Ensaio 45B – 2ª
edição 1ª reimpressão
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baitasar
A brisa carregava a fedentina dos peixe morto, uma morrinha
desentranhando a morte da vida. Os pedacinho mais teimoso desgrudando, tudo qui
ficô sem uso boiava. Pobre dos fraco na correnteza do rio com as entranha solta
no meio do fedô insuportável. Num demorava muito, os vivo comia os resto do
morto pra vivê engordando inté chegá sua veiz de perdê as entranha. O rio não
depende dos forte comê os fraco, quem é comido nem sabe qui tá só balançando. A
correnteza do rio num se importa, num avisa, num reclama, num pensa nisso. Aliás,
o rio só pensa qui é rio porque um pescadô inventô de dizê qui ele era um rio,
o pescadô disse qui era evidente qui ele era um rio
Ocê qué o meu lugá na rede de Milagres, as água parô o
balanço, a brisa aquietô e os peixe mergulhô fundo, a trégua do escravo com o
capitão-do-mato parecia terminada
Não, eu não, as faísca devorava os óio um do otro, eu não
sou negro, quero melhorá com uma mulher branca, o Capitão era assim, capaz de
dizê em pouca palavra as coisa mais feia pros preto, num dava agrado
Isso ocê tem razão, não é preto. É um enganadô, uma metade
de nada qui não tem qui vê com a cô da pele, é o feitio da sua burrice de
dentro: ruindade, continuadô duma história terrível qui num acabava, ocê mesmo
num se sabe. Num tem juízo próprio da vida, por isso usa esse cipó, tá mais
atado nos querê qui num é seu qui os preto acorretantado, isso era tudo qui
queria dizê e num disse. Destravô as vista do otro, foi inté o barco e embarcô
a otra tábua, esse rio tá cheio de gente doente.
O que foi, negro resmungão?
Num disse nada, só rezinguei do peso das tábua.
Ocês têm sorte que não são as pranchas de polegada no comprimento
todo.
Quem sabe pescá não degenera pela fome, quem sabe escutá
reconhece as manha e atende o encantamento das água lambendo as perna do
pescadô. Lança as linha onde foi chamado lançá. A voz das água chega
sussurrando, os pensamento vão se abrindo da estreiteza, o braço e a linha se
junta num só. O pescadô é a isca de si mesmo, escuta mais longe, vê mais longe,
voa mais longe, num esquece a voz da muié encantada, tem tempo, tem tempo
Num tem, Milagres... num tem...
Tem tempo, tem tempo.
Depois qui largô a prancha, Josino colocô as vista no
continente. Lá tava as lanterna brilhando, anunciando qui a vida seguia na
escuridão. O Betobento já tava na lida. A brisa das entranha continuava fedida,
conformado em suspirá nas água qui chegava e voltava
Um tempinho de pouso?
A pergunta do Tição desconcertô o mulato com pretice, num
tava acostumado com a voz de falá do Tição, não sabia que o zé ninguém da
negrada falava. Outra criatura inferior que fala, ai da humanidade se ela
depende de ti, dois negros na água e tudo continua a mesma coisa... é claro que
não, zé ninguém! Quanto antes ocês terminam o serviço secreto mais antes ocês
tiram os pés do rio, foi a primeira veiz qui o preto se atreveu a tanto e não
ia passá com descaso.
O Capitão desenrolô o cipó da cintura e estalô nas água. Tinha
recuperado o gosto e as força da mão. Sabia qui era fácil acertá os dois alvo
enterrado nas água. O zunido do movimento do cipó foi e voltô acima das brisa
da morte. Acertô as entranha e os comedô das entranha. Num mirô pra acertá,
mais acertô no qui num mirô. Quando mirava pra acertá ele acertava. Só queria
assustá, gostava de controlá os assustado. Tinha o jeito dos meió no uso do
cipó de boi. Sorriu. Achava justo aqueles qui apanha num se entendê com os qui
ensina. Os dois balançô descontrolado da surpresa, calma aí, ocês dois. Quem já
apanhou e só aprende apanhando não pensa no próprio couro, vai morrer cedo
demais, além disso, no meu modo de ver, ocês não têm capricho nem gosto de
obedecer.
O Tição tava inté as virilha com água.
Terminem o que começaram, resmungô como se pudesse fazê
secreto todo aquele alarido. As prancha se parecia com um morto maldito qui
ninguém reclama. Ali, tava eles, o cortejo fúnebre das tábua santa. As água do
rio sabia qui mais cedo do qui tarde eles ia morrê. Mais antes, era preciso usá
os preto inté num tê mais serventia. E usá inté esfolá em fatia era com o
Capitão.
Josino fechô as vista e fungô a brisa, depois endireitô as
costa e ficô parado. Acabô o serviço de tê as prancha deitada por cima. Otro
estalo do cipó pra anunciá o contentamento do serviço secreto terminado. Navegá
as prancha era ofício do Capitão.
Depois da carga embarcada, os dois preto foi deixado na
senzala da obra Santa qui num era na obra Santa. Eles tava no galpão do Joca
Lampião, no modo de vê dos branco, num tinha cabimento tê senzala nas redondeza
dos vizinho da obra Santa, parecia qui as redondeza tinha medo do juízo final
dos mangangá preto. Muito preto junto deixava a Villa nervosa com as intriga, os
preto, as cantiga de briga, as reza com feitiçaria. Os dois tava alojado com os
escravo da obra Santa, lá nos lado da Arsenal.
