quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Bossa Nova : Rita Payés...

Desafinado 

RITA PAYÉS 
Joan Chamorro Quintet & Scott Hamilton





Que no peito dos desafinados
No fundo do peito bate calado
Que no peito dos desafinados
Também bate um coração










Se você disser que eu desafino amor
Saiba que isso em mim provoca imensa dor
Só privilegiados têm ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que Deus me deu
Se você insiste em classificar
Meu comportamento de anti-musical
Eu mesmo mentindo devo argumentar
Que isto é bossa nova, que isto é muito natural
O que você não sabe nem sequer pressente
É que os desafinados também têm um coração
Fotografei você na minha Roleiflex
Revelou-se a sua enorme ingratidão
Só não poderá falar assim do meu amor
Ele é o maior que você pode encontrar
Você com a sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados
No fundo do peito bate calado
Que no peito dos desafinados
Também bate um coração


Compositores: Antonio Carlos Jobim / Newton Mendonça





Tom e João





quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Festival Chaplin - A Casa de Penhores

Charlie Chaplin- A Casa de Penhores (1916)





"Atrasado... como sempre!"











Ficha técnica

Título The Pawnshop (Original)
Ano produção 1916
Dirigido por Charles Chaplin
Estreia
1916 ( Brasil ) 
Duração 32 minutos


Sinopse

O assistente do dono da casa de penhores vive competindo com um outro assistente. Ele é demitido mas, depois, é recontratado pelo patrão. Ao defender a loja contra um assaltante, o assistente quebra os objetos dos clientes.


Roteiro

Charles Chaplin


Produtor

Charles Chaplin

”The Pawnshop” foi o 6º filme de Chaplin produzido na Mutual (1916)



Elenco

Albert Austin
cliente com relógio

Charles Chaplin
assistente do dono da casa de penhores

Edna Purviance
filha do dono da casa de penhores

Eric Campbell 
(I)assaltante

Frank J. Coleman
policial

Henry Bergman 
(I)dono da casa de penhores

James T. Kelleyvelho 
vagabundo / cliente mulher com peixe dourado

John Rand 
(I)assistente do dono da casa de penhores

Wesley Ruggles
cliente com anel



......

Plano Crítico


A Loja de Penhores



Pura engenhosidade do começo ao fim. Chaplin faz um empregado de uma loja de penhores que não gosta muito de outro funcionário e sai na pancadaria com ele o tempo todo, gerando situações com timing perfeito no uso de gags e props do rico cenário dividido entre a loja, os fundos e a frente externa. Duas sequências saltam aos olhos: a da escada, que mostra as habilidades físicas em Chaplin em momentos até perigosos e a do desmantelamento do relógio de um possível cliente, que traz ótimas risadas com a cara-de-pau do personagem de Chaplin.

Se há um defeito, ele é pequeno: o final é rápido demais, apressado mesmo, como se o tempo estivesse acabando e a fita precisasse ser encerrada. Mas não é nada que atrapalhe essa pequena joia de curta.





O Segundo Sexo - 13. Fatos e Mitos: quando a observação descobre tantas anomalias quantos casos normais

Simone de Beauvoir



13. Fatos e Mitos


Primeira Parte
Destino

CAPITULO II
O PONTO DE VISTA PSICANALÍTICO




 : 
quando a observação descobre tantas anomalias quantos casos normais




NÃO CABE INSISTIR aqui nas diferenças teóricas que separam Adler de Freud e nas possibilidades de uma reconciliação: nem a explicação pelo móvel, nem a explicação pelo motivo, são suficientes. Todo móvel põe um motivo, mas o motivo nunca é apreendido senão através de um móvel; uma síntese do adlerismo e do freudismo parece pois realizável. Na realidade, fazendo intervir noções de objetivo e de finalidade, Adler conserva integralmente a ideia de uma casualidade psíquica; ele está um pouco em relação a Freud como o energetismo ao mecanicismo: quer se trate de choque ou de força de atração, o físico admite sempre o determinismo. É o postulado comum a todos os psicanalistas. A história humana explica-se, segundo eles, por um jogo de elementos determinados. Todos atribuem à mulher o mesmo destino. O drama desta reduz-se ao conflito entre suas tendências "virilóides" e "femininas"; as primeiras realizam-se no sistema clitoridiano, as segundas no erotismo vaginal; infantilmente, ela se identifica ao pai, depois experimenta um sentimento de inferioridade em relação ao homem e é colocada na alternativa de manter sua autonomia, de se virilizar — o que sobre o fundo de um complexo de inferioridade provoca uma tensão suscetível de acarretar neuroses — ou de encontrar, na submissão amorosa, uma feliz realização de si mesma, solução que lhe é facilitada pelo amor que devota ao pai soberano. É ele que ela busca no amante ou no marido, e o amor sexual acompanha-se nela do desejo de ser dominada. Será recompensada pela maternidade que lhe restitui uma espécie de autonomia. Esse drama apresenta-se dotado de um dinamismo próprio; procura desenrolar-se através de todos os acidentes que o desfiguram e cada mulher aceita-o passivamente. 

Não é difícil aos psicanalistas encontrar confirmações empíricas para suas teorias. Sabe-se que complicando muito sutilmente o sistema de Ptolomeu pôde-se, durante muito tempo, sustentar que explicava exatamente a posição dos planetas; superpondo ao Édipo um Édipo invertido, mostrando em toda angústia um desejo, conseguir-se-á integrar no freudismo os próprios fatos que o contradizem. Só se pode apreender uma forma a partir de um fundo e a maneira pela qual a forma é apreendida recorta por trás dela esse fundo em traços positivos; assim, se nos obstinarmos em descrever uma história singular dentro de uma perspectiva freudiana, encontramos por trás o esquema freudiano; só que quando uma doutrina obriga a multiplicar as explicações secundárias de uma maneira indefinida e arbitrária, quando a observação descobre tantas anomalias quantos casos normais, é preferível abandonar os antigos quadros. Por isso mesmo, hoje todos os psicanalistas esforçam-se por abrandar, à sua maneira, os conceitos freudianos; tentam conciliações. Um psicanalista contemporâneo escreve, por exemplo: "Desde que há complexo, há, por definição, vários componentes. . . o complexo consiste no agrupamento desses elementos díspares e não na representação de um deles pelos outros" (Baudouin, L'Âme enjantine et la Psychanalyse). Mas a ideia de um simples agrupamento de elementos é inaceitável; a vida psíquica não é um mosaico; toda ela existe em cada um de seus momentos e cumpre respeitar essa unidade. Isso só é possível reencontrando, através dos fatos díspares, a intencionalidade original da existência. Em não remontando a essa fonte, o homem se apresenta como um campo de batalha entre impulsos e proibições igualmente destituídos de sentido e contingentes.

Há, em todos os psicanalistas, uma recusa sistemática da ideia de escolha e da noção de valor que lhe é correlativa; é o que constitui a fraqueza intrínseca do sistema. Tendo desligado impulsos e proibições da escolha existencial, Freud malogra em explicar-lhes a origem: toma-os por todos. Tenta substituir a noção de valor pela de autoridade; mas, em Moisés e seu Povo, ele convém em que não há meio de explicar essa autoridade. O incesto, por exemplo, é proibido porque o pai o proibiu: mas por que essa proibição? Mistério. O superego interioriza ordens e proibições emanando de uma tirania arbitrária; as tendências instintivas existem não se sabe por quê; as duas realidades são heterogêneas porque se considerou a moral alheia à sexualidade; a unidade humana apresenta-se quebrada, não há passagem do indivíduo à sociedade; Freud é obrigado a inventar estranhos romances para reuni-los (Totem e Tabu). Adler percebeu muito bem que o complexo de castração só se poderia explicar num contexto social; abordou o problema da valorização, mas não remontou à fonte ontológica dos valores reconhecidos pela sociedade e não compreendeu que, na sexualidade propriamente dita, se empenham valores, o que o levou a menosprezar-lhes a importância.

Seguramente a sexualidade desempenha na vida humana um papel considerável: pode-se dizer que ela a penetra por inteira. A fisiologia já nos mostrou que a vida dos testículos e a dos ovários confundem-se com a do soma. O existente é um corpo sexuado; nas suas relações com os outros existentes, que são também corpos sexuados, a sexualidade está, portanto, sempre empenhada; mas, se corpo e sexualidade são expressões concretas da existência, é também a partir desta que se pode descobrir-lhes as significações: sem essa perspectiva, a psicanálise toma, por verdadeiros, fatos inexplicados. Dizem-nos, por exemplo, que a menina tem vergonha de urinar de cócoras com as nádegas à mostra: mas que é a vergonha? Assim também, antes de indagar se o macho se orgulha de ter um pênis ou se seu orgulho se exprime pelo pênis, cumpre saber o que é o orgulho e como a pretensão do sujeito pode encarnar-se em um objeto. Não se deve encarar a sexualidade como um dado irredutível; há, no existente, uma "procura do ser" mais original; a sexualidade é apenas um de seus aspectos. É o que mostra Sartre em L'Être et la Néant; é o que diz também Bachelard em suas obras sobre a Terra, o Ar, a Água: os psicanalistas consideram que a verdade primeira do homem é uma relação com seu próprio corpo e com o corpo de seus semelhantes no seio da sociedade. Mas o homem vota um interesse primordial à substância do mundo natural que o cerca e que procura descobrir no trabalho, no jogo, em todas as experiências da "imaginação dinâmica". O homem pretende alcançar concretamente a existência através do mundo inteiro, apreendido de todas as maneiras possíveis. Amassar o barro, cavar um buraco são atividades tão originais como o amplexo, o coito: enganam-se os que vêem nelas símbolos sexuais tão-somente; o buraco, o visgo, o entalhe, a dureza, a integridade são realidades primeiras; o interesse que o homem lhes vota não é ditado pela libido, mas esta é que é colorida pela maneira por que elas se lhes descobriram. Não é porque simboliza a virgindade feminina que a integridade fascina o homem: é seu amor à integridade que torna preciosa a virgindade. O trabalho, a guerra, o jogo, a arte definem maneiras de ser no mundo e não se deixam reduzir a nenhuma outra; elas descobrem qualidades que interferem com as que revela a sexualidade; é, ao mesmo tempo através delas e através das experiências eróticas, que o indivíduo se escolhe. Mas só um ponto de vista ontológico permite restituir a unidade dessa escolha.

