Ensaio 29B – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
O siô Joca não tinha bando de ataque ou defesa: as milícia de proteção dos negócio e da família, tão encontradiça entre as gente superiô preocupada em se resguardá das ideia e da felicidade dos reles vivente. Gente superiô qui gosta qui se baba de usá como trapo de chão os rele vivente. O Joca inté podia tê medo e o medo qui tinha não era medo de perdê a riqueza, mais de sofrê qualqué arranhadura nas carne. Isso ele não suportava, a dor física nele ou nos otros. De todo jeito, não apreciava usá pra mocinho essas milícia qui bem podia sê usada pra bandido. Sabia qui se ocê começa usá as força fora da lei não consegue mais voltá pros trilho dela. Os dormente depois qui entorta, torto fica. As justiça e as injustiça caminha tudo muito junto, é preciso acredita nas pulícia e mostrá o seu gosto de ajudá. Mostrá gosto com as pulícia é bão pro negócio do Joca Lampião.
Ele não tinha terras à venda no Paraíso. Eu sei, ocê sabe e ele sabia: o Paraíso não tá à venda e, pelo qui se sabe, não é feito com as terra da própria terra, são otras terra. Mais tem gente qui aceita confiá em cada coisa, qui é sempre bão avisá qui o Joca não vende as terra do Paraíso, ele só tem relacionamento bão com quem vende.
Nem se podia dizê qui ele tinha influência nas força militá do Império. Apenas, não descuidava de oferecê os cuidado pra iluminá tudo qui era lugá de aquartelamento das tropa, fazia as coisa na sua cobertura de interesse. O Joca não manda nas tropa do Império, ele só tem relacionamento bão com quem manda.
E vez qui otra, pra não ficá desconhecido pela razão do esquecimento ou parecê apartado dos amigo, comparecia na missa domingueira e aparecia no Paço das Casa Política e Militá da Villa. Tinha negócio com toda gente, afinal, depois do escurecimento do dia era os seus lampião qui iluminava as treva, naquele fim de mundo.
Otra das incumbência do Joca com as suas visita era entregá os imposto devido e os donativo qui a bolsa carregava. Não deixava atrasá. Chegava com tempo de sobra pra ficá um pouco mais e alongá os dedo de prosa. Levava e deixava os assunto em dia. Apesá do esforço feito, domingueira após domingueira, imposto devido e pago, já tinha se apercebido qui não ia subí nas graça da fidalguia. Recebeu aconselhamento de explicação qui faltava tê mais vontade de gostá dele mesmo, querê se aparecê como o mais forte, gritá mais alto. Mostrá um ar de aborrecimento com os preto e tédio com os pobre. Fazê vale a sua vontade inté na força se era preciso. Ficava na média entre a nobreza e a escumalha. Não pisava no pescoço, mais também não libertava. Não tinha nome entre as flores do bem pra sê bem visto.
Gostava de contá os causo do tio Biloca qui não era uma recomendação de fidalguia, serviam pra mostrá qui tinha jeito mais criativo de vivê. Mais a nobreza não tem interesse em nada criativo qui não seja pra serví seus impulso de prazê nas aparência da vida. O desgraçado do comerciante lampião, como era reconhecido pela fidalguia, permitia a formação de pecúlio entre os preto da sua casa, assim, os preto tinha os meio pra indenizá o seu valô de alforria. Isso, a fidalguia não perdoava, não era exemplo pra sê dado.
A Casa dos Lampião e Lamparina, propriedade do Joca Lampião, era um casarão de boa altura qui recebia os carregamento feito pelo rio, tinha lampião pra todo gosto e o montante numerário do compradô: sebo, óleo e vela. E os tamanho variava com as necessidade e posse do compradô. Tudo guardado no porão pra modo de meió sê conservado dos óio e das mão dos xereta. Mercadoria guardada com descuido perdia o valô e descumpria a regra capital do comércio: quem compra pra vendê qué tê lucro; então, o bão comerciante tem tino pra ganhá mais do qui perdê, na guerra entre o lucro e o prejuízo, baixa o preço quando compra e sobe o valô na venda. Quanto mais maió essa diferença meió é o negócio. Alguém ainda há de escrevê qui tudo no mundo é música ou reza, o Joca tinha com ele, sem tê muitas leitura, qui tudo no mundo é reza ou pecúlio.
