sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Histórias de avoinha: As Casa do Comércio na Villa 2


Ensaio 27B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar



José, o medidô da obra Santa, virô um preto forro e banguela. Depois dos tempo de serviço e cuidado com o acabamento da obra qui não acabava, ele perdeu importância e acabô de lado. Ficô com utilidade pouca. Não mais valia o qui valeu. Tava livre pra pensá o qui ia fazê, mais não sabia fazê da sua vida otra coisa qui serví o branco bacana, educado e falante, qui gostava de zangá com os preto qui não podia respondê aos dono da primeira e da última palavra. Os dono de tudo. Assim, entre passá os dia parado ou indo e vindo sem rumo, aceitô subí na carreta de boi do Maneco Coxa, ele trabaiava para o Armazém Em Casa, do siô Azambuja Capadura. O Maneco era um sujeito qui tinha o hábito estranho de tomá leite de vaca com pera enquanto falava mal dos otro. Viveu se lamentando. Gostava de fingí sê o qui não era. Um enganadô qui só mostrava as falsidade da sua bondade lá pelo meio da viagem, então, não tinha mais como descê.

O caminho daquele ajuntamento de carreta era subí inté Laguna com a missão de buscá sal, farinha, arroz, açúcar e vinagre. No início, inté qui gostô daquele amontoamento das muita carreta uma atrás da otra, e das parada no campo, as noite brilhando mais qui os óio da Boitatá, as liberdade de rí e falá alto, as contação das história nos arredó do fogo no chão. Mais José não aprovô os modo do Maneco Coxa com os boi puxadô das carreta. Uma boiada de boi trabaiadô. Era custoso pro preto forro vê qui o carreteiro não reconhecia um animal do otro. Tentô explicá o qui o Maneco Coxa não queria sabê

Bobagem, Zé. Os bois não precisa nem saber quem manda, eles só precisa obedecer, o forro tomô pra ele mesmo a missão de ensiná as diferença dum boi pro otro

Maneco, esse aqui, enquanto falava passava a mão num boi todo louro com uma das guampa serrada, gosta de sê atado nos arreio pelo lado das direita; esse otro, caminhô mais três passo inté o verméio, tem gosto do lado esquerdo; aquele lá, não tem importância de lado, mais gosta de tá na frente, já aquele otro, qui também não tem gosto de lado, qué tá atrás. O Maneco Coxa oiava desconfiado pro José, como podia um preto véio qui nunca fez viagem de carreta com tanta lonjura, querê ensiná os bem-querê e não querê da sua junta de boi, logo pra ele, um doutô carreteiro

Tenho desconfiança que isso é tudo invencionice, falava e enfiava os dedo nos fio de barba qui carregava pendurada na cara, os carreteiro mais antigo conta qui a barba era esconderijo da cicatriz de um boi seu desafeto, coisa boa é qui não era o serviço qui queria fazê atrás do boi na barranca, desde quando boi pode tê querer, eles obedecem e pronto, o José podia passá a estrada inteira explicando as causa do seu sabê, as coisa qui aprendeu nos anos de cuidá de gente, não ia adiantá, o Maneco Coxa tava resolvido qui não queria sabê

Os animal não é diferente, eles gosta de sê cuidado, Maneco.

Bobagem, Zé. Vamos dormir.

Existe aquelas noite qui não se gosta de lembrá e ocê esquece de lembrá. Tem aquelas qui ocê esquece de deslembrá e leva as lembrança viva pelo resto da vida. O preto forro deitô nos pelego qui largô no chão, ele tava disposto não carregá nenhum apontamento da vida pro sono. Não queria passeá em nenhuma saudade, prometeu fechá os óio e dormí; depois, abrí os óio e acordá. E foi o qui fez.

Quando acordô a junta já tava atrelada e o café pulava no bulê. Sentô nos pelego e esticô as vista no redô do acampamento

Buenos dias, negrinho!

Buenos dias, coxinha...

Os dois se oiava enviesado. O Maneco Coxa em pé, pronto pra continuá na estrada, oiô abaixo, parecia tá mais satisfeito qui o seu costume, o cheiro de boi qui carregava tava espalhado nos pelego qui recolhia. O José, já sentado, mais não bem acordado, subiu as vista antes de perguntá

Por que não fui chamado?

Aqui, ninguém acorda ocê, se não acorda vai ficar pra trás.

Levantô.

Encheu a caneca com o café fervido. Tomô tudo em quatro vez qui derramô da caneca na boca. Juntô os pelego e jogô na carreta. Depois, foi inté a frente reconhecê a junta atrelada. Nenhum tava no lugá dito por ele, na noite anteriô. No fundo, o Maneco Coxa é um enganadô qui finge qui não escuta pra fazê do seu feitio e depois acusá qui o aconselhamento não deu certo

Maneco, os boi não tá no meió lugá de trabaio.

