Josino
A vingança é uma comida que precisa ser servida fria
Ensaio 07B – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
A preta subiu as vista na siá Casta. A mulhé branca continuava parada no meio do quarto de dormí com o seu feitio de vestida pro banho. Parecia engaiolada, mesmo com toda sua belezura. E quando tem belezura, inté os trabáio mais desasseado parece qui dá mais capricho de fazê. As duas parada, na frente uma da otra, pensando em acordá da imaginação e descobrí qui não é mais escrava, mais com raiva de sabê qui ninguém vai devolvê os dia e as noite desencaminhado
Siá Casta... a água vai desamorná e perdê as qualidade da quentura, a siá pareceu acordá dum sonho qui não parecia sê bão, os óio bem decotado, a boca retorcida, como se um gosto ruim lhe tivesse subido das entranha inté chegá na língua
A vingança é uma comida que precisa ser servida fria, a mucamba escutô silenciosa, achô qui precisava ficá na sua quietude, longe do desassossego da mulhé branca com seu espírito tumultuoso de dona de tudo, controladora de toda gente preta qui comprô. Gente assim não cansa de se serví, só vê qui as coisa e os preto existi pra deixá elas mergulhada na felicidade, vez qui otra, elas diz alguma palavra sem importância com um vaporoso afago na cabeça, apenas uma tentativa de enchê os momento sem castigo, injúria ou tarefa
Tudo bem, Grabiela, a mucamba escutô de novo na boca da siá o seu nome do batizado remexido, mais não disse nada, continuô escutando, o sinhô me fez uso como sua mulher, quem sabe se a minha barriga bem amornada consegue segurar e fazer brotar a sementinha do sinhô meu marido, baixô as vista nas duas mão qui acarinhava o centro das entranha, misturava no seu feitio de oiá a sua vergonha e a culpa de não sê uma terra de fertilidade, um lugá apropriado e bão de fazê os fio qui o siô esperava tê.
Milagres não se atrevia dizê qui era feliz com o seu homem, o seu rei preto, nas vez qui tinha ele na perseguição das suas carne com as mão. Elas não parava quieta, as mão do Josino era inconformada de não podê tá nos agarramento da sua preta quando era do seu gosto; nem siá Casta podia dizê qui chorava de tê o homem qui tinha, nas vez qui tinha. Nunca ia podê reclamá das dô qui sentia. Não tinha com quem falá
O que ocê acha, Grabiela Milagres?
A mucamba oiô a mulhé qui guardava as palavra e as chave das corrente pra usá no feitio de querê usá. Ela não queria respondê pra siá, mais ficá silenciosa
Então, Grabiela Milagres... o rato comeu a sua língua, a preta ficô mais entranhada na raiva qui sentiu. A mulhé branca lhe prendeu inté nas palavra qui não queria dizê. Ela colocô as vista nas parte da barriga e rezô pra Siá dos vento assoprá as boa nova dentro do bojo daquela mulhé. Queria odiá com mais vontade qui os branco destruía a vida dos preto qui eles já tinha e dos preto qui ia tê. Inté era bem fácil odiá, mais não queria perdê a chance daquela juntura com a siá. Podia sê uma arrumação da vida pra ajudá o Josino. Então, escolheu as palavra qui sabia das história antiga de ouví dos mais velho, respondeu perguntando
Quem pode sabê o qui contece na barriga da muié?
As vista das duas mulhé teve um momento de tristeza. Nenhuma tinha alegria pra mostrá. Inté parecia qui as duas sofria do mesmo feitio de sê mulhé, mais era só nas figuração, não passava das tentativa de entendê qui o feitio da preta podia tê o feitio da branca. Mais não podia nem devia sê pensado assim, as vida de uma e de otra não era as mesma vida.
A vida das mulhé branca não era fácil de sê vivida nas fazenda, nas cidade, em qualquer lugá elas tinha qui sabê respeitá o siô seu marido, mais compará com a história das mulhé preta é tá cego das cô da vida
Tá escutando a história, mifioneto?
Tô sim, avoinha...
Avoinha subiu na mesa das passagens, pulou no agarrador aéreo, balançava de um lado ao outro, tava incomodado com avoinha balançando pendurada, aquilo tudo me deixava embaraçado e desconfortável
Avoinha tem que parar com esse seu jeito de ser... ainda vão lhe chamar de macaca, ela sorriu e fez um giro completo, as pernas voaram pelo teto do 69, onde era o lugar das pernas tava a cabeça e onde era o lugar da cabeça tava as pernas. Quando voltou a ficar pendurada balançando, uma vez com uma das mãos, depois com a outra, ela recomeçou a falar
Mifioneto, essa palavra macaca é uma atrapalhação de doença menô, o embaraço mais problemático é o qui não é dito, mais é ensinado.