Por causo disso, as mercadoria da casa não ficava guardada no galpão dos fundo. A umidade na beirada da praia da Arsenal se arrastava pelo chão e subia nas parede. No tempo da frieza mais dura, a aragem ficava tão moiada qui escorria nas parede, inté parecia qui brotava. Não era lugá pra conservá guardado os lampião. O galpão ficô desocupado um bão pedaço de tempo, inté o Joca lembrá de fazê ajutório pro siô padre. O galpão recebeu alguns catre de vara. As abertura foi fechada. Mais uma varredura no chão de terra. Depois de tudo pronto, virô o lugá onde ficava hospedado os preto da obra Santa.
O galpão foi construído nos tempo de antes com paredes de barro na grossura de um palmo. Não tinha pedra nem tijolo. A cobertura de telha-vã ficava apoiada no madeiramento do telhado em paus a pique. Ali, o siô Joca hospedava bonançoso os preto do siô padre. Ele considerava como um donativo de pecúlio. Um pequeno negócio qui ele não esperava lucrá, quem sabe, apenas um pequeno ressarcimento na hora de partí pros campo de cima, propriedade vitalícia do Nosso Siô.
Nas reunião com os comerciante da Villa, gostava de repetí qui a única coisa certa, depois da certeza da morte, é qui quem não plantá não vai colhê, mais tem qui sabê escolhê o qui vai plantá, só se colhe o qui se planta
Um luxo de senzala, sinhô Padre.
Deus lhe abençoe, Joca. Tenho certeza da sua boa-venturança e glória no Paraíso do amor do Nosso Sinhô, o siô padre entrô, como vez qui otra entrava, pra fazê averiguação de reconhecimento. Pediu qui fosse estendida algumas rede de dormí. E no chão fosse feita mais cama de vara, mais um qui otro preto tava pra chegá, os negros que não se importam do seu uso na obra Santa merecem um tratamento melhor, o sinhô não acha?
Proibiu o uso de castigo e exigiu um capitão-do-mato desarmado, mais cuidadoso com os qui chegava e saia. Queria os cumprimento das hora marcada, mais sem as marca da chibata. Ele queria dá aparência de lugá livre da escravatura, mais era só um disfarce da realidade. O catre de vara do Josino tava desocupado e mostrava qui ali não dormia nenhum homem livre.
Antes de saí, abençoô o lugá de barro. Os preto continuava deitado com as vista fechada, eles parecia dormí. Um pequeno lampião aclarava de amarelo as parede de barro e o chão de terra. Virô as costa e saiu com o Joca atrás. Na porta se parô pras despedida
Joca, até mais.
Até mais, sinhô Padre.
Que o Senhor o abençoe... em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Amém, e o padre com vestimenta de viúva saiu sem oiá pra trás.
O siô da Hora era um homem livre, mais não achava prudente encontrá o siô padre, naquelas horas de começo da noite. Era mais meió encontrá o siô padre na reunião já marcada. Esperô pelo sumiço do funcionário rezadô das domingueira
Boas noites, Joca, o dono dos lampião arrepiô-se, tava com as vista no sumiço do siô padre, não gostava de sê agarrado desprevenido de cuidado. Virô as vista na direção da trilha qui vinha da Arsenal
Quem vem, daí?
Afonso da Hora, Joca!
Mas o que se passa, sinhô da Hora?
Não interessava ao siô do Josino trocá confidência com o Joca Lampião, de modo qui fez o qui meió sabia fazê: mentiu. Oiô pra trás procurando algum rastro do Josino ou do fio bastardo. Nada. Os dois tava ainda na Arsenal
Estava procurando um bom lugar para jogar algumas linhas de pesca, o otro se mostrô com surpresa
Não sabia que o sinhô gostava desse divertimento...
