domingo, 3 de agosto de 2014

Histórias de avoinha: Josino - As Contas da Lua 02B

Josino

as contas da lua
Ensaio 02B – 2ª edição 1ª reimpressão

baitasar




Gosto de tu, minha preta. Mais gosto de sê assim: os murmúrio do contentamento, as bobice do amô, as conversa do gosto derramado, é bão ficá agarrado, um nó no otro, depois dormecê enfiado nas vista, nos braço das folha qui a ventania derrubô

Na pedra do amô, eu e o meu preto.

Isso, minha preta. Bem assim, dormecê nos balanço da pedra é mais qui bão, é como não precisá fechá as vista pra sonhá

Dormece... dormece, meu homem.

Josino se revirô na rede de pedra encapada com o pasto das folha solta na ventania, desaninhô a cabeça do colo perfumado de amô, quis oiá as estrela, escutá com atenção a barulheira do mato misturada com a falação doce da sua mulhé.

Milagres lhe despertô a bisbilhotice das carne qui qué vivê, desviô as vista do trabalho. O homem virô, revirô e virô, procurava as vista da mulhé, mais ela não lhe oiava, tava quieta.

A boca da noite se fechô, as dô do dia tava chegando com o padecimento da cegueira desalmada. A voz da mulhé sumindo, o peito desacalmô

Escuitá com atenção as palavra do siô.

Josino levô otro susto quando arregalô os óio, o primeiro foi com o estalo do chicote, depois foi descobrí qui não tava onde queria tá. Ainda achô qui tava num sonho muito ruim e qui já ia acordá na pedra do amô. Pediu ajuda pra mulhé dos milagre, queria abrí os óio e desdormí daquele estorvo de sonho ruim

Acorda, nêgo safado. Tá querendo dormí mais qui a noite. Pula dessa rede, o chicote estalando na volta dos preto, procurando as carne pra riscá, marcá com as força enfuriada da mão qui ensiná obedecê, nêgo preguiçoso tem qui dormí no chão frio da pedra.

O chicote estalando, fazendo o chão gemê. Era preciso levantá, arrastá as corrente sem vida, continua indo e vindo sobre os rastro do suô e as trilha do sangue. Não tinha pra quem reclamá. Esse mundo não ia lhe ajudá, os desalmado desse mundo não queria só se aproveitá, eles queria se serví nas carne preta

Onde ocê anda, minha preta, a pergunta do Josino era o seu pedido de socorro, ele não sabia pedí ajuda, não ia sê ajudado. Milagre não acontecia na senzala, num lugá pra depositá as carne preta, onde a Siá das Dô não queria aparecê. Ela ficava guardada na guarnição de pedra qui o Josino levantava, caindo de joelho quando o chicote estalava. E foi acontecendo qui a senzala virô o terreiro da resistência, onde os espírito do conforto ia fazê o seu trabalho de sentinela e cuidado, semeá a esperança na luta

O viúvo da vestimenta preta e o fiscal só olham com os olhos da cara, o siô Clemente acordô reclamando, antes do café daquela manhã, gostava de intrigá contra o siô padre e o siô chefe das madeira, tinha cisma quando as vista dos fiscalizadô caia nele, gostava de atacá antes de sê atacado, a pimenta sempre é bão qui fique no gosto dos otro

Por que o sinhô meu marido tem implicância com o sinhô padre? Essa impertinência não lhe fica bem, falava do seu lugá de esposa preocupada com a falação desmedida do marido. Parô a conversa para chamá a escrava Gabriela

O que acontece que o café do sinhô ainda não foi servido? O sinhô Clemente tem os compromissos do dia esperando, a escrava Gabriela lhe respondeu qui a ordenha do leite atrasô. O preto Sebastião qui fazia o serviço... morreu dormindo

Essa é uma boa morte, a sinhá minha esposa não acha, o siô gostava de cutucá a sua onça, não lhe importava o tamanho da vara. Levantô e caminhô na volta das duas, não se apresse, eu lhe espero.

A sinhá Casta dispensô a escrava, mas qui voltasse assim qui o leite ficasse pronto

Mas dona Casta, o homem não lhe parece um viúvo, e fez um intervalo de quase um minuto em silêncio, um aborrecimento ensaiado, inté se resolvê de completá, assim todo de preto?

