Ensaio 56B – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
O siô padre apontô sisudo a cruiz de prata pendurada no pescoço. Bunita. Bem-feita. Com trêis pedra brilhante no lugá dos cravo. Ele carregava solene o sermão da eternidade balançando brilhoso no peito. Falava cerimonioso em nome do hôme pregado. Tinha o costume de segurá a cruiz com uma das mão, a otra espaiava o siná da misericórdia em nome do Pai Filho Espírito Santo, o arrependimento limpa os pecados, meu filho, o otro oiava e pensava como podia tê uma igual, tanta cruz em peito tão pequeno faz pensar na força do sinhô Padre para carregar tantos pecados, carregá aquela cruiz pode num ajudá tirá os pecado, mais faz pensá qui o pregadô era hôme de muita riqueza qui abandonô tudo pra salvá os pobre, em veiz de abandoná as riqueza devia tê distribuído com os pobre, vai sabê o qui se passa na cabeça de cadum, o castigo precisa ficar bem à vista, meu filho, eu sei, sinhô Padre, caldo de galinha e cautela não fazem mal a ninguém; as conversa amena, entre o siô padre e o siô conde, datava depois qui o siô Afonso da Hora comprô o título de conde Humaitá e passô acompanhá siá Casta nas dominguêra, meu filho, cuida bem dos teus pensamentos e atitudes, tenho muito cuidado, sinhô Padre, a escória se alimenta da inveja e das macaquices, são patéticos sem um belo pensamento, ouça este velho servo do Senhor, cuida para não seres acusado e condenado de haver abrigado algo suspeito, todos podem ser acusados, alguns mais do que outros, sirvas mais do que sejas servido, não esqueças que todos estamos perto de morrer, amém. Ali, tava os dois conversando da vida qui se qué tê antes de morrê. A cruiz era convocada pra desembaraço das dúvida no juramento, assim, num precisava anunciá com muitas palavra o robusto carvalho da verdade, não esqueças que o dia do julgamento pode demorar, mas pode não demorar, eu sei, sinhô Padre, é preciso chupar toda a laranja enquanto se pode, esteja preparado, meu filho.
O siô padre confirmô qui o afiádo tava preparado, sabia qui a terra come a carne de tudo pra tê adubo, só assim faz crescê a espiga do miô, a terra come a carne, mas quem come o espírito, sinhô Padre, a Misericórdia de Deus, meu filho, esse deus do siô padre parece sê gordão e guloso, num para de comê gente e fazê adubo. O siô bode num tirava das lembrança o otro bode rasgado na garganta. O coitado num teve nenhum aviso, num deu um gemido. Num creditô qui tinha sido traído inté sentí o frio cortante no gargalo. Ninguém credita qui é sacrificado, dia mais dia menos, nem o bode qui num sabe qui é bode. Depois de sentí o fio frio e cortante num tem mais tempo de nada. Ninguém morre duas veiz do arrependimento, o sinhô Padre não precisa mostrar o inferno, basta ameaçar com a perda do céu
O sinhô Conde acredita em Deus?
O silêncio ficô sem ruído no salão da Harmonia, num era preciso tê destemô pra dá resposta de confirmação, num era preciso tê atrevimento pra dizê o qui a Freguesia esperava escutá, sim, eu acredito em Deus!
O siô padre farejô qui a confirmação podia sê só um consentimento anunciado da boca pra fora, onde estará o sopro da verdade? Nas palavras da mente ou nos compromissos do coração? No palavrório escondido entre o improvável e o razoável?
O siô bode num gostava de ficá empurrado de costa na parede, atocaiado, cercado nos lado, sem saída, eu e dona Casta não perdemos um sermão do sinhô Padre. Estamos sempre nas domingueiras. E repare, sinhô Padre, que a viagem é longa, lá da Humaitá até a Villa, ele num sentiu satisfação com a resposta, num disse nada qui o dono da cruiz num sabia.
Do seu lado, o siô padre achô qui ele tava brincando de esconde-esconde. Os dois sabia qui a resposta num valeu. A interrogação ia continuá inté aclará as sombra qui o bode carregava, não foi o que lhe perguntei...
Então, talvez não tenha entendido a sua pergunta.
