Los Poetas del Amor (27)
Nem Tudo Está Dito
Natureza Humana
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Nem Tudo Está Dito
Fumo
de tabaco rói o ar.
O quarto – um capítulo do inferno de Krutchônikh. Recorda – atrás desta janela pela primeira vez apertei tuas mãos, atônito. Hoje te sentas, no coração – aço. Um dia mais e me expulsarás, talvez, com zanga. No teu hall escuro longamente o braço, trêmulo, se recusa a entrar na manga. Sairei correndo, lançarei meu corpo à rua. Transtornado, tornado louco pelo desespero. Não o consintas, meu amor, meu bem, digamos até logo agora. De qualquer forma o meu amor – duro fardo por certo – pesará sobre ti onde quer que te encontres. Deixa que o fel da mágoa ressentida num último grito estronde. Quando um boi está morto de trabalho ele se vai e se deita na água fria. Afora o teu amor para mim não há mar, e a dor do teu amor nem a lágrima alivia. Quando o elefante cansado quer repouso ele jaz como um rei na areia ardente. Afora o teu amor para mim não há sol, e eu não sei onde estás e com quem. Se ela assim torturasse um poeta, ele trocaria sua amada por dinheiro e glória, mas a mim nenhum som me importa afora o som do teu nome que eu adoro. E não me lançarei no abismo, e não beberei veneno, e não poderei apertar na têmpora o gatilho. Afora o teu olhar nenhuma lâmina me atrai com seu brilho. Amanhã esquecerás que eu te pus num pedestal, que incendiei de amor uma alma livre, e os dias vãos – rodopiante carnaval – dispersarão as folhas dos meus livros... Acaso as folhas secas destes versos far-te-ão parar, respiração opressa? Deixa-me ao menos arrelvar numa última carícia teu passo que se apressa. |
Maiakowisk
Natureza Humana
Cheguei. Sinto de novo a natureza
Longe do pandemônio da cidade
Aqui tudo tem mais felicidade
Tudo é cheio de santa singeleza
Vagueio pela múrmura leveza
Que deslumbra de verde e claridade
Mas nada. Resta vívida a saudade
Da cidade em bulício e febre acessa
Ante a perspectiva da partida
Sinto que me arranca algo da vida
Mas quero ir. E ponho-me a pensar
Que a vida é esta incerteza que em mim mora
A vontade tremenda de ir-me embora
E a tremenda vontade de ficar
Vinicios de Moraes
O Poeta Pede a Seu Amor que lhe Escreva
Meu entranhado amor, morte que é vida,
tua palavra escrita em vão espero
e penso, com a flor que se emurchece
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem a sombra conhece nem a evita.
Coração interior não necessita
do mel gelado que a lua derrama.
Porém eu te suportei. Rasguei-me as veias,
sobre a tua cintura, tigre e pomba,
em duelo de mordidas e açucenas.
Enche minha loucura de palavras
ou deixa-me viver na minha calma
e para sempre escura noite d'alma.
Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'
Meu entranhado amor, morte que é vida,
tua palavra escrita em vão espero
e penso, com a flor que se emurchece
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem a sombra conhece nem a evita.
Coração interior não necessita
do mel gelado que a lua derrama.
Porém eu te suportei. Rasguei-me as veias,
sobre a tua cintura, tigre e pomba,
em duelo de mordidas e açucenas.
Enche minha loucura de palavras
ou deixa-me viver na minha calma
e para sempre escura noite d'alma.
Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'
Brincas todos os dias com a luz do universo.
Visitante sutil, chegas na flor e na água
És mais do que essa clara cabeça que aperto
como entre as mãos um cacho de uvas, cada dia.
A ninguém te pareces desde que te amo.
Deixa-me estender-te entre grinaldas amarelas.
Quem escreve o teu nome com letras de fumo entre
as estrelas do sul?
Ah, deixa-me recordar-te como eras outrora
quando não existias.
De súbito o vento ulula e me golpeia a janela
fechada.
O céu é uma rede cheia de peixes sombrios.
Aqui vêm ter todos os ventos, todos.
E despe-se a chuva.
Passam fugindo os pássaros.
O vento. O vento.
Posso lutar apenas contra a força dos homens.
O temporal remoinha folhas escuras
e solta todas as barcas que de noite atracaram
no céu.
Tu estás aqui. Ah, tu não foges.
Tu me responderás até o último grito.
Encolhe-te a meu lado como se tivesses medo.
Não obstante algumas vezes passou uma sombra
estranha por teus olhos.
Agora mesmo, pequena, me trazes madressilvas
e até os seios trazes perfumados.
Enquanto o vento triste galopa matando
borboletas
eu te amo e minha alegria morde tua boca de
ameixa.
Quanto te haverá doído acostumar-te a mim,
à minha alma só e selvagem, ao meu nome que
todos afugentam.
Já vimos tantas vezes arder o luzeiro do céu,
beijando-nos os olhos,
e sobre nossas cabeças destorcer-se o crepúsculo
em leques gigantes.
Em ti minhas palavras choveram afagando-te.
Amei de há muito teu corpo de queimado nácar.
Creio-te até senhora do universo.
Hei de trazer-te das montanhas flores alegres,
amarílis,
avelãs escuras, e cestas silvestres de beijos.
Quero fazer contigo
o que faz a primavera às cerejeiras.
Neruda
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