A siá esposa do siô Clemente fez o siná da cruz e credo, e mais não disse uma qui otra palavra. E se disse, não dava para escutá, mais, por bem ou por mal da siá, quem havia de escutá ia sabê o qui ela tinha dito ou não dito

E, se por acaso, que o Senhor do céu e desta terra não me ouça, o sinhô ficar viúvo com o meu finamento, não vai usar as roupas de viuvez do sinhô padre?

O siô Clemente deu mais uns passo pra lá e cá, blasfemô a morte tranquila do escravo Sebastião, onde já se viu um negro morrer dormindo e esse atraso do café e essa conversa absurda com sinhá Casta, parô os passo e deu grito na direção da cozinha

Gabriela, o diabo desse café vem ou não vem, a mulhé saiu apressada da cozinha pra lhe dizê qui os preparativo tava terminando, logo vinha. Mais otros passo pra cá e lá, levava as mão agarrada uma na otra, nas costa, parecia não sabê nem querê sabê, mais continuava falando com divertimento

Mas que conversa mais sem proveito, é só um chamamento de divertimento com a aparência do homem. Minha esposa não precisa se incomodar tanto, no ponto de me imaginar viúvo. Isso é assunto que não cabe adivinhação. Cada um faz o que acha que deve fazer e tem o que plantou para ter, num acontecido deste não quero me ver de um jeito ou de outro.

Gabriela tinha bisbilhotice de escutá os assunto do siô com a siá. Ficô com os pé fincado no chão, feito duas estaca enfiada nas carne da terra, as palavra nos entendimento das orelha chegava inté a cozinha. Ela sabia escutá, entendê... e sabia ficá quieta

Atiná antes é meió qui atiná depois, ela sabia qui não tinha otro feitio dos preto sabê das trama dos coligado branco. Tremia, mais não arredô os pé do lugá de vigiá. A porta inté podia parecê fechada, mais não tava. Os dois inté podia parecê qui tava sozinho, mais não tava. E pra modo de clareá esse assunto, eles não se importava com o qui os preto escutava, não ia fazê nenhuma diferença sabê antes ou depois, ou não sabê

Qual a razão para tanta reclamo do sinhô meu marido, a pergunta da siá Casta mostrô pro siô qui ela não tava com a vontade de encerrá aquela conversa. Ele lhe oiô com feitio de cansado, como se a razão da queixa fosse mais uma trama enfadonha pra siá entendê

Minha esposa, parô a falação pelo meio, ele gostava de fazê uso desse costume, o siô era manhoso nas coisa de dizê e não dizê, inté qui continuô, tudo tem um valor de preço.

Tudo, lhe perguntô a siá. Tinha na voz um feitio estranho qui o siô não percebeu. Ela esperô a confirmação

Tudo.

E não perdeu a motivo pro atrevimento da pergunta

Até o casamento?

O siô Clemente continuô com as mão acorrentada nas costa, era o seu gosto caminhá acorrentado assim, os passo indo e vindo com as mão escondida. Não colocô as vista na siá. Ela ia tê oiado qui o siô tava desalinhado da boca e dos óio. O qui falava não era o mesmo qui os óio mostrava. A voz adoçada não combinava com a frieza das vista

Claro que não, minha esposa. A sinhá tem precisão de ter preocupação com os filhos. É assim que as mulheres enchem suas vidas. Os filhos. A poesia. As conversas sem importância e preocupação.

E quando o sinhô meu marido acha que vamos ter esses filhos?

O siô Clemente parô as andança, foi preciso pará de andá pra lá e cá. Oiô siá Casta, mais Gabriela jurava qui ele não sabia oiá, não atinava vê. E não queria aprendê. Não sabê pode sê bão ou pode não sê, mais não querê sabê é como ocê se escondê de atiná de vê. Não querê aprendê não é bão, mais tem vez qui pode sê

A sinhá minha esposa vai ter os filhos que Deus lhe deixar ter.

Ela tava sentada esperando escutá otras palavra, mais não ia escutá essas otras palavra

Mas se o sinhô meu marido continuar com as brincadeiras...

Eu sei, eu sei... e lhe peço desculpas, ele não a deixô terminá de falá, peço perdão, não é difícil dizê as palavra que mente, eu só quis dizer que o problema do preço é quando os olhos não dão um valor que se aceita como preço.

Gabriela podia sentí o esforço da siá Casta tentando fingí não entendê o qui sabia nem apetecia confessá qui sabia. O preço podia não sê do valô, mais era preciso continuá parada na jaula.