É essa noção de escolha que o psicanalista rechaça mais violentamente em nome do determinismo e do "inconsciente coletivo"; este forneceria ao homem imagens feitas e um simbolismo universal; ele é que explicaria as analogias dos sonhos, dos atos falhos, dos delírios, das alegorias e dos destinos humanos; falar de liberdade seria recusar a possibilidade de explicar tão perturbadoras concordâncias. Mas a ideia de liberdade não é incompatível com a existência de certas constantes. Se o método psicanalítico é muitas vezes fecundo, apesar dos erros da teoria, é porque há em toda história singular dados cuja generalidade ninguém nega: as situações e as condutas repetem-se; é no seio da generalidade e da repetição que surge o momento da decisão. "A anatomia é o destino", dizia Freud; essa expressão encontra eco em Merleau-Ponty: "O corpo é a generalidade". A existência é una através da separação dos existentes; ela manifesta-se em organismos análogos; haverá, portanto, constantes na ligação do ontológico ao sexual. Em dada época, as técnicas, a estrutura econômica e social de uma coletividade descobrem, a todos os seus membros, um mundo idêntico; haverá também uma relação constante da sexualidade com as formas sociais; indivíduos análogos, colocados em condições análogas, perceberão no dado significações análogas; essa analogia não cria uma universalidade rigorosa, mas permite encontrar tipos gerais nas histórias individuais. O símbolo não se nos apresenta mais como uma alegoria elaborada por um inconsciente misterioso: é a apreensão de uma significação através de um analogon do objeto significante. Do fato da identidade da situação existencial através de todos os existentes e da identidade da facticidade que lhes cumpre enfrentar, as significações se revelam, da mesma maneira, a muitos indivíduos. O simbolismo não caiu do céu nem jorrou das profundezas subterrâneas: foi elaborado, como uma linguagem, pela realidade humana que é mitsein ao mesmo tempo que separação, e isso explica que a invenção singular nele tenha seu lugar. Praticamente o método psicanalítico é forçado a admiti-lo, autorize-o ou não a doutrina. 

Essa perspectiva permite-nos, por exemplo, compreender o valor geralmente dado ao pênis (1). É impossível explicá-lo sem partir de um fato existencial: a tendência do sujeito para a alienação. A angústia de sua liberdade conduz o sujeito a procurar-se nas coisas, o que é uma maneira de fugir de si mesmo; é uma tendência tão fundamental que logo após a desmama, quando se acha separado do Todo, a criança esforça-se por apreender nos espelhos, no olhar dos pais, sua existência alienada. Os primitivos alienam-se no mana, no totem; os civilizados em sua alma individual, em seu eu, em seu nome, em sua propriedade, em sua obra: é a primeira tentação da inautenticidade. O pênis é singularmente indicado a desempenhar, para o menino, o papel de "duplo": é para ele um objeto estranho e, ao mesmo tempo, ele próprio; é um brinquedo, uma boneca e é sua própria carne; pais e amas tratam-no como um pequeno personagem. Concebe-se então que se torne para a criança "um alter ego em geral mais malandro, mais inteligente e mais hábil do que o indivíduo" (Alice Balint, La Vie intime de l'enfant ); do fato de que a função urinaria e mais tarde a ereção se encontram a meio caminho entre os processos voluntários e os processos espontâneos; do fato de que é uma fonte caprichosa, quase alheia de um prazer subjetivamente sentido, o pênis é posto pelo sujeito como si mesmo e outro que não si mesmo; a transcendência específica encarna-se nele de maneira apreensível e ele é fonte de orgulho; é porque o falo é separado que o homem pode integrar na sua individualidade a vida que o ultrapassa. Concebe-se então que o comprimento do pênis, a força do jato de urina, da ereção, da ejaculação tornem-se, para o sujeito, a medida de seu próprio valor (2). Por isso é constante que o falo encarna carnalmente a transcendência. Como é igualmente constante que a criança sinta-se transcendida, isto é, frustrada de sua transcendência pelo pai, encontrar-se-á portanto a ideia freudiana de "complexo de castração". Privada desse alter ego, a menina não se aliena numa coisa apreensível, não se recupera; em conseqüência, ela é levada a fazer-se por inteira objeto, a pôr-se como o Outro; a questão de saber se se comparou ou não aos meninos é secundária; o importante é que, mesmo não conhecida por ela, a ausência do pênis a impede de se tornar presente a si própria enquanto sexo; disso resultarão muitas conseqüências. Mas essas constantes que assinalamos não definem entretanto um destino: o falo assume tão grande valor porque simboliza uma soberania que se realiza em outros campos. Se a mulher conseguisse afirmar-se como sujeito, inventaria equivalentes para o falo: a posse de uma boneca, em quem se encarna a promessa do filho, pode tornar-se mais preciosa do que a do pênis (3). Há sociedades de filiação uterina em que as mulheres detêm as máscaras em que a coletividade se aliena. O pênis perde então muito de seu prestígio. É só no seio da situação apreendida em sua totalidade que o privilégio anatômico cria um verdadeiro privilégio humano. A psicanálise só conseguiria encontrar sua verdade no contexto histórico. 


(1) Voltaremos mais longamente ao assunto no capítulo I do volume II.

(2) Citaram-se o caso de meninos camponeses que se divertiam em concursos de excrementos: quem tivesse as nádegas mais volumosas e sólidas, gozava de um prestígio que nenhum outro êxito, nos jogos ou na luta, podia compensar. A matéria fecal desempenhava o mesmo papel que o pênis: havia igualmente alienação.

(3) Voltaremos a essas idéias na segunda parte; indicamo-las tão-somente a título metódico.






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O SEGUND O SEXO
SIMONE DE BEAUVOIR

Entendendo o eterno feminino como um homólogo da alma negra, epítetos que representam o desejo da casta dominadora de manter em "seu lugar", isto é, no lugar de vassalagem que escolheu para eles, mulher e negro, Simone de Beauvoir, despojada de qualquer preconceito, elaborou um dos mais lúcidos e interessantes estudos sobre a condição feminina. Para ela a opressão se expressa nos elogios às virtudes do bom negro, de alma inconsciente, infantil e alegre, do negro resignado, como na louvação da mulher realmente mulher, isto é, frívola, pueril, irresponsável, submetida ao homem.

Todavia, não esquece Simone de Beauvoir que a mulher é escrava de sua própria situação: não tem passado, não tem história, nem religião própria. Um negro fanático pode desejar uma humanidade inteiramente negra, destruindo o resto com uma explosão atômica. Mas a mulher mesmo em sonho não pode exterminar os homens. O laço que a une a seus opressores não é comparável a nenhum outro. A divisão dos sexos é, com efeito, um dado biológico e não um momento da história humana.

Assim, à luz da moral existencialista, da luta pela liberdade individual, Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo, agora em 4.a edição no Brasil, considera os meios de um ser humano se realizar dentro da condição feminina. Revela os caminhos que lhe são abertos, a independência, a superação das circunstâncias que restringem a sua liberdade.


4.a EDIÇÃO - 1970
Tradução
SÉRGIO MILLIET
Capa
FERNANDO LEMOS
DIFUSÃO EUROPÉIA DO LIVRO
Título do original:
LE DEUXIÊME SEXE
LES FAITS ET LES MYTHES
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Segundo Sexo é um livro escrito por Simone de Beauvoir, publicado em 1949 e uma das obras mais celebradas e importantes para o movimento feminista. O pensamento de Beauvoir analisa a situação da mulher na sociedade.

No Brasil, foi publicado em dois volumes. “Fatos e mitos” é o volume 1, e faz uma reflexão sobre mitos e fatos que condicionam a situação da mulher na sociedade. “A experiência vivida” é o volume 2, e analisa a condição feminina nas esferas sexual, psicológica, social e política.


