segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Hoje é segunda-feira... procure assistir a esses dois filmes

Dois filmes da mesma sociedade...


Lincoln






"O Congresso não pode considerar iguais aqueles que Deus criou desiguais!"


Django (o D é mudo)






... caçador de recompensas é como negócio de escravos, carne por dinheiro...

sábado, 19 de janeiro de 2013

Hoje é Sábado...

Tem Reunião Dançante

Bastava a garagem, a vitrola e...

Billy Paul - Me And Mrs. Jones (1972)




Me And Mrs. Jones

Me and Mrs. Jones -
we've got a thing going on.
We both know that it's wrong,
but it's much too strong
to let it go now.

We meet every day
at the same café
6:30 I know - I know she'll be there.
Holding hands - making all kinds of plans
while the jukebox play our favourite song.

Me and Mrs. Mrs. Jones - Mrs. Jones - Mrs. Jones - Mrs. Jones
we've got a thing going on.
We both know that it's wrong,
but it's much too strong
to let it go now.

We've gotta be extra careful
That we don't build our hopes up too high.
'Cause she's got her own obligations
and so - and so do I...

Me and Mrs. Mrs. Jones - Mrs. Jones - Mrs. Jones - Mrs. Jones
we've got a thing going on.
We both know that it's wrong,
but it's much too strong
to let it go now.

Well it's time for us to be leaving
It hurts so much - it hurts so much inside
Now she'll go her way
And I'll go mine.
Tomorrow we'll meet the same place - the same time.

Me and Mrs. Mrs. Jones - Mrs. Jones - Mrs. Jones - Mrs. Jones
we've got a thing going on.
We've gotta be extra careful.
We can't afford to build our hopes up too high.

I wanna meet,
and talk with you,
at the same place,
the same café,
the same time
And we're gonna hold hands like we used to
We're gonna talk it over, talk it over
We know, they know, and you know and I know that it was wrong
But I'll make it strong...
We've gotta let 'em know now
We've got a thing going on...
...thing going on...


a penumbra, a fumaça dos cigarros, o bixo da seda e...

The Jackson 5 - I'll Be There



I'll Be There

Michael:
You and I must make a pact
We must bring salvation back
Where there is love
I'll be there (chorus) I'll be there

I'll reach out my hand to you
I'll have faith in all you do
Just call my name
And I'll be there, I'll be there

Jermaine:
And, ohhhhh
I'll be there to comfort you
Build my world of dreams around you
I'm so glad that I found you
I'll be there with a love that's strong
I'll be your strength; I'll keep holdin' on

chorus: holdin' on, holdin' on, holdin' on
Jermaine: Yes I will, yes I will

Michael:
Let me fill your heart with joy and laughter
Togetherness, girl it's all I'm after
Whenever you need me
I'll be there (chorus) I'll be there

I'll be there to protect you
Jermaine: Yeah baby
With a non-selfish love that respects you
Just call my name
And I'll be there, I'll be there

Jermaine:
And ohhhhh...
I'll be there to comfort you
Build my world of dreams around you
I'm so glad that I found you
I'll be there with a love thats strong
I'll be your strength; I'll keep holdin' on

J5:holdin' on, holdin' on, holdin' on, holdin on'

Michael:
If you should ever find someone new
I know he'd better be good to you
'Cause if he doesn't
I'll be there(chorus)I'll be there

Don't you know baby yeah yeah
J5: I'll be there
I'll be there
Just call my name, I'll be there

Michael:
Just look over your shoulders honey, ooohhh
J5: I'll be there
I'll be there
Whenever you need me, I'll be there
Michael:I'll be there, dont you know baby yeah, yeah
I'll be there



elas... eles... a cuba libre... a calça boca sino, o laquê no cabelo, o Vietnã e...

Barry White - You Are The First, My Last, My Everything





quem chegava até aqui dançando... não largava mais... mesmo com

Chuck Berry - Johnny B. Goode (Live 1958)




acontece que a guitarra é irresistível e você soltava a garota enquanto...

Chuck Berry dava aulas ao Keith Richards - Oh Carol...

ela dava risadas, você tomava mais um gole da cuba e gritava que esse é o cara...




então, antes de ir embora, tocava...

The Temptations - My Girl





... seus olhos a procuravam até encontrar, entre aqueles jovens dançando...
você quer?
e, lá estavam, outra vez...
abraçados... porque naqueles sábados você dançava abraçado

The Stylistics... Simply Red

You Make Me Feel Brand New





The Stylistics - You Make Me Feel Brand New (AO VIVO) 1974





Simply Red - You Make Me Feel Brand New (Viña 2009)


You are the sunshine of my life

Ella & Stevie



You Are The Sunshine of My Life

You are the sunshine of my life
That's why I'll always be around,
You are the apple of my eye,
Forever you'll stay in my heart

I feel like this is the beginning,
Though I've loved you for a million years,
And if I thought our love was ending,
I'd find myself drowning in my own tears.

You are the sunshine of my life,
That's why I'll always stay around,
You are the apple of my eye,
Forever you'll stay in my heart,

You must have known that I was lonely,
Because you came to my rescue,
And I know that this must be heaven,
How could so much love be inside of you?

You are the sunshine of my life, yeah,
That's why I'll always stay around,
You are the apple of my eye,
Forever you'll stay in my heart.

(Background) Love has joined us,
Love has joined us,
Let's think sweet love.


Você é o sol da minha vida
Stevie Wonder

Você é o sol da minha vida
É por isso que eu sempre estarei por perto,
Você é a menina dos meus olhos,
para sempre você ficará em meu coração

Eu sinto que este é o começo,
embora eu te amei por um milhão de anos,
E se eu pensei que nosso amor estava terminando,
eu encontro-me afogando em minhas próprias lágrimas.

Você é o sol da minha vida,
por isso que eu sempre vou estar ao redor,
Você é a menina dos meus olhos,
você vai ficar para sempre no meu coração,

Você deve ter percebido que eu estava sozinho,
porque você veio em meu socorro,
e eu sei que isso deve ser o céu,
Como pode ser tanto amor dentro de você?

Você é o sol da minha vida, sim,
É por isso que eu sempre vou estar ao redor,
Você é a menina dos meus olhos,
você vai ficar para sempre no meu coração.

