segunda-feira, 1 de junho de 2015

Histórias de avoinha: Eu juro!


Ensaio 52B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar



Com a licença de todos os amigos, aqui presentes... podemos começar sinhô Conde, a purugunta do siô governadô num era convite nem pedido, nem choro, nem risada, nem zombação, mais parecia qui queria anunciá o anúncio do dia final, ele num tinha costume de cantá cantiga com os piquinino, os mais abaixo da Villa, num falava de nada, queria ouví de tudo, escondia o jogo de dentro e num dava pra cambaleá hesitante diante dele, tava no centro como um tirano qui era e gostava de sê, o centro daquele mundinho

E o que preciso fazer, sinhô Governador?

Por enquanto nada, o sinhô Padre já deve ter lhe dado os esclarecimentos. Vosmecê entra, hoje, no nosso mundo da Irmandade, somos diferentes de tudo que já se viu. Um mundo com dono e hierarquia, vosmecê precisa estar pronto para obedecer como todo soldado. Sem perguntas. Sem medo. E a medida que o seu desempenho pelo nosso ideal de justiça, sem contradições absurdas e inúteis, não minguar, vosmecê poderá chegar ao mais alto grau de artíficie, qualquer dos homens deste salão pode alcançar tal honraria, o assoalho voltô a tremê e os aplauso das mão se juntô ao zunido dos grito. O corante dos crente. O siô conde num sabia dessa parte qui ele tinha crescimento dentro da loja. Lembrô da prosperidade do armazém do pai, as preocupação do véio da Hora com as boniteza dos óio verde. Cada um dos começo qui já teve foi um gosto diferente, mais o estopim da desatação dos nó do seu crescimento foi o qui teve com as preta e as puta. Isso num deixava dúvida, foi com elas qui cresceu. Cada uma das iniciação teve seu valô de ensinamento, mais a maió serventia num era o começo, era a continuação da inauguração. Os assunto tratado com a pretinha Biscoito de modo destapado tinha o mesmo gosto qui as trama feita com as puta, mais num tinha o mesmo feitio risonho e colorido. Ele num desgostava do jeito emburrado da Biscoito, mais dava favoritismo pro feitio animado e festejadô das puta. A pretinha num parecia tê alegria nunca. E o mais pió, no modo de vê do muriquinho piquinino, num queria fingí tê o qui num tinha. Gostava da pretinha, mais depois qui descobriu qui alegria pode sê comprada, o siô conde foi mudando as mania, sem pressa. Uma das veiz na semana, o siô muriquinho piquinino procurava comê Biscoito, dividida entre os cuidado da casa e o guri duma vista verde, eles inté parecia tá casado. Enquanto durô a lua de mel num teve veiz qui num quis as mandiga da cama. Namorava espremê os bico e tomá a leitaria. Ele gostava, ele queria, mais parecia distraído, caceteado, dava mais valô as distração com as entrega dos rancho. Ela desanimada, ele pouco interessado. Parecia qui os dois só cumpria obrigação desde qui o piquinino duma vista verde abrolhô.

No caso de Biscoito, dá pra entendê o desinteresse com as tarefa de atendê as depravação do muriquinho, no começo, ele tinha mais qui aprendê qui ensiná. Num era mais assim, ela tumbém mudô, tinha menos abatimento e mais frieza pra se mostrá, num colocava cisma de capricho nem gingação de tristeza. Tava fria inté de tristeza. Deitava de frente ou de costa, só obedecia. As perna aberta esperando a dureza de minhoca do piazote. Num dava um suspiro. Nada. Tinha veiz qui a ordem era pra dobrá os joêio, pra modo dele oiá meió a greta preta. Num reclamava quando ele cismava fazê igual o Dominici, o touro de cobertura das mimosa do siô conde Antão. Fincava os joêio e as mão na cama, o mesmo desenho das mimosa e do Dominici. Nada. Nenhum mugido, nenhum carinho. Dois bicho desatrelado.