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Leia também:

O Segundo Sexo - 12. Fatos e Mitos: a mulher é uma fêmea na medida em que se sente fêmea


O Segundo Sexo - 14. Fatos e Mitos: o próprio Freud admite que o prestígio do pênis explica-se pela soberania do pai


O Segundo Sexo - 1 Fatos e Mitos: que é uma mulher?



terça-feira, 29 de agosto de 2017

Série Ballet - Arabian Dance by Maurice Bejart

Arabian Dance by Maurice Bejart



porque dançar é isso...
flutuar desenhos coloridos com o próprio corpo
ah, o corpo...
                                  quanto pecado para hipócritas 
e quanta graça humana para o ballet...
                                   prefiro o ballet aos hipócritas








Maurice Bejart, guilty of nailing "Le Sacre du Printemps" to the cross of choreographic atrocities, in some miracle of redemption does here what 42 other choreographers could not....he makes "Tchaikovsky's "The Nutcracker" an actual piece of art and this is just an excerpt. It is "The Arabian Dance", the most exotic thing Tchaikovsky may have ever composed and tucked into the crappiest ballet ever written as if to cast light on just that... I don't like The Nutcracker. Maurice Bejart, I think, did not like it either. What he did with the ballet has nothing to do with Nutcracker princes, little girls in Christmas stupors or Russians or Chinamen....but I think there may be a drag queen and we know for certain that there is, finally, a very, very, dark, hypnotic, erotic and mysterious choreography to the sleepy, secretive music of this piece of magical music. That Bejart has the dancer in a trance, in total submission, kept in a box, at times striking what could be considered vulgar poses were it not for the fact that they are brief or facing away from the viewer is so extremely anti-Nutcracker that for a moment you forget that something as ridiculous as a sugarplum fairy was ever associated with this ballet. And when you throw the prefix "anti" in front of something, I am almost always captivated. This is no "almost". Fatova Mingus.




uma tradução livre e despojada hehehe


-Maurice Bejart, culpado de pregar "Le Sacre du Printemps" à cruz das atrocidades coreográficas, em algum milagre da redenção faz o que 42 outros coreógrafos não conseguiram ... ele faz "Tchaikovsky" O Nutcracker ", uma peça de arte real e este é apenas um trecho. É "The Arabian Dance", a coisa mais exótica que Tchaikovsky pode ter feito e se juntou ao mais lindo baile já escrito como se fosse lançar luz sobre isso ... Eu não gosto do Nutcracker. Maurice Bejart, eu acho, também não gostou. O que ele fez com o balé não tem nada a ver com príncipes do Nutcracker, garotas pequenas em estupor de Natal ou russos ou Chinamen .... mas acho que pode haver uma rainha drag e nós. Com certeza que há, finalmente, uma coreografia muito, muito, escura, hipnótica, erótica e misteriosa para a música sonolenta e secreta desta música mágica. Que Bejart tem o dançarino em transe, em submissão total, mantido em uma caixa, às vezes atingindo o que poderia ser considerado poses vulgares Não fosse pelo fato de que eles são breves ou afastados do espectador é tão extremamente antibrunco ​​que, por um momento, você esquece que algo tão ridículo como uma fada de sugarplum foi associado a esse balé. E quando você joga o prefixo "anti" na frente de algo, quase sempre estou cativado. Isso não é "quase". Fatova Mingus.-












domingo, 27 de agosto de 2017

O Brasil Nação - v1: § 40 – Já é corrupção... - Manoel Bomfim

Manoel Bomfim



O Brasil nação volume 1





PRIMEIRA PARTE
SEQUÊNCIAS HISTÓRICAS



capítulo 5
o acervo do império





§ 40 – Já é corrupção...




O segundo Império deu a prova definitiva – do mal que no Brasil se incluiu com a herança direta do Estado português. Longo, bem explícito na longa paz em que transcorreu, ele é, também, uma demonstração – da nação anulada, contida, e viciada nos seus dirigentes. Em cinquenta anos, e que foram os da plena expansão da vida moderna, não há um momento, na política do Brasil, em que se sinta vontade nacional, a não ser no termo de tudo – para impor a libertação dos escravos. Quanto ao mais, de insinceridade a embuste, de embuste a dissimulação, renegamento, traição... a política, sujando o caráter da nação, não tarda ser: degradação, corrupção, dissolução moral... A história, concretização de motivos e acentuação de valores, apresenta-se-nos com este paradoxo, que vale por uma demonstração: apesar dos muitos decênios de luta interna, em paralelo com os nossos quarenta anos de paz interior, a maior parte dos povos neoibéricos apresentam-se, hoje, num mais efetivo progresso político e social do que o Brasil... É que nenhum deles teve de incluir em seus destinos o equivalente do Estado português, ao passo que nós indigestamos de podridão. De tal sorte, não houve valor de virtudes próprias à alma brasileira, nem aspirações democráticas e sãs que pudessem vencer as misérias vivaces em que se emaranhou a política nacional. E quando contemplamos os muitos e longos anos de paz, é para ver a nação gemer, em 1860, dos agravados processos de 1825, e pedir medrosamente, em 1870, aquilo que, em 1831, se considerava indispensável, mesmo entre os que desfrutavam o poder. 

Inteiramente fechado ao verdadeiro influxo da opinião; alheio aos legítimos e necessários estímulos da vida nacional, o segundo Império foi um período de corrupção, O que se salvou, no bafio daquela estagnação, vem de um esforço de artifício, por uma honestidade puramente fiscal, e, ainda assim, incompleta, tudo em moralidade convencional, puritanismo fácil, de quem pode; puritanismo que, pactuando com abjurações e transigências, servindo-se delas, provocando-as, ora explorava a improbidade, ora desmoralizava, desnudando misérias, e desfibrando os homens, a título de corrigi-los. Tal foi o imperante em face dos seus políticos. De modo geral, não podia haver legítima probidade naquela gente que se tinha poluído em todas traficâncias políticas, através dos mais torpes compromissos, renegando repetidamente as próprias convicções. Ora, a probidade é o coração no caráter, como inteira fidelidade do indivíduo à sinceridade do seu pensamento. Naquele mundo de subalternos, nivelados na adulação, não podia haver probidade. A adulação, a mais vil nas formas das relações humanas, é o dissolvente a que nenhum caráter resiste; desnatura a gratidão em servilismo, vale como traição do indivíduo a si mesmo, e, como desfaçatez e despudor, já é corrupção, em que se confunde o corruptor com o corrompido. A história destaca os nomes dos grandes corruptores-corrompidos, criadores da escola política em que se exaltou o segundo reinado. Araújo Lima, Calmon, Hermeto, Vasconcelos, Alves Branco, Costa Carvalho... valem mais, no rebaixamento da vida pública, do Brasil, do que mesmo Vilela Barbosa, ou José Clemente, que tiveram a relativa honestidade de serem sempre iguais a si mesmo, como instrumentos do primeiro e essencial bragantismo; com eles, por eles mesmos, não haveria ilusões nacionais. No momento supremo e ótimo do segundo Império, quando este se apresentava ao mundo – vencedor, redentor e humano, José de Alencar pôde dizer, em pleno parlamento, sem ser contraditado: “Tais são os tempos, que independência de caráter passa por insensatez, a ductibilidade por sabedoria...” Tomando dos fatos, ele mostra


a repugnância, o desprezo e o tédio, inspirados pelo triste espetáculo da nossa política... a degeneração progressiva e rápida, a degradação política a que temos chegado... a política do Brasil, não vale a competência, nem o caráter, nem o patriotismo; convicções, coerência, independência de vontade são pesos que afundam irremissivelmente...


Subindo, no tempo, com o veio da podridão, encontramos a notação de Tavares Bastos, para 1862: “... presidentes e ministros ignorantes e corrompidos...” Galgando um pouco mais – 1860, encontramos os conceitos peremptórios de Landulfo:


... o silêncio parlamentar, ou a sua expressa adesão, sancionou o sistema da corrupção... governo virtualmente morto, inferior ao papel que se lhe confia. Para se manter algum tempo, só tem um recurso – o das violências e reações, porque a mesma corrupção está gasta e impotente... corrupção dos costumes, corrupção política... Para resolver a crise é mister aniquilar a corrupção, e a corrupção campeia impávida, impudente... O governo corrompe e é corrompido. As câmaras corrompem e são corrompidas... A ninguém é lícito manter ilusões de regeneração, quando o princípio donde a esperavam é demonstrado proceder pela corrupção...


E, então, fulmina: “A história dirá, um dia, a verdade da corrupção, e o nome do corruptor...” Anos depois, Sayão Lobato endossará o conceito, apontando até a origem da corrupção: Vem de cima a corrupção dos povos... No entanto, se é um fato a corrupção, não é exato que fosse Pedro II a origem e o fator exclusivo dela. Dando verdade à voz do seu despeito, José de Alencar excedia a mesma verdade quando fazia do efetivo poder pessoal a causa de degradação política. Negando-lhe a senatoria, a ele, que era um valor intelectual, do Brasil de então; a ele, José de Alencar, em que havia um tanto de caráter e coerência, o imperador repetia o que já havia feito com Martiniano de Alencar e com Otoni; tratando a escolha de senadores como atribuição exclusiva do seu poder, usando-a como privilégio – para satisfação das suas prevenções, das suas vinganças e dos seus rancores; manejando-a como recurso da sua politicagem pessoal, Pedro II não fazia mais do que repetir Araújo Lima: Bezerra é o equivalente de Matoso Maia. Lembremo-nos de que o regime total começou com a escolha de Barbuda (Marquês de Jacarepaguá), trazendo das urnas 12 votos, somente. 