Pois fique o amigo sabendo que não tem melhor divertimento, depois das distrações e desvios das moças, falava e calculava o trajeto do siô padre. Ia dá um tempo maió pro viúvo tomá o seu rumo. O Joca qui gostava de prosa, e não perdia a conjuntura e a conveniência do momento, alinhavô a voz e fez um convite
Saia da trilha e chegue na luz do lampião, os dois sorriu um do otro, o sinhô da Hora conheceu o tio Biloca?
Não, mas pelo olhar do Joca deveria ter conhecido.
Um vivente mui especial, o Joca começô contá otro causo dos causo acontecido com o tio Biloca, cada vez qui contava as lembrança do tio Biloca, descobria que só morre quem não tem lembrança pra sê lembrada. O tio Biloca inté pareceu tá sentado de lado
O vivente gostava de viver do seu jeito sem procurar atropelo na vida. Ajudava todos que podia e procurava convencer os contrários que era melhor não odiar, caso o ouvinte não se convencia das argumentação e alterava os grito da voz, ele não desistia, continuava os ensinamentos da vida com felicidade, coisa que aprendeu caminhando pela escuridão das pescaria: odiar... só a miséria. Mas no entrevero era bom ter o tio Biloca do seu lado. Gostava da pescaria no esquecimento da noite. Em uma das muitas pescarias de sonâmbulo, o tio Biloca esperou cada pescadô escolher um lugar de acomodação e foi procurar o seu. Então, lançou a linha e sentô no barranco. O restante da tropa dos pescadores já tinha feito o mesmo. E foi uma noite de muitos peixes. Era enfiá a isca no anzol, lançar a linha e o cardume se agarrava como se fosse um só peixe. Uma enorme baleia de peixes famintos. Foram tantos lançamentos que perdemos a contação. Naquele entrevero da escuridão, aos gritos de peguei mais um, peguei outro, o tio Biloca ficô esquecido. Mas ninguém da importância do tio Biloca consegue ficar esquecido por muito tempo, o seu silêncio provocou nossa preocupação. Já passava do meio da noite quando senti falta da movimentação do tio Biloca. Ele era um sujeito esparramado. Não parecia ser dele aquele silêncio. Larguei a linha e mirei meus olhos no seu lugar de pescaria. Lá estava ele, um vulto deitado na barranca. Imóvel. Chamei o seu nome. Não respondeu. Tornei a chamar. Nada. O meu coração primeiro ficô pequeno, quase parado, depois disparou mais que a corredeira das pernas. Senti vontade de vomitar. Corri e saltei rios e montanhas, até chegar no tio Biloca
Tio!
Psiu... foi o que ele disse enquanto levava o dedo fura bolo à boca, todo amarelado do palheiro
O sinhô está bem?
Mais melhó não tem como tá, olhei na volta, nenhum peixe... a linha na água. Quieta. Dormindo. Achei estranho, nenhum peixe agarrado na linha do tio Biloca
Mas tio, como pode o sinhô não ter fisgado nenhum peixe?
Ele sentou. Não tinha pressa de prestar resposta de explicação. Ninguém se importa muito com a aclaração do emburrecimento de guri. O tempo trata de ensinar. Vi que os olhos dele me sorriam. Brilhavam na escuridão estrelada. Estendeu a mão pro lado e agarrô um garrafão de pinga. Passou as costas da mão na boca e tomô um gole. Um gole bonito de escutar
Escuta, guri. Não vim pescá. Vim pelo acompanhamento da parentada, escutá os barulho de ocês e os murmúrios das águas. Não tem maior lindeza que esta noite estrelada e o gosto da pinga mais essa agitação da gurizada.
Mas por que a peixaria do cardume não morde na sua linha?
Deu outro gole e sorriu, gostava de deixar a resposta suspensa com mistério
É simples, guri... é só não colocá isca na linha, tomou outro gole e recostou a cabeça na barranca. Devia tê deitado ao lado do tio Biloca, mas tem coisa que um guri só aprende depois que vira homem com saudade dos tempos de guri. Não deitei. Voltei pra pescaria. Sorrindo. Até hoje, quando vou na barranca deito no lugar de acomodação do tio Biloca. A pinga do lado
O tio Biloca tinha razão, um homem pode se arrebentá por nada. Mais isso já um outro causo.
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