Mesmo antes da pretinha ganhá barriga, ele foi descobrindo qui num bastava ficá fincado inté desmaiá, ela num tinha alegria pra dá, podia tomá a greta das perna com as mão, a boca, a minhoca, mais num sabia fazê ela cantá nem dançá. Ensinô obedecê, mais num sabia ensiná rí. Era só um muriquinho piquinino com as vista verde. Nunca Biscoito teve desfalecimento, vosmecê parece que resisti em ter gosto de deitar comigo, num tenho gosto de deitá com nêum hôme, não digo que não é bom estar enfiado em vosmecê, mas eu queria menos desespero e mais alegria, num posso dá isso, e se eu lhe ordenar, o siô da Hora vai descobrí qui as coisa qui precisa mandá num vem com alegria, e se eu lhe pedir, tô abafada e desanimada, sem vida com gosto. E assim, comia Biscoito sem fome de sê comida, a muié qui lhe pertencia, mais num dava um riso, num tinha duqui rí, susó um brinquedinho nas mão do muriquinho piquinino.

Ele comprô, num precisô encantá nem seduzí, pagô pra segurá as corrente e levá pra rede da senzala do armazém. Tempo rude de sê muié, tempo desgraçado de sê muié preta pra vivê acorrentada, tempo infame de sê criola bunita pra tê na cama as canalhice do pelourinho. Os demônio branco da Villa tinha soltura abençoada, eles cantava glória e aleluia, depois deitava em cima todo deformado, abrindo caminho com força infame nos lugá mais íntimo das muié preta acorrentada. Num tinha alegria, era uma vida de num tê respeito com as preta. O patrão das terra deitava na criola bunita, todo duro e desfigurado. Abria os caminho fechado usando o tição do ferro em brasa qui marcava rasgando as carne da criola. Num pedia, mandava. Enfiava. Tempo ruim de sê muié e preta e acorrentada, carregando na barriga otra vida de escravidão e na cacunda uma cambada rezadêra de branco do chapéu inté o sapato. Gente boa qui num se atazanava de vê muié preta gingando tristeza na cama de terra, lá no bem fundo do buraco, negro bom é o negro enfiado na terra brotando.

O açoite do feitô ou o branco deitado por cima dos punho amarrado, podia escoiê, entremeando brincadêra com palavra séria, xingação e gozação, oh, negra deliciosa abre tuas pernas e oferece tua greta seca ou molhada, não faça beiço ou o feitor enfia o ferro desgovernado que trago nas mãos, oh, u qui u sinhorio tá fazendo, num faz, num faz, num atrapaia a vida, cavalão, ele num escutava o qui num queria. Os otro esperava na volta do fogo com o chimarrão e o terço nas mão, esperando a veiz, tempo desgraçado de sê muié e preta e num tê dono, inté qui sucumbia a hospitalidade da vida no campo. Umas rezava feito besta, fazendo beicinho pra morá na Villa, durumindo em cama com tudo branquinho, bosta de gente qui esquece as maldade dos antigo e jura qui num teve tanta maldade.

Mifioneto, essa gente qui cresceu do muriquinho piquinino, é boa gente, continua com o terço nas mão, mais qué ocê sentado nesse banco de cobradô e as pretinha esticando o lençol no feitio das rainha, a comida bem feita, chêrosa, saborosa, as roupa lavada e desamassada, a casa asseada, tempo de sê muié e preta é qualqué dia. Podia nascê ontem, nascê hoje, amanhã, o tempo é sempre desgraçado e a luta é a mesma contra vossa incelença, o feitô de todas as terra, boticum de pé no chão, chuá de cachoêra, batucada, muriquinho piquinino senta no colo de iaiá pra se educá.

E foi sendo assim, ia uê, chora chora chora muié preta desamparada, atazanada, sozinha, longe da batucada, num vadeia, ê, chora chora chora chuva miudinha, bença meu pai, bença minha mãe, num faço beicinho, me tira dessa trapaiada, rezava noite sim, dia tumbém, inté qui ganhô barriga. Foi no tempo qui a barriga crescia qui o sinhorio piquinino foi atrás das puta.