O siô sentô. Deixô as mão aliviada nos joelho.

A siá levantô e se afastô, queria lhe mostrá as costa, não queria revelá os óio. Ia continua obedecendo o siô nas suas vontade, se abrindo às suas ordem, aos feitio desajeitado. Levô muito tempo inté tê coragem de abrí as vista e vê o qui nunca quis vê, ele foi comprado.

Tudo tem um preço.

Queria lhe dizê qui era nojento ele coloca suas carne podre na sua cama e se derramá. Mais ia fingí qui ele podia continuá, ela aceitô o preço qui não deu valô. Caminhava com os braço pendurado nos lado do corpo esfriando, queria uma porta na parede, bem na sua frente, pra saí caminhando sem voltá. Aprendeu qui não podia falá, precisava deixá a leoa trancada na jaula. Podia não gostá da jaula nem de ficá parada, e não gostava, mais não ia sê devorada sozinha

Não entendi, sinhô meu marido...

O siô oiô pra mulhé qui mostrava as costa, sem nenhum herdeiro pra se desentediá, nem qui fosse uma menina

A sinhá Casta não acha que esse casarão tem necessidade do choro e gritaria das criança para se alegrar?

É uma boa lembrança, sinhô meu marido, mas quando vamos fazer o pedido à Deus, uma pergunta direta qui mulhé de respeito não devia se metê a fazê, mais devia se contentá em esperá acontecê

Deixa assim, é melhor, isso é preocupação do homem, ele pareceu se incomodá com as palavra clara e direta da siá. Depois, fez silêncio e esperô siá Casta lhe virá as vista. Ela aceitô o jogo e ficô como ficô, não queria oiá a mentira com as vista, era suficiente escutá.

Ele esperô ela se cansá de colocá as vista pra fora da janela. Quando se deu por conta qui ela devia tá encabulada com aquela palavraria, tomô como sua responsabilidade de homem da casa fazê a última frase da conversa

A sinhá precisa encher o tempo do pensamento e da preocupação com as coisa da casa e da cama familiar, parô de falá e fez silêncio dos pensamento qui continuô pensando, não me adianta de nada uma esposa parada que não me dá herdeiros nem ajuda nas conversas.

O assuntá do marido sobre a casa fez a siá Casta lhe voltá as vista, esse era assunto qui dominava, podia falá sem deixá o marido malcontente, subiu o tom do palavrório

O sinhô meu marido tem alguma preocupação com as coisa da casa, ele lhe oiô e pareceu esquecê de medí o qui tava pensando, ela perguntava, ele perguntava, pareceu qui os dois devia tê feito mais pergunta, um no otro, antes do acerto do preço e do valô do casamento com o falecido sogro

As suas contas da lua não têm valor de confiança. A sinhá não acerta as próprias contas nem as contas da negra do Josino. As duas ficam no come e dorme sem serventia de dar uma cria. O descaso do Josino tenho como resolver, mas com a sinhá não tenho solução, as duas mulhé abaixô as vista, a qui tava na sala e a qui escutava na cozinha. Não era só da tristeza qui elas não falava, elas não falava da preocupação qui cada uma sentia, os rumo do humô do siô das duas podia mais atrapalhá qui ajudá a vida

A sinhá não deve ser boa com as contas ou não entende da lua. Toda vez que a sinhá apontou à lua... cumpri meu dever, a mulhé preta sentiu pena da otra, qui escutava de perto as acusação do siô, ele mesmo com fieira de fio e fia desfilando na estância, mulato mais escuro, multa mais clara, e ela sem um branquinho pra mostrá

Vou lhe conseguir um filho merecedor do seu sucessório. Tenho fé que tudo se resolve.

O siô dono de tudo qui andava e falava na estância não pareceu se importá com as promessa da sià, caminhô inté o armário das aguardente e serviu no copo a cachaça da cana. Tomô a primeira medida dum feitio só, serviu outra medida e se derramô apressado na garganta e nos rococó antiquado da camisa. Na terceira medida já tinha perdido a pressa

Antes do café, sinhô meu marido...

É seu dever patriótico me dar um filho!

Tenho fé que...

Esqueça o padre! Isso é entre a sinhá e eu. Não me traga o padre na cama! A sinhá me fez um homem impaciente e aflito com as suas carnes sem vida que não sabem me avivar. A sinhá carece de acertar as contas, melhorar as conversas com a lua e me avisar!

O café siá Casta.




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