Repetimo-lo: não foi o imperador, majorado por uma política misturada de velhacaria, ambição de mando e ingenuidade chata; não foi ele quem amesquinhou e corrompeu o ânimo dos comparsas na politicagem. Um regime que, vindo de Araújo Lima e Hermeto, passa por Carvalho Melo, não precisa de mais para a declarada degradação. Em 1842, o renegado futuro Montalegre pretende injuriar Feijó com o lembrar-lhe – que ele, Feijó, “por uma lógica que não compreendo, faz alarde de ser um dos principais chefes da revolução”. Em verdade, quando o político que começara republicano, confessa não compreender lealdade e coerência em política, não há mais a minguar, como dignidade dela. Anterior a tudo isso, contemporâneo da crise de 1842, e ativo na repressão, foi Caxias, o general que fez reputação e nobreza com a estratégia de pacificador, estratégia que era a corrupção sob a sugestão das baionetas. Tinha oito anos, apenas, o segundo Império, e Tosta, presidente de Pernambuco, para os fins de suplantar os brios da legendária província, baixa um edito que é um modelo de torpeza na corrupção: “Perdoa-se qualquer crime, e ainda se dá o prêmio de três contos de réis, a quem prender revolucionários...” Como se vê, a justiça manda afirmar: o segundo Império já não teve o que corromper; o seu papel foi, apenas, o de sistematizar o bom aproveitamento da mesma corrupção. Bem meditado, se se comparam esses dias, em que recrimina José de Alencar, e aqueles da senatoria do criado Barbuda, a diferença está, somente, em que, então – havia ainda uma nação para insurgir-se, e, agora, (186070), o regime já fizera uma obra completa: a degradação já era corrupção, que, sendo de toda a política, manifestava-se como degradação da própria nação, desamparada de brio, sem possibilidade de remissão. Na ausência de efetivos políticos, para os poderes do Estado, o moderador era tudo. Contra o seu absolutismo, só havia, mesmo, o liberalismo farisaico do imperante, único querer sobre a mesquinhez de criaturas feitas para subserviências miúdas e confessadas, sem outro ideal além da ostentação do falso poder, como lhes concedia o parlamentarismo reinante.





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"Morreu no Rio aos 64 anos, em 1932, deixando-nos como legado frases, que infelizmente, ainda ecoam como válidas: 'Somos uma nação ineducada, conduzida por um Estado pervertido. Ineducada, a nação se anula; representada por um Estado pervertido, a nação se degrada'. As lições que nos são ministradas em O Brasil nação ainda se fazem eternas. Torcemos para que um dia caduquem. E que o novo Brasil sonhado por Bomfim se torne realidade."

Cecília Costa Junqueira



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O Brasil nação: vol. I / Manoel Bomfim. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2013. 332 p.; 21 cm. – (Coleção biblioteca básica brasileira; 35).


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Download Acesse:

http://www.fundar.org.br/bbb/index.php/project/o-brasil-nacao-vol-i-manoel-bonfim/


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O Brasil Nação - v1: § 39 – A choldra dos partidos – sobre a nação abandonada - Manoel Bomfim 

O Brasil Nação - v1: § 41 – O exclusivo da honestidade - Manoel Bomfim

O Brasil nação - v1: Prefácio - Manoel Bomfim



Rayuela - Julio Cortázar: Capítulo 53

Capítulo 53
    Y un jueves, zás, todos instalados a eso de las nueve de la noche. Por la tarde se había ido el personal golpeando puertas (risas irónicas de Ferraguto y la Cuca, firmes en no redondear las indemnizaciones) y una delegación de enfermos había despedido a los salientes con gritos de: “¡Se murió el perro, se murió el perro!”, lo que no les había impedido presentar una carta con cinco firmas a Ferraguto, reclamando chocolate, el diario de la tarde y la muerte del perro. Quedaron los nuevos, un poco despistados todavía, y Remorino que se hacía el canchero y decía que todo iba a andar fenómeno. Por la Radio El Mundo se alimentaba el espíritu deportivo de los porteños con boletines sobre la ola de calor. Batidos todos los récords, se podía sudar patrióticamente a gusto, y Remorino ya había recogido cuatro o cinco pijamas tirados en los rincones. Entre él y Oliveira convencían a los propietarios de que se los pusieran de nuevo, por lo menos el pantalón. Antes de trenzarse en un póker con Ferraguto y Traveler, el doctor Ovejero había autorizado a Talita para que distribuyera limonada sin miedo, con excepción del 6, el 8 y la 31. A la 31 este le había provocado un ataque de llanto, y Talita le había dado doble ración de limonada. Ya era tiempo de proceder motu proprio, muera el perro.

    ¿Cómo se podía empezar a vivir esa vida, así apaciblemente, sin demasiado extrañamiento? Casi sin preparación previa, porque el manual de psiquiatría adquirido en lo de Tomás Pardo no era precisamente propedeútico para Talita y Traveler. Sin experiencia, sin verdaderas ganas, sin nada: el hombre era verdaderamente el animal que se acostumbra hasta a no estar acostumbrado. Por ejemplo la morgue: Traveler y Oliveira la ignoraban, y heteakí que le martes por la noche Remorino subió a buscarlos por orden de Ovejero. El 56 acababa de morir esperadamente en el segundo piso, había que darle una mano al camillero y distraer a la 31 que tenía unos telepálpitos de abrigos. Remorino no les explicó que le personal saliente era muy reivindicativo y que estaba trabajando a reglamento desde que se había enterado del asunto de las indemnizaciones, así que no quedaba otro remedio que empezar a pegarle fuerte al trabajo, de paso les venía bien como práctica.

    Qué cosa tan rara que en el inventario leído del día de la gran tratativa no se hubiera mencionado una morgue. Pero che, en alguna parte hay que guardar a los fiambres hasta que venga la familia o la municipalidad mande el furgón. A lo mejor en el inventario se hablaba de una cámara de deposito, o una sala de tránsito, o un ambiente frigorífico, esos eufemismos, o simplemente se mencionaban las ocho heladeras. Morgue, al fin y al cabo no era bonito de escribir en un documento, creía Remorino. ¿Y para qué ocho heladeras? Ah, eso... Alguna exigencia del departamento nacional de higiene o un acomodo del ex administrador cuando las licitaciones, pero tan mal no estaba porque a veces había rachas, como el año que había ganado San Lorenzo (¿qué año era? Remorino no se acordaba, pero era el año que San Lorenzo había hecho capote), de golpe cuatro enfermos al tacho, un saque de guadaña de esas que te la debo. Eso sí, poco frecuente, el 56 era fatal, qué le va a hacer. Por aquí, hablen bajo para no despertar a la mersa. Y vos qué me representás a esta hora, rajá a la cama, rajá. Es un buen pibe, mírenlo cómo se las pica. De noche le da por salir al pasillo pero no se crean que es por las mujeres, ese asunto lo tenemos bien arreglado. Sale porque es loco, nomás, como cualquiera de nosotros si vamos al caso.

    Oliveira y Traveler pensaron que Remorino era macanudo. Un tipo evolucionado, se veía en seguida. Ayudaron al camillero, que cuando no hacía de camillero era el 7 a secas, un caso curable de manera que podía colaborar en los trabajos livianos. Bajaron la camilla en el montacargas, un poco amontonados y sintiendo muy cerca el bulto del 56 debajo de la sábana. La familia iba a venir a buscarlo el lunes, eran de Trelew, pobre gente. Al 22 no lo habían venido a buscar todavía, era el colmo. Gente de plata, creía Remorino: los peores, buitres puros, sin sentimiento. ¿Y la municipalidad permitía que el 22... ? El expediente andaría por ahí, esas cosas. Total que los días iban pasando, dos semanas, así que ya veían la ventaja de tener muchas heladeras. Con una cosa y otra ya eran tres, porque también estaba la 2, una de las fundadoras. Eso era grande, la 2 no tenía familia pero en cambio la dirección de sepelios había avisado que el furgón pasaría a las cuarenta y ocho horas. Remorino había sacado la cuenta para reírse, y ya hacían trescientas seis horas, casi trescientas siete. Lo de fundadora lo decía porque era una viejita de los primeros tiempos, antes del doctor que le había vendido a don Ferraguto. Qué buen tipo parecía don Ferraguto, ¿no? Pensar que había tenido un circo, qué cosa grande.

-Sacá una cerveza –mandó Remorino-. Ustedes no saben nada, eh. A veces aquí el reglamento es demasiado... Mejor no le digan a Don Ferraguto, total solamente tomamos una cervecita de cuando en cuando.

    El 7 se fue a una de las puertas del refrigerador y sacó una botella. Mientras Remorino la abría con un dispositivo de que estaba provisto su cortaplumas, Traveler miró a Oliveira pero el 7 habló primero.

-Mejor lo guardamos antes, no le parece.

-Vos... –empezó Remorino, pero se quedó con el cortaplumas abierto en la mano-. Tenés razón, pibe. Dale. Esa de ahí está libre.

-No –dijo el 7.

-¿Me vas a decir a mí?

-Usted perdone y disculpe –dijo el 7-. La que está libre es ésa.

    Remorino se quedó mirándolo, y el 7 le sonrió y con una especie de saludo se acercó a la puerta en un litigio y la abrió. Salió una luz brillante, como de aurora boreal u otro meteoro hiperbóreo, en medio de la cual se recortaban claramente unos pies bastante grandes.

-El 22 –dijo el 7-. ¿No le decía? Yo los conozco a todos por los pies. Ahí está la 2. ¿Qué me quiere jugar? Mire, si no me cree. ¿Se convenció? Bueno, entonces lo ponemos en esta que está libre. Ustedes me ayudan, ojo que tiene que entrar de cabeza.

