Ensaio 80B – 2ª edição 1ª reimpressão
quanto mais oiava pru alto num via sentido nehum
eles vai começá os trabáio de ajudá, é só chegá no lugá de mais espritu reunido com podê de cura, mesmo qui o fardo de ajudá tenha munta dô e ôio-grande. a muié partêra da boa saúde num ficava satisfeita com qualqué lugá, É preciso tá no lugá qui tem as ferida pió qui a dô necessitada da cura. Lugá de muntu sofrimento qui num descarrega só assombração é um lugá atormentado qui ajuda pruqui precisa sê ajudado, um lugá qui cura pra se curá.
tava ali pra trocá os chá das erva pela esperança da saúde, gosto qui precisamô tê pra num morrê antes da morte. ninguém sabe se vai desnascê ou morrê, Muriquinhu, tem os qui morrê sem sabê qui morre, num tem tempo de nada, morreu. E mais nada.
parô as palavraria e voltô pra cantoria
Sinto muita saudade da avoinha, a preta liberata num virô as vista pru muriquinho, mais acomodô meió a escutação, ele tava nas lembrança qui tinha vontade de vivê otra veiz, mais nunca vai podê, as lembrança é só isso: lembrança, sinto muita falta do seu colo que está desfeito, saudade da sua voz, dos conselhos e da teimosia, mas é do seu jeito de pertencer a ela mesma a minha maior necessidade. Uma mulher sem dono que falava o que pensava e fez da vida a sua vida. Ela não podia morrer, não terminou de me ensinar a vida.
E num morreu!
o muriquinho parô no meio da rua. as agitação do mercado num parava e passava nele. a vida num para, ela pula dum pru otro sem dá importância ou sentido. tem muntas purugunta sem resposta qui vai continuá assim, mais tem mais purugunta qui nunca foi feita pruqui nunca foi pensada. a boca do muriquinho tava aberta, num queria puruguntá com medo do dito, mais arriscô uma cisma, Ela desnasceu?
falô o qui pensava, sentia qui falô o qui queria. fechô a boca. o muriquinho esperô qui a mágica daquela viagem inté ali, o tempo dos pretu escravizado, pudesse carregá avoinha tumbém. o feitiço de fazê o encantamento dos dois se encontrá naquele tempo qui parecia tê acabado, mais num acabô. voltá pru tempo da escravidão. parô assombrado. a boca aberta, os óio esbugaiado: e se ele morreu sem sabê qui morreu, Então, morrer é isso? Voltar para viver entre os morto em um tempo e lugar ruim? Morrer não é ir para frente, mas voltar e desnascer no que já se passou?
o qui passô num acaba, ele se revive ou renasce da vontade dos qui voltô com as história mal-feita, tudo se repete pruqui dá saudade vivê, mesmo qui o tempo seja rude pra vivê
Desnascê, muriquinhu, num é uma escôia com regra. Num sei pur qui tem os qui morre e os qui desnasce. Num fico pensando se vô morrê ou se vô desnascê. Num tem tempo pra se perdê da vida, mais credito qui vivê é um desnascê em todo noitecê, uma piquinina veiz em cada veiz, inté se usá tudo qui se tem pra desnascê. E ocê para o tempo da sua vida.
No fim é tudo a mesma coisa, é indiferente morrer ou desnascer.
eles continuava metido no mercado dos grito dos mercadista. liberata num respondeu logo, tava querendo acomodá o tabulêro pra oferecê as palavra de cura das erva e os aroma de cura dos chá. os cachimbo da teimosia do muriquinho precisava de mais tempo de conversa e otro tanto de traquejo. pensá o qui fazê e fazê o qui pensá é como colocá pingo na chuva
Vamu caminhá mais lá, ele oiô na direção do dedo da liberata, num achô bão lugá, eles tava cada veiz mais retirado do vozerio do mercado, e o muriquinhu sabe cantá?
a purugunta de sabê cantá voltô, mais o qui num voltô foi as perna de sapo do muriquinho. ela se perguntô se ele tava aprendendo desnascê, mesmo qui pudesse num durá, pruqui desnascê deixa ocê com a buniteza pru dentro de creditá qui é dono de si mesmo, ocê num apanha mais mosca com uma língua comprida e pegajosa nem diz maldade. a língua continua na boca, ocê sabe qui pode voltá apanhá mosca, ela continua comprida e pegajosa, mais ocê tá decidido dá um passo depois dotro, um dia depois dotro sem comê as mosca
Não, eu não sei cantar.
liberata se desatentô do muriquinho, examinava o lugá com os óio fechado, escutava as recomendação e os pedido dos espritu qui tava na volta da pedra, É aqui.
assim ia sê
Aqui?
