Ensaio 48B – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
Ali tava o siô da Hora, a cria natural e única do véio Ermo da Hora, um portuga qui chegô das terra da África sem a fortuna qui o seu rei de Portugal prometeu. O mais véio da Hora foi um hôme arrojado e aventuroso, chegô na Villa com uma das mão vazia na frente e a otra cheia atrás. Carregava junto com as história do otro mundo a imprudência e os tombo da vida. Mais a vontade de todo jeito ou manêra tê os dinhêro qui nunca teve. No otro lado da estrada das água teve mais azá qui juízo e o sonho comia o véio Ermo nas tripa, quase fez ele desistí de tê mais vida, chegô confessá qui ia se retirá da luta, mais voltô atrás com tempo, Meu filho, aprendi que desistir é burrice, tava quase me retratando do sonho de fazer riqueza quando uma luz me desceu, e tudo ficô as clara.
Ele nunca conseguiu precisá o lugá da iluminação, o qui importava era a luz qui chegô. Ele foi escolhido pra naquele lampejo vê qui era preciso juntá daqui, roubá dali e num gastá inté tê o qui nunca teve. E fez do nada um armazém na beirada do rio. No começo foi vendedô de galinha, carregava no ombro um sarrafo com as galinha pendurada viva pelos pé. Esse trabáio foi a fundação do seu armazém. Toda galinha vendida era lucro certo, ele num tinha despesa com as depenada. O véio Ermo ordenava pro fiô tirá a liberdade das bicha qui andava solta ciscando. As galinha num tinha marca nem tinha dono declarado. O fiô do véio Ermo, o pequeno Afonsinho, se fez um caçadô de galinha muito bão. Depois qui colocava a tintura verde dos óio na achada de pena, coitada, num tinha mais salvação. Só respeitava o galinhêro. Num entrava, ali tinha dono. Esperava elas saí. O pai ensinô o bote. Ele tinha preocupação com a verdura dos óio do guri, aquela tintura qui veio da mãe era coisa bonita pras moça. Tinha medo de tanta belezura no guri. Na mãe do guri dava encantamento e vontade de desencantá. No guri num tinha necessidade. No seu achado de vida, pensava qui hôme num ganha respeito pela belezura dos óio, mais pela dureza da brabeza. Nunca teve despesa com galinhêro. E o menino era bão na caçada. Agarrava pelo pescoço e apertava o bico. O negócio prosperava. Pensô em guardá uma e otra pra modo de tê ovo pra oferecê. Mais as despesa qui ia tê num deixô a vontade vingá. Num era produtô o seu feitio de fazê riqueza, gostava de buscá nos lugá ermo pra vendê.
Depois da fundação do armazém, o véio Ermo num se acomodô na beirada do rio. Mandava o menino Afonsinho andá nas vizinhança, ele ficô conhecido como guri do armazém. Nas primêra claridade do dia, ele percorria a freguesia recolhendo os pedidos das preta cozinhêra, qui era tudo entregue depois pelo guri do armazém. A freguesia qui morava nas redondeza da rua da praia conhecia bem as cantoria do guri. Os chamado de cantoria com anúncio das compra e da entrega das compra.
O menino cresceu e virô conde com a graça e obra do encantamento do conde Antão com a jogatina. Vendeu o armazém e fez os acerto das dívida de jogo do conde de verdade e ganhô os serviços de cama da siá Casta mais a prataria, os escravo da fazenda e tudo qui tava dentro da fazenda. Enquanto o casamento num fosse desfeito ia gozando. Foi um bão negócio pros dois lado. E siá Casta num teve muito qui reclamá, já tava passando das idade apropriada do casamento. E com o temperamento de brabeza num tinha muito pretendente. Mais faltava tê o acolhimento da fidalguia. O filtro qui separava a ralé da nova vida qui comprô, Vosmecê não pode confiar, meu esposo. É preciso desconfiar, mas não é tempo de fazer inimigos. Tenha a aparência confiante e uma fachada de sabedoria. Ler é bom, e vosmecê sabe ler, o conde respondeu com a cabeça, não faça essa cara, vosmecê não precisa ler o livro de cabo a rabo. Apenas, o suficiente.
