terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Histórias de avoinha: nós carregamos a espada, eles a enxada

Ensaio 72B – 2ª edição 1ª reimpressão


os demônios: nós carregamos a espada, eles a enxada


baitasar


os imaginativo das fofoca daqueles hôme subordinado ao egoísmo, vivendo parasitados nas injustiças e na extorsão, num tinha cuidado com as mercadoria ou com os preto qui subia ou descia. Os parasita e os perverso se juntava na beleza moral qui açoitava, vivia do trabalho escravo e proclamava qui era tudo igual: mercadoria ou preto, coisa pra modo de sê observada e usada. Os virtuoso da ganância e da cobiça faz valê tudo qui venha em nome do seu gozo e riqueza

esses interessêro qui ficava bisbilhotando num tinha preocupação nem pensava qui os trabaiadô escravizado tinha sonho, munto menos, qui num tinha vontade de tá escravizado, Eles querem é ficar jogados nas ruas, mendigando favores. Vagabundos, me dê o nome de um negro decente e faço uma lista com uns cinquenta macacos que só querem beber e copular com essas negras sujas, as coisa dita assim, nas boca da cobiça e da bisbilhotice, só cuida de num falá dos mais forte. Essas boca tem medo. O metediço inté faz a fofoca do mais poderoso, mais com todo cuidado pra num sê agarrado pelo pescoço ou pelo rabo

os branco com tanta beleza moral gostava de oiá os preto trabaiando no cativêro. Eles num desconhecia as aliança política, as sociedade do comércio e os perigo com as autoridade militá, os bélico é gente de munto nervosismo, mais as elite de tanta beleza moral gosta de oiá, eles é mais bão oiando qui fazendo, Já escutaram os negros cantando?

E tem como não escutar? É bater o tambor e eles saem pulando e requebrando...

Gosto da boçalidade da língua dos negros.

Exóticos!

os preto da sua posse abanando, assustando as mosca. As conversa de bisbilhotice num chegava logo no padinhu, mais elas vinha inté a sacristia colocada no fundo da capela-mó, dia a mais ou dia a menos. O valô maió da bisbilhotice prus abelhudo, num é qui ela num tenha otras serventia, tem munta serventia, mais ela toma feitio de profecia quando é boa pra anunciá o presságio dum fato futuro, tirado supersticiosamente da consideração com as entranha da vítima ou da aparência do fogo ou dos raios. Chama de morto o vivo qui vira morto-vivo. Uma agourice com enguiço do mau qui chora com impaciência os morto é como desgraçá a salvação dos morto, mais enfim, o morto qui vai tá morto num tem precisão com a preocupação dos raio ou fogo, ele num tá mais. Inté os vivo pode querê qui ele tá, pode deixá ele tá, mais ele num tá...

será...

... no caso de ocê num tê bem a certeza certa, é meió num mexê no abelhêro das coisa qui parece num existí, mais pode existí

o qui existe é os assunto doloroso da fome qui a villa nunca vai reconhecê qui tem culpa ou que existe, o esquecimento trágico dos mau trato: preto é escravo e miserável é vagabundo; pra bão entendô, a metade do silêncio basta, num tê dono é tê vida de mendigá

O amigo não acha que o trabalho degradante é ocupação para os negros?

a cruiz nos peito e o diabo nos feito

E o que vem a ser esse trabalho, Pensavento?

vinho ou sangue, naquelas horas do dia, num parecia café nem lanche, as norma das boa manêra foi esquecida pelos dono da beleza moral, de todo jeito, a conta dos morto quem faz é os vivo

Nós carregamos a espada, eles a enxada! A ociosidade é a mãe de todos os vícios, ela faz o ladrão. Antes a enxada que a adaga!

um trabaia pra si, o otro pra deus, mais se os dois tá junto eles trabaia pru diabo, ai jesuis cristinhu, lembro dessa conversa com gosto de café requentado

Então, é isso? Branco é branco, negro é negro...

o vento e a lenha, o medo e a razão

O começo da aventura humana foi assim, Caramão. E nunca vai ter fim.

as coisa falsa dita com vontade de sê verdade convence munta gente, mais é preciso educá dentro da barriga da mãe pra fazê munto mais qui manejá os pensamento dum qui otro

Esses negros são a maior desgraça da Villa e esse sofrimento da própria escravidão é o purgante para suas culpas. O que se pode esperar dessa Villa feita de conluio com selvagens inferiores, indolentes grosseiros, colonizadores oriundos da gente mais vil da metrópole e negros boçais... degenerados?

