus atores e atrizes, por certo, não merecem a mesma atenção das outras tarefas que os mantém ocupados

É só mudar o patrão que tudo volta ao que era antes.

O patrão é o povo. Ele é que nos paga e tem o direito de exigir o nosso melhor...

O povo nada! Quem manda é o prefeito! Ou o governador do Estado! É básico!

Acemira, sei que é difícil, senão impossível, que tu entendas.

a acemira nunca perdeu e nunca perderá a oportunidade de empurrar o abismo para a beirada de todos no abrigo, se o suicida não vai até o despenhadeiro ela se encarrega de trazer as profundezas do caos, com um sorriso nos lábios, num gesto de oferecimento frio e sem humanidade. falta-lhe o amor, sobra-lhe o discurso despropositado que jura ser amor, mas eis o momento da sua razão desviada: não se envolve com os ciclos de aprendizagem. todos sabemos que mudando quem manda, para um mandador autoritário ou fingidor de interessado nos interesses do povo, voltamos ao ai-5, avaliações e reprovações como regra. estabelecer a busca da qualidade com a exclusão dos menos capazes de adaptar sua opinião aos interesses do momento. é o velho querendo substituir o novo que se estabeleceu a contragosto no fazer pedagógico, em um câmbio da luz desaforada, pela penumbra ressentida e ressequida, Que tal a gente se foder um pouco, tocando, descobrindo e desvelando a nós mesmas, desculpem o atrevimento. acho que exagero

Não existe uma teoria que favoreça a reprovação, esta é uma questão ideológica de formatação da sociedade que queremos. Nós, os professores e as professoras, pequenos burgueses e pequenas casadas burguesas, nunca faremos alguma revolução que nos desestabilize. A sociedade precisa nos reformular, começando pelas escolas que nos formam e formatam doutrinariamente reacionários e reacionárias!

Gurias vou me candidatar no concurso de “Professor do Ano”.

a intervenção da ofélia chegou a todos na surpresa do atrevimento, causando espanto e olhos de interrogação, brincadeira ou vaidade arrogante, inocência deliberada e útil ao caos das profundezas da alma e do espírito

O quê?!!!

Depois que inventaram os ciclos não duvido de mais nada!

acemira continuava atenta ao relógio, e aos discursos pedagógicos, e didaticamente expunha suas idéias, não quis o atalho oferecido por ofélia para outra direção

Pronto, agora somos astutos e resolvemos por antecipação quem reprova ou aprova, esse papo tá cansando.

eis a boa e inigualável cabayba de volta a discussão

Vão querer me fazer acreditar que nunca se ouviu ou se viu nenhum professor nos primeiros dias de aula declarando seu voto sobre quais alunos irão dar certo e quais alunos não irão conseguir acompanhar seu ritmo de ensinar, em um grande vaticínio pedagógico?

o mestre orientador samuel contribuindo com a possibilidade de esclarecer e revelar o seu pensar e o nosso fazer, muitas vezes encoberto pela solidão da sala de aula, na ignorância dos alunos e indiferença de todos que poderiam interferir, mas se escondem na ética do ‘não vou me meter no trabalho do colega’, e o trabalho do colega é conviver e educar crianças ou velhos e velhas. com certeza, se estivéssemos produzindo parafusos seríamos chamados a atenção para os desvios milimétricos da ferramenta, mas, afinal, são somente crianças com pequenos defeitos e desvios, se consertam com o tempo, pois tempo é o que não lhes falta, talvez lhes falte a família e o nosso interesse

E não esqueçam que toda profecia se realiza, nem que para isso tenhamos que dar uma ajudinha.

Professora Lia, temos o poder de construir o sucesso ou fracasso de nosso aluno. O que fazemos dele?

era o aguinaldo totalmente envolvido na discussão e disposto a pôr mais lenha como combustível desta fogueira polêmica



será que os professores ainda nos têm por máquinas copiadoras e que devemos agradecer o privilégio de os ter aqui, me pergunto, a escola, afinal, é um direito de todos, O que é de todos não alcança ninguém, nem as pessoas jovens ou velhas, oratória de adorno, ilusão cínica. lembro de outra noite, só faltou o prefeito, mas outros homens e as mulheres importantes da cidade nos visitaram para dizerem da sua satisfação de nos entregarem a escola noturna, pareciam quase tão decentes, tão alegres, disseram que era uma tal de aula inaugural. foi tudo muito bonito, só não entendi porque os professores deveriam fazer reuniões de estudos e planejamento em nossa primeira semana de aula. nos disseram que as lições com os professores só aconteceriam na outra semana, ficamos sem os tão esperados exercícios de copiar. nosso desejo imediato era entrar na sala de aula e escutar, decorar tudo em seus detalhes, estudar, jogar bola, mas teríamos que esperar ainda mais. claro, para quem já havia esperado tanto, talvez não fizesse mais diferença. só não conseguia entender porque e deixo escapar um breve e resignado suspiro, acredito que conseguimos a escola da noite, mas dentro do meu coração sei que ela não nos pertence

