sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Histórias de avoinha: As Casa do Comércio na Villa 11


Ensaio 36B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar


Os pensamento do boticarista ficava escancarado nos feitio de oiá as pessoa. Ele sabia qui precisava aprendê meió os disfarce de brincá o jogo do gato e do rato. Ele inté tentava, mais quando pensava na morte da bezerra afrôxava os sentido de cuidado da sentinela, saia do esconderijo dos fingimento como o pó movediço da praia escorrega na peneira, um qui otro cuidado mais enfezado não se mostrava, era quando as cautela menos cuidada se revelava, pelo menos, era o qui tentava adivinhá as vista do siô da Hora colocada nas caras e careta do boticarista

Esse daí e mais uns que outros não me perdoam. Filho-da-puta, fosse eu o afogado com meu sangue e duvido que o desafeiçoado amigo tivesse feito tanta correria de salvamento, quando o salva-vidas se deu conta do investimento investigativo do siô da Hora no seu rosto descoberto, desarranjô os pensamento na feição da bisbilhotice. Colocô sorriso de falsidade e oiá de meiguice enquanto os pensamento escorria pelo nariz e escapava na ventosidade

O filho-da-puta tá comendo bem. Deve tá pensando que mudou muito porque suja a cama da sinhá Casta com as suas porcarias. Não criou juízo nem virou chique. Não mudou nada. Continua nas ruas da beira da praia. A sinhá lhe abriu as pernas e algumas portas, mas têm outras que nunca vão desatravancá. O infortúnio é o berço. Essa enganação é apenas um arrastado sono que mais cedo ou mais tarde vai iluminar as camas do cafetão emproado.

Seja quem fô qui escutava os pensamento desses dois, não ia creditá qui eles já foi mais amigo qui inimigo. Houve um tempo qui um não gritava pensamento de desaforo pro otro, mais ali tava eles, um na frente, o otro também, oiando desaforado. Fingindo e jurando qui não faz o qui faz. O siô da Hora casô pra se dá um emprego; o boticarista ajuntô os conhecimento antigo das benzedêra pra se dá um emprego. As erva conforta e a cama cura. Os dois tinha plantado o respeito com muito trabáio. No caso dos dois, o trabáio foi dos preto, eles mesmo não agarrô uma enxada ou erva qui os preto não tivesse agarrado antes, credite quem quisé creditá.

O siô da Hora gostava de anunciá qui nunca precisô usá a chibata mais qui uma vez no mesmo preto, as carne da siá Casta era exceção, na causa própria, de quando em quando era preciso acalmá a natureza qui lhe corroía o sossego; no caso do boticarista, ele se adonô dos conhecimento antigo como se tivesse parido as bruxista e benzedêra com as erva curativa, pra se dá importância, dizia qui aprendeu dessa manêra das entranha de dentro os jogo do centro. Os dois requeriam a moral de autoridade como todo imbecil: a necessidade de tê razão sempre

Juca, amanhã vou lhe mandar o negro Josino. Vai precisar unguento para as costas. O negro de angola precisa aprender que tem quem lhe mande. Ganhou um corretivo leve, mas não quero que o dissabor na carne continue além do necessário, o boticarista não mexeu as perna nem os braço, parecia tê escolhido ficá de prontidão na porta da botica. A luz amarelada qui escapava das lamparina da botica não tinha força pra abrí um roçado aqui fora, no anoitecimento do dia. O siô da Hora não pode vê qui o boticarista, lá do lugá qui continuava debaixo da telha, escovô a garganta antes de começá a resposta

Pode deixá, sinhô Afonso, vou tratar do escravo como se fosse um dos negros da casa, o Juca não aclarô qui não tinha escravo, não creditava qui alguém, fosse o qui fosse, tava no direito de maltratá otro, lembrô de perguntá o nome do preto torturado

Josino.

Muito bem... Josino. Não esqueço mais o nome do camaradinha. Diga que venha o mais cedo que lhe for possível. Esse tal Josino devia agradecê o dono que tem, preocupado com os ferimentos no couro dele, parô a ladainha da lambeção das ferida pra colocá na balança se devia continuá o embaraço das palavra. A maldade não tem libertadô, ela desmanchá os amuleto e dança o sono profundo do descuido. A ruindade faz deboche da vida com a decência.