E o que é ensinado, avoinha?
Ela largou o corrimão aéreo e ficou flutuando como as folhas esvoaçam na brisa suave do vento, parecia bailando com Vivaldi
Ocê não sabe, mifioneto?
Avoinha, acho que isso dos negros terem sofrido na escravidão... muito triste. É uma história de tristeza e dor que precisa ser contada, mas hoje, não é mais assim, o negro tem que correr atrás, fazer por merecer. Estudar. Deixar de ser vagabundo e trabalhar. As oportunidades são iguais para todos. Os negros podem fazer tudo o que quiserem, reparei que avoinha não aboiava na brisa que entrava das janelas. Olhei na volta da minha poltrona de cobrador das passagens, todos os passageiros nos seus lugares sentados ou em pé desacomodados
E ocê, pelo visto e ouvido, aprendeu a lição direitinho: cabelo bão do preto é o cabelo espichado; o feitio dos branco rezá é bão, já as reza dos preto é coisa do demônio; o xadrez dos branco é o jogo do tabuleiro, mas o xadrez dos preto é o embaraço das corrente nos punho e o oiá atrás das grade. Não sei, mifioneto, mais escuta sua avó, ainda vão inventá um lugá de não ensiná só pros preto...
Por favor, avoinha... essas coisas estão longe de acontecer, novamente.
Só não contece porque os preto luta pra não contecê, depois do dito, avoinha resmungou que não me escutava e pulou no meu colo
Avoinha...
Não tô escutando.
Avoinha só escuta o que lhe dá gosto, ela se ajeitou como uma filha se aninha no colo da mãe procurando calor e conforto
Tô cansada de tanta falação de ódio e desconsideração com as vontade dos preto, tô quebrantada com as mentira e as palavra vazia e cheia de tanto fingimento. Quero a vida colorida da alegria e do amô qui a cobiça, a gula e a ignorância joga no abismo da indiferença, da repulsa e da negligência.
Ela continuava no meu colo, mas parecia afundada de tanto peso e de tanta dô, parecia carregar as dores do mundo sem jamais esquecer quem ela é
Mifioneto, queria mais voadura colorida e menô cobiça. A gula e a ignorância, mais não quero dizê da ignorância das palavra escrita, tô falando da inocência de não sabê das coisa qui contece, como contece, por que contece, a ignorância qui deixa ocê cego e faz dizê qui o otro é qui tá na cegueira. Tem as pessoa qui gosta de tê os passarinho aprisionado na gaiola pra tê alguma cantoria na vida. E vivê feliz com aquela cantoria triste, qui elas jura qui é a cantoria da felicidade.
Avoinha... tá comparando os passarinho com os negros?
Não! Passarinho é passarinho, preto é preto, mais a gaiola é a mesma. Depois vai nas cantoria bonita das igreja e canta as oração do Menino Francisco. E chora. Jura qui isso é felicidade. Dão as mão e canta tudo de novo, as mão é as mesma qui pendura as gaiola. Acho qui não tem falta das palavra bonita pra sê dita no mundo nem pra sê rezada, precisa tê mais as mão qui abre a porta das gaiola.
A minha doce avoinha parou os resmungos e pareceu estar adormecida, cansada da falação. Não sabia se chamava ou deixava ela assim, descansando no meu colo. Eu sentia um gosto que nunca tinha experimentado com aquela avoinha tão doce no colo
Avoinha, tá muito poética.
Rapazinho, levei um susto e quase deixei avoinha cair do colo, as pessoa tá precisada de escutá e rezá com o coração.
E avoinha pode ensinar?
Tem qui aprendê tudo junto, vê com os ouvido e falá com os óio. Depois precisa pará de falá com ódio em nome do amô. O amô dá esperança qui não se acostuma com o ódio. Os dois não se mistura. As pessoas engana os passarinho e diz qui eles canta de felicidade. Quem nunca saiu da gaiola canta sua tristeza, assim não é cantá feliz.
