Josino
Aguadeiro
Ensaio 10BB – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
O neinho Josinho já tava nos mato da beirada, deu os passo sem vê qui dava, isso acontece quando ocê tá vivo num lugá qui não tá vivendo, fica esquecido das coisa qui faz, foi assim qui ele saiu das água. Não era mais peixe, mais continuava metade homem. Espichô as vista inté o padre, parecia um urubu esperando. O bicho parecia rezá, parecia não rezá. Não dava de sabê se tinha reza nem qui reza era. De qualqué maneira, com reza ou sem reza, o preto enfiado no areial da Arsenal não ia se livrá da covardia e castigação dos miliciano da Villa, eles só fazia corrê atrás dos preto fujão. Não ia tê ajuda do siô padre nem do Deus dele
Levanta o boçal!
O preto engolia o corpo das perna e braço, dobrado num abraço desesperado. Era só o qui tinha: o abraço dele mesmo pra vencê o medo. O corpo nu. O sargento tentô desmanchá o aperto, mais não teve força pra arrancá o preto da sua concha. Quanto mais força usava mais a concha se fechava, não tinha cabimento resistí. Por isso, ele resistia.
O capitão oiava tudo aquilo divertido, gostava de encontrá os preto valente, quanto mais valentia mais ele ajudava os preto entendê qui não existia coragem qui ele não arrasava, inté cortá em pedaço os resistente
Dom Miguel, parece que o sargento precisa de socorro, o ajudante de todas as ordem do capitão sorriu o contentamento da maldade, gostava de mostrá seus considerando sobre o assunto. Ergueu o varapau qui apoiava a lanterna tocha e desceu nas costa da concha, deu pro neinho Josino escutá ela se partindo
Sargento! O caramujo se entregou, o preto perdeu as força qui ainda tinha, não teve mais como resistí e desmanchô o aperto nas perna, mais não deixô escapá nenhum gemido. Inté pareceu qui fez um sorriso de deboche. O neinho Josino enfiô as vista na lua e lembrô de pedí socorro pra Oiá. Desistiu. Levô as vista inté o siô padre, descobriu qui deste já tinha desistido bem antes. O preto continuava com as mão amarrada na corda qui apertava no pescoço. Pensô qui tem vez qui rezá é mais desperdício qui dizê bem alto uma maldição, gritá mandinga. Vivê a desgraça pode sê melhó pra quem tem na mão o chicote e a cruz da enganação da vida eterna. Quem vive a desdita sem a empunhadura do chicote só vai levá mesmo é a morte eterna inté a exaustão.
O sargento pegô a corda qui prendia as mão do preto uma na outra, puxô inté ele ficá em cima das perna. Dom Miguel aproximô uma tocha no preto amarrado, parecia interessado nos estrago já feito. O neinho pode vê uma marca na testa e otra no peito do enlaçado. A marca do ferro em brasa no busto parecia sê uma cruz. Devia sê. Os preto mais antigo contava pro neinho dum tempo existido da cruz marcada. Era a certidão do batismo dos preto qui chegava nos tumbeiro e o feitio dos branco mostrá pra Deus qui os marcado merecia uma chance de tê a vida eterna. Lembrô do padre e os grito dele: O inferno é para os negros que não obedecem, era preciso vivê na obediência pra sê afortunado depois de morrê, desconfiô qui o homem de preto podia conhecê do inferno e do céu, mais só oferecia a vida qui era o inferno e pra vivê era preciso morrê.
O neinho lembrô de deitá agarrado nas perna, todo encolhido como um caramujo preto pra modo de diminuí os arrepio qui sentia. Um feitio de dormí qui ficô nas memória dos qui conseguiu vivê da viagem na estrada das água: Amontoados. Agachados. Doentes. Miseráveis. Exaustos. Rastejando por água. Prostrados ao redor da tina. Rostos esquálidos e encovados. As pálpebras entumecidas. Reduzidos a pele e osso. Curvados pela falta de espaço. Debilitados e enrijecidos até a morte, achô qui não era isso qui tinha o melhó feitio de esperá. Precisava fazê melhó qui oiá. Bem melhó ia fazê, caso fosse inté o siô padre pedí ajuda; ele inté podia, na troca de ajuda, prometê acreditá na confiança da cruz e na vontade boa qui o siô padre diz existí no céu, depois de morrê. Desistiu otra vez. Não ia adiantá. O vulto do padre fez o siná da benção e sumiu. Entrô na escuridão. Podia sê um homem bão com os branco, mais não ajudava muito os preto resistí contra a escravidão. Ele também tinha escravo.