-Es un campeón –le dijo Remorino en voz baja a Traveler-. Yo realmente no sé por qué Ovejero lo tiene aquí adentro. No hay vasos, che, de manera que nos prendemos a la que te criaste.

    Traveler tragó humo hasta las rodillas antes de aceptar la botella. Se la fueron pasando de mano en mano, y el primer cuento verde lo contó Remorino.



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Leia também:





Gente Pobre - 18. Onde gosto mais de viver, é onde já me encontro - Dostoiévski

Fiódor Dostoiévski


18.




27 de junho



Querido Makar Alexeievitch:


Fédora disse-me que conhece pessoas que seriam capazes de se interessar pela minha situação e, se eu quisesse, me poderiam arranjar um bom lugar como governante em qualquer casa. Que lhe parece, meu amigo? Aceito ou não? Não queria continuar a ser-lhe pesada, e o referido lugar parece muito bom. Por outro lado, atemoriza-me um pouco a ideia de ter de entrar ao serviço de gente estranha. Dizem que se trata de uma família de proprietários rurais. E se quiserem obter informações acerca do meu passado, que deverei dizer-lhes? Além disso, insociável e amiga da solidão como sou! Onde gosto mais de viver, é onde já me encontro. Sinto-me mais contente e alegre neste cantinho a que já estou habituada; embora, por vezes, passe dificuldades, sempre é preferível a qualquer outro. Além disso, ver-me-ia obrigada a viajar para me trasladar para as propriedades da referida família; e sabe-se lá que serviço me dariam? Eram capazes de me pôr a olhar por crianças! E que gente será aquela para, nestes últimos dois anos, haverem já tido três governantes? Aconselhe-me, querido Makar Alexeievitch, a fazer o que achar ser melhor: devo aceitar a proposta ou deixar-me ficar aqui? Porque não nos vem visitar? Vejo-o tão poucas vezes! Tirante os domingos, na igreja, durante a semana quase não nos vemos. O senhor é assim insociável? Então é como eu! E não admira, pois, ao fim e ao cabo, somos parentes. Ou já me não tem amor, Makar Alexeievitch? A solidão, às vezes, entristece-me, sobretudo à hora do crepúsculo, quando me encontro sozinha em casa. Se Fédora sai, às compras ou a qualquer coisa, fico para aqui a pensar e a recordar o passado — as alegrias e as tristezas —, pois tudo perpassa diante de mim como uma nuvem. Surgem outra vez na minha frente os rostos conhecidos — parece-me vê-los, acordada, como se fosse em sonhos-, sendo frequente ver a mamã... E o que eu sonho! Penso que a minha saúde está abalada. Sinto-me tão fraca! De manhã, ao levantar-me da cama, achei-me muito mal, e esta aborrecida tosse não há forma de me passar! Pressinto — sei-o bem — que pouco durarei. Quem me acompanhará à última morada? Quem chorará por mim? E se morrer numa casa estranha, no meio de desconhecidos? Meu Deus, como esta vida é triste, Makar Alexeievitch! Meu amigo, porque me está sempre a mandar doces? Não posso compreender como arranja dinheiro para estas coisas. Guarde-o para outras de mais utilidade, guarde! Fédora arranjou comprador para o tapete que fiz. Dão-me por ele quinze rublos. Já é bem pago; julguei que me ofereceriam menos. Tocam três rublos a Fédora, e com o resto comprarei um bocado de tecido qualquer, barato, para um vestido simplesinho. Ao meu amigo, quero dar-lhe um colete muito bonito, de bom pano, que eu mesma farei. Fédora arranjou-me um livro — Contos de Bielkin — que junto lhe envio, a fim de que o leia também. Apenas lhe peço que não o demore muito aí, porque não é meu. É da autoria de Pouchkine. Há dois anos li estes contos na companhia da mamã; por isso, ao lê-lo agora, acudiram-me à mente tristes recordações. Se tiver por aí algum livro, mande-mo, contanto que não seja de Ratazaiev. Ele é capaz de lhe oferecer alguma obra da sua autoria, se é que tem alguma publicada. Como é possível que o senhor goste tanto dos seus escritos, Makar Alexeievitch? São verdadeiramente disparatados. Bem, adeus! O que eu para aqui rabisquei! Quando me assalta a melancolia, o meu gosto é ter com quem falar! É o melhor remédio para o mal; sinto-me logo mais aliviada, sobretudo quando posso deitar cá para fora tudo o que me aflige o coração. Adeus, adeus, meu amigo! Sua



B. D.





28 de junho


Minha querida Bárbara Alexeievna:


Para longe as tristezas! Não tem vergonha? Acabe com essas mágoas! Como pode ter semelhantes pensamentos? A sua doença já lá vai; está completamente boa, meu anjo! Até dá gosto vê-la, é a pura verdade, creia; apenas um bocadinho pálida, mas, apesar disso, é bem nítida a sua louçania. Deixe-se desses sonhos, pesadelos e espectros! Isso é vergonhoso, sabe? Não pense nessas coisas, minha querida! Se não se preocupar com esses estúpidos sonhos, eles não a apoquentarão mais. Não há nada mais simples. Porque é que eu durmo bem? Será por não me faltar nada? Repare em mim. Sinto-me contente e alegre, durmo a sono solto, tenho saúde a rodos, numa palavra, sou da pele do diabo; e gabo-me disso! Deixe-se dessas coisas, repito, tenha vergonha e corrija-se. Mas eu conheço bem essa cabecita; a mínima insignificância entristece-a e preocupa-a, e atormenta o espírito com pensamentos de toda a espécie. Acabe com esses desvarios, quanto mais não seja, para me fazer a vontade! Ir servir gente estranha? Isso nunca. Não, e mil vezes não! Que ideia foi essa? Como se fosse uma coisa sem importância ir para longe daqui! Não, minha querida; ainda me não conhece bem; nunca consentirei em tal; oponho-me com todas as minhas forças a semelhante projeto! Nem que tivesse de vender o casaco e ficar em camisa, meu amor, nunca a deixaria passar necessidade! Não, eu conheço-a bem! Isso é uma loucura e nada mais. A culpada de tudo, é essa tonta da Fédora, tenho a certeza; é ela que lhe mete essas ideias na cabeça. Mas você não deve ligar importância ao que ela diz. Sabe muito bem que essa mulher é uma imbecil, uma charlatã incorrigível que amargurou a vida do falecido marido com as suas loucuras! Decerto tem-na atormentado, como fazia ao infeliz. Não, minha querida; nada do que escreveu se poderá realizar! E que seria de mim, aqui sozinho? Não, Bárbara, meu amor, deixe-se disso. Que falta nessa casa? Para mim é uma alegria tê-la aqui perto, e para si esta proximidade representa também uma satisfação. Não vá, e vivamos todos juntos, em paz e na graça de Deus! Faça o que quiser — costure ou leia, ou não costure —, mas não nos abandone. Se assim fizesse, diga-me: que seria de nós? De vez em quando daremos o nosso passeio. O que é preciso é afastar de si, de uma vez para sempre, esses pensamentos, procurar ser razoável e não se preocupar nem afligir com bagatelas! Irei visitá-la brevemente e então falaremos. Mas espero que não faça isso; com certeza não o fará. Não sou, naturalmente, um homem culto. Mais do que ninguém, preciso de me instruir, pois pouco mais aprendi além das primeiras letras. Mas não se trata agora disso, nem era a este ponto que eu queria chegar. Pretendia apenas dizer que, por Ratazaiev , seria capaz de tudo; e não leve a mal esta minha confissão! É meu amigo e cumpre-me defendê-lo. Escreve bem, mesmo muito bem. Não posso, de modo algum, estar de acordo consigo. O seu estilo é colorido, sóbrio, cheio de imagens e pensamentos. Numa palavra: escreve muitíssimo bem! Talvez o haja lido superficialmente, querida Bárbara; se calhar Fédora incomodou-a com alguma das suas, ou então, estava maldisposta nesse dia. Não; há de voltar a lê-lo, mas com interesse e atenção, quando estiver contente e bem-humorada; por exemplo, com um docinho na boca... Só nestas condições deverá tentar fazê-lo. Não quero dizer — o que seria um disparate — que Ratazaiev é incomparável; porém, admitindo mesmo que há escritores muito melhores do que ele, isso não é razão para o declarar mau. Todos são bons: ele escreve bem, e os outros também, quanto a mim. Além disso, não esqueçamos que ele escreve apenas para se entreter; só pega na pena nos momentos livres... o que bem se nota; e, para dizer a verdade, não perde nada com isso. Por agora, adeus, meu amor; hoje não lhe escrevo mais; tenho de copiar umas coisas, e por isso não posso demorar-me. Veja se me tranquiliza. Deus a guarde, queridinha, e a conserve sob a Sua proteção. Seu fiel amigo



Makar Dievuchkin



P. S. — Muito obrigado pelo livro, minha querida. Vou ler, seguido, este volume de Pouchkine, e logo à noite, sem falta, irei aí.