(Fundo) O amor se juntou a nós,
o amor uniu-nos,
Vamos pensar doce amor.




terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Gritos e Sussurros

Ingmar Bergman

Dois pedaços de um filme sem explosões com tnt, avatares, games ou super-herois:
Karin, temos tantas lembranças comuns... por que não quer ser minha amiga?






Germinal

Émile Zola





Germinal (trecho legendado)



Germinal (dublado espanhol)





E se você quiser assistir o filme sobre a vida de Emile Zola (abaixo, neste trailer)... só comprando o dvd, é um ótimo filme do seu tempo, e deste tempo de agora... a sua literatura e a sua vida não se perderam no tempo... 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Não, eu não me arrependo de nada

Edith Piaf



Não, Eu Não Me Arrependo de Nada

Não! Nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal - isso tudo tanto faz!

Não, nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Está pago, varrido, esquecido
Não me importa o passado!

Com minhas lembranças
Acendi o fogo
Minhas mágoas, meus prazeres
Não preciso mais deles!

Varridos os amores
E todos os seus temores
Varridos para sempre
Recomeço do zero.

Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...!
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, isso tudo tanto faz!

Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...
Pois, minha vida, pois, minhas alegrias
Hoje, começam com você!


Ne me quitte pas



Não Me Abandone

Não me abandone, é preciso esquecer,
Tudo pode ser esquecido, o que já ficou pra trás.
Esquecer o tempo dos mal-entendidos
E o tempo perdido tentando saber como.
Esquecer as horas que as vezes matam a golpes de porques
O coração feliz
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone

Eu te oferecerei, pérolas de chuva vindas de países
Onde nunca chove
Eu escavarei a terra, eu escaparei da morte
Para cobrir teu corpo de ouro e de luz
Criarei um país onde o amor será rei
Onde o amor será lei e você será a rainha.
Não me abandone
Não abandone

Não me abandone, eu te inventarei
Palavras absurdas que você compreenderá
Te falarei daqueles amantes
Que viram de novo seus corações excitados
Eu te contarei a história daquele rei
Que morreu porque não pôde te reencontrar
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone

A gente sempre viu reacender o fogo
Daquele velho vulcão
Que julgávamos parecer velho demais
Terras queimadas produziram mais trigo que no melhor abril
E quando a tarde cai, para que o céu se inflame
O vermelho e o negro não se misturam
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone, Eu não vou mais chorar
Não vou mais falar, Me esconderei aqui
Só para te ver dançar e sorrir
E para te ouvir cantar e depois rir
Me deixa me tornar a sombra da tua sombra
A sombra da tua mão, A sombra do teu cão
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone


La Vie En Rose



Hymne à l'Amour



La Foule




Milord



Mon Manège À Moi


O marido da mulher

Ensaio 24
baitasar

O anão larga o jornal sobre a mesa, desce da sacola que o trouxe, junto com o pão e o leite, esfrega as suas pequenas mãos e enfia a menor em um dos bolsos da calça, bate os beiços, abre um grande sorriso, risca o fósforo e queima a diamba — Então...