Isso ele sabia, mais num era ali qui queria tá, Estou melhor entre as pernas das meninas da Maria Cobra ou no lombo do cavalo ou com o cipó de boi nas mãos, num podia deixá de vê qui tava meió entre as coisa qui montava e desmontava no seu gosto. Num queria acabá como o conde verdadêro, hôme com título documentado e pose de reputação respeitosa, mais qui trocô as dívida do jogo pelas graça da fia. Quando a sorte com as carta do jogo lhe virô as costa, otra veiz, e o siô da Hora recusô a salvação do conde pai, ele teve qui pagá com a vida. Perdeu as mão pra num entregá nenhum anel. Matou-se de desgosto, mais num morreu sozinho. O siô da Hora fez questão de acompanhá suas última palavra, o conde de verdade pareceu tá com um pouco de timidez e embaraço, Viajo para pagar o que não tenho como pagar, mais fez o qui tinha qui fazê
O siô fala como um verdadêro cavalheiro, adeus, o menino qui virô conde aprendia rápido as lição qui a vida ensinava. Cresceu com muitos ensinamento da desconfiança, num podia sê frágil.
Oiô nos arredó do salão, num viu o visconde das lei nem o coroné das corrente, eles tava nalgum lugá qui num era ali. A voz da siá continuava repetindo qui num era tempo de fazê inimigo, era tempo das aparência, Vosmecê vale pelos outros que imaginam vosmecê. Então, faça sua melhor tecedura. Mostre que é mais que um homem de sorte e oportunidades, mostre-se um homem de sabedoria com as palavras e força com as mãos. Leve na memória um ou otro pedacinho das suas leituras inacabadas. E com o olhar seja ambíguo e vago.
Boa noite, meus amigos! Mui dignas autoridades da nossa valorosa Villa, a voz de missa do siô padre lhe retirô os pensamento no finado conde e na sua esposa atenciosa e árida, girô as vista pra lá e cá, usava seu mió disfarce de desinteresse, parecia qui num oiava enquanto oiava. O siô padre tava começando aquela reunião extraordinária da Irmandade. Ele mesmo num era membro, mais seguido amiúde aparecia nas reunião. Num podia sê afiliado, era um bão intermediário.
O conde escutô o barulho da porta se fechando, tava sozinho. Correu as vista no salão. Pela primêra veiz, pensô qui tava numa armadilha, o que vou fazer, se perguntô, cai na armadilha, passô as mão na testa suada, se pelo menos não fosse tão ganancioso, e se esses idiotas não viram nada? As aparências, as aparências, calma, fique sereno, idiota. Não consigo, não consigo. Perdoe-me, Padre! Ajude-me! Eu pequei, oiô o siô padre com seu meió oiá suplicante, não me deixe sozinho, sou teu e do vosso Sinhô, serei a ovelha mais doce do vosso rebanho.
O siô padre num parecia escutá aquelas prece, seus pedidos de socorro. Virô o nariz pra janela. Nada no capinzal. Num tinha movimento de pulícia nem de preto. Num parecia tê nada naquela escuridão. Desvirô. O salão lhe prestava atenção. As perna tremia. As canela suava. Tava sozinho. Foi empurrado naquela armadilha, ouça-me, Padre! Vosmecê é tudo que preciso nas horas do desespero, me sinto atado na tramoia da angústia, juro que meu coração continua casto, sou a mesma criança que rezava em nome do Pai, do Filho e Espírito Santo, Pai-Nosso que estais no céu, cheio de graça, bendito sois vós entre as mulheres...
Sinhô Conde Afonso da Hora, por favor, o intermediário continuava dando início àquela reunião da Irmandade, o começo e o fim de tudo. O recinto qui estocava a fidalguia da Villa ficô com menos da metade da iluminação. As lanterna ia sendo apagada, uma a uma, o conde esperando na fila a sua veiz de subí no palco da forca. Num creditava qui ia ficá com o pescoço esticado, a cova funda como uma montanha. Nunca mais ia vê as coisa do amanhã. O sonho pra sempre acabado, o fedô da carne desmanchando, depois nem mais o chêro ruim fica, tudo desiste de existí, eu juro, sinhô Padre, não matar mais, não roubar mais, viver a minha vida sem as mulheres, me salve! me salve! vosmecê que nunca morre!