28 de junho


Meu querido Makar Alexeievitch:


Não, meu amigo; não posso continuar aqui por mais tempo. Pensei bem no caso e cheguei à conclusão de que não devia deixar fugir uma colocação tão boa. Ali, ao menos terei garantido o pão de cada dia. Trabalharei o mais possível, procurarei conquistar a simpatia desses estranhos e, se tanto for necessário, esforçar-me-ei até por mudar de feitio. Bem sei que é difícil e doloroso viver entre estranhos, fazer-lhes todas as vontades, dissimular e depender deles em tudo; mas conto para isso com a ajuda de Deus. Não posso ficar toda a vida presa! Já em tempos passei por transes semelhantes, por exemplo, quando estava no colégio. Aos sábados ia para casa e passava o domingo inteiro a brincar e a saltar como uma verdadeira selvagem, e quando por acaso a mamã me ralhava — o que às vezes fazia —, nem por isso eu deixava de continuar contente e sentir o coração radiante e quente. Mas quando chegava a tarde, sentia-me outra vez imensamente infeliz; às nove tinha de regressar ao colégio. Tudo ali era estranho, frio, severo: as professoras, aos domingos, estavam sempre maldispostas, e invadia-me tal tristeza, caía num abatimento tal, que não conseguia conter as lágrimas. Devagarinho, escondia-me num canto e ali me punha a chorar, sozinha e abandonada. Se me viam naquele preparo, logo diziam que era preguiçosa e não queria estudar. Mas não era esse o motivo do meu pranto. E, por fim, que sucedeu? Acabei por me habituar, e quando me vi obrigada a deixar o colégio, foi com lágrimas que me despedi das minhas companheiras. Não; não devo continuar aqui, pois represento um encargo para si e para Fédora. Pensar nisto é para mim um verdadeiro tormento. Digo-lhe isto com toda a franqueza, porque estou afeita a não lhe ocultar seja o que for. Pensa que não vejo a Fédora levantar-se ainda não é bem dia e ir lavar, prosseguindo depois numa lida constante até altas horas da noite? As pessoas de idade precisam de descanso. Sei também quanto o senhor se sacrifica por mim, privando-se por vezes do necessário para gastar comigo tudo o que ganha. Não ignoro, meu bom amigo, que faz por esta infeliz mais do que pode. Dizia-me o senhor, na sua carta, que preferia ficar sem nada, a consentir que eu passasse necessidade. Acredito, meu protetor; sei-o muito bem, conheço o seu bondoso coração. Mas pense um pouco! É possível que presentemente tenha dinheiro de sobra, talvez haja recebido uma gratificação inesperada. Mas, e depois? Sabe bem que passo a maior parte do tempo doente. Não posso trabalhar como o Makar Alexeievitch, apesar de ser esse o meu desejo, e mesmo nem sempre há trabalho. Que devo fazer? Sofrer e torturar-me, sem fazer coisa alguma, deixando que entretanto o senhor e Fédora tratem de mim? Como poderia eu retribuir o menor dos seus desvelos, fosse no que fosse? Não lhe sou, certamente, tão indispensável como o meu amigo diz. Já lhe fiz, porventura, algum bem? Fiz uma coisa apenas: querer-lhe do fundo do coração; e é tudo quanto posso fazer. O meu destino cruel persegue-me outra vez! Sei amar, mas não posso fazer bem, retribuir com ações os benefícios com que me tem cumulado. Por isso, não me retenha por mais tempo, pense maduramente no meu projeto e dê-me depois, com sinceridade, a sua opinião. Fica na expectativa a sua.



B D.







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Esse é o tipo de livro que modifica algo na gente. “Pobre gente” foi o primeiro romance de Dostoievski, começou a escrever em 1844 e terminou no ano seguinte. O personagem Makar Dévushkin, um auxiliar administrativo que leva trinta anos copiando documentos, mora numa pensão humilde, seu pequeno quarto fica ao lado da cozinha, é o que pode pagar com o seu salário também minúsculo. O frio e a frieza de uma sociedade que ignora os pobres. Crítica social contundente, comendo pelas beiradas narrativas. Segundo alguns historiadores, uma das obras que mandou o autor para a cadeia siberiana. Eram os 25 anos de um gênio então já se apurando na escrita, despertando assim, para sentir seu tempo e as humilhações da época, desesperos; um olhar sobre todas as coisas da sofrida gente. Triste narrativa pungente da condição humana em torno desses dois personagens, como vítimas de fatalidades da vida numa sociedade onde poucos conseguem realmente sair do ramerão, e onde muitos se movem numa crueldade austera entre si, forçada pelas inóspitas condições em que vivem. Makar e Varenka vivem um amor idílico ensombrado pelo que os circunda (Makar é muito mais velho que Varenka), agravando as suas próprias condições a um nível desesperador e quase doentio, mas sempre com alguma perspectiva de esperança fundadas em ilusões muitas das vezes patéticas, algo falsamente ingênuas, ilustrativas, no entanto, ao alcance do coração humano que tudo pode sonhar, sem se importar com as verdadeiras condições em que se encontra, principalmente nessas condições por assim dizer desprezíveis.



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Fiódor Dostoiévski

GENTE POBRE

Título original: Bednye Lyudi (1846)

Tradução anônima 2014 © Centaur Editions

centaur.editions@gmail.com


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Leia também:

Gente Pobre - 17. Prepare-se, pois, para ler um bom livro - Dostoiévski

Gente Pobre - 19. Que fim seria o meu longe de si? - Dostoiévski
Gente Pobre - 01. Ontem fui feliz, excessivamente feliz - Dostoievski




quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Festival Chaplin - O Circo

Charlie Chaplin- O Circo (1928)






um circo esfomeado e sem dinheiro
então, surge o vagabundo
"aqui tem, senhor!"












Sinopse

Um batedor de carteiras (Steve Murphy) está agindo em meio a multidão. Para evitar que seja pego, ele coloca uma carteira roubada no bolso do faminto vagabundo (Chaplin), sem que ele perceba. Quando a polícia se afasta, o batedor volta para recuperar o dinheiro perdido, gerando um tumulto que chama a atenção de um policial, que passava por ali.

O Vagabundo fugindo, tanto do batedor quanto da policial, acaba entrando acidentalmente no picadeiro de um circo local. Sem querer acaba entrando no espetáculo e fazendo grande sucesso com o público, sendo logo contratado pelo dono (Al Ernest Garcia), que irá se aproveitar dele, sem que ele perceba. O vagabundo ainda arranja tempo para se apaixonar pela acrobata, filha desse mesmo proprietário.


Mistério envolvendo o filme

Em 2010, foi lançado um disco de DVD extra no filme, com cenas que não foram ao ar na época. Uma dessas cenas fez muito sucesso, pois consiste em uma "mulher" com um sobretudo "segurando" algo no ouvido e conversando sozinha. Nesse mesmo ano, o diretor independente George Clarke publicou um vídeo na internet sobre o fato. O vídeo já teve mais de 3 milhões de visualizações e o público acredita ser um viajante do futuro, falando ao celular. Outra teoria não comprovada é de que seja um aparelho auditivo em formato de funil, usado no fim do século XIX e início dos século XX, mas muitos questionaram o fato dela estar falando sozinha, pois se estivesse usando tal aparelho não teria por quê falar. No inicio do filme nos créditos existe em algarismos romano as letras/números MCMLXVIII ou 1968 que mostra em que ano o filme foi produzido, o correto seria MCMXXVIII ou 1928 que foi o ano correto de produção, não se sabe porque Chaplin fez isso.


Elenco

Charlie Chaplin .... O vagabundo

Al Ernest Garcia .... proprietário do circo

Merna Kennedy .... enteada do dono do circo e moça dos cavalos amestrados

Harry Crockers .... Rex, o homem que se equilibra na corda

George Davis .... um mágico

Henry Bergman .... velho palhaço gordo

Steve Murphy .... batedor de carteiras






...



O Circo


por

em 13 de agosto de 2014







Como muitos sabem (e concordam) hoje em dia, Charles Chaplin se firmou como um dos principais exemplos sobre a arte de expressão da arte cinematográfica. Muitos de seus filmes e curtas, em sua maioria vendidos como comédias, iam da risada às lágrimas numa facilidade digna de um grande condutor, de um realizador que tinha plena consciência do que estava fazendo e levando ao seu público. Em meio a todo o sucesso alcançado por Chaplin em sua época, uma de suas personas, o chamado O Vagabundo, se tornou uma das figuras mais queridas da plateia, e não pra menos, o personagem protagonizou diversas das peraltices que Chaplin levava para as telas.

O Circo é uma destas obras. Apontado como um dos filmes menos politizados de Chaplin (e de fato, é uma das obras mais “descompromissadas” do diretor), O Circo é um dos ápices do diretor no que se refere ao uso do humor visual, da criação de gags criativas, as quais apenas alguém como Chaplin era capaz de criar. Neste sentido, não há como negar: O Circo é uma das grandes comédias da história, e algumas das melhores risadas do Cinema se encontram aqui.

Como sempre, Chaplin parte de uma premissa simples, mas quase tragicômica: o Vagabundo chega a um picadeiro que não se encontra em uma de suas melhores fases. Mas o dono do circo, ao perceber a facilidade com que o Vagabundo conseguia arrancar risadas da plateia, contrata o maltrapilho para trabalhar junto com a trupe, e logo o mesmo se apaixona pela filha do proprietário do circo, o que o leva a confrontá-lo pelo direito de ter a garota.

Nas entrelinhas, Chaplin debate o jogo de interesses e a desvalorização do talento do indivíduo, ou mais especificamente, o diretor elabora uma crítica à exploração trabalhista. Mas este discurso acaba ficando em segundo plano (o que em nenhum momento é algo negativo), com a atenção sendo voltada aos objetivos de Chaplin em trazer os mais diversos tipos de reações do público às suas gags, gerando diversas gargalhadas.