muitos são os alunos e alunas, professores e professoras, que desistem no meio do caminho, nada adianta educar a inteligência sem a compreensão do coração. instruir somente o corpo e a mente de pouco adianta sem a sabedoria da entrega no amor, amizade, justiça, humildade de reconhecer suas imperfeições e a força moral de buscar os caminhos da mudança de um em outro, escutando os outros e fazendo ouvir sua voz. não lembramos mais quantos colegas desistiram, houvera muito estudo para os professores e nenhum para nós, seus alunos e alunas. nem mesmo tem ou teve alguma importância, para aqueles homens e aquelas mulheres quase decentes, que houve quem desistisse das aulas, Haverá outros a desistirem durante o ano, dirá alguém ao desdém, empurrando para cima e puxando para baixo os ombros

avanço no meu tempo de recordar. Quanto mais subo as montanhas e sofro com o ar rarefeito mais para trás enxergo.

outra professora, mesma burragem, Que todos escrevam sobre o Natal. uma das meninas, a solteira, sem nenhum alarde ou alarido, apenas não fez a tal escrita. com os trabalhos já em suas mãos a professora deu pela falta daquela, e anunciou a iminência do perigo, A sua avaliação para o próximo ano depende, também, desta redação. indiferente, a mãe solteira deu de ombros. não sei se por causa da redação não feita, ou do famoso dar de ombros, ela continua na mesma turma, não avançou em aprovação. agora, por esses dias, perguntei porque ela não fez a composição natalícia, Não gosto do Natal, é triste, nada me anima a colocar o mesmo vestido, cada dia mais sujo e feio, moro sozinha, não tenho a quem olhar, dei meu filhinho, melhor assim, não preciso me enfeitar, não ganho presente, mas também não preciso dar nada, não tenho nada pra escrever da alegria dos outros, essa moça, a professora, que faça o que é melhor, ela estudou pra isso, pra saber fazer o melhor. disse-lhe que poderia ter escrito tudo isso que havia me dito. deu de ombros. lembro das pessoas amigas que conheço colocando seus filhos na frente da televisão, apenas para distração das crianças e sossego deles. pais e mães fogem daqueles seres pequeninos incansáveis, quase indestrutíveis em energia, e não sabem o que está acontecendo, nem sabem o que estão testemunhando, e sempre que deixam seus filhos nas ruas, os recebem de volta quando o corpo exige alimento ou está seco e quer água

sinceramente, não vejo muita diferença, nossas professoras nos mantinham ocupadas com quadros cheios de atividades, apagavam e já começavam na outra ponta, só havia tempo de escutar a pergunta, Já copiaram, eita encher o quadro de novo, não nos deixavam levantar um pouquinho. as professoras eram bons de escrever rápido no quadro, alguns de nós conseguiam copiar quase tudo, mas nem todos. pensava que essa gente que ensina tinha que ser mais calma. queria que saíssem com a gente para passear um pouco, cansa e dói ficar sentada o tempo todo, aluno bundante. eu não gostava quando enchiam o quadro. nossas professoras até eram boas, mas deveriam gritar menos, assustavam. gostava de alguns mais ou menos porque só davam exercícios e muitas frases escritas, de outros tinha medo porque eles queriam melhor, vencer sempre, gritavam e eu achava que ficava meio feio para elas que são professoras, falar assim, Será que os nossos professores não veem flores em nós, Não sei, me responde minha alma, mas de todo jeito vivem somente dentro de pesadelos, alguns parecem louquinhos para ficarem longe da gente, vivem saindo da aula, estão sempre perdendo algo que precisam buscar. achava muito ruim quando elas saiam da sala, todos ficavam uma bagunça. uma vez fui atrás da professora porque uns meninos estavam brigando. a encontrei tomando cafezinho e tagarelando, com a professora da turminha do andar de baixo, ficou zangado comigo e mandou que eu voltasse já para a sala, voltei, mas ela demorou mais um tempão. Quando retornou precisou dar muitos gritos histéricos, a turma não estava dando a mínima, na maior bagunça, lápis, papéis e cadernos pelo chão, giz esmagados, quadro todo riscado, uma das cortinas fora rasgada e a professora exigia aos berros que todos pagassem, Uma ova, eu disse que a culpa era dela e que eu não tinha dinheiro para pagar pelos erros dos outros, gritou que queria meu pai na escola, no dia seguinte, Meu pai já morreu, Então quero a tua mãe aqui, amanhã, Minha mãe já morreu, Querem saber, não aguento mais fazer parte desse circo grotesco, você não entra mais na minha aula sem os teus pais, gritou dessa maneira e saiu batendo com a porta. fiquei pensando comigo mesma como iria fazer meus pais virem até a escola, pois nunca mais os havia visto depois que morreram. depois, me chamaram na sala de uma professora com uma conversa mole, mas que repetiu as mesmas bobagens, no final de tudo isso, disseram que eu havia faltado com o respeito com a professora e que deveria ficar uns dias em casa pensando em melhorar minhas atitudes. resolvi não voltar mais à escola, pois achava que era aquela professora que tinha atitudes a melhorar. as minhas não estavam erradas, e assim aconteceu o meu primeiro tropeço escolar, pra mim a escola passou a ser um imenso casarão mal-assombrado