Não tem problema, faço de novo.
Pois, faça... o siô bode quis tirá da voz o desafio do desacato, mais num conseguiu sê menos desabusado qui o seu costume. Nem bem terminô de convocá a provocação, reconheceu qui foi desacautelado. Colocô tudo a perdê com cisma teimosa qui faz as criança chorá ou sê arrastada. A voz fria e dura do siô padre lhe avisô do perigo
Então, diga se vosmecê aceita Deus por fé ou diz que acredita porque precisa dizer...
O siô bode conde tinha fé no qui podia dá resultado de mais riqueza, nas coisa qui podia mudá com suas lei e grito, num ia dizê o qui pensava, desta veiz num aceitô a provocação, em quem eu acredito? esse padreco sabe da missa só a metade. eu tenho fé na chibata, nas correntes, na fartura do gozo com as meninas da Maria Cobra, no vinho, mas não acredito que sou louco ou depravado por conta das minhas paixões desregradas. elas guiam e estimulam minha vida. nasci para ser dono de tudo. não sou um monstro, acredito que as mulheres me salvaram de ser um monstro abominável. gosto das mulheres. gosto de mandar nas mulheres. gosto de ser obedecido. sempre. eu também sinto ganas de salvar todas, mas do meu jeito. às vezes, sinto compaixão, mas é cada vez mais raro sentir piedade. mulheres e negros são lentos para entender as ordens que precisam cumprir, incapazes de encontrar as saídas da sua desgraça. gostam de reis, eu gosto de ser seu rei. um rei sem escrúpulos, não tem coisa pior que eu mesmo à solta, por aí. e esse padreco quer a minha confiança, depois minha confissão, aham, vai ficar esperando, rezando. o melhor é ficar calado, não fazer perguntas difíceis nem mostrar que sei as respostas. todas. são muito ignorantes e fracos, não vou provocar desafios com respostas desabusadas
Não desacredito, sinhô Padre. Nunca deixei de fazer o sinal da cruz: Pai, Filho e Espírito Santo. É como uma proteção da bondade e do sacrifício contra a intolerância e o ódio. Uma caridade. O amor em Cristo nos salvará. Precisamos mastigar o ódio até o fim com a caridade, ela contagia pelo ar. As palavras podem estar infectadas, num caso extremo como esse, quando as palavras provocam o contágio, todos precisam ficar em silêncio e orar para que a lei de Deus continue acima das leis dos homens. O segundo maió dos trêis encapuzado, qui tinha feito o juramentado jurá, pareceu impaciente com aquela perguntação tardia do siô padre. Parecia muita conversa e tempo jogado fora. Tirô o capuz, a sua fantasia triste do medo.
O siô bode antes de sê bode foi conde, antes de sê conde foi mascate negociadô do armazém do pai, e, bem antes de sê comerciante, chegô muriquinho piquinino de colo e têta, veio das lonjura portuguesa. Atravessô a estrada das água, mais num tava acorrentado nem foi arrancado da sua mãinha. Num foi separado do seu painho. Eles num tinha fartura de dote, mais comia quando tinha fome, dormia quando tinha sono. Num cresceu assustado com os costume do chicote e das corrente, num tinha o jeito de sê apanhado com cara de espanto. Mais foi apanhado. Num quis arregalá as vista quando viu o desmascarado, mais num controlô o feitio de oiá o desembruiado do pano branco qui cobria as aparência do doutô Garganta, promotô acusadô dos criminoso da Villa
Sinhô Padre, sinhô Conde, me perdoem a secura da intromissão, ele parecia tá se descontrolando do feitio qui gostava de sê, essas perguntas sobre a Cruz e o Nosso Senhor Salvador estão fora do lugar e do tempo, deveriam ser feitas antes do acontecimento.
O sinhô Promotor tem toda razão, mas...
Permita-me, sinhô Padre, por favor, o doutô Garganta num tava disposto em mantê aquela polêmica com o padinho do siô bode conde, desviô sua atenção do siô padre. Oiô firme e duro pro recém feito bode. Os dois parecia tá no palanqui dos julgamento. Um lugá pra desfilá os mistério das mentira e verdade, razão e abuso, a tribuna do siô juiz num é um lugá de justiça, é um palco de contação das história contra e à favô. Ganha quem conta a meió história, sinhô Conde, para que serve Deus? Para o sinhô Conde ele é um sentimento ou uma ideia?