Ela agradeceu o alívio. Rezô de alegria com tristeza.

Tempo difícil de sê muié, chora chora chora só, criola bunita num pde escoiê o hôme do fiô pra fazê, chora chora chora o fiô qui num vai ficá depois de nascê. Tempo danado turi auê, o céu é dos manso e o paraíso é dos qui pode comprá e vendê.

Lá foi o siô muriquinho piquinino arrendá as greta qui mais dava no gosto. Num quis nem achô bão esperá o desfecho da barriga de Biscoito. Depois de provado o gosto da greta, muriquinho piquinino só queria se acabá, meu pai, não tenho vontade de parar, parece feitiçaria, meu filho, isso tudo vai passar, aproveita, não sei, meu pai, elas são muito alegres, o véio da Hora estremecia das risada qui dava, elas são doidas por tuas moedas, meu pai, elas juram que são os meus olhos verdes, ele num parava os riso, e ocê sempre paga, eu sempre pago, cada mercadoria, meu filho, tem o preço que mais valia, barato só as porcaria, eles num parava os riso qui estremecia.

O muriquinho piquinino gostava de fazê visita pras moça, num fazia mais com medo das moeda saí dum jeito maió qui entrá. As veiz num tinha as moeda, mais ia inté a casa, era só pra colocá as vista, pedí licença pra roçá os dedo e sentí os aroma da casa alcovitêra, fumo, bagacêra e perfume de muié. Sabia dos fingimento, mais preferia assim, os grito num era verdade, os gemido e os óio revirado tinha treino, inté as palavra dita era repetição, enfia, enfia, o molequinho pequenino é muito gostoso, enfia tudo, enfia, que minhoca atrevida. Ele num importava com fingimento, tava pagando pelo divertimento, gosto de ver a mocinha montada no cavalo, assim vai lhe custar mais duas moedas, êêê cavalinho, êêê cavalinho

É só isso?

A purugunta do siô conde pareceu ficá perdida nos grito do salão, as batida dos pé, o chão sangrando, os gemido nunca escutado, madêra rangendo os dente, as areia do rio remexendo, o barco boiando, as chibata firme na mão, Josino sonhava qui fugia com Milagres, carregado da esperança no pequeno mundo do quilombo, yao ê, ererê ai ogum bê, longe dos dono das terra, qui terra num devia tê dono, longe do feitô zangado, se ele puruguntava pra onde ia, o preto num dizia, mais ia no quilombo do zumbá com a criola catita, bença meu pai, perdão Abaluaiê, ó rei do mundo, vem salvá a tô tô lu Abaluaiê, bença meu pai, enfiado no sonho, perambulando na mata. E escutando os gemido dos espritu qui vive nas memória da voz qui canta, nas carne qui dança as cantoria do tantan, eles sai de onde tá qui é o lugá de tudo e vem pra sentí o gosto de tê carne. Experimentá de novo os pé descalço qui pula e gira com as gargaiada forte do atabaque, as mão calejada da enxada qui bate no chão pra rasgá a terra, pará com a dô da fome. Eles vem de lá pra cá e vai de cá pra lá, mais pra podê vê, ocê tem qui dobrá a cintura e levá a cabeça inté o chão, ajoêiá e pedí ajutório pra modo de podê enxergá. Eles balança na rede de durmí enquanto ocê explica qui qué alívio dessa vida de sede sem amô, remédios há entre as pessoa pra dô nas junta, o qui num há é amô, só sofro

É um começo, foi a resposta do siô padre. Pareceu sê mais ameaça qui esperança em otros dia meió. O siô conde só tava querendo sabê da continuação daquele começo, quase perdeu a paciência com as palavra truncada da resposta defeituosa. Queria mais claridade. As palavra do siô padre tinha aparência qui fala, mais num dizia nada. Oiô direto nos óio do salão e procurô um rosto qualqué, dentro daquele lusco-fusco, pra se fixá oiando. Tava decidido qui era tempo de se enfiá goela abaixo do jeito qui eles achava meió.