 
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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Poesia Africana: Vadinho Velhinho (Cabo Verde)

Poesia Africana  - 05




E SÓ NESSE DIA OUTRO BORGES NÃO SERÁS



Nos teus deslumbrados olhos um tigre inteiramente doirado
E um outro inteiramente preto disputam os anjos


De Blake. Frios, esperam os espelhos que acordes
Para que te nomeiem. Já não sabe o labirinto


Nem o sul e as pampas ou o degolado templo
De Dagon o sabem — do antigo e secreto caminho


Que a teus olhos de volta conduz. A mão dita-te
O epitáfio e lê-te a rosa o esquecimento qu’inda luz.


O caixão, que por Genebra ninguém viu passar, cru
Levam-no Muraña e, reconciliados, os irmãos Iberra.


Um dia, quando do teu sono acordares, Georgie,
Banhada em êxtase e tango, terás defronte a ti, sob a Lua,


Um infame, um vil, a limpar-te na glande o resto do sêmen
Com uma navalha que a mais nenhuma mão obedecerá.






MÁSCARAS



De que fingimos
Não se dão conta
As Máscaras


Para coisas maiores
Foram feitas






UM POETA FALANDO A NIETZCHE



Deus morreu,
Nietzsche,
Mas no teu interior,
Dentro de ti,
Está mais vivo do que nunca.
Mil vezes mais vivo.


Disso eu sei porque
De vocês os dois
Sou eu a sepultura.



terça-feira, 10 de novembro de 2015

Rayuela - Julio Cortázar: Capítulo 5

Capítulo 5


   
La primera vez había sido un hotel de la rue Valette, andaban por ahí vagando y parándose en los portales, la llovizna después del almuerzo es siempre amarga y había que hacer algo contra ese polvo helado, contra esos impermeables que olían a goma, de golpe la Maga se apretó contra Oliveira y se miraron como tontos, HOTEL, la vieja detrás del roñoso escritorio los saludó compasivamente y qué otra cosa se podía hacer con ese sucio tiempo. Arrastraba una pierna, era angustioso verla subir parándose en cada escalón para remontar la pierna enferma mucho más gruesa que la otra, repetir la maniobra hasta el cuarto piso.

Olía a blando, a sopa, en la alfombra del pasillo alguien había tirado un líquido azul que dibujaba como un par de alas. La pieza tenía dos ventanas con cortinas rojas, zurcidas y llenas de retazos; una luz húmeda se filtraba como un ángel hasta la cama de acolchado amarillo.

La Maga había pretendido inocentemente hacer literatura, quedarse al lado de la ventana fingiendo mirar la calle mientras Oliveira verificaba la falleba de la puerta. Debía tener un esquema prefabricado de esas cosas, o quizá le sucedían siempre de la misma manera, primero se dejaba la cartera en la mesa, se buscaban los cigarrillos, se miraba la calle, se fumaba aspirando a fondo el humo, se hacía un comentario sobre el empapelado, se esperaba, se cumplían todos los gestos necesarios para darle al hombre su mejor papel, dejarle todo el tiempo necesario la iniciativa. En algún momento se habían puesto a reír, era demasiado tonto. Tirado en un rincón, el acolchado amarillo quedó como un muñeco informe contra la pared.

Se acostumbraron a comparar los acolchados, las puertas, las lámparas, las cortinas; las piezas de los hoteles del cinquième arrodissement eran mejores que las del sixième para ellos, en el septième no tenían suerte, siempre pasaba algo, golpes en la pieza de al lado o los caños hacían un ruido lúgubre, ya por entonces Oliveira le había contado a la Maga la historia de Troppmann, la Maga escuchaba pegándose contra él, tendría que leer el relato de Turguéniev, era increíble todo lo que tendría que leer en esos dos años (no se sabía porqué eran dos), otro día fue Petiot, otra vez Weidmann, otra vez Christie, el hotel acababa casi siempre por darles ganas de hablar de crímenes, pero también a la Maga la invadía de golpe una marea de seriedad, preguntaba con los ojos fijos en el cielo raso si la pintura sienesa era tan enorme como afirmaba Etienne, si no sería necesario hacer economías para comprarse un tocadiscos y las obras de Hugo Wolf, que a veces canturreaba interrumpiéndose a la mitad, olvidada y furiosa.