O siô bode e conde tinha resposta daquele desafio, mais num sabia se as coisa qui ele pensava tava no tempo de sê dita, essa gente num sabe se qué das medida sem medida qui ele pode fazê, eles num sabe se ele tem controle, num sabe como pode controlá o descontrole, mas que merda é essa, se perguntô, caí em uma armadilha? não posso acreditar! preciso sair dessa tramoia para cordeiros, eu não sou um cordeiro! posso até fingir ser um bode, acontece que fingir não é ser, querem escutar as palavras que acalmam seus medos, covardes! são egoístas, rezam para um grande e terrível Deus! apanham o que for preciso e juram que é seu, matam e mastigam os corpos fracos! perseguem! ferem! escondem! oram para um grande e terrível Deus! preservam o mal e o soltam de tempos em tempos, esvaziam o céu, tudo fica proibido, só a lei é permitida, a vossa lei! feita por vós! julgada por vós, condenados por vós! o anjo e o egoísta! estão prontos para minha chegada?
Sorriu das coisa estranha qui pensava. Num podia mais silenciá, ficá com os pensamento guardado. Precisava arriscá dizê alguma coisa, qualqué coisa, mais num podia tudo, precisei da Rita para descobrir as mulheres, por que a Rita? o preço era bom e carregava muita tristeza para rir da minha ignorância. os filhos que ela não teve fez bem em não ter. o filho que teve já está feito, não tem o que fazer, mas deu uma boa criação. fez melhor do que eu com a criação dos cavalos. gosto mais dos cavalos, não são egoístas. gente é egoísta, só quer melhorar, nunca é o bastante. sempre mais e mais. isto vai piorar, se o vivente tem um negro, logo quer outro, depois três, quatro. a criação da Rita com o bastardo foi boa, como já disse, ele sabe o lugar que precisa ficar. sinhá Casta gostava e não gostava, mas gostando ou não, ela não tinha o que fazer. o negócio tava fechado. e o que estava ou não estava feito ficou no passado, lá atrás não tem como mexer
Ele é tudo!
O acusadô encarô o siô bode, os dois ficô frente na frente, as vista dum encarava as vista dotro, eles procurava alguma coisa qui pudesse fazê desfeita do feito e juramentado. Num encontrava. Num encontrô. Num ia encontrá. Os dois acabô nos braço um dotro, um abraço desanimado qui num deu satisfação de vê, num deu contentamento de dá. O acusadô deu o caso como encerrado sem tá satisfeito. Anunciô na direção do siô padre, na razão de sê o padinho do novo bode da boataria, agora, sinhô Padre, só nos resta fazer o acontecido acontecer.
O siô muriquinho piquinino, num nascido na Villa, chegado como forastêro de fora, Afonso da Hora, tornado conde Humaitá pelos laço da maridança, qui juntô os dote do marido e as aliança do véio conde, tava aceito. Ele era um bode moço na loja da Freguesia Harmonia, dona da Villa. Otro estúpido, otro bem-aventurado, num queria se perguntá, num queria trapaceá na resposta. Num tinha vontade de esclarecê. Gente boa e caridosa só pensa coisa boa de tanta caridade qui faz. A caridade serve pra isso mesmo, ajudá sem libertá o necessitado, perdoá o piedoso sem arrependimento
Bem, muito bem... vamos afrouxar o descanso com um bom vinho!
Os dois mascarado qui restava acabô com a fantasia do mistério: o maió de todos era o visconde Madeiro, juiz das leis da Villa, o hôme encarregado de fazê justiça cega qui enxerga a verdade no lugá qui tivé, sem vaidade, medo das fofoca, pelo chêro. As pessoa boa da Villa confiava no juiz preocupado na aplicação correta das lei, o hôme qui faz o certo, livremente; e do lado, tava o menó de todos, o coroné Sião, chefe das pulícia, encarregado de mantê a ordem e os bão costume, ainda tava com as mão encardida com o sangue do bode.