A siá Casta deixô o camisolão caí inté nos pé. A brancura da pele marcava o lugá da plumagem negra. Grabiela lhe ajudô entrá no banho, mais a água morna não lhe conseguia despertá da tristeza. A mulhé fantasma, qui não gostava da má influência do seu homem na cama, parecia apreciá os banho de limpeza da preta Grabiela
Não existe justeza na vida, a siá já tava toda mergulhada nas água, não parecia tá mais serenada e confortada com as coisa qui não tinha, o sinhô faz os seus filhos às pencas com essas negras encarapinhadas, nariz largo e achatado, fedidas, mas na sua esposa não deixa nenhuma semente. Nada me ficou das poucas vezes que tentou me plantar.
Grabiela Milagres lhe esfregava as costa. A pela branca da siá era fina e delicada, mais tão sem cheiro da vida. A siá tava feita prisioneira do fio qui não veio. O guri tava perdido em algum lugá-gaiola, tem paragem pra todo gosto e cô, inté pra quem nem nasceu
Siá... o qui tem qui sê vai sê.
A siá levantô pra qui a Grabiela pudesse esfregá as parte da perna e as peça qui tão logo acima. Ficô arrepiada, mais não virô as vista pra baixo, não oiava as mão da mucamba qui limpava os cheiro do siô
Vou pedir ao santo padre que reze missa. Em coisa de tanta importância, como um filho legítimo para o sinhô, a Virgem Santa há de interceder e estender a sua benção, abriu a perna e a mão da mucamba lhe alcançô toda. Inclinô o corpo pra diante e desceu as mão inté os joelho, ficô dobrada pra preta lhe alcançá atrás
Se cada sinhá da casa grande pudesse ter uma negra como ocê, não pensariam duas vezes para terem uma ou duas, sentô na água e reclamô do esfriamento
Vô colocá mais quentura, a siá lhe segurô o braço, mirava o espelho d’água
Não saia, deixe como está, pegô a mão da mucamba e colocô no seu colo arredondando, passe sua mão... me lave do sinhô.
Os bico espetado pra diante não lhe deixava desconfiança das vontade da siá. Ela desceu as vista, parecia resignada. Culpada. Triste da falta de um fio. Assim, desse feitio, ninguém sente as coisa de sentí diferente. A siá lamentava não tê um branquela pra amamentá. O lamento não ajuda pensá, não se achega com prazê. Grabiela parô de pensá. Desceu as mão e lhe fez sabê e sentí o braseiro. Ensinô o qui procurá com o sinhô.
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Leia também:
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baitasar
A preta subiu as vista na siá Casta. A mulhé branca continuava parada no meio do quarto de dormí com o seu feitio de vestida pro banho. Parecia engaiolada, mesmo com toda sua belezura. E quando tem belezura, inté os trabáio mais desasseado parece qui dá mais capricho de fazê. As duas parada, na frente uma da otra, pensando em acordá da imaginação e descobrí qui não é mais escrava, mais com raiva de sabê qui ninguém vai devolvê os dia e as noite desencaminhado
Siá Casta... a água vai desamorná e perdê as qualidade da quentura, a siá pareceu acordá dum sonho qui não parecia sê bão, os óio bem decotado, a boca retorcida, como se um gosto ruim lhe tivesse subido das entranha inté chegá na língua
A vingança é uma comida que precisa ser servida fria, a mucamba escutô silenciosa, achô qui precisava ficá na sua quietude, longe do desassossego da mulhé branca com seu espírito tumultuoso de dona de tudo, controladora de toda gente preta qui comprô. Gente assim não cansa de se serví, só vê qui as coisa e os preto existi pra deixá elas mergulhada na felicidade, vez qui otra, elas diz alguma palavra sem importância com um vaporoso afago na cabeça, apenas uma tentativa de enchê os momento sem castigo, injúria ou tarefa
Tudo bem, Grabiela, a mucamba escutô de novo na boca da siá o seu nome do batizado remexido, mais não disse nada, continuô escutando, o sinhô me fez uso como sua mulher, quem sabe se a minha barriga bem amornada consegue segurar e fazer brotar a sementinha do sinhô meu marido, baixô as vista nas duas mão qui acarinhava o centro das entranha, misturava no seu feitio de oiá a sua vergonha e a culpa de não sê uma terra de fertilidade, um lugá apropriado e bão de fazê os fio qui o siô esperava tê.
Milagres não se atrevia dizê qui era feliz com o seu homem, o seu rei preto, nas vez qui tinha ele na perseguição das suas carne com as mão. Elas não parava quieta, as mão do Josino era inconformada de não podê tá nos agarramento da sua preta quando era do seu gosto; nem siá Casta podia dizê qui chorava de tê o homem qui tinha, nas vez qui tinha. Nunca ia podê reclamá das dô qui sentia. Não tinha com quem falá
O que ocê acha, Grabiela Milagres?