Sim, e desceu o tabulêro pru chão, vamu arrumá nossa banca.
a preta ganhô do siôinho dois pano colorido. ele ordenô em cima do seu cavalo de preferência o aviso qui era pra vendê alimentício com buniteza. a preta num concordô, Siôinhu sabe pruqui tem sabedoria qui vendê alimentício dá muntu mais trabáio na preparação e nos cuidado da duração do alimentício. falô. discursô. argumentô e desembuchô tudo qui sabia fazê das erva a cura pra dô
Siôinhu, oferecê esperança dá mais mais alegria e sustento qui serví quitute. A esperança embeleza a elegância e enche a sacola das moeda, o siôinho resmungô, mais consentiu fazê um tabulêro de experimentação com as erva e chá
ela estendeu os dois pano colorido no chão das pedra cinzenta
E o muriquinhu sonha?
o neinho esperô liberata acomodá o tabulêro na mesa dos pano deitado no chão pra desmontá dos ombro as sacola com as erva e chá
Isso aqui já é um sonho! Não, isso é um terrível embaraço. E a senhora quer que eu cante?
mais ela num parecia dá mais atenção pru muriquinho qui os cuidado com o tabulêro estendido no pequeno sítio das cura com benzedura, parecia tá de falação com gente qui num se mostrava com carne e osso. o muriquinho pensô qui isso num era bão num tê aparição, novidade repentina dá munta desconfiança pruqui tira o chão qui escora os passo dos pé
O muriquinhu é qui decide se continua o sapo qui come as mosca e deixa o canto da garganta preso sem brotá mais vida nem se desatá do medo, enraizado na cabeça. Uma sombra muntu sonolenta qui num canta e num tem viveza pra cantá.
Mas eu sou valente!
levantô da pedra qui tava sentado com as sacola das erva e chá nas mão, aquela pedra num parecia sê dali
Com as mosca... eu quero vê o muriquinhu sê valente pra cantá. Ameaçá com coisa ruim é fácil, é só libertá o ódio. Tudo qui é cô de gente tem zanga, rancô, nojo, desamô e egoísmo guardado, mais tem os qui faz da sua cobiça e capricho as lei qui manda. É gente qui num qué o justo, qué as regalia. As mosca vê as perna de sapo dessa gente e num foge de medo.
Não fogem de medo?
a preta liberata num tava usando vestimenta pra festa nem turbante na cabeça, num tava com os adorno dos braço, mais tava com destaque no murmúrio dos qui passava na ida e repassava na volta. segurava o abano colorido numa das mão. tava no centro de dentro, preparada pra participá da simplicidade qui cura os qui credita. parece fácil creditá, mais num é só tê costume de obedecê de acordo com a ocasião
o muriquinho continuava de sentinela
É isso, muriquinhu. O medo entreva, faz a cabeça desobedecê o juízo e a justiça, dá palpite pra ocê se contentá na tristeza, pelo costume de obedecê em nome da harmonia e da quietude.
