quinta-feira, 2 de abril de 2020

Virgínia Woolf - Orlando : Apresentação e Prefácio

Apresentação e Prefácio





Apresentação

Virginia e Orlando


Virginia Woolf, sem dúvida uma das mais importantes escritoras inglesas, nasceu em Londres em 1882. É o terceiro filho de Sir Leslie Stephen, historiador e biógrafo, e de Julia Duckworth, depois de Vanessa (1879) e Thoby (1880).

Com a morte da mãe, em 1895, Virginia apresenta os primeiros sinais de depressão que a acompanharia ao longo de sua vida.

Em 1904, com a morte de Sir Leslie, os irmãos Stephen se transferem de Hyde Park Gate para Bloomsbury, onde se criou o famoso Bloomsbury Group, constituído de intelectuais, escritores e artistas, e que se reunia às quintas-feiras na casa dos Stephen para discutir questões relacionadas com a arte e a cultura da época. O grupo era, a princípio, coordenado por Lytton Strachey e dele faziam parte J. Maynard Keynes, E.M. Forster, Leonard Woolf (que casaria com Virginia em 1912), Roger Fry, Duncan Grant, Clive Bell (depois marido de Vanessa), Sydney-Turner, entre outros.

Em 1917, junto com o marido, Leonard Woolf, Virginia funda a Hogarth Press, que publicará grandes nomes da literatura, como T.S. Eliot, Katherine Mansfield, E.M. Forster e, é claro, seus próprios livros.

Além de romances, Virginia escreveu inúmeros ensaios contos e resenhas para jornais como The Thimes Literary Supplement, The New Statesman, Athenaeum, para citar alguns.

Em 28 de março de 1941, ao perceber que seria dominada por outra crise de depressão, Virginia escreve para Leonard e para Vanessa e se suicida, colocando várias pedras pesadas no bolso da roupa e se lançando no rio Ouse, próximo à sua casa em Rodmell, Sussex. Orlando, publicado em 1928, é na realidade o sexto romance de Virginia, precedido por A viagem (1915 — The Voyage Out), Noite e dia (1919 — Night and Day), O quarto de Jacob (1922 — Jacob’s Room) , Sra. Dalloway (1925 — Mrs. Dalloway) e Ao farol (1927 — To the Lighthouse), seguido de As ondas (1931 — The Waves) , Os anos (1937 — The Years) e Entre os atos (1941 — Between the Acts).

Diferentemente dos demais romances, foi publicado com o subtítulo “uma biografia” e dedicatória a V. Sackville-West.

Virginia conheceu a escritora Victoria Sackville-West — Vita — em 1919, e logo se tornaram grandes amigas. Vita — casada com Sir Harold Nicolson, eminente biógrafo, autor d e O desenvolvimento da biografia inglesa (1928) — já era conhecida na sociedade londrina por suas amizades femininas. Seu envolvimento amoroso com Virginia ocorreu seis anos depois que se conheceram e durou cerca de dois anos, quando Vita se apaixonou por outra pessoa. Mesmo assim, permaneceram amigas até a morte de Virginia.

Ao planejar a elaboração do livro, Virginia comenta em seu Diário: “Será uma biografia começando em 1500 e continuando até o presente, chamada Orlando, Vita; apenas com uma mudança de um sexo para o outro.” [1] Na verdade, o livro é mais que uma simples biografia, gênero que Virginia muito apreciava e que, de certa forma, aparece em seus romances, como por exemplo O quarto de Jacob, que para muitos retrata Thoby, seu irmão desaparecido prematuramente, ou Ao farol, onde os protagonistas, sr. e sra. Ramsay, representam os pais da escritora.

Por outro lado, para enfatizar a ideia de “biografia”, Virginia baseou seu texto em fatos e pessoas reais: Orlando é Vita; para descrever o castelo, a autora usou Knole, castelo pertencente aos Sackville; é deles também o brasão de armas que aparece no vitral do castelo de Orlando.

Outro comentário frequente com relação ao livro refere-se à androginia. De fato, os principais personagens de Orlando apresentam características andróginas: arquiduquesa/arquiduque, Shelmerdine, e, é claro, o próprio Orlando/jovem viril, que dá lugar a Lady Orlando, mãe, completando o ciclo da vida. Contudo, o livro é bem mais que uma biografia ou ainda uma defesa da mente andrógina, conforme as ideias de Coleridge, posteriormente apresentadas por Virginia em Um teto todo seu (1929). Orlando reflete o interesse da autora pela relação do indivíduo com o fluxo da história, e nesse sentido é magistral.