—        Então, o quê? — pergunta o escritista com os olhos para a moça vestida com retalhos, estende o braço e pega o troço, nunca em suas alucinações de olhos abertos vira um anjo em retalhos tão infernal e tão perto, dá pra sentir o cheiro paradisíaco
—        Café... ou a história da avó... ou um banho de espuma? — com um grande salto, sobe no banco, já está com a diamba entre o polegar e o indicador da mão menor — Então, o que vai ser?
—        Estou com fome... escolho o café, tá legal?. — o escritista é o primeiro que responde, não diz que recém havia acabado o ensino de alguns movimentos de montaria, não lhe empolga outra cavalgada, pelo menos, não antes do café. E o anão não tem que saber de tudo que se passa entre ele e aquele tesão de anjo
—        Tienes que comer algo, muchacho. Yo también. — o anão ergue os ombros, abre os braços e as mãos, parece resignado, puxa a fumaça
—        Está bem, vamos ao café. — respira com um profundo suspiro. Desce os pés do banco e senta, depois mostra um pequeno sorriso, parece guardando num canto, para uso em tempo mais conveniente, memórias safadas com encantadoras perspectivas. Não oferece o cigarro com a diamba para a moça, ela não bebe nem fuma em serviço de dona de casa. Aprendeu que pode de um jeito ou de outro, ter sorte, mas é preciso teimosia, persuasão e atentar a mulherada com ardor e paixão, a ebulição do carnaval é só a aparência de se mostrarem, é preciso o carinho da paciência com elas, são estimuladas por mais de um jeito.
Diminui o tamanho da voz e sussurra ao escritista — As pessoas nem imaginam a vida das putas, também querem o amor com a alma e o coração... você não acredita... — os dois homens continuam sentados à mesa — ... ela tem medo de desabar e perder a atenção na família, no trabalho...
—        As mulheres entram nisso por falta de opção?
—        ¿Qué tanto sussurro? — a retalhista retira a chaleira com água do fogo, a quentura havia começado o chiado da fervura. Despeja a água da chaleira no bule do café, lentamente a água se mistura com o pó, o coador de pano enche, fica chocando a borra marrom até a borda, mais uma gota e transborda
—        O vapor do aroma é mais gostoso que o gosto.
—        Os cheiros e os sabores. — os olhos do pequeno Fumaça não se parecem com os pensamentos do pequeno e virtuoso neto da avó, deixou de se pensar como um rabanete preto, continua perseguindo o encanto das palavras doces, aromas delicados.
Enquanto o pó tinge a água e o coador filtra os restos suspensos daquela borra escura, Maiami coloca uma panela com leite no fogo. Limpa a mesa com um pano úmido, depois com um pano seco, e pronto, ela está preparada para receber o pão e o vinho, e as histórias do anão.
A retalhista se volta à chaleira, observa que o leite ainda não está no ponto da fervura; volta à atenção para o bule, coloca mais água no coador; recorta o pão em fatias. O rapaz escritista faz movimento para levantar e ajudar no controle do leite ou no enchimento do coador, o Fumaça toca em seu braço, pede que fique sentado — Está tudo no preço, gosto de me sentir o marido da mulher.
A servente olha os dois e sorri. Naquele olhar não tem bajulação nem insolência, apenas cumpre sua parte do acordo
—        El matrimonio para ustedes es un contrato de trabajo.
O escritista tirou a mão do anão do seu braço, depois a jogou no chão, ao lado do homenzinho que gritava todos os palavrões aprendidos como rabanete preto. A jovem não parecia preocupada com o sangue, com os gritos, apenas queria que ele parasse de escorrer e perdesse a voz — Laetitia...
—        Sim, meu Capitão.
—        Preciso cobrir os seus olhos.
—        Não vou sair daqui, meu Capitão.
O anão pegou a outra mão, a arrancada do braço e jogada no chão, tentava colocar no lugar de antes. Ninguém lhe dava ouvidos, ninguém lhe prestava atenção, ela escorregava e caia na lama de sangue e terra, mas não largava o fumo-de-angola.
O Capitão pegou uma tira de pano e amarrou nos olhos da mulher deitada de costas, uma das pernas apoiadas no ombro do Capitão, a outra estendida no chão — Nossa! Isso! Isso! Caramba!
O prazer inesperado não lhe causou espanto, nem foi tomada de repente — Gosto em mais de um lugar...
—        Minha escrava fujona... safada.
—        Atrevido é o Capitão que me tapa os olhos e acha que não lhe vejo...
Ele a abraçava e enfiava as mãos abaixo do vestido de algodão grosso, manchado de sangue e lama, subindo até a cintura. Avançou com a boca em seus seios, beijava e mordia — Eu gostei de você.
—        Eu sei que gostou, Capitão.
O escritista está em pé ao seu lado, toca em seu braço e a faz sentar, ele examina o coador, depois a leiteira, as xícaras — Escuro ou claro?
—        Oscuro...
—        E você, Fumaça?
—        Claro.
Serve os dois e concentra atenção na sua xícara com o café preto, depois se aproxima da jovem e sussurra — Primeira lição: deixe-me cobrir seus olhos.
—        ¿Por qué? — a jovem lhe sorri, ele gosta da sedução... do faz de conta da feitiçaria
—        Não sei, apenas uma ideia.
—        No... vamos a tomar un café. — sabe que existem homens e homens, não gosta do encantamento das mulheres transformadas em princesas, seduzidas por homens perfeitos, um mundo puro, geométrico, a sala de espera da senzala. Para a moça retalhista, homens e mulheres não vivem juntos por amor, vivem ajuntados por acreditar que o outro é seguro
—        Maiami, você acredita no amor?
—        Claro, es mi trabajo.
—        Vamos, Maiami, você pode responder melhor que isso.
—        Mejor...
—        É... melhor.
O anão toma o seu café, olha os dois, sabe que está apaixonado
—        A mi me violaron dos veces... ir a polícia? Eu sou a puta. Comecei aos 14 anos, no bordel era uma rainha. Nas ruas não tinha nenhuma chance. Conheço o amor por dinheiro... hombres que parecían encantados não conseguiam esquecer meus outros homens... quiero la cortesia, un regalo... una mujer le gusta ser cortejada... ter um homem usando o tempo para conquistá-la... mas uma prostituta não pode ser fiel... por isso, minha alma dorme sozinha, envelhece sozinha. Não confio em ninguém para juntar com minha vida
—        Por favor, meus amigos, não vamos misturar os eventos.
—        Eventos, Fumaça?
—        Negócios legítimos e alcovas extralegais.
—        Yo no soy un negocio legítimo agradable y fácil... vocês fazem do sexo a fixação da vida, por isso pagam!
Tem um tempo para conversar com o coração, outro para falar das entranhas – e outro, talvez o tempo que melhor podemos oferecer, o silêncio
—        Eu concordo, mas, por favor... — o pequeno ergue a xícara como se fosse fazer um brinde — ... vamos mudar de assunto, falar da minha coleção de calcinhas.
—        Porra, cara, esquece! E vocês, mulheres?
—        ¿Qué pasa con las mujeres?
—        Gostam do sexo?
A resposta não veio rápida, como se estivesse presa no grito perdido, desde a primeira guerra do fogo — As putas gostam... y las mujeres casadas que joden con sus amantes ilegales... ¡aman follar! — a retalhista olha desafiadora para o príncipe encantado — ¿Tiene una esposa?
—        Tenho uma namorada...
—        ¿Quién ella folla, enquanto você está aqui?
—        Merda! Vocês vão acabar estragando o dia. — o anão está em pé, sobre a mesa, precisa acabar com aquela discussão idiota — Eu sou bissexual. — os três ficam em silêncio, ele lembra o conselho da avó, ás vezes é melhor ficar quieto e deixar que pensem que você é um idiota do que abrir a boca e não deixar nenhuma dúvida, bem, depois da confissão feita é o homem pequeno que precisa terminar o que começou — Tá bem, foi mal, mas eu não corro atrás de homens, foi uma vez que aconteceu e... bem, eu me sinto melhor com as mulheres. — a jovem permanece calada, não parece medindo as consequências do que lhe resta na vontade de falar, tem o jeito de um vulcão limpando a garganta antes da explosão, olha para o anão que lhe pede para deixar tudo, assim, como está, depois enfia os olhos no escritista e esfria a voz
—        Todo está incluido en el precio... e o moço não precisa da minha companhia pra se embrulhar com o anão. — o pequeno levanta os braços e os abaixa inconformado, estão todos nas beiradas do descontrole. O preconceituoso aparece onde não se espera. Nem lembra o começo de tudo aquilo. O escritista a segura pelo braço
—       Tá me chamando de viado?
—        ¿Vas a pegarme? ¡ Solta mi brazo!
—        Não grita!
—        ¡Usted me está haciendo gritar!
A confusão das vozes, os xingamentos, e todos levantam a voz mais que estão acostumados, o escritista parece envolto num descontrole violento e obsessivo, o macho humilhado ergue a mão com o punho fechado, logo ele que se acha tão feminino
—        Rapaz, cuidado com o que vai fazer! E você Maiami, nada de heroísmos!
O escritista tem os olhos vermelhos dentro dos olhos da retalhista. Não a perdoa e nem mesmo sabe a razão da sua raiva
—        Ô maluku... termina esse daqui, isso é tudo bobagem.
O escritista afrouxa a mão, espicha o polegar e o indicador — Deixa pra lá, afinal, nem estamos casados... e a puta é você!