Não tem uma coisa só qui faz as coisa mudá, mais se eu tivesse qui jurá um palpite, invocava a maldição da lonjura qui provoca o silêncio e mata o costume da voz falá. O faladô vira mudo. Podia também dizê qui a fome faz mudá. Faz afiná as perna e esmirrá a vontade de dançá. A fome senta e não levanta. Ânimo, empenho e firmeza foi o qui não faltô no siô da Hora pra tê os preto cuidando de limpá os desasseio e os dejeto da fidalguia. Abuso, permissão e arrogância obrigô os preto fazê as força qui o siô da Hora não queria fazê. Não tem uma coisa só qui separô os dois amigo. Nem foi maldição. E na bem da verdade, o siô Afonso achava qui eles não tava tão longe um do otro

Aqui na botica escutamos e fechamos as marcas de lanho de muitas histórias que acontecem nos matos, mas não conseguimos curar a tristeza das correntes. Coração acorrentado entristece com feitio mortal.

Histórias, Juca. Apenas, historinhas... meu amigo.

O boticarista qui tinha a liga do sangue africano escondida não parecia se importá em agradá visitante tão ilustre, com tanta fidalguia e cheiro de bosta, parecia fazê questão de não saí da porta da botica, sem vontade de dá um passo no acercamento do amigo da boca pra fora; o siô da Hora não parecia querê saí do meio da estrada, não parecia tê importância tá atravancando as coisa boa qui não podia corrê solta, pra lá e cá, um tranca rua de dentro da maió estreiteza e brancura

As botas do sinhô Afonso tá mais parecida com os casco das vacas passeando nos campos do mundo sem dono: borradas de bosta, o siô da Hora apertô as vista pra baixo, ergueu um dos pé, depois o otro, examinô as sola e os taco no calcanhá

As ruas da beirada do rio têm mais imundície que os campos de criação do gado, o boticarista escutô em silêncio o provocativo, achô meió desacomodá o peso do corpo qui tava em cima das duas coluna, deixô tudo, sem maió cuidado ou esmero, colocado em cima só duma das perna, a otra qui ficô sem serventia ajudô na pose desatada, cruzô na frente da escora e apoiô o bico da botina no assoalho. Os braço continuava cruzado. Era as vista qui desafiava, do mesmo feitio qui a voz não oferecia conforto

Aqui nas ruas debaixo, sinhô Afonso, as pessoas se parecem com menos importância, recebem menos cuidado de atenção, o sinhozinho devia sabê, o amigo da boca pra fora não parecia tê muita preocupação de sabê ou não sabê, ele batia um calcanhá notro, queria soltá as bosta agarrada feito encosto no quebranto

Bobagem, Juca. Já vi que ocê continua gostando mais das poesias e dos pensamentos da perseguição. Essa conversa tem a mesma utilidade das palavras inscritas nas lápides: nenhuma. Morto é morto, pobre é joão-ninguém e negro é escravo. Tem coisa que não muda. Eu só conheço uma obrigação: a de me dar bem na vida. E digo não, para o restante.

Pois parece que o sinhô Afonso não tá sozinho, ontem mesmo, um padre noviço, desses que cheiram boa-fé e pouco vinho, veio na botica. Quando entrô, já procurei com as vistas onde tava a doença do noviço. Achei a brancura e a magreza exagerada, mas resolvi esperar o seu queixume. Gostamos de assuntar com os olhos, essa mania de avistar e já fazê o diagnóstico completo. Parei a examinação. E escutei com atenção redobrada. O moço falô tão bonito que me encantou, até que disse a que veio: pedí pagamento para oferecer ajuda. Expliquei que tava em dia com os donativos da polícia, da Villa e da Província... não deixava atrasar.

O sinhô Juca Curador não está entendendo, ele se desculpou, mas anunciô que não era bastante bom o meu satisfatório, os donativos das domingueiras e o silêncio compenetrado das orações não eram suficientes para erguerem as paredes do oratório da Nossa Senhora. E assim, alcançar as bênçãos e a proteção contra os negros dos quilombos. Foi o seu melhor esclarecimento. O milagre do erguimento precisava mais doações que orações.