O que têm minhas pernas?
liberata parecia tá fazendo duas ou mais conversa, uma ali com o muriquinhu, otras mais com os espritu na volta da pedra. e pelo feitio qui andava na sua volta, eles tava ali vivendo a morte. num é qualqué um qui escuta essa falação. num tem só qui querê, tem qui sabê querê
É perna grossa de sapo qui come mosca com os pé na terra e a língua no vento. Num sabe qui pode cantá sem desistí da quietude. O muriquinhu acha qui uma vida serena e acomodada aos costume num corre risco. Uma garganta sem voz qui num desata a melancolia nem a alegria cai morta na rua. E fica sem sabê quando morreu.
o muriquinho de sentinela parecia um pulícia sem montaria de guerrêro, sem poesia, sem magia, sem assanhamento. um candiêro sem encantamento, pronto pra obedecê a alegria qui se contenta com as mosca. num corrê risco é mais seguro qui estrebuchá
o sapo preto num se mexeu, parecia tê os pensamento, caso algum sapo tenha imaginação e ponto-de-vista, pra longe do lugá qui tava, mais num tava. as perna fincô na terra pra língua saltá no vento. uma chicotada angelical perfeita. otra mosca. liberata reparô qui ele num fazia mais cara de nojo. acostumô. um sapo inchado de si mesmo e do seu hábito justo com as mosca; em paz consigo mesmo, comia todas. sabia qui tava evoluindo como um sapo. ela baixô as vista inté o tabulêro
Ocê vai tê muntu trabáio e vai engordá da comilança, tá ficando sem freio essa sua mania de comê mosca.
o sapo pretu num se mexeu, os pé membranoso fincado no chão tava pronto pra ajudá soltá a língua. num controlava a língua ou num queria controlá. a boca num deixava vazá uma só palavra
O Fumaça é surdo? Num escutô qui o siôinhu me deu ocê pra uso na banca? Esquece as mosca.
as perna do sapo se retesô, pareceu qui planava, mais num pulô. virô-se pra liberata com a queixada retesada pra cima e a língua vibrando antes do bote
Não tenho dono! E muito menos, dona!
os dois se mediu pra cima e pra baixo, foi liberata quem quebrô o constrangimento
Acho meió o sapo diminuí o tamanho da voz. É bão num esquecê qui tem vida pió qui essa vida qui ocê tem: comedô das mosca do pinico do siôinhu.
o muriquinho soltô um riso qui pareceu emprestado dalguma alma penada, depois qui gastô a coluna de riso endireitô o corpo
Então, é isso? Preciso me contentar porque tem vida pior, por aí?
E num tem?
retrucô com provocação a benzedêra das cura
o sapo abriu e fechô os óio pretu qui ficô desdobrado pra luz do dia. os dois tava com os passo parado. nas costa ela tinha as beirada do rio, na frente, tava o muriquinho em cima da pedra do pelôrinho. e bem lá no alto, no topo da colina, tava a construção da casa dos sacramento pras beata e rezadêro papa-santo, gente de munta reza e virtude qui flutuava sobre a escravidão com o chicote numa mão e a bíblia notra
fumaça oiava prus lado e pru lado qui oiava tava os pretu trabaiando. era munto trabáio desgraçado. uma agonia guardada. o suô escorrido regava a terra sem semente. virô as vista ao redô e voltô pru alto, lá tava o siô padre oiando pru céu enquanto os pretu afundava na escravidão
as mosca voando. os óio de sapo vigiando, os pé fincado, as perna retesada e a língua enrolada. as mosca era dos óio do sapo. a brisa gelada avisava qui um tempo pió tava pra chegá. o coração tinha asa e derramava as lágrima de dentro pra dentro
quanto mais oiava pru alto num via sentido nehum
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Leia também:
Histórias de avoinha: Ocê num sabe cantá?
Ensaio 79B – 2ª edição 1ª reimpressão
Histórias de avoinha: o silêncio qui num pensa escraviza
Ensaio 81B – 2ª edição 1ª reimpressão
quanto mais oiava pru alto num via sentido nehum
baitasar
os dois caminha nas rua da villa e desce inté o mercado negro, o empório dos pretu, lugá de tráfico prus branco comprá os escravo e os pretu tê parada prus tabulêro feirante. tudo nas beirada do rio. no caminho contrário tava o lamaçal da paraíso com as moça cantadêra mais as quitandêra e mais as imundícia da villa, esse caminho era uma sanga enorme e num tinha força. a muié benzedêra procura um lugá de força pra acomodá o tabulêro que vai sentado na sua cabeça. as erva e os chá é carregado nas duas sacola pendurada atravessada nos ombro do fumaça, Num deixa as erva arrastá no chão, muriquinhu!