A Oliveira le gustaba hacer el amor con la Maga porque nada podía ser más importante para ella y al mismo tiempo, de una manera difícilmente comprensible, estaba como por debajo de su placer, se alcanzaba en él un momento y por eso se adhería desesperadamente y lo prolongaba, era como un despertar y conocer su verdadero nombre, y después recaía en una zona siempre un poco crepuscular que encantaba a Oliveira temeroso de perfecciones, pero la Maga sufría de verdad cuando regresaba a sus recuerdos y a todo lo que oscuramente necesitaba pensar y no podía pensar, entonces había que besarla profundamente, incitarla a nuevos juegos, y la otra, la reconciliada, crecía debajo de él y lo arrebataba, se daba entonces como una bestia frenética, los ojos perdidos y las manos torcidas hacia adentro, mítica y atroz como una estatua rodando por una montaña, arrancando el tiempo con las uñas, entre hipos y un ronquido quejumbroso que duraba interminablemente. Una noche le clavó los dientes, le mordió el hombro hasta sacarle sangre porque él se dejaba ir de lado, un poco perdido ya, y hubo un confuso pacto sin palabras, Oliveira sintió como si la Maga esperara de él la muerte, algo en ella que no era su yo despierto, una oscura forma reclamando una aniquilación, la lenta cuchillada boca arriba que rompe las estrellas de la noche y devuelve el espacio a las preguntas y a los terrores. Sólo esa vez, descentrado como un matador mítico para quien matar es devolver el toro al mar y el mar al cielo, vejó a la Maga en una larga noche de la que poco hablaron luego, la hizo Pasifae, la dobló y la usó como un adolescente, la conoció y le exigió las servidumbres de la más triste puta, la magnificó a constelación, la tuvo entre los brazos oliendo a sangre, le hizo beber el semen que corre por la boca como desafío al Logos, le chupó la sombra del vientre y de la grupa y se la alzó hasta la cara para untarla de sí misma en esa última operación de conocimiento que sólo el hombre puede dar a la mujer, la exasperó con piel y pelo y baba y quejas, la vació hasta lo último de su fuerza magnífica, la tiró contra una almohada y la sábana y la sintió llorar de felicidad contra su cara que un nuevo cigarrillo devolvía a la noche del cuarto y del hotel.

Más tarde a Oliveira le preocupó que ella se creyera colmada, que los juegos buscaran ascender a sacrificio. Temía sobre todo la forma más sutil de la gratitud que se vuelve cariño canino; no quería que la libertad, única ropa que le caía bien a la Maga, se perdiera en una feminidad diligente. Se tranquilizó porque la vuelta de la Maga al plano del café negro y la visita al bidé se vio señalada por la recaída en la peor de las confusiones,maltratada de absoluto durante esa noche, abierta a una porosidad de espacio que late y se expande, sus primeras palabras de este lado tenían que azotarla como látigos, y su vuelta al borde de la cama, imagen de una consternación progresiva que busca neutralizarse con sonrisas y una vaga esperanza, dejó particularmente satisfecho a Oliveira. Puesto que no la amaba, puesto que el deseo cesaría (porque no la amaba, y el deseo cesaría), evitar como la peste toda sacralización de los juegos. Durante días, durante semanas, durante algunos meses, cada cuarto de hotel y cada plaza, cada postura amorosa y cada amanecer en un café de los mercados: circo feroz, operación sutil y balance lúcido. Se llegó así a saber que la Maga esperaba verdaderamente que Horacio la matara, y que esa muerte debía ser de fénix, el ingreso al concilio de los filósofos, es decir a las charlas del Club de la Serpiente: la Maga quería aprender, quería ins-truir-se.

Horacio era exaltado, llamado, concitado a la función del sacrificador lustral, y puesto que casi nunca se alcanzaban porque en pleno diálogo eran tan distintos y andaban por tan opuestas cosas (y eso ella lo sabía, lo comprendía muy bien), entonces la única posibilidad de encuentro estaba en que Horacio la matara en el amor donde ella podía conseguir encontrarse con él, en el cielo de los cuartos de hotel se enfrentaban iguales y desnudos y allí podía consumarse la resurrección del fénix después que él la hubiera estrangulado deliciosamente, dejándole caer un hilo de baba en la boca abierta, mirándola extático como si empezara a reconocerla, a hacerla de verdad suya, a traerla de su lado. 


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