Bobagem, Zé. Ocê quer ver? Suba.

O acampamento tava esvaziando. A caravana de boi carreteiro já tava enfileirada. O Maneco Coxa continuava sua explicação e os ensinamento qui se podia tirá do seu feitio de comandá

Esses boi só puxam a carreta quando têm ordem de puxá, subiu o varapau qui usava pra batê, mais não bateu, apontô o varapau no rabo do último animal e empurrô. O berro pareceu empurrá os boi pra frente. Depois, fez o mesmo com o boi da direita, qui não berrô nem apressô os passo. Virô-se na direção do Maneco, pareceu reconhecê a empunhadura do varapau, o dono dele, sabia qui o aviso era pra andá, mais o amô segue os próprio caminho, endireitô e acertô os passo com a passeata.

O José não gostô daquele ajuntamento de carreta e a obrigação de trabaiá com o Maneco Coxa e o seu varapau. Desaconselhô ele mesmo: não ia repetí a viagem inté Laguna. Era meió ficá parado, correndo o risco de bebê além da conta da saúde. No seu tempo de cuidá a obra Santa, não deixava os trabaiadô da obra apanhá, não gostava do chicote nem do varapau. Não ia trabaiá pro Maneco Coxa, o homem fingia sê bão homem, uma criatura do bem. Ele inté enganava os cego de oiá sem vê, gente convertida qui enxerga sem vê, não qué vê o qui vê. Os convertido só vê o qui o siô avisa qui pode vê. Pro José bastô vê com as própria vista o Maneco Coxa destratando os boi da carreta

Se ocê faz isso com os animal, com gente menô qui ocê a maldade deve sê maió.

Ocê é um negro metido!

Não retrucô.

Na chegada, esperô recebê seu pagamento, depois avisô qui não ia mais voltá. Não ficô um dia sem otra missão. Recebeu oferecimento de emprego da Casa de Carne e de Couro, propriedade do siô Demétrio Lomboduro, respondeu qui não queria. Mais desta vez, era só duas carreta. Ele na chefia da incumbência: buscá carne salgada nas charqueada da pequena Pelotas. Os charqueadô pelotense tinha fama de fazê um retalhamento mais delicado, com espessura regulá e com grande superfície de dessecamento e salgamento. Por lá, a carne era charqueada muito mais fina. Isso tudo, ajudava na qualidade da carne, com mais tempo sem estragá podia sê estocada e carregada pra mais longe qui os lugá de costume. Só precisava tê cuidado de embarcá nas carreta as carne do animal vacum, as carne salgada de cavalo e égua não interessava. Aceitô.

Foi e voltô duas vez, mais teve muito pouco gosto, era um homem da cidade. Não teve cobiça de levá esse otro tanto da sua vida como um caixeiro-viajante do charque. Pensô em abrí o próprio negócio. Acabô qui de tanto pensá e querê, e não querê, ele voltô no começo: empregado doméstico do padre, mais com a obrigação de oiá com cuidado os preto qui trabaiava na obra Santa. Precisava dá mais atenção nos preto qui não trabaiava com gosto. O siô padre não queria nenhum desgostoso. Esses era preciso devolvê. Assim, ele foi deixando os dia passá: oiando os moço preto trabaiá, inté qui ele fugiu com os pensamento pra encontrá o tempo da sua mocice. Os batuque, os sapateado, as palma. Abriu um sorriso banguela quando lembrô das suas utilidade de moço com as muié. As andança da vida precisava tê aproveitamento, não dava pra esperá tê mais coisa das coisa qui nunca ia tê. É isso, quando a vida se vê já perdeu o tempo da mocice. Ele aguardava o tempo de conhece de mais pertinho sua mãinha da barriga. A mãe de sangue.

Nas noite mais bem dormida, qui afundava a cabeça no travesseiro – dormí com encosto de cabeça foi um consolo qui ganhô pra tanto serviço bão qui fez – ele podia sentí mãinha, o calô do seu abraço, a quentura doce das palavra qui soprava na sua volta, parecia girá, girá, girá, uma pomba girando qui só acalmava com as cantiga de niná. As palma, os sapateado, os batuque. Otras vez, sonhava de abrí o riso escancarado dos dente, feliz de podê se vê, sentia a mão enfiada e bem segura dentro da mão grandona do seu painho. Nunca perdeu o costume de querê sabê da Mãe d’água como eles tava na vida dos moradô nas água. A cachação foi otra ajuda qui precisô pra aliviá o banzo da cantiga de niná qui não escutô. E não foi uma nem duas, muito mais de mil noite, acordô com o dedão enfiado na boca e as vista alagada. Choromingava pelo muxongo da mãinha. Um dengo qui nunca teve.

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