Ele tava em posição de ataque caso tivesse ataque, retesado, as vista atenta, as oreia espichada, os dente arreganhado, as unha aumentada. Sentiu vontade de largá devagarinho, sem estalo, sem alardes, o desconforto do intestino, mais segurô a vontade, teve medo qui num fosse só ventania. Num tinha um plano de resgate digno de sê apreciado, agora mais isso. Tava condenado sem nenhuma defesa. Ninguém ia sabê do seu destino sem iluminação ou sabedoria, apenas mais um desaparecido. De repente, tudo foi aclarando, sinhá Casta me aprontou essa vingança, ela fez tanta vontade pro meu aparecimento. Jamais confiar nas mulheres, seu anta. Vosmecê tinha razão, meu pai. Caí como um patinho. Apenas outra puta em minha vida, o conde sentia o aperto da corda no pescoço. Virô as vista pro lado, o siô padre continuava ali, firme ao seu lado, pelo menos isso, pensô enquanto procurava a porta, num via nenhuma porta de fuga
Estamos todos aqui, para ceder às boas razões do nosso anfitrião, sua Excelência Lecomo Denovo, Governadô da nossa Província, o siô conde desvirô a atenção qui jogava sobre as testemunhas do seu desaparecimento, precisava cumprimentá o governadô
Boa noite, sinhô Governador Lecomo Denovo, era um hôme de altura pouca, carregava muitas medalha pendurada do peito inté a cintura. O pequeno todo enfeitado num respondeu de pronto, antes deixô escapá um sorriso misterioso qui desmoronô o castelo de areia do conde, num segurô mais, soltô a ventosidade úmida do cortiço. Pareceu um derretimento das perna, sinhô Padre, me limpe a alma, me faça um Santo, reze por mim, não permita que suje os panos das calças. Reze muito por mim
Tenho escutado muitas coisas sobre o sinhô Conde, suas terras estão para os lados do caminho que leva até a Aldeia dos Anjos? Fui bem informado?
Sim, foi tudo qui conseguiu dizê. Um oiá perigoso e grande tinha aquele hôme pequeno, num carregava só o feitio da ambição. Podia fazê com gosto o ataque mais desalmado e desumano, não é tempo de fazer inimigos, me salve sinhá Casta, me ensine, quero me aprender
O conde está convidado para uma visita na rua da Igreja. Talvez lhe interesse conhecer minha coletânea de chicotes e chibatas. Tenho uma para cada tipo de castigo, lá voltô as lembrança da siá Casta, cuidado, meu esposo, bobagens são só bobagens, não precisa concordar nem lutar com elas. É luta inútil falar de tudo, vosmecê se arrisca falar de nada.
Mifioneto, para tudo desse seu serviço e coloca seu cuidado na avoinha, num é pra entendê agora, é só pra escutá, Se a imaginação dos otro gostá da invenção inventada de ocê, pode inté tá bão pra ocê, mais se num é coisa boa, num tá bão. Ocê ficá sem valô, num vai sê escutado, então o qui era bão fica ruim... se os otro imagina qui ocê é ladrão, ocê vira ladrão sem sê. Num esquece qui nunca é tempo de tê inimigo, eles tem muita imaginação pra lhe metê embaixo da sola das bota. Ocê pode num creditá, mais pra eles ocê é o qui tá na imaginação deles, os inimigo sabe qui é bão sê assim, pra eles, cuidado, muito cuidado pra num gostá de sê do feitio dos otro. Assim ocê fica do tamanho qui cabe na imaginação dos otro, num fique sem a imaginação de ocê mesmo. Depois da fama feita nem se agite, deite na cama.