Histórias de avoinha: O tempo é um rio seco
Ensaio 55B – 2ª edição 1ª reimpressão
Histórias de avoinha: em nome do Pai Filho e do Santo. amém
Ensaio 57B – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
O siô padre apontô sisudo a cruiz de prata pendurada no pescoço. Bunita. Bem-feita. Com trêis pedra brilhante no lugá dos cravo. Ele carregava solene o sermão da eternidade balançando brilhoso no peito. Falava cerimonioso em nome do hôme pregado. Tinha o costume de segurá a cruiz com uma das mão, a otra espaiava o siná da misericórdia em nome do Pai Filho Espírito Santo, o arrependimento limpa os pecados, meu filho, o otro oiava e pensava como podia tê uma igual, tanta cruz em peito tão pequeno faz pensar na força do sinhô Padre para carregar tantos pecados, carregá aquela cruiz pode num ajudá tirá os pecado, mais faz pensá qui o pregadô era hôme de muita riqueza qui abandonô tudo pra salvá os pobre, em veiz de abandoná as riqueza devia tê distribuído com os pobre, vai sabê o qui se passa na cabeça de cadum, o castigo precisa ficar bem à vista, meu filho, eu sei, sinhô Padre, caldo de galinha e cautela não fazem mal a ninguém; as conversa amena, entre o siô padre e o siô conde, datava depois qui o siô Afonso da Hora comprô o título de conde Humaitá e passô acompanhá siá Casta nas dominguêra, meu filho, cuida bem dos teus pensamentos e atitudes, tenho muito cuidado, sinhô Padre, a escória se alimenta da inveja e das macaquices, são patéticos sem um belo pensamento, ouça este velho servo do Senhor, cuida para não seres acusado e condenado de haver abrigado algo suspeito, todos podem ser acusados, alguns mais do que outros, sirvas mais do que sejas servido, não esqueças que todos estamos perto de morrer, amém. Ali, tava os dois conversando da vida qui se qué tê antes de morrê. A cruiz era convocada pra desembaraço das dúvida no juramento, assim, num precisava anunciá com muitas palavra o robusto carvalho da verdade, não esqueças que o dia do julgamento pode demorar, mas pode não demorar, eu sei, sinhô Padre, é preciso chupar toda a laranja enquanto se pode, esteja preparado, meu filho.
O siô padre confirmô qui o afiádo tava preparado, sabia qui a terra come a carne de tudo pra tê adubo, só assim faz crescê a espiga do miô, a terra come a carne, mas quem come o espírito, sinhô Padre, a Misericórdia de Deus, meu filho, esse deus do siô padre parece sê gordão e guloso, num para de comê gente e fazê adubo. O siô bode num tirava das lembrança o otro bode rasgado na garganta. O coitado num teve nenhum aviso, num deu um gemido. Num creditô qui tinha sido traído inté sentí o frio cortante no gargalo. Ninguém credita qui é sacrificado, dia mais dia menos, nem o bode qui num sabe qui é bode. Depois de sentí o fio frio e cortante num tem mais tempo de nada. Ninguém morre duas veiz do arrependimento, o sinhô Padre não precisa mostrar o inferno, basta ameaçar com a perda do céu
O sinhô Conde acredita em Deus?
O silêncio ficô sem ruído no salão da Harmonia, num era preciso tê destemô pra dá resposta de confirmação, num era preciso tê atrevimento pra dizê o qui a Freguesia esperava escutá, sim, eu acredito em Deus!
O siô padre farejô qui a confirmação podia sê só um consentimento anunciado da boca pra fora, onde estará o sopro da verdade? Nas palavras da mente ou nos compromissos do coração? No palavrório escondido entre o improvável e o razoável?
O siô bode num gostava de ficá empurrado de costa na parede, atocaiado, cercado nos lado, sem saída, eu e dona Casta não perdemos um sermão do sinhô Padre. Estamos sempre nas domingueiras. E repare, sinhô Padre, que a viagem é longa, lá da Humaitá até a Villa, ele num sentiu satisfação com a resposta, num disse nada qui o dono da cruiz num sabia.
Do seu lado, o siô padre achô qui ele tava brincando de esconde-esconde. Os dois sabia qui a resposta num valeu. A interrogação ia continuá inté aclará as sombra qui o bode carregava, não foi o que lhe perguntei...