E que gargalhadas! Em seus míseros 71 minutos, Chaplin cria uma reserva de algumas das melhores gags do cinema, muitas delas mesclando momentos de tensão e nervosismo, e que com o passar dos anos, foram deveras copiadas e/ou parodiadas. Se você acha que já viu a cena do Vagabundo preso na jaula do leão em algum desenho animado, não acredite que seja mera coincidência.

Chaplin também preenche o filme com sua costumeira ternura e sensibilidade, sabendo desenvolver seu protagonista através de artifícios bastante econômicos, mas definitivos. O Vagabundo nos é apresentado não apenas como uma figura ingênua e abestalhada, mas como um ser humano como qualquer outro, capaz até de alguns atos condenáveis, como no início da projeção, quando o personagem tenta ficar com uma carteira que não é sua.

Em resumo, O Circo é mais grande exemplo da força expressionista de Chaplin e da arte a qual ele era devoto. Embora possa parecer um de seus filmes “menores”, O Circo sempre será lembrado como um dos grandes filmes de Charles Chaplin.





O Circo (The Circus, EUA, 1928)

Roteiro: Charles Chaplin
Direção: Charles Chaplin

Elenco: 
Charles Chaplin, 
Henry Bergman, 
Tiny Sandford, 
Al Ernest Garcia, 
George Davis, 
Merna Kennedy, 
Harry Crocker, 
John Rand, 
Steve Murphy

Duração: 71 min.


Série Ballet - Duska Sifnios / Maurice Bejart / Bolero's creation

Duska Sifnios / Maurice Bejart 




Eu realmente queria ver isso !!



porque dançar é isso...
flutuar desenhos coloridos com o próprio corpo
ah, o corpo...
                                  quanto pecado para hipócritas 
e quanta graça humana para o ballet...
                                   prefiro o ballet aos hipócritas









Studio Mudra, Brussels - 1960
Bolero's creation








Bolero/Ravel - Duska Sifnios - Maurice Bejart - Andre Vandernoot - 1961






não canso de verreververreververrever

o Bolero de Duska Sifinios é o único, Bejart fez um Bolero para ela

o desejo pela dança

o desejo pelo corpo

o desejo pelos desenhos

o desejo pelo bolero

o êxtase que se prolonga

no desejo




terça-feira, 22 de agosto de 2017

36. O Livro dos Abraços - A acrobata - Eduardo Galeano

Eduardo Galeano


36. O Livro dos Abraços




A acrobata



Luz Marina Acosta era menininha quando descobriu o circo Firuliche. O circo Firuliche emergiu certa noite, mágico barco de luzes, das profundidades do Lago da Nicarágua. Eram clarins guerreiros as cometas de papelão dos palhaços e bandeiras altas os farrapos que ondulavam anunciando a maior festa do mundo. A lona estava toda cheia de remendos, e também os leões, aposentados leões; mas a lona era um castelo e os leões, os reis da selva. E uma senhora rechonchuda, brilhante de lantejoulas, era a rainha dos céus, balançando nos trapézios a um metro do chão. 

Então, Luz Marina decidiu tornar-se acrobata. E saltou de verdade, lá do alto, e em sua primeira acrobacia, aos seis anos de idade, quebrou as costelas. 

E assim foi, depois, a vida. Na guerra, longa guerra contra a ditadura de Somoza, e nos amores: sempre voando, sempre quebrando as costelas. 

Porque quem entra no circo Firuliche não sai jamais.






As flores

O escritor brasileiro Nelson Rodrigues estava condenado à solidão. Tinha cara de sapo e língua de serpente, e a seu prestígio de feio e sua fama de venenoso somava-se a notoriedade de seu contagioso azar: as pessoas ao seu redor morriam de tiro, miséria ou infelicidade fatal. 

Certo dia, Nelson conheceu Eleonora. Naquele dia, dia do descobrimento, quando pela primeira vez viu aquela mulher, uma violenta alegria atropelou-o e deixou-o abobado. Então, quis dizer alguma de suas frases brilhantes, mas as pernas bambearam e a língua se enrolou e não conseguiu outra coisa a não ser gaguejar ruidinhos. 

Bombardeou-a de flores. Mandava flores para o apartamento dela, no alto de um edifício do Rio de Janeiro. A cada dia mandava um grande ramo de flores, flores sempre diferentes, sem repetir jamais as cores ou aromas, e ficava esperando lá embaixo: lá de baixo via a varanda de Eleonora, e da varanda ela atirava as flores na rua, todos os dias, e os automóveis as esmagavam. 

E foi assim durante cinquenta dias. Até que um dia, um meio-dia, as flores que Nelson enviou não caíram na rua e não foram pisadas pelos automóveis. 

Naquele meio-dia, ele subiu até o último andar, apertou a campainha e a porta se abriu.





As formigas

Tracey Hill era menina num povoado de Connecticut, e se divertia com diversões próprias de sua idade, como qualquer outro doce anjinho de Deus no estado de Connecticut ou em qualquer outro lugar deste planeta. 

Um dia, junto a seus companheirinhos de escola, Tracey se pôs a atirar fósforos acesos num formigueiro. Todos desfrutaram muito daquele sadio entretenimento infantil; Tracey, porém, ficou impressionada com uma coisa que os outros não viram, ou fizeram como se não vissem, mas que deixou-a paralisada e deixou nela, para sempre, um sinal na memória: frente ao fogo, frente ao perigo, as formigas separavam-se em casais e assim, de duas em duas, bem juntinhas, esperavam a morte.







A avó

A avó de Bertha Jensen morreu amaldiçoando. Ela tinha vivido a vida inteira na ponta dos pés, como se pedisse perdão por incomodar, consagrada ao serviço do marido e à sua prole de cinco filhos, esposa exemplar, mãe abnegada, silencioso exemplo de virtude: jamais uma queixa saíra de seus lábios, e muito menos um palavrão. 

Quando a doença derrubou-a, chamou o marido, sentou-o na frente da cama, e começou. Ninguém suspeitava que ela conhecesse aquele vocabulário de marinheiro bêbado. A agonia foi longa. Durante mais de um mês, a avó, da cama, vomitou um incessante jorro de insultos e blasfêmias baixíssimas. Até a sua voz mudou. Ela, que nunca tinha fumado nem bebido outra coisa além de água ou leite, xingava com vozinha rouca. E assim, xingando, morreu; e foi um alívio geral na família e na vizinhança. 

Morreu onde havia nascido, na aldeia de Dragor, na frente do mar, na Dinamarca. Chamava-se Inge. Tinha uma linda cara de cigana. Gostava de vestir-se de vermelho e de navegar ao sol.







O avô

Um homem chamado Amando, nascido numa aldeia que se chama Salitre, no litoral do Equador, me deu de presente a história de seu avô. 

Os tataranetos se revezavam no plantão. Na porta, tinham posto corrente e cadeado. Dom Segundo Hidalgo dizia que por isso padecia os ataques: 

Tenho reumatismo de gato castrado — queixava-se. 

Aos cem anos completos, Dom Segundo aproveitava qualquer descuido, montava em pelo e escapava para buscar namoradas por aí. Ninguém entendia tanto de mulheres e de cavalos. Ele tinha povoado esta aldeia de Salitre, e a comarca, e a região, desde que foi pai pela primeira vez, aos treze anos. 

O avô confessava trezentas mulheres, embora todo mundo soubesse que eram mais de quatrocentas. Mas uma, uma que se chamava Blanquita, tinha sido a mais mulher de todas. 

Fazia trinta anos que Blanquita tinha morrido, e ele ainda a convocava na hora do crepúsculo. Amando, o neto, o que me deu esta história de presente, escondia-se e espiava a cerimônia secreta. Na varanda, iluminado pela última luz, o avô abria uma caixinha de pó-de-arroz de outros tempos, uma caixa redonda, daquelas com anjinhos rosados na tampa, e levava o algodão ao nariz:

Acho que te conheço — murmurava, aspirando o leve perfume daquele pó-de arroz —. Acho que te conheço

E balançava-se muito suavemente, murmurando na cadeira de balanço. 

No pôr-do-sol de cada dia, o avô prestava sua homenagem à mais amada. E uma vez por semana, a traía. Era infiel com uma gorda que cozinhava receitas complicadíssimas na televisão. O avô, dono do primeiro e único televisor na aldeia de Salitre, não perdia nunca esse programa. Tomava banho e fazia a barba e vestia-se de branco, vestia-se como para uma festa, o melhor chapéu, as botinas de verniz, o colete de botões dourados, a gravata de seda, e sentava-se grudado na tela. Enquanto a gorda batia seus cremes e erguia a colher, explicando os segredos de algum sabor único, exclusivo, incomparável, o avô piscava o olho e atirava beijos furtivos. A caderneta de poupança aparecia no bolso do paletó. O avô punha a caderneta assim, insinuada, como que por distração, para que a gorda visse que ele não era um pé-rapado qualquer.





