terça-feira, 9 de junho de 2015

Histórias de avoinha: A terra. O baobá. A muié enraizando.

Ensaio 53B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



Enquanto o dia anunciava suas despedida, com liceça do siô moço, qui o dia num era bobo de saí do céu sem pedí licença, com liceça dos dono de terra, gente boa e crente das coisa do céu qui num gosta de repartí autoridade nem de autorizá qualqué mistura de gente, vô me a retirá, só então a noite aprontava o seu começo à cavalo ou vindo à pé, o siô dono das terra tava avisado, ei ei chora chora gongo chora, chora chora chora gongo do boi bumbá, ei ei chora chora num purugunta onde ele vai, ele vai mais volta logo, gongo do boi bumbá. A cantoria seguia enquanto o céu azul avermeiava a fazenda Humaitá, os apelo subia inté lá no alto das terra baixa qui podia dá passagem pra Aldeia dos Anjo. Era tudo puro céu, quase tudo, só num era puro céu dentro dos palácio e das casa grande; nas senzala num tinha céu nem inferno era puro terra.

Siá Casta terminô mais um jantá sem as conversa silenciosa do siô da Hora. Ele num conversa das coisa de muié, isso num é conversa de hôme tê. E das coisa dos hôme ele trata com os hôme. A muié das conversa silenciosa segurô mais otro suspiro, tava cheia de suspiro guardado, tinha inté medo da veiz qui o seu saco de suspiro pudesse vazá um qui otro, deu ordem pra preta Rita retirá as louça da mesa, avise Milagres que quero lhe ver, a escrava num parô as tarefa qui sabia tê qui fazê com precisão e ligerêza, siá Casta num gostava de tê as coisa pra fora do lugá. A mesa com seu tampo de madêra toda desenhada como se tivesse arranhada era o cartão da casa pras visita; os raro visitante qui se animava saí das terra alta, coisa qui acontecia nos dia de muita quentura e pouca chuva. Uma lápide solitária e vazia com um vaso de flô da estação: azaleia, sálvia e quaresmêra ajudava com o cinza dos dia nublado e frio; copos de leite, dálias e alecrim equilibrava os dia de luz dura e volumosa. Na volta da sua primêra ida inté a cozinha, a escrava Rita respondeu sem desafiá, sem fazê intrigação da preta ausente, sem pará a fazedura das obrigação

Siá Casta... Milagres foi fazê serviço de mato, recoiê lenha e...

Quando voltar das suas obrigações avise que quero lhe ver, levantô da cadêra. Deixô a mesa sozinha, cada uma com seu isolamento. Foi inté a janela contemplá aquela boniteza avermeiada, o sol parecia caindo em fogo do céu, desapressado, se escondendo das mágica da lua. A noite é cheia de truque e promessa, dava um trabáio grande desbaratá no dia seguinte. O dia reclamava das esperança da noite, num é as mesma cobiçada na luz do dia. Num tem as mesma virtude, é tudo diferente, acontecimento e assombração num pode se misturá, o desafogo duma num é o desembaraço dotra; a noite se divertia as gargaiada, uma encoraja a otra com o sonhado ou o exato, tudo é vida, camará... num seja tão casmurro, sorria, aconseiava a noite. A vida é a mesma, os esconderijo de cada um é qui às veiz num tem as mesma urgência de se abrí nem o mesmo atrevimento. A siá num escutava as algazarra da noite, mais escutava os barulho das louça. A escrava Rita era a única preta dos serviço da casarão qui num lascava nem quebrava as louça qui recôia pra lavá, do lugá qui tava continuô as encomendação, quero deixar dito as recomendações do dia, e ocê... virô as vista no lugá onde sabia qui Rita só podia tá, recôendo as última louça da campa de madêra, a escrava se parô com as louça nas mão, num tava apressada nem demorada, sabia qui tinha qui esperá, esperô o fim da falação, quando terminar pode se retirar, tinha veiz qui Rita jurava, sem invocá o nome de nenhum dos orixá, qui a siá Casta devia tê sido superiô nas vida qui teve num qui otro convento das frêra da castidade nos pensamento, essa é uma muié muito boa, qui otra muié ia recebê eu com o fiô qui tenho?

