Ensaio 26B – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
Os três continuava na praia enquanto as água ficava com os limite das beirada: indo e vindo.
Entediada.
Desinteressada.
Resignada.
Josino jazia em pé com água na cintura, mais o qui mais lhe incomodava era aquela vida qui subia inté o pescoço e não lhe deixava vivê indo e vindo pra fora dos limite das beirada.
Cercado.
Agarrado pelo pescoço.
Ferrado nas canela.
Os dedo recolhido dentro da mão, os punho fechado, o oiá de ódio. Não conseguia oferecê a otra cara, conformado com os ensinamento do padre cristão, a otra também era lanhada. A carne ardendo da lambida do chicote. Teve tempo qui não sentiu a dô da chicotada nas carne, mais chorava de vê e escutá os estalo das batida rasgando as roupa preta da escravidão. O coração fica com as lembrança qui se misturô com os espasmo da dô.
Os três continuava parado enquanto a vida ia e vinha. Josino tava espantado. Afinal, não tinha causo pra uso de corretivo, sempre foi correto com o siô painho da siá Casta. Foi o Coronel qui lhe salvô da gargalheira do capita da Cruz.
O guri beirava os dez anos, um pouco pra cima ou pra baixo, quando o capitão lhe fez desfilá nas rua da Villa com uma enorme gargalheira de ferro pesando uns quatro quilo. Uma coroa de espinho no pescoço mais o chicote qui estalava nas parte qui encontrava pela frenta.
Bêbados.
Insanos
Esse é o negrinho que veio para salvar a negrada?
Vamos negrinho, dá de comer a todos os negros! Abre as correntes!
Tragam cinco pães e dois peixes!
O Filho de Zumbi dos Palmares!
A tropa fez silêncio. A Villa parô de respirá. O capitão e dom Miguel se oiava. Aquela saudação do sargento não era coisa de se dizê nem de caçoada. O estalo do chicote tirô o transe dos desavergonhado
É preciso expulsá o demônio!
As pessoa oiava e se compadecia, mais nada era feito. Já era costume fechá as vista e dormí quando o causo era maldade com os preto e os pobre. Fingí qui aquilo era legítimo e o destino dos preto não parecia demasiado. As lágrima saiam do menino, descia e se ajuntava com uma baba espessa qui respingava em seu linho vermelho de sangue. Não era mais só os pensamento do dinheiro qui alimentava aquele ódio, mais a ideia qui os branco era meió e mais bão, podia brutalizá e ridicularizá como fazia com os bicho. A Villa afundava no fosso do silêncio, um abismo orgulhoso e rancoroso e cego. Mais era muito mais qui isso tudo, era a vontade de mandá e de sê servido, a necessidade de tê escravo. Mais era muito mais qui tudo isso, era a indiferença.
O peito do menino arfava, vez qui outra ajoelhava, não suportava o peso qui carregava nos ombro. O peso da cô qui atravessava anônimo e disfarçado de criolo malfeito, um perigo pras rua da Villa. O caminho embrutecido. Cego. A dô e o sofrimento qui não tem cura, talvez um dia possa tê reparação. O Paraíso do padre não existia, só o inferno das chicotada
Dom Miguel, ocê quer entrar na igreja pela porta da frente? Então, tenha escravos... os dois gargalhava como dois bicho.
Parecia qui o Josino ia tê qui dá a vida porque se meteu a besta, quis diminuí a dô do preto fujão. Isso não tem perdão. Mais antes de morrê, ganhava punição. Não era bão só mata. O capita da Cruz precisava educá e erguê os muro de controlá as regra dos branco superiô sobre os preto inferiô. Não deixá cisma ou desconfiança, nem pedra sobre pedra.
O menino Josino tava vestido só com um pano de linho, amarrado na cintura com uma corda. Na terceira ou quarta vez qui tropeçô, caiu e encontrô os pé do Coronel. O homem se curvô e lhe amparô. Colocô o menino pra trás e oiô direto nas vista do capitão
Quanto ocê quer?
Ninguém resiste em ter um negrinho pra mandá, né Coronel?
Quanto ocê quer?
Veja só, Coronel. O moleque tá um pouco cansado da caminhada mais o peso dos ferros, mas dá pra se ver que tem muito valor! É mais um negro resignado com a própria sina, só precisa de uma boa educação.
Quanto ocê quer?
O coronel precisa saber que o negrinho fujão marcô com marca de mordida esse agente da lei...
Eu conheço o menino... quanto ocê quer?
Pagô o preço do capitão Maria da Cruz. Depois, mandô o ferreiro tirá a espinheira de ferro. O capitão jurô qui não tinha lembrança das chave. O pescoço do menino tava em carne viva. O guri quase não podia andá. O Coronel encontrô marcas de sevícia recente, feita pelo bacalhau nas nádega da criança. Os pulso e os tornozelo tinha marca de amarração. Josino nunca falô das coisa qui sofreu. Foi a última vez qui foi lambido pelo chicote de castigá preto... inté aquela noite.
O siô Afonso da Hora pareceu desaprová o destempero do seu fio bastardo, mais nada disse. A Villa do silêncio foi povoada com os acomodado fazendo qui não via o qui tava vendo. Os atrevimento com as gritaria qui não gostava da escravidão nem era muito nem gritava tanto. Era mais seguro não se metê nem escolhê o lado dos preto, mesmo assim, o siô fez um comentário de consolo
Josino...
Sim, siô.