O mundo não é um só... nem as leis
Ensaio 47B – 2ª edição 1ª reimpressão
A revanche de siá Casta
Ensaio 49B – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
Ali tava o siô da Hora, a cria natural e única do véio Ermo da Hora, um portuga qui chegô das terra da África sem a fortuna qui o seu rei de Portugal prometeu. O mais véio da Hora foi um hôme arrojado e aventuroso, chegô na Villa com uma das mão vazia na frente e a otra cheia atrás. Carregava junto com as história do otro mundo a imprudência e os tombo da vida. Mais a vontade de todo jeito ou manêra tê os dinhêro qui nunca teve. No otro lado da estrada das água teve mais azá qui juízo e o sonho comia o véio Ermo nas tripa, quase fez ele desistí de tê mais vida, chegô confessá qui ia se retirá da luta, mais voltô atrás com tempo, Meu filho, aprendi que desistir é burrice, tava quase me retratando do sonho de fazer riqueza quando uma luz me desceu, e tudo ficô as clara.
Ele nunca conseguiu precisá o lugá da iluminação, o qui importava era a luz qui chegô. Ele foi escolhido pra naquele lampejo vê qui era preciso juntá daqui, roubá dali e num gastá inté tê o qui nunca teve. E fez do nada um armazém na beirada do rio. No começo foi vendedô de galinha, carregava no ombro um sarrafo com as galinha pendurada viva pelos pé. Esse trabáio foi a fundação do seu armazém. Toda galinha vendida era lucro certo, ele num tinha despesa com as depenada. O véio Ermo ordenava pro fiô tirá a liberdade das bicha qui andava solta ciscando. As galinha num tinha marca nem tinha dono declarado. O fiô do véio Ermo, o pequeno Afonsinho, se fez um caçadô de galinha muito bão. Depois qui colocava a tintura verde dos óio na achada de pena, coitada, num tinha mais salvação. Só respeitava o galinhêro. Num entrava, ali tinha dono. Esperava elas saí. O pai ensinô o bote. Ele tinha preocupação com a verdura dos óio do guri, aquela tintura qui veio da mãe era coisa bonita pras moça. Tinha medo de tanta belezura no guri. Na mãe do guri dava encantamento e vontade de desencantá. No guri num tinha necessidade. No seu achado de vida, pensava qui hôme num ganha respeito pela belezura dos óio, mais pela dureza da brabeza. Nunca teve despesa com galinhêro. E o menino era bão na caçada. Agarrava pelo pescoço e apertava o bico. O negócio prosperava. Pensô em guardá uma e otra pra modo de tê ovo pra oferecê. Mais as despesa qui ia tê num deixô a vontade vingá. Num era produtô o seu feitio de fazê riqueza, gostava de buscá nos lugá ermo pra vendê.
Depois da fundação do armazém, o véio Ermo num se acomodô na beirada do rio. Mandava o menino Afonsinho andá nas vizinhança, ele ficô conhecido como guri do armazém. Nas primêra claridade do dia, ele percorria a freguesia recolhendo os pedidos das preta cozinhêra, qui era tudo entregue depois pelo guri do armazém. A freguesia qui morava nas redondeza da rua da praia conhecia bem as cantoria do guri. Os chamado de cantoria com anúncio das compra e da entrega das compra.
O menino cresceu e virô conde com a graça e obra do encantamento do conde Antão com a jogatina. Vendeu o armazém e fez os acerto das dívida de jogo do conde de verdade e ganhô os serviços de cama da siá Casta mais a prataria, os escravo da fazenda e tudo qui tava dentro da fazenda. Enquanto o casamento num fosse desfeito ia gozando. Foi um bão negócio pros dois lado. E siá Casta num teve muito qui reclamá, já tava passando das idade apropriada do casamento. E com o temperamento de brabeza num tinha muito pretendente. Mais faltava tê o acolhimento da fidalguia. O filtro qui separava a ralé da nova vida qui comprô, Vosmecê não pode confiar, meu esposo. É preciso desconfiar, mas não é tempo de fazer inimigos. Tenha a aparência confiante e uma fachada de sabedoria. Ler é bom, e vosmecê sabe ler, o conde respondeu com a cabeça, não faça essa cara, vosmecê não precisa ler o livro de cabo a rabo. Apenas, o suficiente.