O fato é que o livro se tornou um sucesso da Hogarth: em dezembro de 1928, ano da publicação, foi necessário fazer uma terceira edição, embora Virginia tivesse ficado apreensiva quanto ao resultado, conforme menciona em seu Diário: “Sim, está terminado — Orlando — iniciado em 8 de outubro, como uma brincadeira, e agora longo demais para meu gosto. Pode malograr por vacilação — ser longo demais para uma brincadeira e frívolo demais para um livro sério.” [2]

O enredo se inicia com Orlando aos 16 anos no final do século XVI, e termina em outubro de 1928, com o herói/heroína já como mulher madura. Do livro constam seis capítulos, e é exatamente no terceiro que, aos trinta anos, em Constantinopla,3 Orlando se transforma em mulher.

O comportamento do herói/heroína se altera com o passar dos séculos — Orlando é masculino, violento nos tempos de Elizabeth I e Jaime I, quando conhece Sasha; torna-se pensativo, mórbido, no século XVII; vai para Constantinopla como embaixador, casa-se com uma dançarina, Rosina Pepita e muda de sexo; retorna à Inglaterra no século XVIII, participa de chás e saraus literários e cerca-se de poetas como Pope. No século XIX, em pleno apogeu como mulher, “cora”, usa saias de crinolina, apaixona-se e casa-se com Shelmerdine. E, por fim, no século XX, nasce seu filho; o livro termina em 11 de outubro de 1928.

Do ponto de vista temporal, é o mais longo dos romances de Virginia. A sequência cronológica é respeitada, e o biógrafo registra vários acontecimentos para situar o leitor.

Assim como Ao farol, Orlando revela algumas das características de prosa impressionista de Virginia Woolf: descrições de cunho pictórico, como por exemplo a da Grande Geada, no primeiro capítulo; há também um jogo de cores permeando o texto. Imagens, metáforas, alusões, o aproveitamento da sonoridade das palavras, o ritmo da linguagem são alguns dos recursos narrativos utilizados pela autora que evidenciam sua capacidade de pintar com as palavras, o “seu” impressionismo.

Traduzir uma obra-prima é tarefa árdua. Assim, a tradução ora apresentada procurou respeitar o mais possível as peculiaridades do estilo da autora; obedeceu às repetições de palavras, à sintaxe — parágrafos extensos, pontuação, parênteses — , fazendo apenas as alterações indispensáveis para a adequação ao português corrente no Brasil. Para maior fidelidade ao texto, foi mantido também o sistema de medidas inglesas, usado pela autora — pés, jardas, acres...

Agradeço a Aurelio Rebello pela leitura, comentários críticos e pela colaboração efetiva que muito enriqueceu a elaboração do texto em língua portuguesa; e a Luiza Lobo, por indicar-me à Ediouro.

Para esta tradução foi adotada a edição WOOLF, V. Orlando, Londres, Triad/Panther Books, 1977.