O siô da Hora tava com mais atenção na limpeza do próprio casco qui conversá aquela conversa. Já tinha recebido a visita do siô padre, escutado as argumentação e feito proposta de ajutório. Sem novidade. Puxô a adaga qui sempre carregô atravessada nas costa, agarrada na guaiaca. Ajuntô um graveto e afinô a ponta com o fio da cortante, inté tê o feitio acertado pra raspá as bosta

Não perca o sono por tão pouco. Tem coisa pior que pagar para rezar, a voz soada parecia pedí acautelamento, mais não fez o efeito de acalmá o boticarista, tem vez, meu amigo, que o sono com pesadelo é mais influente que as tira da chibata.

Rezá ou pegar nas armas parece ser a mesma coisa!

Não diga assim, Juca.

E não é, o boticarista perguntô enquanto caminhô dois passo inté a estrada, não esperô a resposta do siô da Hora, quis experimentá as palavra qui vez qui otra usava pra vigiá os pensamento, mais o siô da Hora foi mais ligêro

Esse seu engano custar muito mais que a boa vontade das pessoas.

Merda! Esse apetite em dar-se bem em tudo faz nascê desapontamento, desencanto, desilusão.

Bobagem, Juca.

O medo desencoraja o sono e semeia desesperança. Não é um bom remédio, mas a coragem sem bom senso e sem costume decente é como matar-se.

O siô da Hora jogô fora o graveto abostado. Agora, dava batidas com as botas no chão. Não louvava a terra, cuspia no chão. Tentava soltá os pedaço esverdeado qui não desgrudava de tão colado e pisado qui tava. O mau cheiro continuava encostado como a vontade de sê dá bem em tudo. Parô o espancamento da estrada e falô solene

Os negros dos quilombos atacam os tropeiros, matam todos. Qualquer ajuda nesta guerra é bem-vinda, o siô voltô no assunto conforme a sua vontade, como uma cobra coral qui trás a morte traiçoêra

São léguas de distância, retrucô o boticarista, dos quilombos até a Villa.

O siô dono da siá Casta, possuinte das posse qui ela recebeu depois do finamento do pai, recomeçô o espancamento da estrada com as bota abostada, no qui subiu as vista avistô na escuridão, logo atrás do boticarista, a porta da botica. Enfiô o seu feitio examinativo de oiá dentro da botica.

Falava e espioiava.

O Juca deve saber que a língua grande ou pequena não assusta escravo fugitivo. Imagine se esses filhos de puta negra roubam nossas mulheres. Pense no apavoramento das moças e as obrigações com os negros. Tarados. Uma branca deitando com os negros, fazendo nascer um mestiço bastardo atrás do outro... Deus nos livre, fez o siná da cruz e beijô os dedo

Isto não é coisa que vá acontecer.

Rezo para Nossa Senhora das Dores não deixar essa imundície acontecer com uma das minhas filhas!

Mas o sinhô Afonso não tem filhos nem filhas da raiz branca.

Bem sei... bem sei, quero ter filhos, mas se forem filhas, e, por desgraça, uma cair nas mãos de algum preto, fez pausa na falação, queria subí o tom dramático, fazê doê mais no otro qui nele mesmo, mato a menina!

O sinhô mataria sua filha?

Mato a filha, o mestiço na barriga e vendo o negro, esses vagabundos malditos... desde que chegaram em nossas terras, parô de se explicá, ficô distante, o entusiasmo do ódio afroxô. Deu dois passo à frente, passô do boticarista. Continuava mudo, a boca aberta parecia tê mais surpresa qui receio

Juca, o que é aquilo, ele apontava o interiô iluminado com as lamparina da botica. Não creditava nas vista

O que havia de sê, respondeu o boticarista sem confirmá ou refutá qualqué possibilidade de piedade ou miséria, queria mais era derramá a alma do vinho na goela, inté a doce tumba do seu peito. Sentiu vontade de colocá o pé no trasêro daquele marido ordinário e pai homicida, tudo isso ele pensô, parado e em pé, oiando dentro do outro ele mesmo.


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