Isso ele sabia, mais num era ali qui queria tá, Estou melhor entre as pernas das meninas da Maria Cobra ou no lombo do cavalo ou com o cipó de boi nas mãos, num podia deixá de vê qui tava meió entre as coisa qui montava e desmontava no seu gosto. Num queria acabá como o conde verdadêro, hôme com título documentado e pose de reputação respeitosa, mais qui trocô as dívida do jogo pelas graça da fia. Quando a sorte com as carta do jogo lhe virô as costa, otra veiz, e o siô da Hora recusô a salvação do conde pai, ele teve qui pagá com a vida. Perdeu as mão pra num entregá nenhum anel. Matou-se de desgosto, mais num morreu sozinho. O siô da Hora fez questão de acompanhá suas última palavra, o conde de verdade pareceu tá com um pouco de timidez e embaraço, Viajo para pagar o que não tenho como pagar, mais fez o qui tinha qui fazê
O siô fala como um verdadêro cavalheiro, adeus, o menino qui virô conde aprendia rápido as lição qui a vida ensinava. Cresceu com muitos ensinamento da desconfiança, num podia sê frágil.
Oiô nos arredó do salão, num viu o visconde das lei nem o coroné das corrente, eles tava nalgum lugá qui num era ali. A voz da siá continuava repetindo qui num era tempo de fazê inimigo, era tempo das aparência, Vosmecê vale pelos outros que imaginam vosmecê. Então, faça sua melhor tecedura. Mostre que é mais que um homem de sorte e oportunidades, mostre-se um homem de sabedoria com as palavras e força com as mãos. Leve na memória um ou otro pedacinho das suas leituras inacabadas. E com o olhar seja ambíguo e vago.
Boa noite, meus amigos! Mui dignas autoridades da nossa valorosa Villa, a voz de missa do siô padre lhe retirô os pensamento no finado conde e na sua esposa atenciosa e árida, girô as vista pra lá e cá, usava seu mió disfarce de desinteresse, parecia qui num oiava enquanto oiava. O siô padre tava começando aquela reunião extraordinária da Irmandade. Ele mesmo num era membro, mais seguido amiúde aparecia nas reunião. Num podia sê afiliado, era um bão intermediário.
O conde escutô o barulho da porta se fechando, tava sozinho. Correu as vista no salão. Pela primêra veiz, pensô qui tava numa armadilha, o que vou fazer, se perguntô, cai na armadilha, passô as mão na testa suada, se pelo menos não fosse tão ganancioso, e se esses idiotas não viram nada? As aparências, as aparências, calma, fique sereno, idiota. Não consigo, não consigo. Perdoe-me, Padre! Ajude-me! Eu pequei, oiô o siô padre com seu meió oiá suplicante, não me deixe sozinho, sou teu e do vosso Sinhô, serei a ovelha mais doce do vosso rebanho.
O siô padre num parecia escutá aquelas prece, seus pedidos de socorro. Virô o nariz pra janela. Nada no capinzal. Num tinha movimento de pulícia nem de preto. Num parecia tê nada naquela escuridão. Desvirô. O salão lhe prestava atenção. As perna tremia. As canela suava. Tava sozinho. Foi empurrado naquela armadilha, ouça-me, Padre! Vosmecê é tudo que preciso nas horas do desespero, me sinto atado na tramoia da angústia, juro que meu coração continua casto, sou a mesma criança que rezava em nome do Pai, do Filho e Espírito Santo, Pai-Nosso que estais no céu, cheio de graça, bendito sois vós entre as mulheres...