O recado da siá vai sê dado.

As duas muié se oiava, enxergava na otra o qui num foi, mais podia tê sido em otro tempo, otro lugá. Duas muié diferente na cô e nas tarefa, mais com o mesmo quefazê de esperá. Depois qui siá se retirô sem fazê ou sem sabê fazê algum balanço, Rita balançô as suas tristeza e atirô as vista pra longe do casarão, oiô da janela qui já teve siá. As duas oiô os mesmo acontecimento, mais viu assombração diferente, se a vida da siá Casta num consegue tê alegria de ocupação, como eu posso esperá tê alegria de espritu, num dá, ó meu pai, mensagêro dos segredo, pra quem nada é novidade e tudo qui contece já foi contecido antes, trouxe pra sua fome: frutas, doce, pimenta, vinho e o sangue desse animal de crista e pluma.

Milagres tava ali, no mato fechado cantando, dançando, conversando. Carregava o seu incômodo e pedia solução, um remédio mágico. Pro mais novo pedido feito os espritu mais véio devia sê louvado antes de qualqué trabáio. Ela degolô o animal de bico e pena, verteu o sangue nos lugá do mato, depois colocô no lugá dos alimento, na cabaça do ebó

Peço ao meu pai qui leve inté mãinha o meu pedido e de Josino: tê um fiô, qui pode sê uma fia. Ela bailava como o vento, desprendia o perfume do amô qui a ventania do mato havia de levá inté Josino, flutuava com o sopro qui dava em cada giro do corpo. O preto foi feito como um pombo pra voá, ganhô a liberdade e foi tê com as carne arretada de Milagres. Os dois ficô em transe, lambuzado, perfumado, um com os gosto do otro num carregava mais a cisma de tá desabitado. O manto da escuridão mais um pouco provocava as cantoria qui chegô com ele. Ela balançando nos canto da mata as dança do amô provocava a sedução do seu hôme, tava nua e brilhava do suô qui lhe corria do corpo, fugia inté o chão das fóia morta semeando a terra. O hôme semeando a terra. Enraizava suas água na terra derretida, povoada com todas as história dos trovão, lasca da luz qui iluminava a vida na escuridão. O barravento cantava no tambô, o hôme-pássaro chegô, vem vem ia urê, vem na cacunda, vem vem assuntá, ele sabe aonde vai, o hôme-pássaro chegô, vem vem ia urê.

Josino apareceu, ele sempre atendia os chamado encantado. O choro de Milagres ficava escondido atrás da cascata de contas colorida. O oiá curioso antecipava sua belezura e a gostosura doce do amô. Ela cantava, girava, batia as palma das mão, as raiz e a terra se juntando. O bem e o mau derretendo no terrêro. O seu hôme veio com jeito caminho de puro terra, ele tem o propósito de enraizá na sua muié de mãe África as raiz do baobá, vem camará me entrá, vem brincá esse jogo, pode ví criolo bunito, vem me acavalá, já chego e vô te dá suadôro, vem camará me entrá, vem brincá esse jogo, lhe trouxe pra me entrá, tô dentro então me acavalo, vem camará me entrá, vem brincá esse jogo, tá de munta conversa, só tenho ocê qui me mande, àárò omode omoge àárò.

Os dois tava com o corpo tomado em moradia pelo baobá. Eles entoava as cantiga de Oxum, amante ardorosa de formas finas, Nhem-nhem-nhem Orumimá Orumi maió Orumimá oê abadó oraiê iê ô ai ai ai da Oxum mirerê ô, Deus é maió, ele ajuda a vencê, sinta a paz meu criolo bunito, escuta Oxum, ela oferece momento de raro prazê aos amante em seu leito. Foi tanto contentamento, sabô e gozo qui ela parecia castigá o hôme qui lhe sucumbia pela sede do gosto. Sem Oxum e as muié terrena o hôme num tem podê na fecundidade, fica sem os fiô e as fia pra criá, sem braço novo pra lhe dá proteção ou guerreá, perde a linhagem qui num vai contá das suas memória com pé na terra e mão no vento. A muié faz a vida prosperá, enfeitiça a terra inté ela florescê, faz quebrá o quebranto qui tudo morria, ela cria, Josino lhe perguntô, o qui mudô pra ocê aceitá a fecundidade com tanto assanhamento, num mudô nada, ocê mudô ocê mudô, minha preta, pode sê pode num sê, meu preto, quem te manda, ninguém me manda, já sei, num qué chorá só, pode sê pode num sê ou pode sê qui eu decidi qui vô fazê criola bunita criolo bunito, o meu sangue de África vai continuá, a vida num é branda, minha preta, eu sei, meu preto, uns vão acavalo otros vão em pé, minha preta valente, ela lhe oiô devagá antes de enfiá os dedo na carne das costa, é assim qui as muié qui faz a vida prosperá, elas continua os fiô dos criadô do mundo se num achá coisa meió pra fazê, me entra e num sai.