Então, talvez não tenha entendido a sua pergunta.
Não tem problema, faço de novo.
Pois, faça... o siô bode quis tirá da voz o desafio do desacato, mais num conseguiu sê menos desabusado qui o seu costume. Nem bem terminô de convocá a provocação, reconheceu qui foi desacautelado. Colocô tudo a perdê com cisma teimosa qui faz as criança chorá ou sê arrastada. A voz fria e dura do siô padre lhe avisô do perigo
Então, diga se vosmecê aceita Deus por fé ou diz que acredita porque precisa dizer...
O siô bode conde tinha fé no qui podia dá resultado de mais riqueza, nas coisa qui podia mudá com suas lei e grito, num ia dizê o qui pensava, desta veiz num aceitô a provocação, em quem eu acredito? esse padreco sabe da missa só a metade. eu tenho fé na chibata, nas correntes, na fartura do gozo com as meninas da Maria Cobra, no vinho, mas não acredito que sou louco ou depravado por conta das minhas paixões desregradas. elas guiam e estimulam minha vida. nasci para ser dono de tudo. não sou um monstro, acredito que as mulheres me salvaram de ser um monstro abominável. gosto das mulheres. gosto de mandar nas mulheres. gosto de ser obedecido. sempre. eu também sinto ganas de salvar todas, mas do meu jeito. às vezes, sinto compaixão, mas é cada vez mais raro sentir piedade. mulheres e negros são lentos para entender as ordens que precisam cumprir, incapazes de encontrar as saídas da sua desgraça. gostam de reis, eu gosto de ser seu rei. um rei sem escrúpulos, não tem coisa pior que eu mesmo à solta, por aí. e esse padreco quer a minha confiança, depois minha confissão, aham, vai ficar esperando, rezando. o melhor é ficar calado, não fazer perguntas difíceis nem mostrar que sei as respostas. todas. são muito ignorantes e fracos, não vou provocar desafios com respostas desabusadas
Não desacredito, sinhô Padre. Nunca deixei de fazer o sinal da cruz: Pai, Filho e Espírito Santo. É como uma proteção da bondade e do sacrifício contra a intolerância e o ódio. Uma caridade. O amor em Cristo nos salvará. Precisamos mastigar o ódio até o fim com a caridade, ela contagia pelo ar. As palavras podem estar infectadas, num caso extremo como esse, quando as palavras provocam o contágio, todos precisam ficar em silêncio e orar para que a lei de Deus continue acima das leis dos homens. O segundo maió dos trêis encapuzado, qui tinha feito o juramentado jurá, pareceu impaciente com aquela perguntação tardia do siô padre. Parecia muita conversa e tempo jogado fora. Tirô o capuz, a sua fantasia triste do medo.
O siô bode antes de sê bode foi conde, antes de sê conde foi mascate negociadô do armazém do pai, e, bem antes de sê comerciante, chegô muriquinho piquinino de colo e têta, veio das lonjura portuguesa. Atravessô a estrada das água, mais num tava acorrentado nem foi arrancado da sua mãinha. Num foi separado do seu painho. Eles num tinha fartura de dote, mais comia quando tinha fome, dormia quando tinha sono. Num cresceu assustado com os costume do chicote e das corrente, num tinha o jeito de sê apanhado com cara de espanto. Mais foi apanhado. Num quis arregalá as vista quando viu o desmascarado, mais num controlô o feitio de oiá o desembruiado do pano branco qui cobria as aparência do doutô Garganta, promotô acusadô dos criminoso da Villa
Sinhô Padre, sinhô Conde, me perdoem a secura da intromissão, ele parecia tá se descontrolando do feitio qui gostava de sê, essas perguntas sobre a Cruz e o Nosso Senhor Salvador estão fora do lugar e do tempo, deveriam ser feitas antes do acontecimento.
O sinhô Promotor tem toda razão, mas...
Permita-me, sinhô Padre, por favor, o doutô Garganta num tava disposto em mantê aquela polêmica com o padinho do siô bode conde, desviô sua atenção do siô padre. Oiô firme e duro pro recém feito bode. Os dois parecia tá no palanqui dos julgamento. Um lugá pra desfilá os mistério das mentira e verdade, razão e abuso, a tribuna do siô juiz num é um lugá de justiça, é um palco de contação das história contra e à favô. Ganha quem conta a meió história, sinhô Conde, para que serve Deus? Para o sinhô Conde ele é um sentimento ou uma ideia?