—        Usted es un juguete cómico en mi corazón siempre de fiesta.
—        O quê?!
—        Um brinquedo...
Não terminou, ele não podia deixá-la terminar aqueles insultos.
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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Falta de costume com gosto de carne

Becos sem saída - O descolocado
II
baitasar

É uma atrapalhação ser homem sem emprego. Negro descolocado. Ou colocado com salário curto, mês comprido. Sem a dignidade da própria subsistência, sem o respeito da casa alugada em algum cafundó. Na privação de um patrão pra enriquecer. Todo negro que se preza tem um dono pra aformosear na riqueza. Faz parte da vida. História de escravidão. O imprestável de ocupação é desnecessário. Sem préstimo. Favelista. Inútil. Em qualquer aglomeração humana mais complica do que resolve. Estorvo. Marginal. Libambo.
O vizinho desempregado da Maria Memória e Silva, mais conhecida na vila como Maria Memória, coitadinho, em tempo algum foi desagradável. Mas pouco atencioso. Parece fugir de dizer bom dia ou boa tarde, mas nunca se ouviu da sua boca um convite de boa noite. Não é visto nas ruas sem a luz do dia. Anda cabisbaixo, sem muito entusiasmo nos cumprimentos. Bem que a Maria tenta ajudar nas cortesias, mas de maneira discreta. Sem mandingas. Disfarçada. Sem muitas palavras.
Em casa, os Memórias, não são de muitas palavras, têm costume e gosto no trato diário por olhares e silêncios. Os comentários são curtos
—        Pobre infeliz, vai dar tudo certo... parece sempre fugindo.
Dói em Maria ver o negrão retornar no final do dia do mesmo jeito que saiu. Os ombros o denunciam. Recurvados. São dias de guardar o berimbau. Continua desguarnecido das mandingas, torto das pernas, parece fantasma. As promessas de boa vizinhança se renovam nos olhares de amparo. Mandam mensagens do mais puro encorajamento. Duas casas gêmeas. Dois pátios. Dois casais. Três filhos. Todos da Memória. Na casa do negrão, nenhuma criança. Ainda bem, seria muito mais difícil se tivessem os filhos que os Memórias têm. Devoradores. Comedores ávidos da geladeira esfomeada. Vazia. Estômagos de avestruz. O frio vem conforme o tamanho do cobertor, pena que a fome não vem conformada com o tamanho do bolso.
Para o bem da verdade, e a mentira não prevaleça neste início, o neguinho do meio, não tem por jeito comer carne. Ele precisa dos empurrões da mãe, por vezes, súplicas, em outras, gritos e insultos. É quando a Maria Memória perde o jeito de conversar com os olhos. Os cabelos curtos, espichados, com franja recortada e cheia de bicos afilados até a altura dos olhos, empunham a fita rosa gordurosa que enfeita a cabeça. Os caminhos que levam o sangue para a cabeça se dilatam, desalinhados, quase se rasgando. Não sossegam enquanto não vêem o seu neguinho submetido. A luta é desigual. Sempre foi desigual. Ela se deixa puxar na perna pra lá e cá. Ele se deixa mastigar de um lado e outro da boca, qualquer pedaço de carne. Mastiga. Tritura. Aperta. Morde. Mas não engole. Outro pedaço. Mesmo caminho. E o bolo de carne aumentando. Dançando na embocadura daqueles dentes manchados. Não chega à garganta. Não desce. Falta de costume com gosto de carne. O nervosismo tomando conta. A ansiedade embrulhando o estômago. Tortura. Medo. Até que a exaustão apodera-se violentamente de todos. O neguinho xendengue chora até as lágrimas e a mãe cresce nas ameaças
—        Come, come, come!
Ele vomita. Nunca come.
Ela sempre limpa.
Mãe é mãe, só se sente falta de água quando o pote está vazio, só se sente falta de mãe quando não tem mais jeito de ter vontade.
As crianças sentem a falta de crianças na casa do inútil do vizinho, mas se ajeitam entre si. São dois molecotes e uma menina maravilhosa. Maria Memória tem um marido primoroso, bem empregado, que lhe deu três crianças encantadoras. Sobrenatural. Ele tem três empregos. Nenhum com a carteira assinada. Tudo bico. Biscates. Um jogo de truques para sobreviver. Um trabalho para cada turno do dia. Nas manhãs trabalha na ferrovia, colocando e consertando dormentes. Eles vivem do Virgílio substituir aqueles que adoecem. Nada oficial. Não tem boletim nem contrato, apenas um bilhete que chega com o nome do adoentado
—        Minha preta, dizem na boca pequena que continua gente em desaparecimento na estrada de ferro.
—        No troco de quê?
—        Coisa do sindicato e dos milicos.
—        Não te mete, Virgílio, pelo amor de Deus...
Ele já foi muitos nomes na ferrovia, nem sabem o seu verdadeiro. Ele se tornou comum em inteirar o terno de trabalhadores. Quanto mais os ferroviários acamam, mais ele recebe ocupação de serviço. Já foi chamado de fura greve. Mesmo em tempo sem greve. Coitados. Sorte a dele. Sai nas três horas da manhã. Noite do amanhecer. Nas tardes é carregador de tijolos. Nem vem almoçar. Vive faminto. Elegante. Não carrega jóias de relógios ou correntes, apenas aqueles dois dentes de ouro, bem na frente, em cima. Um troféu. Nos dias do anoitecer é vigia. Até meia-noite. Um homem competente, nada lhes falta. Vive daqui prá lá e de lá prá cá, caminhando. Quando o lugar de direção é mais longe, vai de bonde amarelo. Sempre senta no último banco. Passageiro. Último a ser lembrado. Vem sempre depois de todos. Trabalhar e viajar de bonde não enriquece ninguém.
Às vezes, Virgílio parece ouvir o sinhô do engenho, com seu chapéu de grandes abas, botas compridas de couro, chicote em uma das mãos, gritando
─         Basta de matutar, é hora das moendas!
E todos os pretos saem do refúgio do amanhecer mormacento com seus cantos de tristeza. O dia começa mais cedo que o próprio dia. Os moleques açoitam os negros que empurram as rodas. As engrenagens do engenho gemem pelos silenciados. As canas são esmagadas e o chicote estala sem cessar. Todos trabalham sem descanso: o chicote e os negros. O suor escorre dos corpos espremidos pelo sangue do chicote suando. Os escravos e o caldo verde espumoso escoam das bicas, nunca acabam. Não têm fim os feixes de cana que chegam nos carros de bois ou empilhados no lombo dos burros. Não param. Ninguém sossega até que o dia fica sonolento e começa a cerrar os olhos e as lamparinas da choça dos pretos vão se acendendo. Essa sina não toma sumiço com encantamento.
Quando Virgílio sai do sonho do avoengo, sabe que está sentado e dormindo, no último banco do bonde amarelo, já quase chega. Plantar cana e produzir açúcar era sina de escravo. Virgílio não se pensa da África dos africanos, apenas se enxerga um preto daqui, que ainda planta café, minera ouro, vende comida, carrega tijolo de barro, fabrica louça de barro, tece pano, cestas e balaios. Tudo por um poucadinho de fartura na mesa. Não vê mais longe que a vila. Volta todo espremido pra lamparina da sua casa.
