sexta-feira, 31 de maio de 2013

Desaparecidos como sem sangue, sem rosto, sem motivo

Mario Benedetti


Desaparecidos





Están en algún sitio / concertados
desconcertados / sordos
buscándose / buscándonos
bloqueados por los signos y las dudas
contemplando las verjas de las plazas
los timbres de las puertas / las viejas azoteas
ordenando sus sueños sus olvidos
quizá convalecientes de su muerte privada

nadie les ha explicado con certeza
si ya se fueron o si no
si son pancartas o temblores
sobrevivientes o responsos

ven pasar árboles y pájaros
e ignoran a qué sombra pertenecen

cuando empezaron a desaparecer
hace tres cinco siete ceremonias
a desaparecer como sin sangre
como sin rostro y sin motivo
vieron por la ventana de su ausencia
lo que quedaba atrás / ese andamiaje
de abrazos cielo y humo

cuando empezaron a desaparecer
como el oasis en los espejismos
a desaparecer sin últimas palabras
tenían en sus manos los trocitos
de cosas que querían

están en algún sitio / nube o tumba
están en algún sitio / estoy seguro
allá en el sur del alma
es posible que hayan extraviado la brújula
y hoy vaguen preguntando preguntando
dónde carajo queda el buen amor
porque vienen del odio

Ah las rosas del pubis!

Pablo Neruda

Veinte poemas de amor y una canción desesperada

Voz de GUILLERMO PORTILLO




Poema No.1

Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.

Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.

Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
Ah los vasos del pecho! Ah los ojos de ausencia!
Ah las rosas del pubis! Ah tu voz lenta y triste!

Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.
Mi sed, mi ansia sin límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito.



Poema No.5

Para que tú me oigas
mis palabras
se adelgazan a veces
como las huellas de las gaviotas en las playas.

Collar, cascabel ebrio
para tus manos suaves como las uvas.

Y las miro lejanas mis palabras.
Más que mías son tuyas.
Van trepando en mi viejo dolor como las yedras.

Ellas trepan así por las paredes húmedas.
Eres tú la culpable de este juego sangriento.

Ellas están huyendo de mi guarida oscura.
Todo lo llenas tú, todo lo llenas.

Antes que tú poblaron la soledad que ocupas,
y están acostumbradas más que tú a mi tristeza.

Ahora quiero que digan lo que quiero decirte
para que tú las oigas como quiero que me oigas.

El viento de la angustia aún las suele arrastrar.
Huracanes de sueños aún a veces las tumban.

Escuchas otras voces en mi voz dolorida.
Llanto de viejas bocas, sangre de viejas súplicas.
Ámame, compañera. No me abandones. Sígueme.
Sígueme, compañera, en esa ola de angustia.

Pero se van tiñendo con tu amor mis palabras.
Todo lo ocupas tú, todo lo ocupas.

Voy haciendo de todas un collar infinito
para tus blancas manos, suaves como las uvas.


Poema No.12

Para mi corazón basta tu pecho,
para tu libertad bastan mis alas.
Desde mi boca llegará hasta el cielo
lo que estaba dormido sobre tu alma.

Es en ti la ilusión de cada día.
Llegas como el rocío a las corolas.
Socavas el horizonte con tu ausencia.
Eternamente en fuga como la ola.

He dicho que cantabas en el viento
como los pinos y como los mástiles.
Como ellos eres alta y taciturna.
Y entristeces de pronto, como un viaje.

Acogedora como un viejo camino.
Te pueblan ecos y voces nostálgicas.
Yo desperté y a veces emigran y huyen
pájaros que dormían en tu alma.


Poema No.2

En su llama mortal la luz te envuelve. 
Absorta, pálida doliente, así situada 
contra las viejas hélices del crepúsculo 
que en torno a ti da vueltas. 

Muda, mi amiga, 
sola en lo solitario de esta hora de muertes 
y llena de las vidas del fuego, 
pura heredera del día destruido. 

Del sol cae un racimo en tu vestido oscuro. 
De la noche las grandes raíces 
crecen de súbito desde tu alma, 
y a lo exterior regresan las cosas en ti ocultas, 
de modo que un pueblo pálido y azul 
de ti recién nacido se alimenta. 

Oh grandiosa y fecunda y magnética esclava 
del círculo que en negro y dorado sucede: 
erguida, trata y logra una creación tan viva 
que sucumben sus flores, y llena es de tristeza.



Poema No.7

Inclinado en las tardes tiro mis tristes redes
a tus ojos oceánicos.

Allí se estira y arde en la más alta hoguera
mi soledad que da vueltas los brazos como un náufrago.

Hago rojas señales sobre tus ojos ausentes
que olean como el mar a la orilla de un faro.

Sólo guardas tinieblas, hembra distante y mía,
de tu mirada emerge a veces la costa del espanto.

Inclinado en las tardes echo mis tristes redes
a ese mar que sacude tus ojos oceánicos.

Los pájaros nocturnos picotean las primeras estrellas
que centellean como mi alma cuando te amo.

Galopa la noche en su yegua sombría
desparramando espigas azules sobre el campo.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Tira os óculos, põe os óculos...

Ary Toledo


Muitos palavrões... politicamente incorreto... humor dos anos 70, 80, 90... um contador de piadas







Prazer em Conhecê-lo
06/11/2011





Pau de Arara ( Comedor de Gilete)



Comedor de Gilete (pau-de-arara)
Carlos Lyra


(Cantado) Eu um dia cansado que tava da fome que eu tinha
Eu não tinha nada que fome que eu tinha
Que seca danada no meu Ceará
Eu peguei e juntei um restinho
De coisas que eu tinha
Duas calça velha e uma violinha
E num pau-de-arara toquei para cá
E de noite eu ficava na praia de Copacabana
Zanzando na praia de Copacabana
Cantando o xaxado pras moças olhar
Virgem Santa! Que a fome era tanta
Que nem voz eu tinha
Meu Deus quanta moça, que fome que eu tinha...
Zanzando na praia pra lá e pra cá


(Recitado) Foi aí então que eu arresolvi a comer gilete...Tinha um cumpadre meu lá de Quixeramubim que ganhou um dinheirão comendo gilete na praia de Copacabana. Eu não sei não, mas eu acho que ele comeu tanta, mas tanta, que quando eu cheguei lá aquela gente toda já estava até com indigestão de tanto ver o cabra comer gilete. Uma vez eu disse assim prum moço que vinha passando: Ô decente, vosmecê não deixa eu comer uma giletezinha pra vosmecê ver?
"Tu não te manca não, ô Pau-de-Arara?"
"Só uma, que eu ainda não comi nadinha hoje."
"Você enche, ein?"
Aquilo me deixou tão aperreado que se não fosse o amor que eu tinha na minha violinha, eu tinha rebentado ela na cabeça daquele...filho de uma égua!