O Joca num era santo, muito pelo contrário, ele roubava na
contagem das vela qui vendia pra iluminação pública, mais num ia sê preso. Num
tava sozinho, tinha sócio, o chefe da iluminação da Villa. Os dois tava junto
na contação de mais vela qui tinha tido uso. Num ia sê investigado, tinha os
amigo certo. Mesmo assim, recebeu aviso pra tomá mais cuidado, mais num era com
as vela, tinha qui tê mais cuidado com as mão do Varão
Mas por quê, coronel Pessoa?
Joca, é mais fácil fingir que não se sabe quando não se vê. Roubar
pode até receber perdão, mas namorar o Varão não vai ter perdão, não. Ocê
precisa escolher, muito de quase nada pode virá coisa muita ou pouco de quase tudo
pode virá coisa pouca, as vista procura os interesse de vê o qui qué vê. O
coração sente o qui qué vê e procura inté encontrá. Ele pode inté dizê qui essa
conversa num tem interesse, mais presta atenção nas coisa qui o seu coração qué
vê. Pergunte pro coração, pro causo de quê ele tem medo de abrí as vista do
pensamento com otros pensamento.
O que eu faço, coronel?
Joca, dormir com o Varão é mais perigoso que desfalcar na
contagem das velas. Ocê vai ter que escolher.
Lá tava os três no meio do galpão. A escuridão era male mal
iluminada com uma vela se acabando. O Capitão seguia instruindo os dois preto
sobre a importância pra eles num fazê nenhum comentário do embarque secreto das
prancha, não é do interesse de ocês o assunto, tá entendido, falava com tanto
rigô e ameaça qui os dois achô qui tinha meió qui fazê era dormí. O bastardo
com pretice num achava qui fosse interesse dos preto qui um branco roubava otro. O Josino e o Tição concordava, num era
assunto dos preto aquele fingimento de dá pra depois tirá escondido, os branco
num se entende e usa os preto como bode no meio da casa.
O que foi, Josino? Repete!
Capitão...
Fala, negro.
Ele tinha nome, num tinha dois nome como o Betobento, mais
num parecia sê importante pro Capitão chamá pelo nome, sê reconhecido pelo nome
era coisa pra branco. Tinha veiz qui sentia mais raiva de não tê o nome na boca
do siô da Hora ou do Capitão, otras num dava importância, esse Deus dos branco
deve sê cego ou surdo...
O que é isso, criolo? Cala a boca! O Sinhô escreve certo nas
linhas tortas.
O Tição já tava tirado na rede, num queria perdê mais tempo
com a pretice disfarçada do Capitão, mais o Josino continuava em pé, metido no
escurecimento da senzala, atenuado pela única vela queimando, nu, a boca
aberta, num creditava qui o siô escrevia torto, ele roubava as tábua da obra
Santa, e isso num era certo, escrevê torto num era coisa de gente bem, o siô da
Hora escreve torto?
Não é esse sinhô, é o outro Sinhô, entendeu?
Num tinha entendido, mais era meió deixá assim, quanto mais
entendimento mais confusão, é com gosto qui o siô escreve torto?
Chega dessa conversa, criolo. Agora, tá na hora de dormir
pra recuperá no sono as forças. É hora pra descansá a língua, o bastardo falava
como se nada tivesse acontecido, fosse o azá dum mal-entendido, fosse natural
sê assim: uns bate, otros apanha. Fez crime tem castigo, num fez crime num tem
castigo. Num é bem assim se ocê é preto, o castigo num é só pra puní, é pra
prevení e humilhá com o molde do pelourinho, desmanchá qualqué coragem, fazê o
preto repetí: sim, siô... sim siô... simsô.
O tombo na rede de dormí foi o mesmo nos dois homê com fome,
sede e ardência com as lambada do cipó de boi, mais o qui mais fazia dô era a
saudade, amanhã ocês recuperam a fome e a sede, falô sem pressa, tão suave qui
parecia cantando uma canção de niná, um azá dum mal-entendido. Os dois boiando
nas rede acima da terra qui eles encharca com suô e aduba com sangue.
Na saída da senzala, o Capitão assoprô a vela, é preciso
guardá o uso desnecessário. Bons sonhos.
Os dois num viu o apagamento. O cansaço fez o sono tomá
conta do corpo como um animal qui cai na armadilha aberta no mato. As estaca
afiada apontando pra cima. A boca aberta esperando o animal pisá no vazio e
caí. Voá inté os dente do buraco aberto e sê trespassado dum lado e otro.
O Josino desceu na emboscada do sono, deslizava pelo buraco
aberto dos sonhos, tava num lugá de vivê a vida do seu jeito, os preto tudo
liberto. Um imenso quilombo pra todo preto qui qué sê livre pra cantá, dançá e
amá o amô. O rio das estrela devolve o hôme, a muié e as história pras terra dos
avoengo. Lá, eles volta ao começo de tudo. Josino é baobá e baobá é Josino.
Milagres é terra e terra é Milagres. Num tem como sabê onde começa um e termina
otro. O gosto da fertilidade é um sabô qui deita as raiz do baobá nas pele da
terra, inté a fundura qui a terra num é mais terra e o baobá num é mais baobá,
os dois deixa de existí cada um como é, eles dorme pra acordá de outra manêra,
experimentá otra veiz o gosto da muié qui é terra, a força da raiz qui é hôme. A
mata, a água, as ventania qui balançava o baobá do alto inté a fundura das
raiz, num arrancava o baobá da terra nem a terra soltava os braço do baobá.
O baobá é da terra qui é do baobá.
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