Um pequeno triná veio da sala ao lado, um canto de sineta poderoso fez pará os grito das boca e os agito dos pé, silenciô as conversa e os gemido do chão. O siô padre arretô o corpo curvado e subiu a voz vaidosa

Sinhô Conde Afonso da Hora, aquilo foi um chamado solene qui anunciô o começo das instrução, é preciso colocar essa venda, o siô conde fez careta de estranhamento

Não sabia que ficaria sem os meus olhos e iríamos brincar de cabra-cega, camiá com as vista tapada era oferecê mais confiança pra quem num sabia se merecia. Mostrô hesitação. O hôme com vestido preto curvô otra veiz as costa, parecia soltando algum segredo. Isso é otra coisa qui os fantasma gosta de fazê, assustá os crente qui eles conhece algum segredo qui vai podê ajudá ou acabá com os crente, vosmecê pode ficar manso... estarei ao seu lado, mais o segredo é pros crente confiá qui eles sabe o qui faz e eles só faz o qui é bão pros crente, desde qui os crente num faça purugunta boba. E é os fantasma qui decide se as purugunta são ou num são boba

Confiado, o sinhorio das terra baixa do Humaitá, só fica quando tá na casa de Maria Cobra, lugá pra desacostumá das coisa séria, ficá sem vontade de rezá. Essa era a receita de cura da casa e qui as mocinha levava a sério, o sinhô Padre já fez visita, não, pois devia ir, não, é um lugar em que o sinhô Padre não precisa fingir, quem lhe disse que sou fingido, todo mundo é, não faça medida dos outros por vosmecê, o sinhô Padre pode ficar largado nas mãos das moças, isso é uma blasfêmia, o sinhô nem precisa ter vontade que elas descobrem o que está escondido.

O siô padre colocô a venda nas vista do siô conde, depois pegô na mão do noviço, sua mão está suando, acho que é a sua. Os dois entrô de mão dada no lugá do triná da sineta. Num dava pra ele vê, mais podia sentí na carne inté os osso qui tudo tinha as vista nele e no siô padre. Saboreô uma vontade imensa de rí e chamá Maria Cobra, naquele salão recheado de silêncio e trinado. Ela ia fazê muita brilhatura com a sua dança do corpo sem pano com a cobra. Quase saiu correndo e foi buscá a amiga pra alegrá aquela seriedade falsa dali. Os dois ia se rí muito

O sinhô pode nos apresentar o postulante, os dois parô no centro daquela selva piquinina. O padinhu do siô conde apresentô as alegação de comparecimento aos treis mascarado vestido todo de branco. O maió dos mascarado pareceu sê o celebradô das formalidade

Este é o sinhô Conde Afonso da Hora, casado na Igreja da Construção, com dona Casta Antão, possessora das terra baixas do Humaitá, no caminho lateral que pode levar até a Aldeia dos Anjos, na falação do siô padre, nada respirô. Nem o assoaio arriscô algum gemido, tudo parecia tê medo da maldição qui segue os encapuzado. Treis fantasma qui assusta os crente. O maió dos fantasma foi o único qui falô

O sinhô que o sinhô Padre diz se chamar Afonso da Hora confirma que esse é o seu nome?

Sim!

O sinhô deve jurar que jamais falará a ninguém sobre o que ouvir aqui nem fará comentários sobre tudo que venha ver, queria oiá nas vista de cada um e fazê aquela juramentação de honra com a palavra dada, isso é coisa que não posso cogitar pedir aos negros da nossa posse, sinhá Casta, seria bom se fosse possível, mas os negros não têm palavra nem honra. Precisam sentir o medo do açoite, o peso das correntes, só assim aprendem o respeito e a obrigação que todos têm de obedecer

Eu juro!


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