A muié da mata voltava dos trabáio, trazia junto tanta alegria qui nem os óio dos trabáio dos urubu podia atrapaiá, tava uma muié emprenhada. Era o qui queria tê e tava animada com os caminho aberto. Ainda num tinha pisado no chão da terra com todo peso do seu novo corpo, parte dela flutuava no saco da criação, sonhava com o banho da cachôera qui escutava na boca de Rita, a pancada da água nas costa tem força pra espantá as coisa ruim do corpo, ela respondeu rápido, nunca vi cachôera, a preta Rita qui já foi muié escrava do muriquinho piquinino, agora só era escrava, sorriu suas tristeza, um dia mais ou dia menos, ocê vai encontrá, é assim, desde qui tudo existiu, mais ocê precisa vê qui encontrô, tem veiz qui ocê acha, mais num atina de vê.

A terra. O baobá. A muié enraizando, mais houve um tempo qui só tinha água, nada vivia ou morria. Milagres gostava das história de Rita. Sentava, num ia passeá, quando a preta soltava as palavra qui tinha guardada dos mais antigo, ficava noite adentro com as história daqui e de lá qui Rita escutô da mãe. E da mãe qui aprendeu com a mãe das mãe, inté chegá na primêra Mãe. Gostava de tudo, mais gostava de pedí sempre a mesma história, as veiz Rita atendia, otras num atendia, conta a história do começo de tudo, essa já contei, conta mais uma veiz, era as única veiz qui Milagres lembra de vê um jeito de rí qui quase era riso no oiá daquela muié, ela repetia, pra começo de tudo foi preciso Olorum, deus dos céu, se cansá da solidão do além-mundo e decidí criá o mundo e os orixá. Os fiô de Olorum veio com a missão de conduzí, aconseiá as coisa desencaminhada no mundo recém criado. Deu pra cada fiô um conhecimento pra juntos governá a guerra, a paz, os hôme e as muié. Decidí a cura das doença do espritu e do corpo. Ensiná a agricultura, a caça, a pesca. Mostrá qui as chave pra escapá e se afastá da morte tem tempo de uso, assim como a chuva, o sol, os vento, as tempestade, tudo se completa com a grande mãe dos deuses, dos homens, dos peixes. Iemanjá. O panteão da criação criô o mundo material e a humanidade. Oxalá, o fiô mais véio, recebeu de Olorum a bolsa da criação. Então, desceu inté o mundo recém feito, carregava na sacola as terra e o baobá. A vida se modificava no saco da criação e pesava nas costa de Oxalá, qui esqueceu as recomendação do seu pai, Olorum, e num pediu ajuda do seu irmão mais novo, Exu. Oxalá esqueceu Exu. Isso num foi bão, o irmão mais novo de todos os fiô de Olorum gostava de modificá a lagarta em borboleta, tinha habilidade pra fazê o reviramento da imaginação em aparência. Oxalá só pensava na criação do mundo. Num fez oferenda ao irmão mais novo e começô perdê tempo com os acidente qui Exu preparava no seu caminho. A estrada num terminava, Oxalá ia e vinha e num avançava. Sol quente, um calô afogueado arrasava as vontade de qualqué um, inté qui precisô durmí, tava cansado. Enquanto Oxalá durumia, Odudua, otro dos fiô de Olorum, ofereceu a Exu um ebó de presente: bode, galo, farofa e inhame. Depois de agradá o irmão mais novo, pegô a sacola da criação qui tava durumindo ao lado de Oxalá e seguiu pro lugá da amamentação da infância. A mão cheia de terra qui tirô da sacola jogô sobre as água. A terra se alargô. Foi quando Oxalá acordô e viu qui o mundo existiu. Ele foi procurá Olorum, tava triste. Sabia qui foi enganado pelo seu desdém e vaidade. Na casa do pai foi repreendido, mais ganhô otra coisa de importância pra fazê, criá as pessoa qui devia admirá o encanto de tudo qui tinha sido feito. Os humano.