Amanhã, bem cedinho, não vá se atrasar nos compromissos com o padre, ocê passa na botica do Juca dos Remédios. Vais levar um bilhete com pedido de unguento para essa ardidura do relho, o Capitão escutava a conversa mole do seu siô com o negro Josino, mais continuava com o cipó de boi esticado nas areia grossa da Arsenal. Tava pronto pra escová o couro do atrevido. A sua vontade de disciplinadô é qui guiava a empunhadura, mais naquele caso o respeito era maió qui a vontade, se o siô deixava na vontade dele o castigo de aviso podia sê inteiro. Cobiça de batê mais um pouco não lhe faltava, inté se animô de falá com feitio de professô pro siô da Hora
Se o negro Josino apanhar mais que esse pouquinho que apanhou, a negrada da fazenda vai sabê das notícias. E será difícil outro escravo querer se rebelar contra o sinhô. Só o chicote civiliza esses negros, o siô Afonso da Hora, qui tem as duas vista verde, oiô o Capitão bastardo qui só tem uma vista verde e o cabelo crespo alourado. O pai qui não se revelava parecia tê mais consideração pela mãe do moço mulato. Mais aquela incomodação nas areia da Arsenal já lhe deixava incomodado. Não havia utilidade prática continuá com aquela perda de tempo. Ele pintava otros assunto de mais proveito e gostosura. A cabeça pensava otras coisa e não queria usá de mais tempo qui fosse precisado, por isso, fez vista grossa pro atrevimento do moço qui quase lhe estraga a mercadoria
Não é o caso do Josino, meu rapaz.
A vontade de castigá o Josino não deixô o Capitão escutá a caridade na voz do siô da Hora, ainda não tinha aprendido reconhecê a hora de pará. Quando o siô falô: meu rapaz, foi o mais perto da consideração do pai com o fio bastardo. O fio queria escutá mais, tê mais do pai, ficô com a brabeza de tá abandonado grudada nas duas vista. Não ia vê saí da boca do siô da Hora as palavra do reconhecimento: mifio. Esse feitio de falá ele guardava pros nascente da semeadura real com a siá Casta. Chamá de fio de sangue só os com carne branca. A carne preta inté podia falá, mais era meió de usá. A vida nesse tempo é assim, parece uma viagem numa peneira, tem os qui sabe onde nasce, mais não sabe onde morre; têm otros, qui não sabe onde nasce e já sabe onde morre
Sinhô, um negro como o Josino há de lhe custá 3$500 pra buscar no mato, é melhor plantar o desalento na vontade de fugir. É preciso cortá o mal lá na raiz, o siô da Hora armô um sorriso de ensiná com gosto porque reconheceu no aulista vontade de aprendê
Por isso, tenho ocê por perto, minha garantia para economizar os três mil e quinhentos réis na captura de algum fujão, foi a primeira vez, naquela noite de uso do chicote, e em toda existência do Capitão, qui a empunhadura afrouxô, já tenho os escravos que preciso, não carece gastar na compra de outra mercadoria parecida. E ocê, meu rapaz, há de cuidar de tudo sem danificar essas mercadorias falantes. Não esqueça que uma boa enxada só é boa se tiver mãos fortes agarradas nela.
A única vista verde do Capitão pareceu querê saí do seu lugá de uso. Arregalô dum feitio qui inté o siô ficô cismado
O que foi, meu rapaz?
Sinhô, eu não tenho medo de negro, não! A única coisa que me mete medo é deixar de ter utilidade para o sinhô Afonso da Hora. Eu posso morrer, mas não deixo o sinhô sozinho, primeiro ficô aborrecido com aquela ordem de não continuá com o corretivo, mais o palavrório de reconhecimento do siô lhe fez ficá num bem-está de alegria qui as palavra pra retrucá ficô na boca. Elas tava querendo saí, ele tava querendo se libertá da obrigação de comê as coisa qui tinha pra falá, mais não queria perdê as doçura de agradecimento do pai. Sabia quanto podia e não podia. Aprendeu com mãinha qui o remanso é feito da conformação em desistí
Mifio, a vida é simples, mais as vontade do siô é pegajosa, o mais bão é deixá a língua guardada, não desperdiçá saliva nem caí na desgraça do reino do siô Afonso da Hora, os conformado vive a vida qui tem pra vivê, o empunhadô do chicote só queria a consideração do pai, um valô de milagre e aparência podê dizê qui tinha pai conhecido, as palavra da mãinha não lhe deixava sossego e lhe mostrava o caminho
Escuto e obedeço o meu sinhô, o siô da Hora não fez sorriso nem feitio de brabeza, deu dois passo na direção das água e ordenô o preto Josino pra movimentá os pé
Josino, saia daí!
Saiu sem dizê nem oiá. Sabia o qui acontecia com os preto qui reclamava.
Oiô pras mão, examinô os dedo enrugado: tava no tempo de saí; aprendeu com o preto véio José Criolo qui água é bão, mais no qui amarrotá os dedo é mais bão saí. O avoinho Criolo apareceu, muito tempo antes, na travessia da estrada das água, o caminho entre dois mundo, por lá, perdeu a mãinha de barriga pras dô da tristeza, o banzo das lembrança no tumbeiro degradante, o racionamento de comida, a água estragada, o ar nauseabundo do porão: mistura de suô com dejeto humano. Chegô agarrado nas teta vazia da otra mãinha qui arrumô no caminho. Ele continuô, mais ficô mergulhado nas água da estrada. Essa parece sê a siná dos preto, continuá sem deixá o lugá qui não ficô. Quando tinha muita vontade de abraçá sua mãinha, ele ia inté a praia da Arsenal. Nas vez qui ficava enfiado nas água nem o padre lhe aborrecia, o fio e a mãinha tava se abraçando.
Ensaio 27B – 2ª edição 1ª reimpressão
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