(Cantado) Puxa vida, não tinha uma vida pior do que a minha
Que vida danada que fome que eu tinha
Mais fome que eu tinha no meu Ceará
Quando eu via toda aquela gente num come-que-come
Eu juro que tinha saudade da fome
Da fome que eu tinha no meu Ceará
E aí eu pegava e cantava e dançava o xaxado
E só conseguia porque no xaxado
A gente só pode mesmo se arrastar
Virgem Santa! A fome era tanta que mais parecia
Que mesmo xaxando meu corpo subia
Igual se tivesse querendo voar


(Recitado) Às vezes a fome era tanta que volta e meia a gente arrumava uma briguinha pra ver se pegava a bóia lá do xadrez. Êta quentinho bom no estômago! Com perdão da palavra, a gente devolvia tudo depois, que a bóia já vinha estragada. Mas enquanto ela ficava quietinha lá dentro, que felicidade! Não, mas agora as coisas tão melhorando. Tem uma dona lá no Lebron que gosta muito de ver é eu comer caco de "vrídrio". Com isso eu já juntei uns quinhentos merréis. Quando juntar um pouco mais, vou-me embora, volto pro meu Ceará!


(Cantando) Vou voltar para o meu Ceará
Porque lá tenho nome
Aqui não sou nada, sou só Zé-com-fome
Sou só Pau-de-Arara, nem sei mais cantar
Vou picar minha mula
Vou antes que tudo rebente
Porque tô achando que o tempo tá quente
Pior do que anda não pode ficar!


Composição: Carlos Lyra & Vinicius de Moraes

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Mais horas de cama do que urubu de voo

JUCA CHAVES


Humor dos anos 70, 80...

NINGUÉM SEGURA ESTE NARIZ











A Cúmplice - TV Tupi 1976




A Cúmplice
Juca Chaves


Eu quero uma mulher que seja diferente
de todas que eu já tive, de todas tão iguais.
Que seja minha amiga, amante, confidente;
A cúmplice de tudo que eu fizer a mais.

No corpo tenha o Sol, no coração a Lua,
A pele cor de sonho, as formas de maçãs,
A fina transparência, uma elegância nua,
O mágico fascínio, o cheiro das manhãs.

Eu quero uma mulher de coloridos modos,
Que morda os lábios sempre que for me abraçar.
No seu falar provoque o silenciar de todos
E seu silêncio obrigue a me fazer sonhar.

Que saiba receber, que saiba ser bem-vinda,
Que possa dar jeitinho a tudo que fizer,
Que ao sorrir provoque uma covinha linda;
De dia, uma menina; a noite, uma mulher.