Milagres num fez ruído de gente quando entrô no casarão, flutuava os pé, tava carregada pelos espritu. Rita sentiu a chegada da muié emprenhada, num precisava oiá pra sabê, as notícia chegava antes de chegá. Sem desviá as vista das tarefa qui terminava foi avisando, a siá dona de tudo aguarda os preparativo do banho, já qué determiná com a mocinha do mato as tarefa do dia quinda num nasceu.

A muié recém chegada oiô o vapô das água queimando em cima do fogo, num agradeceu o serviço qui já tava adiantado, esse era o jeito da preta Rita compensá as malvadez do fiô. Um bastardo com uma vista verde, otra preta, os dois mundo nos óio e cego das coisa da vida qui importava vê. Um fiô da mãe qui num tinha pai declarado, mais carregava numa das vista o pai qui tinha, isso devia sê um fogo qui incendiava por dentro, queimava as arrumação do pensamento, quase sê alguma coisa qui nunca ia sê, vô avisá do banho...

Precisa ajutório?

A escrava Rita já tinha terminado as tarefa qui tinha, sempre ajudava mais qui devia, parecia qui sempre devia além de antes. A amancebada Rita devia se recoiê pra ficá esperando o qui nunca ia tê mais, as intimidade com o muriquinho piquinino. Sabia quando resolveu qui num ia tirá o fiô enraizado qui as coisa ia modificá. Num sabe explicá as coisa qui fez ela num tirá, pode sê qui cansô dos chá ou das partêra abortêra ou resolveu creditá na sua criação do mundo. Uma criação diferente, uma invenção das mistura, mais num é mistura animada quando uma das criatura usa corrente e num tem querê nem de chorá. Num é mistura facêra quando uma das criatura só grita e humilha e faz a otra cumprí um destino qui fica mais pesado a cada passo. Num é mistura prazentêra quando uma das criatura tem o corpo qui lateja inté num tê força pra nada, nem chorá. Num é mistura contente quando uma das criatura qué tira tudo da otra inté as lembrança do lugá de lá. É mistura abatumada quando uma das criatura nada pode tê de seu. É mistura quando o fiô do pai pode sê o fiô do pai do pai enquanto o fiô do pai credita qui fez fiô e pensa qui é seu fiô o irmão qui o pai do pai fez na sua preta escrava. O uso qui o siô dono de terra dava pra preta era mistura, ele jurava qui num era, mais era. O Capitão era mistura de fiô dos dois pai. A vista verde era de fiô do pai, a otra preta era mistura de fiô do pai do pai. Mais podia num sê, num tinha como sabê. O andamento da povoação da Villa foi tumbém com o fiô irmão do pai. Coisas qui o siô dono de terra num gosta de falá nem dá liceça pras mistura creditá qui é bão misturá, aqui na Villa, cuidamos como deve ser cuidado o gado, a cavalaria e os negros, nenhum têm do que se queixar. Mais tê ôio verde tumbém era coisa de preto, as mistura desalegre continuava nunca ia pará. Num adianta num dá licença pra misturá 
o propósito de enraizá na sua muié de mãe África as raiz do baobá, vem camará me entrá, vem brincá esse jogo, pode ví criolo bunito, vem me acavalá, já chego e vô te dá suadôro, vem camará me entrá, vem brincá esse jogo, lhe trouxe pra me entrá, tô dentro então me acavalo, vem camará me entrá, vem brincá esse jogo, tá de munta conversa, só tenho ocê qui me mande, àárò omode omoge àárò.



Pintura de Carybé


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