É um marido maravilhoso. Inventou três lindas crianças. Uma menina, dois meninos. Três filhos diferentes. Iniciaram a ter vida em casa, nas mãos da comadre Socorro. Parteira dos arredores. Outros dois se ficaram extintos por falecimento, na hora do aliviamento da parição. Foram os primeiros serviços da Socorro e da Memória. Uma não puxou no tempo certo e a outra não se animou de empurrar com mais força. Faltou experiência. Careceram de coragem. Maria Cariciosa, a mais velha, a primeira que enraizou depois dos extintos, nasceu na manhã de um dia de muito vento. Tudo muito rápido. Supimpa, o do meio, veio numa tarde de muito sol. Tudo muito eficiente. Radiante. Já Lamparina, o mais novo, chegou aos empurrões, tarde da noite. Não queriam esse, mas o que fazer, cavalo dado não se olha os dentes. Decidiram parar com isso de fazer filho.
Ele é um homem maravilhoso. Sabe viver. Lutador. Bem empregado pra preto descontado da falta de escola. Não é muito forte, mas decidido. Muito compreensivo. Virgílio Silva tem três empregos. Um em cada turno. Três jeitos de passar os dias. Todos diferentes. Três chefes diferentes. Três caminhos diferentes. Três crianças que se vieram pelo exagerado às vontades das carnes. Virgílio sempre ajuizou nas carnes da Memória o compensatório pelo trabalho executado de segunda a sábado. Alguma coisa havia de ser feita para sair da mesmice de trabalhar e dormir. Ele se aproveitava das partes moles. Ninguém haveria de culpá-lo. Maria Memória é sua mulher e, além de tudo mais, já teve muita formosura. Apetecia ao homem chegar em casa e ir para a cama fazer uns festejos. Na medida do tempo sumindo e das crianças aparecendo, mesmo Virgílio, que não foi construído por resmungos, não resiste à rezinga de ter a sua mulher nas mãos, perto dos choros de criança. Faz ameaço perder as vontades com a Memória.
Maria Memória adora muito os três filhos, mas não tem planos de engordar com mais um curumim. Tudo se acomoda de um jeito ou de outro.
Faz suas rezas e oferendas por Cariciosa, a sua encantaria. Não quer a menina vivendo na dependência de homem sem riqueza de emprego, se tiver precisão de ficar metida em quefazeres domésticos, feito ela, que não seja engaiolada. Enraizada aos pouquinhos, um dia depois do outro. Engordando. Não que ela se queixe, mas faz benzeduras e oferendas para que a menina encontre a felicidade. Sabe que o seu querer vai depender da resistência da guria a cobiça. Mãe nenhuma consegue afastar os urubus no entorno da carniça. É luta perdida. Precisa confiar no ajuizamento do Deus do mundo
—        No final, tudo há de dar certo, só acontece o que Deus quer. — fica repetindo pra si mesma, tem precisão de confiar nas rezas. Ladainhas de mulher que deu à luz uma ou mais filhas.
Outra manhã e já não tem o esposo, saiu antes do amanhecer, assim que a madrugada começou a envelhecer. A cama esfria. Nenhum beijo. Não quer aborrecer a Memória. Amado. Tão compenetrado. Já foi muito carinhoso. Sente falta. Continua rezando por ele e o pegado do lado. O vizinho. Os tempos estão feios para os homens, também. A gurizada dos colégios fica a protestar pelas ruas, gritando que é proibido proibir. Resmunga pela casa contra-ordens
—        Bobagem dessa piazada, quero ver eles criarem os filhos, sem dizer não.
Levanta em silêncio. Caminha em sigilo. A perna menos comprida já está acostumada em acompanhar a outra, ninguém vê o jeito de mancar da Memória. Se a grandona vai ligeiro, ela se aligeira, mas se precisa mais lentidão ela se acalma. Apenas quer se passar despercebida. Ela é o que não se vê e não se vê o que ela é.
Não quer acordar as crianças. Ainda bem que têm pouca idade na escola. Assim, não se metem com esses baderneiros. Brancos comunistas. Ficam estragando aqueles muros todos pintadinhos — Abaixo a ditadura! — essa gurizada não sabe nada de pobre.
Ela sabe da sina de pobre. Abastança de miserável. A sua família só vai crescer nos confortos da vida com sangue, suor e lágrimas. Por isso mantém a esperança, lágrima em abundância não há de faltar. Pra gente como eles, é tudo muito difícil. Só com muita torcida e reza. Nem o samba ajuda
—        É coisa de crioulo malandro.
Antes de se pôr em pé, ela fica a torcer que o seu Virgílio não tenha esquecido de despejar o balde plástico das imundícies humanas. Não sente nenhuma vontade de sair para descarregar aquela porcaria toda que se sai da gente. A noite é feita de muitos descarregos. Não suporta os cheiros que saem do vaso higiênico de plástico. Rastros da podridão humana. Leva as vistas para o canto do buraco balde. Nada. Apenas a mancha úmida na tábua do chão. Graças a Deus que o Virgílio não esquece as obrigações. Sorri para o pássaro engaiolado. Pulando de galho em galho. Não voa. A mulher eleié engaiolada faz pequenos muxoxos para ouvir seu canto. Não canta. Vira-lhe as costas. Tem preferência por outro jeito de passar aqueles minutos de despovoamento familiar. Este é um instante breve do paraíso. Ninguém para cuidar ou satisfazer. Sozinha. Olha com jeito de espiar pela janela e lá está o negralhão. Ombros largos. Sempre o mesmo jeito. Um beijo de boca alongado na vizinha
—        Coitada, a mulher nem é tão bonita. — mas tem que admitir que sobra bunda. Formigona saúva. Opa, hoje, ela ganhou uma mão entre as pernas. Indecente
—        Se faz de coitado pra ganhar sapato novo! — muita demonstração e nenhum barulho. Estão sorrindo. Olho no olho. Atrevidos. Maria Memória sente a língua latejar e câimbras nas bocejas enquanto os absolve com o sinal da cruz. Quanto atrevimento.
Passam as manhãs. Uma após a outra, por muitos dias, incontáveis semanas, e ela, por ali, em sua pequena escotilha. A mão se enfiando na outra mulher. A vizinha. A boca da Memória se contraindo e pulsando. Sempre diferente. Muita criatividade para uma puta mão. Por vezes, segura firme a saúva pelas traseiras. Em outras, sobe as coxas por dentro. Palmadinhas. Beliscões miúdos e descuidados. Murmúrios confusos. Enfia os dedos por baixo das rendas. Vestidos de dormir. Carapinha desalinhada. Lábios elegantes. Desabotoa a blusa e espreme os bicos arretados. Ela o lambe, enquanto ele se põe na ponta dos pés a enviar sua cabeça entre os bicos. Quando o danado de assanhado tira a cabeceira dos peitos da escrava, ela a vê brilhar e estremecer. Não ouve, mas sabe que aquela estava gemendo. Manhãs diferentes e maneiras semelhantes das mãos agirem, veste correndo suas rendas deixadas sobre a cama
—        Mãos sujas! — reza pelas gentes pecadoras... e a boca agitada
—        Língua indecente... — faz promessa de oferenda para que os desavergonhados encontrem o caminho da virtude.
Memória repete entre os dentes e os espasmos de câimbras
—        Têm sorte que somos poucos os vizinhos pegados na volta.
Hoje, decide que espera o Virgílio acordada e conversa sobre esses dois que moram tão perto.
O dia se passa sem que a Memória esqueça do acontecido, está louca pra destrancar seus planos para o marido.