sábado, 25 de maio de 2013

É mais difícil tê alguma coisa qui não tê

Ensaio 3B
baitasar
Os donos do dinheiro que tentava o tiuzin nunca apareceram, parece que não têm cara, são secretos, quanto mais se procura por eles menos se acha, ficam escondidos dentro de algum terno cinza, gravata borboleta, longo de baile, colar de diamantes brilhantes, eles são brilhantes: controlados, jamais se lançam da janela com cortina e tudo, cérebros desanuviados, possuem o desesperado desejo de nunca morrer, orgulhosos, dementes, um deserto de futilidades e o sermão de mandarins horas a fio e a televisão: apesar de tudo, o seu melhor amigo está sentado à sua frente
—        Esses o fio sobrinho não acha, eles não se mostra, usa máscara, todo mundo qué conhecê, mais só pode desconfiá que tem cara, são fantasma.
Eu sei tia, esses são os políticos corruptos, a professora da geografia dizia que são uns safados, sempre vota em branco
—        Ocê é burro, meu fio sobrinho. Essa máscara de político é apenas uma qui eles usa. Olhá melhó na sua volta. Os político coloca a bunda na janela, pra isso eles é pago. Mais tem muito mais mascarado... amigo disfarçado de bão, comprando o passado e o futuro. Os estafeta da mentira é mais perigoso qui bandido armado, mata muito mais gente, até quem credita neles. Tira tudo, não deixa nada.
—        Ninguém vai tirá o qui é meu! — o tiuzin parecia derreter a montanha com a vontade da avó
—        João, ninguém da família qué lhe tirá o qui é seu, mais aqui nada é só seu. Não deixa a gula fazê esquecê a vontade da mãe. Ela deixô a metade do Canela Preta pro moleque, ali.
O dedo da tia Vanda apontava pra mim. Isso era uma novidade que eu não sabia se fazia gosto: dono da metade do casarão Canela Preta, pensei, Vou pedir para desistir dessa vontade da avó
—        Eu?
A família estava reunida para discutir o vende não vende do tiuzin João, todos ficamos espantados, uma pergunta ficou entre o silêncio e os olhares, Por que a avó tinha feito isso?
Eu não queria assim, nem pedi que assim, dito de outro jeito, não pedi nada, Meu fio neto, logo, logo, ocê vai descobrí qui tê alguma coisa, qualqué coisinha à toa, é mais difícil qui não tê, depois qui ocê tem não qué perdê o qui tem. Se não tem não faz falta, mais se tem...
A tia sabia da confusão que me metia, mas tinha sido decisão da avó, ninguém sabia da razão daquela vontade, ninguém sabia explicar, a tia não parecia saber os motivos da avó, nem se importava, Moleque, no mundo dos espírito não existe novidade, tudo que acontece já aconteceu antes. Não tinha que dá explicação.
A família que continuava reunida estava em silêncio. Não tinha como não saber o que pensavam, nem precisava adivinhar, simples e ao mesmo tempo nada fácil
—        Metade?
—        isso mesmo, João: a metade.
Os dois olhares agora se enfrentavam
—        Isso qué dizê o quê?
—        Isso qué dizê, João, qui o moleque fica com a metade do dinheiro qui ocês ganhá pra vendê o casarão da mãe.
Qual a qualidade tinha feito a avó querer assim? Não sei. Preferia que gritassem comigo, o silêncio dos tiuzin e dos primos me deixava mudo. Aquilo não era uma brincadeira, não tinha como sair, foi quando o tiuzin Manoel chegou
—        E o qui ocê qué fazê, Manoel?
O tiuzin chegou atrasado para o encontro da família, ele sempre chega com atraso, mas bem vestido, barbeado, perfumado, um preto bem cuidado, esclarecido dos direitos de cada um, cumpridor dos próprios deveres. Pediu que lhe explicassem as ideias para solucionar o problema
—        Por mim, vendia, pela mãezinha... fica tudo como tá, então, não sô de vendê.
A tia olhou na minha direção, me pareceu que tinha um misterioso sorriso combinado com um olhar secreto de lápide. Sentia um crescente círculo de pouca vontade.
O tio Manoel continuava seu discursivo
—        Quero aproveitá esse encontro da nossa família e anunciá qui to de mudança marcada, vou morá com a Maria do Prato.
Mais uma das mulheres do tiuzin que ninguém conhece, nem vamos conhecer, mas é bom guardar na memória o nome: Maria do Prato; pareceu que a voz do tiuzin desfaleceu, foi quase nada na hora de dizer o nome da estranha. Vá que o inusitado aconteça e o tiuzin que não tem conserto encontra o que tem procurado, alguma capaz de lhe servir de salvação e sustento
—        Quem é essa? — a tia Ana levantou do seu torpor, tinha a voz espichada
—        Uma jovem senhora de posses que conheci no baile, na tarde. — esse tiuzin não prega prego sem estopa, nem malha ferro frio. Fala a verdade vestida com uma ou outra mentira. Aposto que essa moça do Prato é uma velha senhora com dinheiro, que o tiuzin quer comer com seus encantamentos de riqueza até descobrir que não pode mastigar dinheiro — Minha irmã, essas velhinhas só querem fugir da solidão.
—        Nem sempre, Manoel, tem vez que não é pura diversão de malandro.
A tia Vanda deu de ombros, voltou as costas para o tiuzin Manoel, aquele não era assunto que precisava de solução, olhou à outra tia — E ocê, Ana?
Essa outra tia chegou com o mais novinho dos filhos bebendo no peito, já tinha passado da avó na quantidade de ter filhos, gostava de fazer os filhos
—        Por eu, pode vendê. É um jeito pra arrumá melhor o barraco do Mitão.
A tia Vanda agachou na frente da outra tia, era o seu modo de ficar com o olho nas vista uma da outra — Ocê vendi pra arrumá o barraco do Mitão. E depois?
A tia Ana não entendia da política e dos homens e do depois da tia Vanda
—        Depois... o quê?
—        E se o Mitão arrumá outra, ocê vai morá aonde? — o nenê fez muxoxo de choro, ela tratou de aquietar dando outra têta. Isso deve ser extenuante, às vezes cômico e também patético, ter aquele carrapato grudado no peito, resmungando
—        Voltamô pro Canela Preta. — o Mitão levantou, aquela conversa parecia um grande perigo, passou a mão no penúltimo, ou foi no antepenúltimo, isso não importa, e saiu daquele círculo de união familiar
—        Ana, ocê disse que é pra vendê o casarão... não vai tê aonde voltá!
—        Arrumo outro...
A tia Vanda desaprisionou do peito outro suspiro, o seu corpo cansado enrijeceu, ela olhou a sua volta, a doença de ter alguma coisa envolve todos e nos rodeiam, pouco ou nada se resolve — E você, Jorge?
—        Se o preço for muito bom... voto pra vendê.
Votação empatada, um assunto controverso, isso ainda acaba com todos me interrogando
—        E o Batata? — o tiuzin Jorge queria declaratório da situação do tiuzin Batata, o único dos filhos, além da mãezinha, que não tinha feito comparecimento — Ele começô emprego de cobradô.
—        Ocê ta desinformativo, Manoel. Parece que o moleque ficô peixe do patrão e virô motora de caminhão. — a tia Vanda juntou as mãos e agradeceu alguma graça — Já dou graças à Deus que o moleque saiu daquelas correria no caminhão do lixo, largou a Daslu, que outros tratem de organizar a associação. Não sei a linha que ele ta puxando, mas o moleque começa às 4 e 15 da manhã e toca até às 11, tem um intervalo até o meio da tarde, depois pega até às 10 da noite.
—        E quem não é peixe do patrão? — a tia Ana levantou da cadeira, o bico da têta enfiado no gurizin, deu uma volta na mesa da cozinha, parecida com uma ilha cercada de gente por todos os lados, balançava o piá pra lá e cá
—        Ana, isso não sei, mas aposto qui se não é peixe não sai de cobradô.
—        E faz o quê das 11 até voltá de tarde? — ela falava de jeito nervoso que não aquietava o gurizin da têta
—        Não sei, Ana, mas se fosse eu... dormia na garage, dentro do ônibus. — ela voltou os olhos para o tiuzin Manoel. Empurrou a têta com mais força, parecia que custava muito mais esforço entender porque não se queria botar a mão no dinheiro vivo do comprador desconhecido — Então, a decisão é não vendê... quero sabê quem paga o quê pra arrumá o casarão, todo dia tem coisinha pra se fazê...
—        Dividimô tudo entre nóis...
—        Quê? Eu nem moro mais aqui!
O tiuzin Jorge parecia começar a não controlar os nervos — Não aceito. O moleque é dono da metade, a metade das arrumação é dele, a metade que sobra dividimô.
—        Jorge, o moleque não tem daonde tirá.
—        É só largá essa frescura dos livro e arrumá trabalho, o problema é o tamanho...
—        Jorge! A mãe deixô dito que o moleque estuda até terminá os estudo da escola. Não é assunto da discussão. E ocê, Ana, se não mora aqui é por querê seu, se quisé voltá... o lugar tá desocupado.
Um frio me passou na barriga. A tia Ana, o Mitão, e a coleção de neinhos da tia, tudo junto no caldeirão do casarão. Isso não era bom para ninguém, nem para o casarão nem para o espírito da avó
—        Mais a metade do Canela Preta é do moleque, ele não vai entrá na divisão?
—        Manoel, ele vai tirá pagamento daonde? A mãezinha tem querê do guri nos estudo, até onde dé. O moleque não tem mais querê que a mãezinha, ela queria e ele vai continuá na escola. Isso já foi resolvido, lá no tempo da mãe viva. Tem alguma parte que eu não entendi? — a tia Vanda foi feita com o jeito da avó: pronta para o amor e a guerra. Com ela a conversa já começava pela metade, tinha o querê dela e o outro jeito que não lhe mudava o querê.
Os tiuzin Jorge e Manoel tinham aquietado com o rabo entre as pernas, as vistas entre as orelhas. A tia Ana achou melhor ficar com o Mitão do feitio que já tava. O tio João saiu no meio das conversas, não disse mais nada do que já havia dito. Já sabia que o tio Batata não deixava vender o casarão.
Depois da reunião desfeita nenhum dos tiuzin voltou no assunto.
Eu ficava sozinho no casarão, na maior parte dos dias. Descia na senzala, sempre que precisava cumprir o compromisso de lembrança com a professora da matemática, bem mais nova que as lembranças da geografia. Minha desilusão passou logo que achei outro atrativo, conforme explicou o tiuzin Manoel, Amor é vento que vai um, vem cento.