o neinho num sorri pra lembrança da curandêra. ele num sabe se ela sorri, mais escuta a cantoria
os dois caminha nas rua da villa e desce inté o mercado negro, o empório dos pretu, lugá de tráfico prus branco comprá os escravo e os pretu tê parada prus tabulêro feirante. tudo nas beirada do rio. no caminho contrário tava o lamaçal da paraíso com as moça cantadêra mais as quitandêra e mais as imundícia da villa, esse caminho era uma sanga enorme e num tinha força. a muié benzedêra procura um lugá de força pra acomodá o tabulêro que vai sentado na sua cabeça. as erva e os chá é carregado nas duas sacola pendurada atravessada nos ombro do fumaça, Num deixa as erva arrastá no chão, muriquinhu!
o neinho num sorri pra lembrança da curandêra. ele num sabe se ela sorri, mais escuta a cantoria
mal qui come
a deus num louva
e nesta bichêra
num come mais
eles vai começá os trabáio de ajudá, é só chegá no lugá de mais espritu reunido com podê de cura, mesmo qui o fardo de ajudá tenha munta dô e ôio-grande. a muié partêra da boa saúde num ficava satisfeita com qualqué lugá, É preciso tá no lugá qui tem as ferida pió qui a dô necessitada da cura. Lugá de muntu sofrimento qui num descarrega só assombração é um lugá atormentado qui ajuda pruqui precisa sê ajudado, um lugá qui cura pra se curá.
tava ali pra trocá os chá das erva pela esperança da saúde, gosto qui precisamô tê pra num morrê antes da morte. ninguém sabe se vai desnascê ou morrê, Muriquinhu, tem os qui morrê sem sabê qui morre, num tem tempo de nada, morreu. E mais nada.
parô as palavraria e voltô pra cantoria
e nesta bichêra
num fica nehum!
vai ficá limpa e sã
como ficô
as cinco chaga
do nosso siô
Sinto muita saudade da avoinha, a preta liberata num virô as vista pru muriquinho, mais acomodô meió a escutação, ele tava nas lembrança qui tinha vontade de vivê otra veiz, mais nunca vai podê, as lembrança é só isso: lembrança, sinto muita falta do seu colo que está desfeito, saudade da sua voz, dos conselhos e da teimosia, mas é do seu jeito de pertencer a ela mesma a minha maior necessidade. Uma mulher sem dono que falava o que pensava e fez da vida a sua vida. Ela não podia morrer, não terminou de me ensinar a vida.
E num morreu!
o muriquinho parô no meio da rua. as agitação do mercado num parava e passava nele. a vida num para, ela pula dum pru otro sem dá importância ou sentido. tem muntas purugunta sem resposta qui vai continuá assim, mais tem mais purugunta qui nunca foi feita pruqui nunca foi pensada. a boca do muriquinho tava aberta, num queria puruguntá com medo do dito, mais arriscô uma cisma, Ela desnasceu?
falô o qui pensava, sentia qui falô o qui queria. fechô a boca. o muriquinho esperô qui a mágica daquela viagem inté ali, o tempo dos pretu escravizado, pudesse carregá avoinha tumbém. o feitiço de fazê o encantamento dos dois se encontrá naquele tempo qui parecia tê acabado, mais num acabô. voltá pru tempo da escravidão. parô assombrado. a boca aberta, os óio esbugaiado: e se ele morreu sem sabê qui morreu, Então, morrer é isso? Voltar para viver entre os morto em um tempo e lugar ruim? Morrer não é ir para frente, mas voltar e desnascer no que já se passou?
o qui passô num acaba, ele se revive ou renasce da vontade dos qui voltô com as história mal-feita, tudo se repete pruqui dá saudade vivê, mesmo qui o tempo seja rude pra vivê
Desnascê, muriquinhu, num é uma escôia com regra. Num sei pur qui tem os qui morre e os qui desnasce. Num fico pensando se vô morrê ou se vô desnascê. Num tem tempo pra se perdê da vida, mais credito qui vivê é um desnascê em todo noitecê, uma piquinina veiz em cada veiz, inté se usá tudo qui se tem pra desnascê. E ocê para o tempo da sua vida.
