OBÁ
Reginaldo
Prandi
Obá é
possuída por Ogum
Obá
escolheu a guerra como prazer nesta vida. Enfrentava qualquer situação e assim
procedeu com quase todos os orixás. Um dia, Obá desafiou para a luta Ogum, o
valente guerreiro. O ardiloso Ogum, sabendo dos feitos de Obá, consultou os
babalaôs.
Eles
aconselharam Ogum a fazer oferendas de espigas de milho e quiabos, tudo pilado,
formando uma massa viscosa e escorregadia.
Ogum
preparou tudo como o recomendado e depositou o ebó num canto do lugar onde lutariam.
Chegada
a hora, Obá, em tom desafiador, começou a dominar a luta. Ogum levo-a ao local
onde estava a oferenda. Obá pisou no ebó,
escorregou e caiu.
Ogum
aproveitou-se da queda de Obá, num lance rápido tirou-lhe os panos e a possuiu
ali mesmo, tornando-se, assim, seu primeiro homem.
Mais
tarde Xangô roubou Obá de Ogum.
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Obá corta a orelha induzida por Oxum
Obá
e Oxum competiam pelo amor de Xangô. Cada semana, uma das esposas cuidava de
Xangô, fazia sua comida, servia à sua mesa.
Oxum
era a esposa mais amada e Obá imitava Oxum em tudo, inclusive nas artes da
cozinha, pois o amor de Xangô começava pelos pratos que comia. Oxum não gostava
de ver Obá copiando suas receitas e decidiu vencer definitivamente a rival.
Um
dia convidou Obá à sua casa, onde a recebeu usando um lenço na cabeça, amarrado
de modo a esconder as orelhas.
Oxum
mostrou a Obá o alguidar onde preparava uma fumegante sopa, na qual boiavam
dois apetitosos cogumelos. Disse à curiosa Obá que eram suas próprias orelhas,
orelhas que ela cortara, segredou cumplicemente. Xangô havia de se deleitar com
a iguaria.
Não
tardou para que ambas testemunhassem o sucesso da receita.
O
marido veio comer e o fez com gula, se fartou. Elogiou sem parar os dotes
culinários da mulher. Obá quase morreu de ciúme.
Na
semana seguinte, Obá preparou a mesma comida, cortou uma das orelhas e pôs para
cozinhar. Xangô, ao ver a orelha no prato, sentiu engulhos. Enojado, jogou tudo
no chão e quis bater na esposa que chorava.
Oxum
chegou nesse momento, exibindo suas intactas orelhas.
Obá
num segundo entendeu tudo, odiou a outra mais que nunca. Envergonhada e
enraivecida, precipitou-se sobre Oxum e ambas se envolveram numa briga que não
tinha fim.
Xangô
já não suportava tanta discórdia em casa e esse incidente só fez aumentar a sua
raiva. Ameaçou de morte as briguentas esposas, perseguiu-as. Ambas tentaram
fugir da cólera do esposo.
Xangô
procurou alcançá-las, lançou o raio contra elas, mas elas corriam,
embrenhando-se nos matos, ficando cada vez mais distantes, mais inalcançáveis.
Conta-se
delas que acabaram por ser transformadas em rios. E de fato, onde se juntam o
rio Oxum e o rio Obá, a correnteza é uma feroz tormenta de águas que disputam o
mesmo leito.
[184]
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Leia também:
XX – Mitologia dos Orixás: Oxum [186] [187]
Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor
titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de
livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do
Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a
Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma
brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o
Trovão; Oxumarê, o
Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida
assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.
Prandi, Reginaldo.
Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São
Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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