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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Inês Pedrosa

A Eternidade e o Desejo





"Era um precursor; fervia-lhe no peito uma verdade e só com ela tinha ligação."

"No fundo, acho que lhe bastava a consciência de que tinha deus dentro de si ou a eternidade, ou o conhecimento, como preferires."

"Gosto das palavras obscenas que inventamos juntos, feitas de restos de barcos e impérios, lodo e ídolos do nosso passado comum estoirados pelas costuras."

"Gosto do arrepio da tua língua na minha nuca, gosto que me digas quero mais quando creio já te ter dado tudo."

"Vieira não precisava de nada nem de ninguém."

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A eternidade e o desejo - Inês Pedrosa

Patrícia C.






Cega. Clara já não pode mais ver. Acompanhada pelo amigo Sebastião, resolve visitar novamente o Brasil em uma excursão que, partindo de Portugal, sua terra natal, visitará os locais percorridos pelo Padre Antônio Vieira. Eis um fio breve da narrativa, muito breve, pois o encanto da leitura de A eternidade e o desejo está justamente no modo como tudo é contado, na maneira como a escritora usa as palavras, escolhendo-as, arranjando-as, numa bela trama textual.

Dividido em duas partes - A eternidade, mais longa, e o Desejo, mais curta, surpreendeu-me a forma como o livro está estruturado: cada bloco narrativo é escrito em primeira pessoa: ora é Clara quem narra, ora Sebastião. Entre os dois, sentimentos conflitantes. Para ela, amizade:

[...] As histórias que sonhámos para as pessoas amadas flutuam na neblina dos dias muito quentes, como mentiras leves tocadas pelo peso da verdade. Espuma do mar desfeita ao toque dos dedos. Não te canses a inventar-me no desejo do teu corpo, Sebastião, que o que em mim crês amar não é mais do que a memória das lágrimas, das tuas lágrimas, feitas de uma luz distinta das minhas. [...] (p. 53)

para ele, um amor forte, continuamente frustrado:

[...] Eu sei que tu sabes, Clara - só queria apagar esse sorriso radioso que tu trazes da rua, esse sorriso que contraíste longe de mim, nos braços de outro homem, cega, cega, cega ao amor cego que tenho por ti, cega ao meu sofrimento. [...] (p. 125)

Também está presente a voz do Padre Antônio Vieira em trechos de seus textos que entremeiam a narrativa, pontuando, com seu estilo barroco, o que se vai passando.

Uma obra literária intrigante da primeira à última página. Do começo ao fim, ficamos envolvidos pelos pensamentos e caminhos trilhados por Clara, pela forma como nosso país é descrito - a sensualidade da Bahia, o sincretismo religioso local, as descobertas que ela faz, aos poucos, sobre si própria.

Para aguçar a curiosidade, mais um trechinho da obra:

- Tudo? Mas o que é tudo? Tudo o que vejo? - perguntas num sussurro. Como se, de súbito, te sentisses esmagado pela intraduzível vastidão do teu olhar. O que se vê nunca se pode narrar com rigor. As palavras são caleidoscópios onde as coisas se transformam noutras coisas. As palavras não têm cor - por isso permanecem quando as cores desmaiam. Percebo o teu aturdimento: como se traduz a visão? Como se emprestam os olhos? Impossível. (p. 13)

Mais alguns dados da obra:

Autora: Inês Pedrosa (1962 - Portugal)
Mais informações sobre A eternidade e o desejo, pela própria autora, podem ser vistas na entrevista feita por ocasião da sua participação na Festa Literária de Paraty, clicando aqui.

Kiss


Forever




I gotta tell you what I'm feeling inside
I could lie to myself, but it's true
There's no denying when I look in your eyes
Girl, I'm outta my head over you

I lived so long believing all love is blind
But everything about you
Is telling me this time it's

Forever, this time I know
And there's no doubt in my mind
Forever, until my life is through
Girl, I'll be loving you forever

I hear the echo of the promise I made
When you're strong you can stand on your own
But those words grow distant as I look at your face
No, I don't wanna go it alone

I never thought I'd lay my heart on the line
But everything about you
Is telling me this time it's

Forever, this time I know
And there's no doubt in my mind
Forever, until my life is through
Girl, I'll be loving you forever

Yeah!!

Ohhh, I see my future when I look in your eyes
It took your love to make my heart come alive
'Cause I lived my life believing all love is blind
But everything about you is telling me this time

It's forever, this time I know
And there's no doubt in my mind
Forever, until my life is through
Girl, I'll be loving you forever

Ohhh!!

It's forever, this time I know
And there's no doubt in my mind
Forever, until my life is through
Girl, I'll be loving you forever

Composição: Paul Stanley / Michael Bolton


I Was Made For Loving You




Tonight I wanna give it all to you
In the darkness
There's so much I wanna do
And tonight I wanna lay it at your feet
'Cause girl, I was made for you
And you were made for me

I was made for loving you baby
You were made for loving me
And I can't get enough of you baby
Can you get enough of me?