A mucamba oiô a mulhé qui guardava as palavra e as chave das corrente pra usá no feitio de querê usá. Ela não queria respondê pra siá, mais ficá silenciosa
Então, Grabiela Milagres... o rato comeu a sua língua, a preta ficô mais entranhada na raiva qui sentiu. A mulhé branca lhe prendeu inté nas palavra qui não queria dizê. Ela colocô as vista nas parte da barriga e rezô pra Siá dos vento assoprá as boa nova dentro do bojo daquela mulhé. Queria odiá com mais vontade qui os branco destruía a vida dos preto qui eles já tinha e dos preto qui ia tê. Inté era bem fácil odiá, mais não queria perdê a chance daquela juntura com a siá. Podia sê uma arrumação da vida pra ajudá o Josino. Então, escolheu as palavra qui sabia das história antiga de ouví dos mais velho, respondeu perguntando
Quem pode sabê o qui contece na barriga da muié?
As vista das duas mulhé teve um momento de tristeza. Nenhuma tinha alegria pra mostrá. Inté parecia qui as duas sofria do mesmo feitio de sê mulhé, mais era só nas figuração, não passava das tentativa de entendê qui o feitio da preta podia tê o feitio da branca. Mais não podia nem devia sê pensado assim, as vida de uma e de otra não era as mesma vida.
A vida das mulhé branca não era fácil de sê vivida nas fazenda, nas cidade, em qualquer lugá elas tinha qui sabê respeitá o siô seu marido, mais compará com a história das mulhé preta é tá cego das cô da vida
Tá escutando a história, mifioneto?
Tô sim, avoinha...
Avoinha subiu na mesa das passagens, pulou no agarrador aéreo, balançava de um lado ao outro, tava incomodado com avoinha balançando pendurada, aquilo tudo me deixava embaraçado e desconfortável
Avoinha tem que parar com esse seu jeito de ser... ainda vão lhe chamar de macaca, ela sorriu e fez um giro completo, as pernas voaram pelo teto do 69, onde era o lugar das pernas tava a cabeça e onde era o lugar da cabeça tava as pernas. Quando voltou a ficar pendurada balançando, uma vez com uma das mãos, depois com a outra, ela recomeçou a falar
Mifioneto, essa palavra macaca é uma atrapalhação de doença menô, o embaraço mais problemático é o qui não é dito, mais é ensinado.
E o que é ensinado, avoinha?
Ela largou o corrimão aéreo e ficou flutuando como as folhas esvoaçam na brisa suave do vento, parecia bailando com Vivaldi
Ocê não sabe, mifioneto?
Avoinha, acho que isso dos negros terem sofrido na escravidão... muito triste. É uma história de tristeza e dor que precisa ser contada, mas hoje, não é mais assim, o negro tem que correr atrás, fazer por merecer. Estudar. Deixar de ser vagabundo e trabalhar. As oportunidades são iguais para todos. Os negros podem fazer tudo o que quiserem, reparei que avoinha não aboiava na brisa que entrava das janelas. Olhei na volta da minha poltrona de cobrador das passagens, todos os passageiros nos seus lugares sentados ou em pé desacomodados
E ocê, pelo visto e ouvido, aprendeu a lição direitinho: cabelo bão do preto é o cabelo espichado; o feitio dos branco rezá é bão, já as reza dos preto é coisa do demônio; o xadrez dos branco é o jogo do tabuleiro, mas o xadrez dos preto é o embaraço das corrente nos punho e o oiá atrás das grade. Não sei, mifioneto, mais escuta sua avó, ainda vão inventá um lugá de não ensiná só pros preto...
Por favor, avoinha... essas coisas estão longe de acontecer, novamente.
Só não contece porque os preto luta pra não contecê, depois do dito, avoinha resmungou que não me escutava e pulou no meu colo
Avoinha...
Não tô escutando.
Avoinha só escuta o que lhe dá gosto, ela se ajeitou como uma filha se aninha no colo da mãe procurando calor e conforto
Tô cansada de tanta falação de ódio e desconsideração com as vontade dos preto, tô quebrantada com as mentira e as palavra vazia e cheia de tanto fingimento. Quero a vida colorida da alegria e do amô qui a cobiça, a gula e a ignorância joga no abismo da indiferença, da repulsa e da negligência.