Laura Alves



Prefácio


Muitos amigos me ajudaram a escrever este livro. Alguns já morreram, e são tão ilustres que mal ouso citá-los, embora ninguém possa ler ou escrever sem estar perpetuamente em débito com Defoe, Sir Thomas Browne, Sterne, Sir Walter Scott, Lorde Macaulay, Emily Brontë, De Quincey e Walter Pater, para mencionar os primeiros que me vêm à mente. Outros, embora talvez igualmente ilustres, ainda estão vivos e, por essa razão, são menos formidáveis. Devo particularmente ao sr. C.P. Sanger, pois sem o seu conhecimento da lei da propriedade imobiliária este livro não poderia ter sido escrito. A vasta e peculiar erudição do sr. Sydney-Turner salvou-me, espero, de alguns lamentáveis equívocos. Tive ainda a vantagem do conhecimento de chinês do sr. Arthur Waley, tão grande que só eu posso avaliar. A sra. Lopokova (sra. J.M. Keynes) esteve sempre disponível para corrigir o meu russo. À incomparável simpatia e imaginação do sr. Roger Fry devo todo o conhecimento que eu possa ter da arte da pintura. Espero, por outro lado, ter aproveitado a crítica singularmente severa e aguda de meu sobrinho Julian Bell. As infatigáveis pesquisas da srta. M.K. Snowdon nos arquivos de Harrogate e Cheltenham foram árduas, embora infrutíferas. Outros amigos me ajudaram de maneiras variadas demais para serem especificadas. Devo me contentar citando o sr. Angus Davidson; a sra. Cartwright; a srta. Janet Case; Lorde Berners (cujo conhecimento da música elisabetana mostrou-se inestimável); o sr. Franci Birrell; meu irmão, dr. Adrian Stephen; o sr. F.L. Lucas; o sr. e a sra. Desmond Maccarthy; o mais inspirador dos críticos, meu cunhado, sr. Clive Bell; o sr. G.H. Rylands; Lady Colefax; a srta. Nellie Boxall; o sr. J.M. Keynes; o sr. Hugh Walpole; a srta. Violet Dickinson; o Honorável4 Edward Sackville-West; o sr. e a sra. St. John Hutchinson; o sr. Duncan Grant; o sr. e sra. St. Stephen Tomlin; o sr. e Lady Ottoline Morrell; minha sogra, sra. Sydney Woolf; o sr. Osbert Sitwell; Madame Jacques Raverat; o coronel Cory Bell; a srta. Valerie Taylor; o sr. J. T. Sheppard; o sr. e a sra. T.S. Eliot; a srta. Ethel Sands; a srta. Nan Hudson; meu sobrinho Quentin Bell, antigo e valioso colaborador na ficção; o sr. Raymond Mortimer; Lady Gerald Wellesley; o sr. Lytton Strachey; a viscondessa Cecil; a srta. Hope Mirrlees; o sr. E.M. Forster; o Honorável. Harold Nicolson; e minha irmã, Vanessa Bell — mas a lista ameaça ficar longa demais e já está demasiadamente ilustre. Embora desperte em mim as mais agradáveis reminiscências, inevitavelmente criará no leitor expectativas que o livro pode frustrar. Assim concluo, agradecendo aos funcionários do Museu Britânico e do Departamento de Arquivo por sua cortesia habitual; à minha sobrinha Angelica Bell, por um serviço que somente ela poderia ter prestado; e ao meu marido, pela paciência com que invariavelmente me ajudou nas pesquisas e pelo profundo conhecimento histórico ao qual estas páginas devem o grau de exatidão que possam ter alcançado. Finalmente, gostaria de agradecer — se não tivesse perdido o seu nome e endereço — a um cavalheiro da América, que generosa e graciosamente corrigiu a pontuação, a botânica, a entomologia, a geografia e a cronologia de outros trabalhos meus e que, espero, não negará seus préstimos nesta ocasião.





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Virginia Woolf, escritora inglesa, nasceu em 1882, no seio de uma família da alta sociedade londrina. Após a morte de seus pais, ela e os irmãos se mudaram para uma casa no bairro de Bloomsbury, onde realizavam encontros com personalidades e poetas da época, como como T. S. Elliot e Clive Bell. Virginia começou a escrever em 1905, inicialmente para jornais. Dez anos depois, ela lançou seu primeiro livro “A Viagem”.

No período entre a 1ª e 2ª Guerra Mundial, Virginia Woolf se tornou uma figura conhecida na sociedade inglesa. Em 1941, ela cometeu suicídio se jogando no rio Ouse, perto da residência onde morava com seu marido, o crítico literário Leonardo Woolf, em Sussex. Mas, a obra de Virginia se imortalizou. Usando com excelência a técnica do fluxo de consciência, a escritora criou livros inovadores, que lhe fizeram ser conhecida como a maior romancista lírica do idioma inglês.

A Universidade de Adelaide, uma das instituições de ensino mais antigas da Austrália, disponibilizou online toda a obra de Virginia Woolf para download gratuito. Ao todo, são dez romances e dois livros de contos que podem ser baixados em três formatos: Zip, ePub e Kindle (para dispositivos Amazon). Entre os arquivos, estão algumas das obras mais famosas da escritora inglesa, como “Mrs. Dalloway” (1925), “Rumo ao Farol” (1927), “Os Anos” (1937) e “A Marca na Parede” (1944).

As obras estão em inglês. Para fazer o download, basta clicar sobre o título e escolher a opção “download. Também estão disponíveis ensaios de Virginia Woolf, como “O Leitor Comum” (1925), no qual ela reflete sobre a arte literária com base em obras-primas de outros autores renomados.


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Virgínia Woolf - Orlando : Capítulo 1



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