Tonight I wanna see it in your eyes
Feel the magic
There's something that drives me wild
And tonight we gonna make it all come true
'Cause girl, you were made for me
And girl, I was made for you

I was made for loving you baby
You were made for loving me
And I can't get enough of you baby
Can you get enough of me?

I was made for loving you baby
You were made for loving me
And I can give it all to you baby
Can you give it all to me?

Oh, can't get enough, oh, oh
I can't get enough, oh, oh
I can't get enough

I was made for loving you baby
You were made for loving me
And I can't get enough of you baby
Can you get enough of me?

I was made
You were made
I can't get enough
No, I can't get enough

I was made for loving you baby
You were made for loving me
And I can't get enough of you baby
Can you get enough of me?

I was made for loving you baby


Composição: Paul Stanley/ Vincent Poncia/ Desmond Child

sábado, 5 de janeiro de 2013

A alma que se juntou de muitos espíritos


Ensaio 23
baitasar

Aqueles que não queriam lembrar o casarão Canela Preta entorpeciam devagarinho a memória do perto, acomodavam as próprias lembranças que vinham do longe para muito mais tempo atrás, o tempo do faz de conta, e pareciam fingir despreocupação com o medo do fim – se disfarçam a despreocupação estão preocupados, sabem que é imoral, mas têm medo do pé-de-vento na bunda – apenas nas aparências o casarão havia de acabar, sua alma reunida de tantos espíritos não iria para longe da memória, ficaria no território das poeiras que foram varridas e jogadas no ar, levadas para longe, uma memória perdida, pendurada na beirada do abismo, apoiada no esquecimento cínico do mundo faz de conta, até que a brisa e depois a ventania carreguem tudo de volta
—        Maiami, acho que estou desgovernando, vez por outra, imagino que essa casa grande e velha se parece com gente. — a rapariga enfiada dentro da sua miudeza, um pequeno retalho de pano colorido mais lhe mostrava que escondia, apenas sorriu, e ficou pensativa, por duas vezes, pareceu que diria alguma coisa, hesitava, é bem assim, as pessoas são todas covardes de algum jeito, têm medo de perder, desacomodar do lugar, desabituar do amor que se perdeu, parece que ficar no mesmo lugar é melhor, não desarticula, nem espalha, então, criam coragem para não mudar, ficam onde se estava
—       En mi país, creemos que nuestra Montaña está habitada por espíritus, na verdade, não deixamos el lugar al que pertenecemos. — o embaraço lhe escorria do tempo vivido longe das mulheres de milho, sabia que uma mulher de milho não abandona la Montaña, ela continua lhe comendo na saudade de um sonho, uma terra prometida, um lugar que não permite ninguém ser feliz, sente lembrança de repartir a miséria, as esteiras, as baratas, a obrigação de adubar a terra com suas carnes, um ofício que se aprende antes da natividade, o desejo de retornar ao pó de la Montaña, o vento da impermanência na vida descansada
—        Eu entendo, têm vezes, que as coisas materiais tomam forma de gente, e gente mata por essas coisas materiais, como se fosse legitima defesa da própria vida, esmagam as baratas com seu brilho e seus cheiros, feias, a força do mais forte deixa para trás as paredes das memórias, monumentos dos rastros que são seguidos pelos que vêm depois. As coisas ganham as lembranças da gente: ser forte é o que importa.
—        Aunque sea de lejos, los espíritus traen los olores, cierra los ojos y los pies en el suelo, você descobre que tem uma passagem para o mundo da regeneração, estamos todos ligados por fios, por lá, ou por aqui, tanto faz, mais cedo ou tarde ela se ocupa de nós.
—        Imagino esta casa como uma mulher muito generosa, uma mulher como você.
—        Con apetitos. — os dois sorriem.
Ele não percebeu quando, mas o assunto dos espíritos e da regeneração perdia a vez para a miudeza das roupas, a beleza da carne, os perfumes, as miçangas, tatuagens, comidas — Sim... claro, muitos apetites, acolhedora.
—        Lo sé, ló sé...
—        Imagino a cozinha como o útero da gestação da vida, a comida e os fluidos saciando a fome da terra por adubo, esgotando a sede do mar por água doce. A senzala nutrindo o corpo com a sua alma que se juntou de muitos espíritos. Água e sangue, terra e carne...
—        ¿Y yo? Soy una mujer que me parezco a una casa?
Ele se arrepia enquanto a espia, ela parece com essas moças das capas das revistas, tão longe, inatingíveis, até que você chega perto, as revistas não são reais, não têm vida, e você descobre que o real é você, não existem como se imaginam, esses sonhos não são seus, são os desejos do porta-seios que lhe quer muito como um estúpido – os donos de la Montaña são os donos de tudo – para vender os sonhos que diz que são seus. Você sabe, mas decide correr o risco, diz que vale a pena ser estúpido, pelo menos... uma vez, pelo menos. Isso lhe faz tão bem, ficar duro, abrindo na mata a trilha mais firme, não parece igual o aspecto dos caminhos, as paisagens em torno são variadas, os cheiros diferentes, quer fugir da monotonia, da falta de ideias, mas não existe um jeito de não ser estúpido correndo atrás do porta-seios
—        ¿Quieres un poco de palomitas de maíz?
—        Ainda nem tomamos café!
—        ¿Y qué? — risca um fósforo e acende uma pequena chama azul no fogão, coloca uma panela no fogo, óleo para esquentar, joga um pequeno grão de milho no óleo, e observa... depois que ele floresce no calor da fervura, deposita dois punhados de grãos de milho na panela, tampa a pipoqueira; com uma colher segue dando pequenas pancadas na tampa enquanto recita algo incompreensível, talvez uma oração para provocar que os milhos floresçam  ou agradecimento aos espíritos que brotam como pipocas no calor do óleo
—        Não, você não se parece com coisa ou gente que já tenha visto.
—        Hum...— o milho fica em silêncio, ela levanta o chapéu da panela com cuidado, não parece querer torrar um grão que seja — ... lo que me hace única, inusual, não sei se gosto, prefiro a normalidade dos parecidos.
—        Normalidade... bobagem, não existe prostituta com uma vida normal...  ninguém faz pipoca nua.