A história dos preto massacrados já não me incomodava tanto, as coisas boas e ruins ficaram perdidas pela estrada das memórias. O esquecimento no tempo e a vontade das lembranças novas são mais fortes, mas fiz promessa de jamais usar calça longa, apertada nas canelas, como as correntes apertando os cabritos preto, só uso jeans.

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Leia também:

Ensaio 2B - Sô do lado de vendê, pegá o dinheiro... cuidá de vivê

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O tempo passa para todos, mas tem uns caras....

Led Zeppelin 

Live Aid 1985 3 Stairway to Heaven









Stairway To Heaven

There's a lady who's sure all that glitters is gold
And she's buying the stairway to heaven
When she gets there she knows if the stores are all closed
With a word she can get what she came for

And she's buying a stairway to heaven

There's a sign on the wall, but she wants to be sure
'Cause you know sometimes words have two meanings
In a tree by the brook there's a songbird who sings
Sometimes all of our thoughts are misgiven

Oh, it makes me wonder
Oh, it makes me wonder

There's a feeling I get when I look to the west
And my spirit is crying for leaving
In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees
And the voices of those who stand looking

Oh, it makes me wonder
Oh, it makes me wonder

And it's whispered that soon, if we all call the tune
Then the piper will lead us to reason
And a new day will dawn for those who stand long
And the forests will echo with laughter

If there's a bustle in your hedgerow, don't be alarmed now
It's just a spring clean for the may queen
Yes, there are two paths you can go by, but in the long run
There's still time to change the road you're on

And it makes me wonder

Your head is humming and it won't go
In case you don't know, the piper's calling you to join him
Dear lady, can you hear the wind blow
And did you know your stairway lies on the whispering wind

And as we wind on down the road
Our shadows taller than our soul, there walks a lady we all know
Who shines white light and wants to show
How everything still turns to gold and if you listen very hard

The tune will come to you at last
When all are one and one is all, yeah
To be a rock and not to roll
And she's buying a stairway to heaven



Escadaria Para O Paraíso

Há uma moça certa de que tudo que brilha é ouro
E ela vai comprar a escadaria para o paraíso
Ao chegar lá ela saberá que se todas as lojas estiverem fechadas
Com uma palavra ela consegue o que veio buscar

E ela está comprando a escadaria para o paraíso

Há um aviso na parede, mas ela quer ter certeza
Porque você sabe, às vezes as palavras têm duplo sentido
Em uma árvore a beira do riacho há um rouxinol que canta
Às vezes todos os nossos pensamentos estão vazios

Oh, isso me faz pensar
Oh, isso me faz pensar

Há algo que sinto quando olho para o oeste
E meu espírito chora por liberdade
Em meus pensamentos eu vejo anéis de fumaça atravessando as árvores
E as vozes daqueles que observam

Oh, isso me faz pensar
Oh, isso me faz pensar

E é sussurrado que logo, se todos entoarmos a canção
Então o flautista nos levará à razão
E um novo dia nascerá para aqueles que chegaram lá
E a floresta irá ecoar com gargalhadas

Se ouvir barulho em seus arbustos, não se assuste
É só uma limpeza do inverno para a chegada da primavera
Sim, há dois caminhos que você pode seguir, mas na longa caminhada
Ainda há tempo de mudar o caminho que você segue

Oh,e isso me faz pensar

Sua cabeça lateja e não para nunca
Caso você não saiba, o flautista está te chamando para se juntar a ele
Querida moça, você ouve o vento que sopra?
E você sabia que sua escadaria repousa no vento sussurrante?

E conforme seguimos por essa estrada
Com nossas sombras mais altas que nossas almas, lá caminha uma moça que todos conhecemos
Que tem um brilho branco e quer mostrar
Como tudo ainda vira ouro, e se você ouvir com muita atenção

A canção finalmente chegará até você
Quando todos são um e um é o todo,yeah
Pra ser agitado e não rolar
E ela esta comprando a escadaria para o paraíso


Composição: Jimmy Page / Robert Plant

Todo o meu amor

Led Zeppelin

All of My Love






"All My Love" é uma cancão da banda britânica de rock Led Zeppelin. Lançada em 15 de agosto de 1979, contida em seu oitavo álbum de estúdio In Through the Out Door. Creditado por Robert Plant e John Paul Jones, é uma música de ritmo lento, que possui um solo sintetizado de Jones e vocais realizados em um take por plant. Ela foi escrita em homenagem ao filho de Plant, Karac, que morreu enquanto Led Zeppelin estavam em sua turnê norte-americana 1977.