No fim é tudo a mesma coisa, é indiferente morrer ou desnascer.
eles continuava metido no mercado dos grito dos mercadista. liberata num respondeu logo, tava querendo acomodá o tabulêro pra oferecê as palavra de cura das erva e os aroma de cura dos chá. os cachimbo da teimosia do muriquinho precisava de mais tempo de conversa e otro tanto de traquejo. pensá o qui fazê e fazê o qui pensá é como colocá pingo na chuva
Vamu caminhá mais lá, ele oiô na direção do dedo da liberata, num achô bão lugá, eles tava cada veiz mais retirado do vozerio do mercado, e o muriquinhu sabe cantá?
a purugunta de sabê cantá voltô, mais o qui num voltô foi as perna de sapo do muriquinho. ela se perguntô se ele tava aprendendo desnascê, mesmo qui pudesse num durá, pruqui desnascê deixa ocê com a buniteza pru dentro de creditá qui é dono de si mesmo, ocê num apanha mais mosca com uma língua comprida e pegajosa nem diz maldade. a língua continua na boca, ocê sabe qui pode voltá apanhá mosca, ela continua comprida e pegajosa, mais ocê tá decidido dá um passo depois dotro, um dia depois dotro sem comê as mosca
Não, eu não sei cantar.
liberata se desatentô do muriquinho, examinava o lugá com os óio fechado, escutava as recomendação e os pedido dos espritu qui tava na volta da pedra, É aqui.
assim ia sê
Aqui?
Sim, e desceu o tabulêro pru chão, vamu arrumá nossa banca.
a preta ganhô do siôinho dois pano colorido. ele ordenô em cima do seu cavalo de preferência o aviso qui era pra vendê alimentício com buniteza. a preta num concordô, Siôinhu sabe pruqui tem sabedoria qui vendê alimentício dá muntu mais trabáio na preparação e nos cuidado da duração do alimentício. falô. discursô. argumentô e desembuchô tudo qui sabia fazê das erva a cura pra dô
Siôinhu, oferecê esperança dá mais mais alegria e sustento qui serví quitute. A esperança embeleza a elegância e enche a sacola das moeda, o siôinho resmungô, mais consentiu fazê um tabulêro de experimentação com as erva e chá
ela estendeu os dois pano colorido no chão das pedra cinzenta
E o muriquinhu sonha?
o neinho esperô liberata acomodá o tabulêro na mesa dos pano deitado no chão pra desmontá dos ombro as sacola com as erva e chá
Isso aqui já é um sonho! Não, isso é um terrível embaraço. E a senhora quer que eu cante?
mais ela num parecia dá mais atenção pru muriquinho qui os cuidado com o tabulêro estendido no pequeno sítio das cura com benzedura, parecia tá de falação com gente qui num se mostrava com carne e osso. o muriquinho pensô qui isso num era bão num tê aparição, novidade repentina dá munta desconfiança pruqui tira o chão qui escora os passo dos pé
O muriquinhu é qui decide se continua o sapo qui come as mosca e deixa o canto da garganta preso sem brotá mais vida nem se desatá do medo, enraizado na cabeça. Uma sombra muntu sonolenta qui num canta e num tem viveza pra cantá.
Mas eu sou valente!
levantô da pedra qui tava sentado com as sacola das erva e chá nas mão, aquela pedra num parecia sê dali
Com as mosca... eu quero vê o muriquinhu sê valente pra cantá. Ameaçá com coisa ruim é fácil, é só libertá o ódio. Tudo qui é cô de gente tem zanga, rancô, nojo, desamô e egoísmo guardado, mais tem os qui faz da sua cobiça e capricho as lei qui manda. É gente qui num qué o justo, qué as regalia. As mosca vê as perna de sapo dessa gente e num foge de medo.