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Titulo original: El libro de los abrazos Primeira edição em junho 1991. Tradução: Eric Nepomuceno Revisão: Ana Teresa Cirne Lima, Ester Mambrini e Valmir R. Cassol Produção: Jó Saldanha e Lúcia Bohrer ISBN: 85.254.0306-0 G151L Galeano, Eduardo O livro dos abraços / Eduardo Galeano; tradução de Eric Nepomuceno. - 9. ed. - Porto Alegre: L&PM, 2002. 270p.:il.;21cm 1. Ficção uruguaia. I.Título. CDD U863 CDU 860(895)-3 Catalogação elaborada por Izabel A. Merlo, CRB 10/329. Texto e projeto gráfico de Eduardo Galeano © Eduardo Galeano, 1989


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1.O Livro dos Abraços - O mundo - Eduardo Galeano



domingo, 20 de agosto de 2017

Série: Jazz Para Sempre 16 - Romantic Smooth Jazz

Mark Maxwell
Instrumental Ballads



Quando você não sabe o que dizer... escute








Track 01 – Shadow of Your Smile – 0:00:030:03:48
Track 02 – Sophisticated Lady – 0:03:480:07:46
Track 03 – Moonlight in Vermont – 0:07:460:11:30
Track 04 – ‘Round Midnight – 0:11:300:17:03
Track 05 – Body and Soul – 0:17:030:22:03
Track 06 – When Sunny Gets Blue – 0:22:030:24:50
Track 07 – Take The A Train – 0:24:500:27:45
Track 08 – Angel Eyes – 0:27:450:30:56
Track 09 – Blue Moon – 0:30:560:34:49
Track 10 – In a Sentimental Mood – 0:34:490:40:36
Track 11 – Skylark – 0:40:360:45:37
Track 12 – Autumn Leaves – 0:45:370:50:31
Track 13 – Smoke Gets in Your Eyes – 0:50:310:53:17
Track 14 – Here’s That Rainy Day – 0:53:170:57:24


This is the online home of saxophonist and recording artist Mark Maxwell. The music here is beautiful, romantic, elegant, and sophisticated.


sexta-feira, 18 de agosto de 2017

As Ondas e o Mar

Tim Maia






Nada do que foi será
De novo do jeito
Que já foi um dia
Tudo passa






Como Uma Onda no Mar





Como Uma Onda

Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar

Nada do que foi será
De novo do jeito
Que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre

Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar



Composição: Lulu Santos / Nelson Motta





Lulu Santos
1983





Como Uma Onda (1984)






E ele...
TIM MAIA







...

Conversando



"Como uma Onda (Zen-Surfismo)" é uma canção brasileira gravada por Lulu Santos em 1983, composta pelo próprio Lulu Santos e pelo jornalista e escritor Nelson Motta para a trilha sonora do filme Garota Dourada, de Antônio Calmon. Foi incluída no álbum O Ritmo do Momento, de 1983. A canção obteve bastante sucesso em todo o país no início da década de 1980, e continua a ser executada nos shows do cantor.

Segundo Nelson Motta, que considera a canção um "bolero moderno", a letra teria sido inspirada por Jorge Luis Borges e pelo livro A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen, do filósofo alemão Eugen Herrigel, e refletiu a contradição pessoal vivida pelo compositor na época, dividido entre a filosofia zen e os excessos das drogas no Rio de Janeiro da época (onde o próprio Motta era proprietário de uma importante casa noturna, Noites Cariocas, localizada no Pão de Açúcar).




Garota Dourada (1984) - Filme Completo





Depois de ser abandonado por sua esposa, o surfista Ricardo Valente decide ir para o litoral catarinense na companhia de sua filha e do astro de rock Zeca. Lá ele se apaixona por Diana e desperta fúria do inescrupuloso Betinho, também apaixonado pela moça. Os dois travarão uma emocionante disputa pelo coração de Diana, a "garota dourada".

O filme é 1984, uma continuação de Menino do Rio. 

Talvez uma das primeiras produções nacionais a levar grande público aos cinemas. O final da Ditadura Militar, início dos anos 90, onde surf, skate e voo livre ganharam espaço e formaram os primeiros "profissionais" dos esportes de ação. 

-- Dirigido por Antônio Calmon



Elenco

André de Biase ... Valente
Bianca Byington ... Diana
Andréa Beltrão ... Gloria
Roberto Bataglin ... Betinho
Sergio Mallandro ... Zeca
Ricardo Graça Mello ... Kid
Geraldo Del Rey ... Águia
Cláudia Magno ... Patrícia
Alexandre Frota... Peninha
Felipe Martins
Marcos Palmeira
Fabianne Rocha ... Mali
Carlos Wilson ... Shangri-la
Marina Lima... Bel
Ritchie
Guilherme Arantes





Série Ballet : Butoh Dance Performance in Japan

Butoh Dance Performance in Japan




porque dançar é isso...
flutuar desenhos coloridos com o próprio corpo
ah, o corpo...
                                  quanto pecado para hipócritas 
e quanta graça humana para o ballet...
                                   prefiro o ballet aos hipócritas











Part of Swiss Butoh dancer Imre Thormann's performance at Hiyoshi Taisha Shrine in Shiga (Japan) in summer 2006. The live music is by Swiss jazz pianist Nik Baertsch and his band "Mobile".






quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Festival Titãs - Marvin

Titãs - Marvin





"Marvin, agora é só você 
E não vai adiantar 
Chorar vai me fazer sofrer"









Meu pai não tinha educação 

Ainda me lembro era um grande coração 
Ganhava a vida com muito suor 
E mesmo assim não podia ser pior 
Pouco dinheiro pra poder pagar 
Todas as contas e despesas do lar 

Mas Deus quis vê-lo no chão com as mãos 
Levantadas pro céu, implorando perdão 
Chorei! Meu pai disse: "Boa sorte" 
Com a mão no meu ombro 
Em seu leito de morte 
E disse: 

"Marvin, agora é só você 
E não vai adiantar 
Chorar vai me fazer sofrer" 

E três dias depois de morrer 
Meu pai, eu queria saber 
Mas não botava nem os pés na escola 
Mamãe lembrava disso a toda hora 
E todo dia antes do sol sair 
Eu trabalhava sem me distrair
Às vezes acho que não vai dar pé 
Eu queria fugir, mas onde eu estiver 
Eu sei muito bem o que ele quis dizer 
Meu pai, eu me lembro 
Não me deixa esquecer 
Ele disse: 

"Marvin, a vida é pra valer 
Eu fiz o meu melhor 
E o seu destino eu sei de cor"

-"E então um dia uma forte chuva veio 
E acabou com o trabalho de um ano inteiro 
E aos treze anos de idade eu sentia 
Todo o peso do mundo em minhas costas 
Eu queria jogar, mas perdi a aposta"

Trabalhava feito um burro nos campos
Só via carne se roubasse um frango 
Meu pai cuidava de toda a família 
Sem perceber segui a mesma trilha 
E toda noite minha mãe orava Deus! 
Era em nome da fome que eu roubava
Dez anos passaram, cresceram meus irmãos 
E os anjos levaram minha mãe pelas mãos 
Chorei! Meu pai disse: "Boa sorte" 
Com a mão no meu ombro 
Em seu leito de morte 
E disse: 

"Marvin, agora é só você 
E não vai adiantar 
Chorar vai me fazer sofrer" 

"Marvin, a vida é pra valer 
Eu fiz o meu melhor 
E o seu destino eu sei de cor"



Composição: N. Johnson - / Nando Reis / Ronald Dunbar





Marvin 1989







Marvin 1988






"Marvin (Patches)" é uma canção gravada em 1984 pelo grupo brasileiro de rock Titãs e lançada como single em 1988, retirado do álbum ao vivo Go Back. "Marvin" é versão de uma canção em inglês intitulada "Patches", composta por Dunbar e Johnson e interpretada originalmente pela banda Chairmen of the Board em 1970. A canção em inglês venceu um Grammy e foi regravada por Clarence Carter no mesmo ano em que foi lançada pela banda.




Chairmen of the Board - Live, Concord, NC,1997
Patches 






75th: Celebrating the '60s with Chairmen of the Board





I was born and raised down in Alabama
On a farm way back up in the woods
I was so ragged the kids would call me patches
Papa used to kid me about it
Of course deep down inside
He was thinkin he had done all he could do
My papa was a great old man
I can see him with a shovel in his hand
See, education he never had
But he did wonders when the time got bad
A little money from the crops he raised
Barely paid the bills we made
Oh life had kicked him down to the plow
When he tried to get up life would kick him back down
One day papa called me to his dyin bed
Put his hands on my shoulders And in tears he said
Patches, I'm depending on you son
To pull the family through My son, it's all left up to you
Two days later papa passed away
I became a man that day
So I told mama I was gonna quit school
But she said that was dad's strictest rule
So every morning 'fore I went to school
I fed the chickens and I chopped wood too
Sometimes I felt that I couldn't go on
I wanted to leave this but I wanted a home
But I always remembered what my daddy said
With tears in his eyes on his dyin bed
He said, "Patches, I'm depending on you son
I tried to do my best, It's up to you to do the rest
But then one day a strong rain came
And washed all the crops away
And at the age of thirteen I thought I was carrying
The weight of the whole world on my shoulders
And you know, mama knew what I was going through, Cause
Everyday I had to work the fields
Cause that's the only way we got our meals
You see, I was the oldest of a family
And everybody else depended on me
Every night I heard my mama pray
Lord, give him the strength to face another day
Though years have passed and all the kids are gone
I aimed to take my mama to a brand new home
God knows people that I shed a tear
My daddy's voice helped me through the years
Sayin, "Patches, I'm depending on you son
To pull the family through My son, it's all left up to you
I could still hear papa when he'd say
Patches, I'm depending on you son
I tried to do my best It's up to you to do the rest





Chairmen Of The Board - Patches