All My Love

Should I fall out of love, my fire in the light?
To chase a feather in the wind
Within the glow that weaves a cloak of delight
There moves a thread that has no end

For many hours and days that passes ever soon
The tides have caused the flame to dim
At last the arm is straight, the hand to the loom
Is this to end or just begin?

All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now
All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now

The cup is raised, the toast is made yet again
One voice is clear above the din
Proud Aryan one word, my will to sustain
For me, the cloth once more to spin

All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now
All of my love, all of my love
Yeah all of my love to you child

Yours is the cloth, mine is the hand that sews time
His is the force that lies within
Ours is the fire, all the warmth we can find
He is a feather in the wind

All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now

All of my love, oh love yes
All of my love to you now
All of my love, all of my love
All of my love, love

Sometimes, sometimes
Sometimes, sometimes
Hey, hey, hey, hey
Hey, hey, hey, hey

Oh yeah, it's all, all, all of my love
All of my love, all of my love to you now
All of my love, all of my love
All of my love, to, to you and you, and you and yeah

I get a bit lonely, just standing up
Just standing up
Just standing up lonely
Just I get a bit lonely


Todo Meu Amor

Deveria eu me perder do amor, meu fogo na luz?
Para perseguir uma pena ao vento
Pela intensidade que costura um manto de delicias
Deixando um fio que não tem fim

Por tantas horas e dias que passam tão rápido
As marés fizeram a chama diminuir
Por fim o braço está estendido, a mão no tear
Será isso o fim ou apenas o começo?

De todo o meu amor, de todo meu amor
Oh, de todo o meu amor
De todo meu amor, todo meu amor
Oh, de todo meu amor para você, agora

A taça está erguida, o brinde está feito mais uma vez
Uma voz é clara acima do barulho
Orgulhoso ariano, uma palavra, minha vontade de apoiar
Para mim, o tecido mais uma vez a girar

De todo meu amor, todo meu amor
Oh de todo meu amor para você, agora
De todo meu amor, de todo meu amor
Sim, de todo meu amor para você, criança

Seu é o tecido, minha é a mão que costura o tempo
Dele é a força que repousa por dentro
Nosso é o fogo, todo o calor que podemos encontrar
Ele é uma pena no vento

De todo meu amor, de todo meu amor
Oh, de todo meu amor para você, agora

De todo meu amor, de todo meu amor, sim
De todo meu amor para você, agora
De todo meu amor, de todo meu amor
De todo meu amor, amor, amor

Às vezes, às vezes
Às vezes, às vezes
Hey, hey, hey, hey
Hey, hey, hey, hey

Oh sim, é de todo todo todo o meu amor
Todo meu amor, todo meu amor para você, agora.
Todo meu amor, todo meu amor
Todo meu amor para você, para para você e você e você e sim!

E fico um tanto solitário, apenas permaneço de pé
Apenas permaneço de pé
Apenas permaneço em pé sozinho
Só fico um pouco solitário