O siô bode e conde tinha resposta daquele desafio, mais num sabia se as coisa qui ele pensava tava no tempo de sê dita, essa gente num sabe se qué das medida sem medida qui ele pode fazê, eles num sabe se ele tem controle, num sabe como pode controlá o descontrole, mas que merda é essa, se perguntô, caí em uma armadilha? não posso acreditar! preciso sair dessa tramoia para cordeiros, eu não sou um cordeiro! posso até fingir ser um bode, acontece que fingir não é ser, querem escutar as palavras que acalmam seus medos, covardes! são egoístas, rezam para um grande e terrível Deus! apanham o que for preciso e juram que é seu, matam e mastigam os corpos fracos! perseguem! ferem! escondem! oram para um grande e terrível Deus! preservam o mal e o soltam de tempos em tempos, esvaziam o céu, tudo fica proibido, só a lei é permitida, a vossa lei! feita por vós! julgada por vós, condenados por vós! o anjo e o egoísta! estão prontos para minha chegada?
Sorriu das coisa estranha qui pensava. Num podia mais silenciá, ficá com os pensamento guardado. Precisava arriscá dizê alguma coisa, qualqué coisa, mais num podia tudo, precisei da Rita para descobrir as mulheres, por que a Rita? o preço era bom e carregava muita tristeza para rir da minha ignorância. os filhos que ela não teve fez bem em não ter. o filho que teve já está feito, não tem o que fazer, mas deu uma boa criação. fez melhor do que eu com a criação dos cavalos. gosto mais dos cavalos, não são egoístas. gente é egoísta, só quer melhorar, nunca é o bastante. sempre mais e mais. isto vai piorar, se o vivente tem um negro, logo quer outro, depois três, quatro. a criação da Rita com o bastardo foi boa, como já disse, ele sabe o lugar que precisa ficar. sinhá Casta gostava e não gostava, mas gostando ou não, ela não tinha o que fazer. o negócio tava fechado. e o que estava ou não estava feito ficou no passado, lá atrás não tem como mexer
Ele é tudo!
O acusadô encarô o siô bode, os dois ficô frente na frente, as vista dum encarava as vista dotro, eles procurava alguma coisa qui pudesse fazê desfeita do feito e juramentado. Num encontrava. Num encontrô. Num ia encontrá. Os dois acabô nos braço um dotro, um abraço desanimado qui num deu satisfação de vê, num deu contentamento de dá. O acusadô deu o caso como encerrado sem tá satisfeito. Anunciô na direção do siô padre, na razão de sê o padinho do novo bode da boataria, agora, sinhô Padre, só nos resta fazer o acontecido acontecer.
O siô muriquinho piquinino, num nascido na Villa, chegado como forastêro de fora, Afonso da Hora, tornado conde Humaitá pelos laço da maridança, qui juntô os dote do marido e as aliança do véio conde, tava aceito. Ele era um bode moço na loja da Freguesia Harmonia, dona da Villa. Otro estúpido, otro bem-aventurado, num queria se perguntá, num queria trapaceá na resposta. Num tinha vontade de esclarecê. Gente boa e caridosa só pensa coisa boa de tanta caridade qui faz. A caridade serve pra isso mesmo, ajudá sem libertá o necessitado, perdoá o piedoso sem arrependimento
Bem, muito bem... vamos afrouxar o descanso com um bom vinho!
Os dois mascarado qui restava acabô com a fantasia do mistério: o maió de todos era o visconde Madeiro, juiz das leis da Villa, o hôme encarregado de fazê justiça cega qui enxerga a verdade no lugá qui tivé, sem vaidade, medo das fofoca, pelo chêro. As pessoa boa da Villa confiava no juiz preocupado na aplicação correta das lei, o hôme qui faz o certo, livremente; e do lado, tava o menó de todos, o coroné Sião, chefe das pulícia, encarregado de mantê a ordem e os bão costume, ainda tava com as mão encardida com o sangue do bode.
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