Não fogem de medo?
a preta liberata num tava usando vestimenta pra festa nem turbante na cabeça, num tava com os adorno dos braço, mais tava com destaque no murmúrio dos qui passava na ida e repassava na volta. segurava o abano colorido numa das mão. tava no centro de dentro, preparada pra participá da simplicidade qui cura os qui credita. parece fácil creditá, mais num é só tê costume de obedecê de acordo com a ocasião
o muriquinho continuava de sentinela
É isso, muriquinhu. O medo entreva, faz a cabeça desobedecê o juízo e a justiça, dá palpite pra ocê se contentá na tristeza, pelo costume de obedecê em nome da harmonia e da quietude.
O que têm minhas pernas?
liberata parecia tá fazendo duas ou mais conversa, uma ali com o muriquinhu, otras mais com os espritu na volta da pedra. e pelo feitio qui andava na sua volta, eles tava ali vivendo a morte. num é qualqué um qui escuta essa falação. num tem só qui querê, tem qui sabê querê
É perna grossa de sapo qui come mosca com os pé na terra e a língua no vento. Num sabe qui pode cantá sem desistí da quietude. O muriquinhu acha qui uma vida serena e acomodada aos costume num corre risco. Uma garganta sem voz qui num desata a melancolia nem a alegria cai morta na rua. E fica sem sabê quando morreu.
o muriquinho de sentinela parecia um pulícia sem montaria de guerrêro, sem poesia, sem magia, sem assanhamento. um candiêro sem encantamento, pronto pra obedecê a alegria qui se contenta com as mosca. num corrê risco é mais seguro qui estrebuchá
o sapo preto num se mexeu, parecia tê os pensamento, caso algum sapo tenha imaginação e ponto-de-vista, pra longe do lugá qui tava, mais num tava. as perna fincô na terra pra língua saltá no vento. uma chicotada angelical perfeita. otra mosca. liberata reparô qui ele num fazia mais cara de nojo. acostumô. um sapo inchado de si mesmo e do seu hábito justo com as mosca; em paz consigo mesmo, comia todas. sabia qui tava evoluindo como um sapo. ela baixô as vista inté o tabulêro
Ocê vai tê muntu trabáio e vai engordá da comilança, tá ficando sem freio essa sua mania de comê mosca.
o sapo pretu num se mexeu, os pé membranoso fincado no chão tava pronto pra ajudá soltá a língua. num controlava a língua ou num queria controlá. a boca num deixava vazá uma só palavra
O Fumaça é surdo? Num escutô qui o siôinhu me deu ocê pra uso na banca? Esquece as mosca.
as perna do sapo se retesô, pareceu qui planava, mais num pulô. virô-se pra liberata com a queixada retesada pra cima e a língua vibrando antes do bote
Não tenho dono! E muito menos, dona!
os dois se mediu pra cima e pra baixo, foi liberata quem quebrô o constrangimento
Acho meió o sapo diminuí o tamanho da voz. É bão num esquecê qui tem vida pió qui essa vida qui ocê tem: comedô das mosca do pinico do siôinhu.
o muriquinho soltô um riso qui pareceu emprestado dalguma alma penada, depois qui gastô a coluna de riso endireitô o corpo
Então, é isso? Preciso me contentar porque tem vida pior, por aí?
E num tem?
retrucô com provocação a benzedêra das cura
o sapo abriu e fechô os óio pretu qui ficô desdobrado pra luz do dia. os dois tava com os passo parado. nas costa ela tinha as beirada do rio, na frente, tava o muriquinho em cima da pedra do pelôrinho. e bem lá no alto, no topo da colina, tava a construção da casa dos sacramento pras beata e rezadêro papa-santo, gente de munta reza e virtude qui flutuava sobre a escravidão com o chicote numa mão e a bíblia notra
fumaça oiava prus lado e pru lado qui oiava tava os pretu trabaiando. era munto trabáio desgraçado. uma agonia guardada. o suô escorrido regava a terra sem semente. virô as vista ao redô e voltô pru alto, lá tava o siô padre oiando pru céu enquanto os pretu afundava na escravidão
as mosca voando. os óio de sapo vigiando, os pé fincado, as perna retesada e a língua enrolada. as mosca era dos óio do sapo. a brisa gelada avisava qui um tempo pió tava pra chegá. o coração tinha asa e derramava as lágrima de dentro pra dentro
quanto mais oiava pru alto num via sentido nehum
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