Composição: John Paul Jones / Robert Plant



sábado, 18 de maio de 2013

Sô do lado de vendê, pegá o dinheiro... cuidá de vivê


Ensaio 2B
baitasar
Depois dos serviços e as despedidas da avó, a cantoria silenciou, foi o tempo de cada um escolher as lembranças que não queria desaprender. Os tiuzin ficaram sem a última vez de ver a avó antes do sumiço com o Capitão, não escutaram a última palavra. Eu estava junto, dei meus ouvidos para os fios do seu suspiro, vi fechar os olhos para não mais abrir, a avó se foi me espiando. Isso fez de mim um fio neto especial. A avó não escolheu a hora da partida, nem escolheu quem lhe segurava a mão no desembarque, eu escolhi estar junto da avó, ser o seu acompanhamento. Um lugar que não queria tá, o único lugar em que tinha que tá. Sei que nunca vou me arrepender da escolha que fiz. Não senti medo, só senti amor.
Por muitos anos, a avó foi a decisão que governava nos assuntos do casarão Canela Preta. Aprendi que para essa posição de destaque não tem muito jeito de chegar, nem é para quem quer. A avó tinha autoridade e sabedoria no tempo, falava o que aprendeu morrendo cada dia um pouquinho.
A avó não foi na escola, mas, também, não aconselhava desfeita com os livros. Tinha os livros na cabeça, Isso não chega, fio neto, não chega ficá com as história na cabeça, é preciso tá escrito, se não tá escrito não existiu, a memória da língua esquece, inventa as parte qui não lembra, e o qui existiu muda, é como se não tivesse vivido, cada um conta do seu jeito e quem ouve, também, tem seu jeito de escutá
—        Mas a avó sabe como contar as histórias... e têm aqueles que não sabem escrever as histórias como a avó sabe contar.
—        A avó, sabe? Podê sê, mais a avó qué dizê qui a vida qui não tá escrita as criança desaprende, as lembrança foge como as areia da praia na mão, do punhado agarrado sobra uns grãozinho, e a serpente enganosa diz o qui qué sobre o qui existiu ou não existiu. O ruim passa sê bão, o fingimento vira virtude.
—        Tem livro ruim que finge respeito, dá aconselhamento de desamor que parece amor... tem livro que mente... tem livro que esconde... tem livro...
—        Chega, neinho... se tem livro quié ruidade, escreve ocê a história.
—        Falar é fácil...
—        A avó não entende do livro, mais sabe qui existe história na cabeça, e nos livro, pra gente ruim e pros bão, cada um escolhe o qui serve melhó. Ocê precisa escolhê vivê aborrecido, fazendo desfavô, desamando o amô, ou vivê a vida da vida. O fio neto não pode esquecê qui os fingido finge tanto qui credita nos fingimento da vida qui finge. Ocê aprenda escolhê os livro bão, tem vez, qui precisa sorte, mais tem outra vez qui só precisa tê atenção na viseira qui vê.
A avó chegou à posição de importância pelo jeito do amor que amou nos filhos. Não tinha enganamento, se achava que precisavam um puxão nas orelhas, dava o puxão e a explicação zangada, mas o colo da avó era o melhor lugar do mundo para ficar. Os filhos e os fios netos sabiam o que tinham perdido.
Foi quando se espalhou o boato: o casarão tava desgovernado e o tiuzin João estava disposto de ter conversa para vender o Canela Preta.
A notícia caiu como um arrebentamento.
Depois do sumiço da avó, pensei que o casarão ficava no uso dos tiuzin, das tiazinhas e dos mais novo. A avó dizia que desde o Capitão, quem construiu a mansão dos preto com as mãos dos preto fujão, o casarão nunca saiu do uso dos Canela Preta.
Vender não pareceu um bom plano, mas a vontade de ter dinheiro na quantia que não cabia na mão, despertou o embaraço da cobiça. A vida da avó que juntava os parentes estava fora das vistas, pareceu que cada um seguiria uma estrada, mas andava, pé ante pé, com o medo do puxão nas orelhas e o xingamento zangado. O tiuzin Jorge pediu reunião dos irmãos, queria esclarecer o zunzun que tinha virado mexerico
—        Tem gente com gosto de pagá um dinheirão pelo lugá dos Canela Preta! Acho que temô que vendê.
Tudo ficou no silêncio, o madeirame do assoalho parou de gemer, as dobradiças pararam com o zumbido das portas e janelas, abrindo ou fechando, por ali, só os suspiros esvaziavam os respiros aprisionados, ninguém se olhava. Rezei para que alguém fosse avisar os mais velhos, trazer os espíritos para começar a resistência. A luta é desigual quando o olho da cobiça se atiça, todos falam horrores de tudo e de todos que se atrevem contra o egoísmo do dinheiro, ficamos desligados da nossa caridade, a vida é perdida, esfria, fica esquecida. O ódio fica difuso, embutido no sopro da respiração
—        Jorge, o João tá adormecido do juízo, perdido pelo interesse do dinheiro.
Isso de conversar dizendo o nome, sem usar a lembrança do que cada um é na família: tio, tia, sobrinha, sobrinho; não era um bom começo de assunto
—        Bobagem, Vanda. Cansei de puxá carroça feito cavalo, cansei das vista assustada das madame, nunca sei quando sô o cu ou as calça. Tem vez, qui sô o cu, tem outras vez, qui sô as calça. Quero tê a minha montaria. Não sento como ocê em cima duma mina de ouro...
—        O quê?
—        Ocê senta em cima da sua mina de ouro... é só sabê usá!
A Vanda não se impressionou com o entusiasmo vendedor do João, nem com o jeito de lhe chamar de puta. E até onde a avó contou, ou deixou de contar, ela podia ser a única que tinha correndo nas veias do corpo o sangue do Capitão e da nêga Laetitia
—        E o pangaré de madame...
—        Qui tem eu?
—        ... credita que muda essa vida de arreio se vendê o casarão da mãe?
—        E a nêga Vanda vai até quando esfregando o chão dos branco, quieta com a vida de capacho?
Queria tanto que a avó estivesse aqui, acalmava os dois, primeiro, com as vistas; depois, com as mãos, fazendo sinal para que o bate a boca de um e o trinca os dentes da outra parassem aquela guerra, Desfeita na família não é bão, um caminho sem dono, não vai dá boa colheita.
A avó é o respeito dos humanos na família e tem o espírito respeitado pelos mais antigos
—        Não gosto de acordá com o corpo amassado, dolorida, desanimada de sê diarista da madame, mais não vendo uma pedra do Canela Preta pra modo de saí dessa vida de vai ou não vai.
Foi quando me animei
—        A avó virou encantamento dizendo que o casarão é da família, todos podem escolher viver e morrer nela, depois os outros mais novos, e todos do sangue da família Canela Preta que vierem na sucessão da descendência
—        Quem pediu a opinativa do rabanete preto?
—        Cuidado com a língua João, não mexe além da conta com o moleque.
Resolvi aquieta a língua, não tinha estatura de brigá com o tiuzin, nem quis a tia Vanda como meu escudo de proteção com o tiuzin
—        Ninguém vai tirá o qui é meu. Nêgo é o seguinte na fila qui não caminha, nunca sai do lugá, um depois do outro esperando... depois qui morré se terminô, os vivo tem qui dá conta de vivê. Sô do lado de vendê, pegá o dinheiro... cuidá de vivê.
Os outros da família não pareciam se meter, era melhor esperar, ver com que lado a avó ficava. Acho que foi assim, no tempo de acorrentar os canelas preta, lá na terra mãe. Não acreditavam que aquilo ia continuar... e continuou, até a mãe minguar com falta de mão para enraizar a terra. As coisas se repetem grandes ou miúdas, aprendemos com as histórias e desaprendemos com o silêncio. O preço do esquecimento e a evaporação das lembranças é a repetição sem miolo, sem serventia ao bem de todos, o dono nunca está satisfeito com os escravos que tem, É assim mesmo, meu fio neto, o desaparecimento das lembrança é disfarce qui dono de gente usa pra continuá escravidão da miséria.
Essa avó não descansa.

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Ensaio 3B - Tê alguma coisa, é mais difícil qui não tê

Qui ném feijão com arroiz

Muitas vezes tenho vontade...


de mandar a Vivo à merda, principalmente, quando querem me vender o tal smartfone, Não quero! Não uso internet

- Velho rabugento...

e não estou reclamando quando a ligação apaga/desliga/desconecta/vira fumaça no meio da palav

mas daí, lembro do Eduardo e da Mônica... ahah e ah!

E sei que tudo vai dar certo.

Acho até que vou deixar de ser rabunojento...





Mas se vc ñ ta de mau com a Vivo aproveita e curte o Legião Urbana. Afinal, vc ainda tem como fazê...
a gurizada neim sabi queim eh

não sei, não
acho que tem alguns que sabe desse faroeste de branco



Faroeste Caboclo





Faroeste Caboclo
Legião Urbana



Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu

Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da sertania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu

Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar

Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão

Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze era professor.
Aos quinze, foi mandado pro o reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.

Não entendia como a vida funcionava
Discriminação por causa da sua classe e sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.

E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar

Dizia ele: "Estou indo pra Brasília
Neste país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar"

E João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal

"Meu Deus, mas que cidade linda,
No Ano-Novo eu começo a trabalhar"
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga

Na sexta-feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô

Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar

E o Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar

Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que, como Pablo, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado, a plantação foi começar.

Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade:
"Tem bagulho bom ai!"
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali.

Fez amigos, frequentava a Asa Norte
E ia pra festa de rock, pra se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar.

Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
"Vocês vão ver, eu vou pegar vocês"

Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general

Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu

Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
"Maria Lúcia pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter"

O tempo passa e um dia vem na porta
Um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta do João

"Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cu na mão

E é melhor senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião"
Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse:
"Você perdeu sua vida, meu irmão"

"Você perdeu a sua vida meu irmão
Você perdeu a sua vida meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
Eu vou sofrer as consequências como um cão"

Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar

Falou com Pablo que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Planaltina

Mas acontece que um tal de Jeremias,
Traficante de renome, apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que, com João ele ia acabar

Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar

Jeremias, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Se dizia que era crente mas não sabia rezar

E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
"Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já tá em tempo de a gente se casar"

Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez

Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
Amanhã às duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou

E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

E o Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora e o local e a razão

No sábado então, às duas horas,
Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo, começou a sorrir

Sentindo o sangue na garganta,
João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
A gente da TV que filmava tudo ali

E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
"Se a via-crucis virou circo, estou aqui"

E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester-22
A arma que seu primo Pablo lhe deu

"Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é
E não atiro pelas costas não
Olha pra cá filha-da-puta, sem-vergonha
Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão"

E Santo Cristo com a Winchester-22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor

E o povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade
Não acreditou na história que eles viram na TV

E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz...

Sofrer...

Composição: Renato Russo




quarta-feira, 15 de maio de 2013

Eu sinto o amor

DONNA SUMMER


I feel love




Hot Stuff





Nos Tempos de Damas e Ferros

O mundo está a desfazer-se para seis trabalhadores desempregados, da indústria de aço de Sheffield. Mas um deles já aguentou o suficiente. Determinado a vencer o sistema, Gaz (Robert Carlyle) elabora um plano que fará de si e dos seus amigos, ricos - e rapidamente! Ele convence-os que um número de strip os salvará da sua miséria, especialmente quando esse número revela - ou tudo ou nada!

À medida que os nossos heróis locais se preparam para a grande noite, vai-se espalhando a notícia de que um número muito especial, vai abalar a cidade do aço.

O realizador Peter Cattaneo combina comédia negra, cenas hilariantes e todo o absurdo de seis homens que tentam mantem o seu corpo, a sua alma e a sua dignidade juntas. Bem, mais ou menos!

O filme inglês com mais sucesso de todos os tempos, Ou Tudo Ou Nada, incorpora também uma fantástica banda sonora, com sucessos dos Hot Chocolate e de Tom Jones.

Isto é o drama britânico no seu modo mais cômico possível!


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Palavra Cantada: "Criança não trabalha, criança dá trabalho!"

Gosta de criança e de sopa?

Paulo Tatit & Sandra Peres


Sopa





Criança Não Trabalha





Linhas e Letrinhas




Vem dançar com a gente



Senhor Minhoco e Dona Minhoca mostrem para as crianças, cantem juntos!
Cantar pode dar certo!