Sinhô Conde Afonso da Hora, por favor, o intermediário continuava dando início àquela reunião da Irmandade, o começo e o fim de tudo. O recinto qui estocava a fidalguia da Villa ficô com menos da metade da iluminação. As lanterna ia sendo apagada, uma a uma, o conde esperando na fila a sua veiz de subí no palco da forca. Num creditava qui ia ficá com o pescoço esticado, a cova funda como uma montanha. Nunca mais ia vê as coisa do amanhã. O sonho pra sempre acabado, o fedô da carne desmanchando, depois nem mais o chêro ruim fica, tudo desiste de existí, eu juro, sinhô Padre, não matar mais, não roubar mais, viver a minha vida sem as mulheres, me salve! me salve! vosmecê que nunca morre!
Ele tava em posição de ataque caso tivesse ataque, retesado, as vista atenta, as oreia espichada, os dente arreganhado, as unha aumentada. Sentiu vontade de largá devagarinho, sem estalo, sem alardes, o desconforto do intestino, mais segurô a vontade, teve medo qui num fosse só ventania. Num tinha um plano de resgate digno de sê apreciado, agora mais isso. Tava condenado sem nenhuma defesa. Ninguém ia sabê do seu destino sem iluminação ou sabedoria, apenas mais um desaparecido. De repente, tudo foi aclarando, sinhá Casta me aprontou essa vingança, ela fez tanta vontade pro meu aparecimento. Jamais confiar nas mulheres, seu anta. Vosmecê tinha razão, meu pai. Caí como um patinho. Apenas outra puta em minha vida, o conde sentia o aperto da corda no pescoço. Virô as vista pro lado, o siô padre continuava ali, firme ao seu lado, pelo menos isso, pensô enquanto procurava a porta, num via nenhuma porta de fuga
Estamos todos aqui, para ceder às boas razões do nosso anfitrião, sua Excelência Lecomo Denovo, Governadô da nossa Província, o siô conde desvirô a atenção qui jogava sobre as testemunhas do seu desaparecimento, precisava cumprimentá o governadô
Boa noite, sinhô Governador Lecomo Denovo, era um hôme de altura pouca, carregava muitas medalha pendurada do peito inté a cintura. O pequeno todo enfeitado num respondeu de pronto, antes deixô escapá um sorriso misterioso qui desmoronô o castelo de areia do conde, num segurô mais, soltô a ventosidade úmida do cortiço. Pareceu um derretimento das perna, sinhô Padre, me limpe a alma, me faça um Santo, reze por mim, não permita que suje os panos das calças. Reze muito por mim
Tenho escutado muitas coisas sobre o sinhô Conde, suas terras estão para os lados do caminho que leva até a Aldeia dos Anjos? Fui bem informado?
Sim, foi tudo qui conseguiu dizê. Um oiá perigoso e grande tinha aquele hôme pequeno, num carregava só o feitio da ambição. Podia fazê com gosto o ataque mais desalmado e desumano, não é tempo de fazer inimigos, me salve sinhá Casta, me ensine, quero me aprender
O conde está convidado para uma visita na rua da Igreja. Talvez lhe interesse conhecer minha coletânea de chicotes e chibatas. Tenho uma para cada tipo de castigo, lá voltô as lembrança da siá Casta, cuidado, meu esposo, bobagens são só bobagens, não precisa concordar nem lutar com elas. É luta inútil falar de tudo, vosmecê se arrisca falar de nada.
Mifioneto, para tudo desse seu serviço e coloca seu cuidado na avoinha, num é pra entendê agora, é só pra escutá, Se a imaginação dos otro gostá da invenção inventada de ocê, pode inté tá bão pra ocê, mais se num é coisa boa, num tá bão. Ocê ficá sem valô, num vai sê escutado, então o qui era bão fica ruim... se os otro imagina qui ocê é ladrão, ocê vira ladrão sem sê. Num esquece qui nunca é tempo de tê inimigo, eles tem muita imaginação pra lhe metê embaixo da sola das bota. Ocê pode num creditá, mais pra eles ocê é o qui tá na imaginação deles, os inimigo sabe qui é bão sê assim, pra eles, cuidado, muito cuidado pra num gostá de sê do feitio dos otro. Assim ocê fica do tamanho qui cabe na imaginação dos otro, num fique sem a imaginação de ocê mesmo. Depois da fama feita nem se agite, deite na cama.
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