quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Florbela Espanca - A Mensageira das Violetas 01

Florbela Espanca



01 - A Mensageira das Violetas





CRISÂNTEMOS


Sombrios mensageiros das violetas, 
De longas e revoltas cabeleiras; 
Brancos, sois o casto olhar das virgens 
Pálidas que ao luar, sonham nas eiras. 
Vermelhos, gargalhadas triunfantes, 
Lábios quentes de sonhos e desejos, 
Carícias sensuais d´amor e gozo; 
Crisântemos de sangue, vós sois beijos! 
Os amarelos riem amarguras, 
Os roxos dizem prantos e torturas, 
Há-os também cor de fogo, sensuais... 
Eu amo os crisântemos misteriosos 
Por serem lindos, tristes e mimosos, 
Por ser a flor de que tu gostas mais!





NO HOSPITAL
À Théa 


Na vasta enfermaria ela repousa 
Tão branca como a orla do lençol 
Gorjeia a sua voz ternos perfumes 
Como no bosque à noite o rouxinol. 
É delicada e triste. 
O seu corpito 
Tem o perfume casto da verbena.
Não são mais brancas as magnólias brancas 
Que a sua boca tão branca e pequena. 
Ouço dizer: - Seu rosto faz sonhar! 
Serão pétalas de rosa ou de luar? 
Talvez a neve que chorou o inverno... 
Mas vendo-a assim tão branca, penso eu: 
É um astro cansado, que do céu 
Veio repousar nas trevas dum inferno!





VULCÕES 


Tudo é frio e gelado. O gume dum punhal 
Não tem a lividez sinistra da montanha 
Quando a noite a inunda dum manto sem igual 
De neve branca e fria onde o luar se banha. 
No entanto que fogo, que lavas, a montanha 
Oculta no seu seio de lividez fatal! 
Tudo é quente lá dentro...e que paixão tamanha 
A fria neve envolve em seu vestido ideal! 
No gelo da indiferença ocultam-se as paixões 
Como no gelo frio do cume da montanha 
Se oculta a lava quente do seio dos vulcões... 
Assim quando eu te falo alegre, friamente, 
Sem um tremor de voz, mal sabes tu que estranha 
Paixão palpita e ruge em mim doida e fremente!




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A Mensageira das Violetas, de Florbela Espanca

Fonte: ESPANCA, Florbela. A mensageira das violetas: antologia. Seleção e edição de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 1999. (Pocket). 

Texto proveniente de: 
A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais. 

Texto-base digitalizado por: 
Luciana Peixoto Silva – Divinópolis/MG
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Leia também:

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Nunca fui como todos

A Vida da poetisa Florbela Espanca

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