sábado, 11 de maio de 2013

Sempre chega: a vez de sentá pra conversá


Ensaio 1B
baitasar
A avó descansou os olhos e abriu um vazio no coração de cada um dos seus amores: desocupou a vida. Mais um aviso aos inquilinos que não tem nada para sempre, mais dia menos dia chega a vez de sentar para conversar sobre a denúncia vazia, a quebra do contrato sem justificativa alguma. Não tem outro jeito de ser, há de chegar à vez de virar lembrança. A avó ensinou que as pessoas podem escolher as lembranças do desprezo ou bajulação que querem deixar, ela escolheu as lembranças do amor, mas não pode mudar os comentários da memória sobre os olhares da fábula. Até que tudo se perde em uma imensa poeira. Tudo vira pó ou barro.
Uma doce loucura de avó.
É assim, tudo que é sangue bom da avó carrega os seus conselhos de aviso, a sua boniteza de ser a vida que se precisa viver. Uma vida com os mistérios e a poesia do encantamento, com segredos e xingamentos, silêncios, e muitos gritos.
Ela estava ali, deitada, quieta, na cama dos seus amores, parecia que poderia abrir os olhos para comentar os lamentos, falar mal das cerimônias preparadas, As vista não carece de se enchê com tanta lamentação de desgosto, é preciso dizê da vida vivida e do contentamento, assim, com tanto soluço de choro, a avó vai parecê mais triste qui alegre, isso não é bão, pra modo de fazê a separação do espírito dessa carcaça velha... tô fazendo gosto de encontrá os mais velho.
As tiazinhas já tinham providenciado a lavação da avó, usaram panos e óleos, os cabelos brancos tomaram a forma de muitas tranças, embelezadas por contas coloridas. A cabeça da avó estava livre e os cabelos trançados. Cuidaram de não desmanchar o sorriso de amor e paciência na moldura da pele sem rugas. A avó estava fazendo a passagem do seu jeito, as filhas e as netas arrumavam um corpo desabitado, o jeito doce e harmonioso, por certo, rezava conversas de alegria com os mais velhos. Não tinha como saber, não tinha como duvidar.
Quando vestiram a avó com roupa sem a cor da alegria, um pano grosso e sem graça, fiz reclamação e disse que a avó tinha que ter vestidura fúnebre com mais boniteza. Ela é muito vaidosa.
A tia Vanda respondeu com voz de alicerce
—        É as ordens da nêga Laetitia, avó da avó da mãezinha. Esse jeito simples de vesti é pra modo do Capitão não se perdê de encontrá a avó. Ela qué sê vestida pra sê achada.
Depois, sentou na cadeira de balanço, me pegou no colo, sorriu com a latência dos lábios carnudos e chorou a lamentação com as vistas. Subi meu olhar até a tia, depois me balancei no seu pescoço, até pertinho da sua lamentação, então, consegui beijar as águas dos olhos, Tia, os espíritos não podem ver o modo de vestir da avó, ela desocupou da vida e desse corpo, são os olhos de quem fica que veem a avó vestida com tristeza, queria mais contentamentos na apresentação de despedida da avó
—        Ah, fio sobrinho, a minha vista só enxerga tempo muito atrás, as minha lembrança tem cantoria, aroma da feijoada, cheiro da boca, gosto do beijo, as vista doce, as mão carinhosa, os cabelo arrumado, perfumada, o tempo que só volta nas minha vista. A mãezinha agora não é mais nossa, ela já fez despedida antes de perdê o último suspiro.
Queria contentar a tia, mas não conseguia manter a secura da vista desarmada. Queria a quentura daquele abraço que só as mães sabem exagerar. Coloquei minha cabeça em seu peito. Fechei os olhos, precisava descansar as vistas de vê a avó morta. Sentia os dedos da Vanda enfiados no meu lugar de orgulho: no meu cabelo duro. Escutava a voz sossegada da tia Vanda
—        Neinho, ocê lembra da vez que tu mais o Tigão, que o Espírito dos Mais Velhos tenham o moleque junto e protegido, deram fumo de corda que não era o fumo de fumá da mãe?
Sorri com as vistas, mas a lembrança do Tigão me fez mais quêdo, as duas tristezas se juntaram. Era muita saudade junta, muita pergunta sem resposta. O avô não sabia, nem nunca confirmou que sabia, mas tinha desconfiança que quando terminô... terminou. A avó tinha cogitativo de mais confiança, Os espírito se junta depois da separação das carcaça, senta no chão, na volta da fogueira, uns esfrega na mão, outros toma um licor da cachaça, tem os qui caminha e faz reboo com os pé, outros só arrasta daqui pra lá, e de volta, sem zunideira, os em pé tá esperando a vez de sentá pra conversá. Num tem pressa nem lamentação, chegô o tempo das providência.
Eu não sabia, mas gosto de pensar que o Tigão está no colo da avó, levando xingamento por causa do pouco causo que deu aos aconselhamentos da preta velha, e nos pés da avó tá guardado o meu lugar de ouvir
—        Lembra de ouvi a avó, no outro dia, muito pasmada, chamá os dois moleque?
Concordei com a cabeça, eu e o Tigão parecíamos dois guris cagados de medo.
A tia sabe como a avó sabia tudo e muito mais, Meu fio neto, senta aqui nos pé da avó e escuta com atenção: sabê escutá é de muita sabedoria e dá mais mão de autoridade qui sabê falá, queria conseguir lembrar tudo que a avó disse, mas as lembranças vão ficando embaraçadas com a tristeza, até parece que uma atrapalha a outra. A avó gostava de tá sentada nessa cadeira, fazendo balanço, eu gostava de saber que a avó ficava sentada se balançando
—        Quando me contô essa história do fumo de corda, se ria de tê tosse até engasgá, só de lembrá chorava de tanto ri, Minha Vandinha, tudo qui é gente tinha qui fumá o baseado desse fumo, uma vez, uma outra vez, e rí da própria alucinação, da imbecilidade. Minha fia, pode creditá, esse mundo ia sê outro.
Tia, eu e o Tigão passamos um tempo danado caminhando levinho, ficando escondidos nas frestas, se a gente soubesse da aprovação da avó, não tinha tanta confusão, até arrumava mais daquela corda
—        Isso prova que ocês não tinha conhecimento da avó de ocês, tê medo não é conhecê.
Passei a noite no aconchego do colo de tia. A luz amarelada sobre a cabeceira da cama era a única luz que iluminava, testemunha da vida da avó que sempre lhe foi agradecida, Essa luz do tipo fusquifusqui, só mostra o qui é preciso mostrá.
Nos primeiros lamentos do dia, abri os olhos devagarinho, esticado num incontrolável bocejo, uma das mãos à boca, a outra esfregava os olhos, deslembrei que a avó tinha desocupado a vida, até que o cheiro da morte me entrou e revelou o homem que eu era, o meu pertencimento, Bom dia, minha tia, o calor do colo me enrolou na preguiça
—        Bom dia, meu fio.
A penumbra no quarto da avó parecia mais assombreada que iluminação disfarçada em velório, a luz amarelada se mostrava mais cansada com a missão de vigiar defunto, eu estava exausto, cheguei a querer que aquelas despedidas acabassem logo. No instante seguinte, precisei pedir perdão à avó, ela havia de entender, E a avó? perguntei como se estivesse recém chegado pra visita da cortesia
—        Já se foi...
Pra onde? desculpe tia, eu sei que a pergunta é chata e boba, como a tia havia de saber
—        Se foi pro lugá de morá com sua gente, o seu Capitão.
A tia não se explica de uma vez só, parece que espera a pergunta pra responder quase nada, não é justo deixar a solução escondida, logo a tia, que nunca foi de obedecer a avó
—        Não diz bobagem, moleque. Sua tia esquecia de obedecê, mas nem sempre, vez que outra, isso é bem diferente de sê rebelão. O meu atrevimento nunca foi com sua avó, sempre foi com minha mãe.
Então, por que não diz o que aconteceu? Onde tá a avó? A cama da avó esvaziou
—        Ganhô encantamento quando nouteceu, ou foi alimentá a vida na outra vida, ou não quis tropeçá no amanhecê, ou foi embora com o Capitão. Ocê escolhe...
O neinho prefere acreditar que o amor daqueles dois conseguiu se combinar e ressuscitou. Onde já se viu, levantar depois de morta? A avó não devia tá no seu ajuizamento das ideias. O neinho devia ter ficado vigiando a noite.
—        Ocê não creditô no acreditá da sua avó, nem lembra o que sonhô, vive mais triste que a própria dô. Gosto de sonhá que o amô chego de vez pra avó.
Como a gente faz um enterro sem a avó presente? Os tiuzin tão esperando pra vê a avó de corpo pra visitação, não sei explicar o acontecido
—        Não precisa enterrá o que não morreu, os irmão sabia que a mãezinha não ia ficá. O que ela queria deixá, ela deixô: as lembrança das palavra. Pediu pra ocê não esquecê que a vida vai vivê, não vai fazê ocê sonhá, o sonho é d’ocê, não é da vida.
Pareceu que levei uma surra, queria voltá pra dormí e sonhá da vida.

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Ensaio 37 - Amo ocê, avó... A avó sabe
Ensaio 2B - Sô do lado de vendê, pegá o dinheiro... cuidá de vivê