Poesia Africana - 03
Canção pára Luanda
A pergunta no ar
no mar
na boca de todos nós:
– Luanda onde está?
Silêncio nas ruas
Silêncio nas bocas
Silêncio nos olhos
– Xê
mana Rosa peixeira
– Mano
Não pode responder
tem de vender
correr a cidade
se quer comer!
“Ola almoço, ola amoçoéé
matona calapau
ji ferrera ji ferrerééé”
– E você
mana Maria quitandeira
vendendo maboque
os seios-maboque
gritando
saltando
os pés percorrendo
caminhos vermelhos
de todos os dias?
“maboque m’boquinha boa
dóce dócinha”
– Mano
não pode responder
o tempo é pequeno
para vender!
Zefa mulata
o corpo vendido
batom nos lábios
os brincos de lata
sorri
abrindo seu corpo
– seu corpo-cubata!
Seu corpo vendido
viajado
de noite e de dia.
– Luanda onde está?
Mana Zefa mulata
o corpo cubata
os brincos de lata
vai-se deitar
com quem lhe pagar
– precisa comer!
– Mano dos jornais
Luanda onde está?
As casas antigas
o barro vermelho
as nossas cantigas
trator derrubou?
Meninos nas ruas
caçambulas
quigosas
brincadeiras minhas e tuas
asfalto matou?
– Manos
Rosa peixeira
quitandeira Maria
você também
Zefa mulata
dos brincos de lata
– Luanda onde está?
Sorrindo
as quindas no chão
laranjas e peixe
maboque docinho
a esperança nos olhos
a certeza nas mãos
mana Rosa peixeira
quitandeira Maria
Zefa mulata
– os panos pintados
garridos
caídos
mostraram o coração.
– Luanda está aqui!
Amadeu Kazunde (Moçambique)
Entre o calor das tuas pernas
Entre o calor da tuas pernas
sobressai firme e vigorosa
numa atitude de lascúdia
a rosa dos meus desejos.
E vejo em cada curva das suas pétalas
milhões de gestos provocantes
que me inundam o corpo
com milhões de riachos prateados
Entre o calor das tuas pernas
desabrocha muda e esperançosa
a rosa dos meus desejos.
Por ela vivo uma ânsia profunda
de ver chegar o dia
em que me deliciarei diluído
no seu aroma inebriante.
E nesse dia,
milhões de forças gritantes
percorrerão o meu sangue
e galgarei sobre a montanha sagrada
abrindo trilhos por entre o mar de flores
penetrarei embriagado
nas cavernas negras e alagadas
de paredes desejosas
e descarregarei
todo o meu furor bastante
sobre os recantos mais profundos
dos subterrâneos conquistados
do jardim afrodisíaco
E então
regressarei flácido mas ressuscitado
e sobre a montanha sagrada
dormirei um sonho profundo!
Aguinaldo Fonseca (Cabo Verde)
Mãe Negra
A mãe negra embala o filho.
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada.
Canta, canta para o céu
Tão estrelado e festivo.
É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro.
No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
—Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas.
A mãe negra não tem casa
Nem carinhos de ninguém...
A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços...
Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade...
____________________________
Leia também:
Antonio Cardoso (Angola)
Poesia Africana - 02
Canção pára Luanda
A pergunta no ar
no mar
na boca de todos nós:
– Luanda onde está?
Silêncio nas ruas
Silêncio nas bocas
Silêncio nos olhos
– Xê
mana Rosa peixeira
– Mano
Não pode responder
tem de vender
correr a cidade
se quer comer!
“Ola almoço, ola amoçoéé
matona calapau
ji ferrera ji ferrerééé”
– E você
mana Maria quitandeira
vendendo maboque
os seios-maboque
gritando
saltando
os pés percorrendo
caminhos vermelhos
de todos os dias?
“maboque m’boquinha boa
dóce dócinha”
– Mano
não pode responder
o tempo é pequeno
para vender!
Zefa mulata
o corpo vendido
batom nos lábios
os brincos de lata
sorri
abrindo seu corpo
– seu corpo-cubata!
Seu corpo vendido
viajado
de noite e de dia.
– Luanda onde está?
Mana Zefa mulata
o corpo cubata
os brincos de lata
vai-se deitar
com quem lhe pagar
– precisa comer!
– Mano dos jornais
Luanda onde está?
As casas antigas
o barro vermelho
as nossas cantigas
trator derrubou?
Meninos nas ruas
caçambulas
quigosas
brincadeiras minhas e tuas
asfalto matou?
– Manos
Rosa peixeira
quitandeira Maria
você também
Zefa mulata
dos brincos de lata
– Luanda onde está?
Sorrindo
as quindas no chão
laranjas e peixe
maboque docinho
a esperança nos olhos
a certeza nas mãos
mana Rosa peixeira
quitandeira Maria
Zefa mulata
– os panos pintados
garridos
caídos
mostraram o coração.
– Luanda está aqui!
Amadeu Kazunde (Moçambique)
Entre o calor das tuas pernas
Entre o calor da tuas pernas
sobressai firme e vigorosa
numa atitude de lascúdia
a rosa dos meus desejos.
E vejo em cada curva das suas pétalas
milhões de gestos provocantes
que me inundam o corpo
com milhões de riachos prateados
Entre o calor das tuas pernas
desabrocha muda e esperançosa
a rosa dos meus desejos.
Por ela vivo uma ânsia profunda
de ver chegar o dia
em que me deliciarei diluído
no seu aroma inebriante.
E nesse dia,
milhões de forças gritantes
percorrerão o meu sangue
e galgarei sobre a montanha sagrada
abrindo trilhos por entre o mar de flores
penetrarei embriagado
nas cavernas negras e alagadas
de paredes desejosas
e descarregarei
todo o meu furor bastante
sobre os recantos mais profundos
dos subterrâneos conquistados
do jardim afrodisíaco
E então
regressarei flácido mas ressuscitado
e sobre a montanha sagrada
dormirei um sonho profundo!
Aguinaldo Fonseca (Cabo Verde)
Mãe Negra
A mãe negra embala o filho.
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada.
Canta, canta para o céu
Tão estrelado e festivo.
É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro.
No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
—Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas.
A mãe negra não tem casa
Nem carinhos de ninguém...
A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços...
Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade...
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