o padinhu sabia qui a boca fala o qui tá cheio no coração. A marotice da cobiça atiça a cisma das palavra, provoca os ataque pras coisa ruim ficá munto pió. Ele precisa tá um passo na frente dos conspiradô. O meió feitio era vigiá e conservá as coisa como sempre foi. A cautela num corre risco. Um jogo de ataque e defesa com as palavra pode fazê estrago ou criá a boa vontade, a aranha vive do qui tece

decidiu qui se fechava uma das vista, abria a otra. Mais num fez o qui devia tê feito veiz qui otra: abrí a fechada e fechá a aberta. A terra come munta coisa boa, deixô cansá a vista qui vigiava e acostumô a otra com a malandrice de só descansá. Assim seja, só abria a vista nos preto, se acostumô com a desgraça; a otra, civilizada e culta, observava os branco, inté o diabo ficô moço e bunito

num fechava as vista qui espreitava com capricho os preto nem quando os preto durumia. Fez como foi ensinado, desde sempre qui se tem notícia: o gado engorda com o oiá do dono

os mais estropiado em presença das lei é os mais vigiado

o padinhu ia como gagalhão na correnteza, desmanchando sem afundá, inté se misturá com as terra da beirada do remanso ou na descida das água, depois da enchente. A correnteza num para nem nas pedra, sabia qui num tinha ninguém mais igual nas lei qui os preto, boca qui num reclama mastiga

parado com uma das mão na beirada da porta, a sacristia cheirando a cachacêro sem segredo, a otra mão agarrada na canga esticada inté o peito, a cruiz do crucificado sempre pendurada no pescoço, num tirava. Tem coisa qui precisa de alarme pra num tê esquecimento

um grilhão brilhoso qui apertava com viveza. Pensava no amô qui tinha, a cara desse amô era munto estranha, O amor assume muitas formas, nunca me apaixonei. Isso é para pessoas de carne e osso. Esse meu amor não precisa da moça enfeitada, não precisa nada; não se abala com o vento, não quer proteção nem coice nem dentada, um amor que com amor se paga.

os pensamento avançava e recuava das vista. O horizonte ia e voltava. Calado. Num sabia inté onde podia confiá no ouvidô do patrão governadô. A língua remava em volta, andava e desandava, parecia enrolada. Cobria os contorno da boca. Ela se disfarçava de tontice enquanto garimpava o meió feitio pra prosa

Veja isso, sinhô Pensavento, esses escravos purgando suas culpas por não aceitarem o único Deus que existe.

o otro aproximô do padinhu, ficô com o queixo debruçado no ombro do ministro político da cruiz, oiava pra fora da sacristia o formigamento de preto carregando madêra, pedra, bronze pru sino, tinta pra pintá os santo, vidro pras janela vidraçada. Tudo sem água, sem comida. Subindo e descendo as tábua. Obedecendo. Carregando pedra mais pesada qui os criolo. O sol subindo e descendo. Ou no pino de cima. Sem descanso, sem reclamá, inté a exaustão

a villa crescia, as doação aumentava, mais a obra santa continuava quase do mesmo tamanho. As madêra, as pedra, a terra, os prego, barro, argila, donativo qui chegava no dia, tinha desvio certo na noite. Os preto num parava, carregando essas coisa dum lado pra otro, parte do qui era tirado da carroça de manhã voltava pra carroça no final da tarde. Tudo feito sem reclamá

os branco da beleza moral doava, mais depois de doá pegava um bão pedaço de volta. Assim, o andamento da obra santa dependia da gula dos endinhêrado e a sua boa vontade

Então, como o amigo diz: a mão que empunha a chibata é a mão de Deus. A chave dos grilhões fica pendente sobre montanhas, entre lençóis de águas vivas, como um prumo que serve para alinhar a gravidade dos pecados.

o zambo continuava agarrado no seu vaso

Não diria assim, meu amigo Pensavento.

o otro apertô o vaso do vinho no peito, sentiu desconfiança qui o padinhu num gostô das palavra dita, podia tê a desforra de deus, puxô os ombro atormentado pra cima, depois deixô descê antes de dizê o qui num tinha vindo com a intenção de dizê

Pois, para mim, Pensavento, Ouvidor-Mor da Sua Excelência Governador da Província do charque e do pasto, essa negrada é a maior desgraça da Villa, não tem solução. Nos dias de hoje, é difícil encontrar um bom negro.

o padinhu acompanhava as palavra do pensavento com os óio nos preto, subindo e descendo carregado, o vinho roxo do crucificado escorrendo nos lombo preto e suado. E, pela primêra veiz, notô qui eles num gemia nem lastimava. O ouvidô lhe clareô meió a situação

Persuassão feita com ferro em brasa, eles sabem o que acontece com os reclamentes.

as vista das água qui banhava as rua das praia parecia perdê a boniteza pras palavra do pardo. Ele tava motivado pelas prática dos branco qui num faz maldade menô, tem veiz, munta veiz, qui pode fazê crueldade maió qui a propria malvadeza. Ele faz tudo pra parecê mais duro qui os dono de tudo, inté de deus

Não são puros. Estão misturados com macacos na cor e no sangue, pelo menos, perderam a pelagem. E falam. Merecem as correntes que dominam seus modos primitivos.