Ela continuava no meu colo, mas parecia afundada de tanto peso e de tanta dô, parecia carregar as dores do mundo sem jamais esquecer quem ela é
Mifioneto, queria mais voadura colorida e menô cobiça. A gula e a ignorância, mais não quero dizê da ignorância das palavra escrita, tô falando da inocência de não sabê das coisa qui contece, como contece, por que contece, a ignorância qui deixa ocê cego e faz dizê qui o otro é qui tá na cegueira. Tem as pessoa qui gosta de tê os passarinho aprisionado na gaiola pra tê alguma cantoria na vida. E vivê feliz com aquela cantoria triste, qui elas jura qui é a cantoria da felicidade.
Avoinha... tá comparando os passarinho com os negros?
Não! Passarinho é passarinho, preto é preto, mais a gaiola é a mesma. Depois vai nas cantoria bonita das igreja e canta as oração do Menino Francisco. E chora. Jura qui isso é felicidade. Dão as mão e canta tudo de novo, as mão é as mesma qui pendura as gaiola. Acho qui não tem falta das palavra bonita pra sê dita no mundo nem pra sê rezada, precisa tê mais as mão qui abre a porta das gaiola.
A minha doce avoinha parou os resmungos e pareceu estar adormecida, cansada da falação. Não sabia se chamava ou deixava ela assim, descansando no meu colo. Eu sentia um gosto que nunca tinha experimentado com aquela avoinha tão doce no colo
Avoinha, tá muito poética.
Rapazinho, levei um susto e quase deixei avoinha cair do colo, as pessoa tá precisada de escutá e rezá com o coração.
E avoinha pode ensinar?
Tem qui aprendê tudo junto, vê com os ouvido e falá com os óio. Depois precisa pará de falá com ódio em nome do amô. O amô dá esperança qui não se acostuma com o ódio. Os dois não se mistura. As pessoas engana os passarinho e diz qui eles canta de felicidade. Quem nunca saiu da gaiola canta sua tristeza, assim não é cantá feliz.
A siá Casta deixô o camisolão caí inté nos pé. A brancura da pele marcava o lugá da plumagem negra. Grabiela lhe ajudô entrá no banho, mais a água morna não lhe conseguia despertá da tristeza. A mulhé fantasma, qui não gostava da má influência do seu homem na cama, parecia apreciá os banho de limpeza da preta Grabiela
Não existe justeza na vida, a siá já tava toda mergulhada nas água, não parecia tá mais serenada e confortada com as coisa qui não tinha, o sinhô faz os seus filhos às pencas com essas negras encarapinhadas, nariz largo e achatado, fedidas, mas na sua esposa não deixa nenhuma semente. Nada me ficou das poucas vezes que tentou me plantar.
Grabiela Milagres lhe esfregava as costa. A pela branca da siá era fina e delicada, mais tão sem cheiro da vida. A siá tava feita prisioneira do fio qui não veio. O guri tava perdido em algum lugá-gaiola, tem paragem pra todo gosto e cô, inté pra quem nem nasceu
Siá... o qui tem qui sê vai sê.
A siá levantô pra qui a Grabiela pudesse esfregá as parte da perna e as peça qui tão logo acima. Ficô arrepiada, mais não virô as vista pra baixo, não oiava as mão da mucamba qui limpava os cheiro do siô
Vou pedir ao santo padre que reze missa. Em coisa de tanta importância, como um filho legítimo para o sinhô, a Virgem Santa há de interceder e estender a sua benção, abriu a perna e a mão da mucamba lhe alcançô toda. Inclinô o corpo pra diante e desceu as mão inté os joelho, ficô dobrada pra preta lhe alcançá atrás
Se cada sinhá da casa grande pudesse ter uma negra como ocê, não pensariam duas vezes para terem uma ou duas, sentô na água e reclamô do esfriamento
Vô colocá mais quentura, a siá lhe segurô o braço, mirava o espelho d’água
Não saia, deixe como está, pegô a mão da mucamba e colocô no seu colo arredondando, passe sua mão... me lave do sinhô.
Os bico espetado pra diante não lhe deixava desconfiança das vontade da siá. Ela desceu as vista, parecia resignada. Culpada. Triste da falta de um fio. Assim, desse feitio, ninguém sente as coisa de sentí diferente. A siá lamentava não tê um branquela pra amamentá. O lamento não ajuda pensá, não se achega com prazê. Grabiela parô de pensá. Desceu as mão e lhe fez sabê e sentí o braseiro. Ensinô o qui procurá com o sinhô.
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