—        ¿Por qué no?... me gusta pensar que soy normal, os outros, as outras... eu não sei.
—        A moça acha normal gostar de três?
—        No siempre, pero a veces me gusta con un... — ela coloca a mão no peito do rapaz e o empurra. O faz sentar. A chaleira apita, avisa da fervura, ele apita enquanto a segura, pela cintura, está em fervura, quer o controle do que não controla, acredita que está no comando — Me encanta que me miren...
—        Excitada até ser comida.
—        Yo estoy comiendo ...
—        Adoro comer quando a Laetitia está comendo. — já foi chamada de tantos nomes, mas esse não lembra e não se importa
—        Me gusta estar en la parte superior ... — coloca a mão no ombro do menino e levanta. Não terminou a lição de casa, ele precisa de um castigo, e senta
—        Allí mi manera y su camino en solitário... aos poucos você vai se trazendo, mais e mais, para mim. — ele entende, ele entende, quer gritar, permanece calado, apenas lamenta não ter visto aquela mulher antes de todos, ela cavalga com força, dá saltos
—        Como é que você... — ela leva o dedo indicador aos lábios, ordena que fique quieto, a segunda lição: não pedir explicações, não perguntar quanto custa, existem coisas que não têm preço, são como são, apenas faça do seu jeito, monta sem rédeas, não tem sela, enfia os dedos em seus cabelos
—        No siempre es bueno... estoy gozando.... ¡vaya!  — a lição mais importante: humildade e coragem, a verdade dói, mas é verdade, nem sempre é bom, mesmo quando é bom. Não concorda, nem discorda, já entendeu que a moça não tem sócios, tem negócio próprio — Si pudiera amar, pero no puedo, negocios son negocios.
Ninguém lhe tira os olhos, nem Sèzar, nem os espíritos. Qual a necessidade disso? Espíritos batendo punheta, venerando uma puta, que espiritualidade medíocre e machista. Ta bem, desculpem os palavrões. Prometo que vou manter a elegância das palavras, mesmo nas oficinas com a foto nua em um calendário. Não sei o que dói mais: o que se vê ou o que se ouve. Ou o que se fecha para não ouvir e não ver. Mas os espíritos não lhe tiram os olhos, ela sai de um lugar para outro, os cabelos soltos, desalinhados – estão alinhados para parecerem desalinhados – uma blusinha branca, os seios transparentes, grandes desenhos da imaginação empurram a blusinha branca até que se pareça com seios, aparecem, todos babam e batem palmas, carne e espírito, água e sangue. Sinto inveja da minha juventude que reagia tão rápido, preciso de muitos espíritos para formar minha alma
—        A moça quer ser uma puta normal, é isso? Seguir as regras da normalidade é renunciar aos instintos, não oferecer perigo, não querer comer a mulher do amigo, nem...
—        Já chega, entendi, mí me gusta pensar que soy normal, me gustan los trios, também saio com garotas, mas os homens me dão mais tesão, creo que es la penetración, a força, a barba, não sei...
—        Viu? Isso não são as normas.
—        Usted es un idiota, quer comer e não sabe pedir.
—        Eu já comi.
—        Yo no estoy tan segura, el tamaño es importante, não pode ser do mindinho nem GG... extra-grande.
—        Você tá insinuando...
Não o conforta de qualquer atenção, apenas o usa como plateia
—        Me gusta masturbarme... ¿qué es lo que quieres saber más?
—        Não coloca muito sal. — os olhos estão enfiados um no outro, provocam. Ela levanta da montaria, pega o saleiro e vira na panela. Sacode e parece que vira a massa de panquecas assando no fogo, volta para a montaria e enfia os grãos estourados na boca do guri, um a um, ele engole
—        O que a atrai num homem?
—        Que ele seja verdadeiro, no se quede encima como una tapa del ataúd, gosto de ficar por cima, é melhor pra gozar.
—        Você é safada...
—        Eu?
—        Você gosta de coisas...
—        ¿Impropias? ¿Sin prudencia? Tal vez sin la prevención o la previsión.
—        A sua vida é uma aventura. — um sorriso lhe nasce espontâneo, como se ela o estivesse descobrindo
—        Me encanta el sexo... tenho sempre um cara diferente, já transei com quem não era bem dotado, e foi bom... muy grande, a veces me duele.
—        E eu, como fui?
—        Si te gusta el sexo de la persona será buena.
Um breve silêncio e a pergunta inevitável — E você gosta de mim?
—        Gusto...
—        Tem alguma parte favorita?
—        Tengo... mis pechos... son naturales. Dios me dio un cuerpo, prefiero seguir con lo que me fue dado.
—        Em mim, não em você!
—        Ah... su boca.
—        É?
—        Usted habla demasiado cuando estás trepando. Eu adoro. Odio a los chicos tranquilo y aburrido. Su boca inventou um nome para mim.
—        É?
—        Laetitia... ¿quién es?
—        Não sei.
—        ¿Quieres más palomitas de maíz?
—        Não... estão muito salgadas.
—        Me gusta el sexo cuatro... estou tentando comprar minha casa... quero todos felizes, sem brigas, seu traumas... mis pechos son naturales, mi parte favorita...
—        Você já disse, também gosto.
—        Usted me hace decir tonterías... não gosto de pássaros, eles me assustam... sou do tipo bobona, gosto do cantinho da lareira... mi encanta el sexo oral... que me miren...
—        Nunca se apaixonou?
—        Tal vez cuando encontrar al hombre adecuado... quando encontrar o meu coração vai saber... tengo un vibrador que se ve como una varita mágica...
A porta da entrada range nas dobradiças, parece o lamento da preguiça
—        Os dois pombinhos já levantaram?
—        ¡Estamos en la cocina!
O Fumaça entra com uma sacola de pano pendurada no ombro, faz uma pequena reverência antes de soltar a si mesmo da sacola — Trouxe o pão, o leite e o jornal. — aquilo lhe parece ser uma deliciosa reunião de família. Olha para os dois com seu melhor sorriso lambuzado. Reconhece a sorte que tem
—        Já contei pra vocês do dia que eu e o Fugueti entortamos a avó?
—        No, no a mi. — a jovem estava parada a meio caminho entre a mesa e o fogão, tinha acabado de colocar um pequeno avental
—        Para mim, também não.
—        Pois então, abram as orelhas e deixem essa história...

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Ensaio 22 - Sarau na Senzala 
Ensaio 24 - O marido da mulher