o hôme de preto acompanhava as palavra do pensavento com os óio nos preto e as venta na brisa qui vinha do rio, nenhuma lamúria no meio de tanto sofrimento. O suó encharcava a terra arada com os pé descalço. O preto cuidô e plantô a terra com o próprio suó e sangue. As marca dos preto tá em tudo. É dono desse chão. O padinhu moveu os lábio e rezô. Num rezava prus preto, pedia perdão. Tudo em silêncio, sem atrapaiá os trabáio, Não dá para acreditar que tudo sai do jeito que se pensa, amém, mais o padinhu sabia qui a quem qué o bem nada detém, As coisas nunca saem do jeito que a gente pensa, amém, o padinhu precisa pedí perdão com mais baruiô da voz, as boa palavra custa munto e num vale munto prus preto se fica presa na garganta

E afinal, não têm para onde irem, o pensavento fez cara de arrepio e parô a língua, deu dois passo inté o canto da sacristia, num parecia tá conseguindo desdobrá a pança inclinada pra frente. Num subia nem conseguia descê mais, colocô os dedo na garganta e vomitô o sangue e o corpo do crucificado no vaso. Ficô ali, puxando e repuxando as tripa. Babando. Grunindo. Gemendo. Maldizente

Essa crise ainda nos obriga libertar esses negros...

Mas que crise, Pensavento?

A crise do charque!

parô, veio mais vontade de soltá as tripa com a boca e os dente. Puxô fundo o vento e soltô tudo

As moedas falsas e essa negrada estão colocando em desespero a população da Villa e toda a Província. Falta pouco para pegarem em armas!

a cobiça tem vizinhança grudada com os costume e a justiça, nem sempre as boa manêra mostra o qui cada um é, inté com desgraça e injustiça as pessoa com beleza moral acostuma

Mas que moedas falsas, Pensavento?

o estripado respirô fundo uma e duas veiz, parô quando uma baba grossa escorreu inté o chão da gaiola abençoada. Aprumô o corpo. Passô as costa da mão na boca. Caminhô pra porta com o vaso na mão e jogô pru céu o vômito todo da cascavel. Assobiô como um golpe da açoitêra e caiu como chuva abençoada no lombo dos preto subindo ou descendo

O contrabando dos africanos, Caramão.

esticô o braço com o vaso

Por favor...

o padinhu lhe serviu do vinho, É só vinho se está longe do altar, o vomitão bailô a uva dum lado e otro no vaso, fez circulá e jogô pru céu os resto do crucificado. Parecia tê recuperado o prumo. Esticô o braço, otra veiz, tava na direção do padinhu

Os negros são moedas de troca, mas se tornam moedas falsas quando são introduzidos na Província por contrabando. Junte-se a isso a barbaridade das fugas. Cada dia mais anunciadas e com promessas de recompensas cada vez maiores, a cada captura, tomô otro gole, sentiu o conforto do sangue descendo inté as tripa, tem mais pão?

Receio que não.

a resposta do padinhu num pareceu lhe importá, deu de ombro

Essa negrada fugitiva não tem onde cair morta. Não podem ficar refugiados na Villa, pois logo o Chefe da Polícia saberia. É mais seguro fugir para o lado dos orientais. Precisam de casa... até marimbondo tem casa.

Mas não é proibido levar escravos para o estrangeiro?

Apenas no caso de não depositar fiança na Alfândega.

E vale a pena buscá-los?

Em que mundo o sinhô Padre Caramão vive? Um bom negro carneador vale uns 400$000; outro negro carneador, mais ou menos bom, não baixa de 300$000. Um bom escravo salgador não é vendido por menos de 300$000. Graxeiro vai lhe custar, aproximadamente, 250$000. Cozinheira 300$000, e se tiver boa aparência e limpeza no trato, vosmecê pode ter ganho entre 50$000 e 100$000 réis. Um negrinho de 10 anos vai lhe apertar a sacola das moedas com 150$000; se for de mais idade, prepare o desembolso de 200$000 réis. O contrabando vai continuar encarecendo as mercadorias. Isso que não somei o Imposto Anual por cada escravo.

o assunto dos mil réis ajudô o pensavento aprumá o corpo de veiz

Só depois de morto não têm mais serventia, aliás, se caem mortos é preciso cobrir de terra cedo, quanto mais quente melhor. Rastro de negro estragado é intragável...

mifioneto, o racismo foi invenção dos branco pra modo de podê fazê da escravidão um negócio lógico e desafetado pra todo sempre

... de mais a mais, a maioria dos negros não têm ninguém que venha reclamar os restos.

oiô pru padinhu e lhe estendeu o braço, a mão segurava firme o vaso. O otro hôme lhe serviu mais vinho, os dois parecia tê perdido as medida

O Sinhô está no meio de nós.

Escorrendo da garrafa inté a caneca. Amém!

da intolerância com os preto e com os pobre sai os demônio, as imundície e ferida qui abarrota nossa villa, doente e querida pra todo sempre com o medo tolo e fingido da beleza moral



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