O neinho Josino aprendeu qui era preciso fazê mandinga pra amolentá a alma dos branco, a escravatura ia custá podê passá. Achava inté qui não ia passá. Veio nas lembrança da cabeça a Siá Virgi do Céu, toda bonita e perfumada, não entendia tanta formosura e bondade... e indiferença. Credospadre. Acabava qui eles inda colocava o preto na cruz pelo desapego de sentí bondade, os preto só queria vivê como os branco, mas sem comprá e vendê gente. Usá calçado nos pé e roupa no corpo. Deixá de sê uma peça de contrabando. Ia custa podê passá.
O torturado passô arrastado, empurrado. O serviço dos branco não era humanitário, eles fazia questão de deixá o preto pendurado nas mão dos torturadô, atormentado pela pena de morte. Sabia qui ia morrê, mais não sabia quando nem como a sua vida ia cansá de divertí os torturadô. Ele balançava sem os queixume qui o capitão queria escutá
Se ocê quebrar um... quebra os demais.
Os branco não sabia qui os lamento dos preto tá na dança, nas cantoria, nas reza; os preto aprendeu não gemê por gemê, ninguém escutava os lamento. Quando os preto lastima faz com os andamento das cantoria qui vive nas mata, nas água, nas terra, no ar e no fogo, é um santo qui não vem de Deus, tá nele mesmo
Esse não grita, capitão!
A Villa também não gemia, respirava devagá, mais não reclamava. Ela fingia qui dormia. O fingimento de vivê o qui não vive. Às escura. A covardia de não querê abrí as vista, sabê da mentira, mais querê creditá. E pronto. A Villa toda escutô os grito do capitão, mais continuô disfarçando qui os grito era otra coisa: Um sono profundo e não sei o que fazer, não sei como ajudar, não quero me meter
Coloca o boçal de joelhos!
Ficô ajoelhado, mais mudo das dô do açoite. Abafado de qualqué vontade de reclamá das tira qui faltava da sua bunda saúva. O capitão puxô a cabeça do torturado pra trás e deu um só golpe nos dente podre e faiado. O estalido pareceu com osso quebrado. A pancada saiu da mão qui empunhava o seu soco mais duro e furioso. A cabeça foi inté o chão e levô o corpo mais as mão amarrada no pescoço. A Villa continuava o seu sono de fingimento profundo. Ela gostava de creditá nas mentira qui lia e escutava, ela gostava de fingí qui se importava: A escravidão mais branda do Império; como se pudesse tê candura no feitio de escravizá.
A força da batida pareceu tê quebrado todos dente do prisioneiro das mão branda. O sangue brotô, mais não faltô vontade de batê mais. Os preto atormentava o capitão Maria da Cruz
Não lhe adiantou os avisos, negro boçal? De nada lhe serviu a queimadura do F na testa ou a orelha cortada, o neinho vomitô otra vez, não entendeu por que o sofrimento daquele homem preto não diminuía a fúria das arma e dos grito. Pensô de novo no siô padre, considerô qui devia corrê inté ele e prometê esquecê os orixá da terra mãe, pra modo de sê batizado por vontade própria, pode sê qui assim o siô padre ficava animado de tirá o preto daquele feitio de carneiro no matadouro.
O capitão parecia tá no último estágio da exaustão do ódio, respirava ligeiro e curto, oiô dois miliciano e ordenô
Juntem o macaco!
O neinho pediu o fervô das reza do siô padre contra as força da impiedade. Ele não tinha a coragem daquele homem preto, mais viu qui nenhum exército dos anjo branco nem dos demônio preto ia acabá aquele martírio. Um zumbido de abelha lhe chegô nos ouvido, tinha vez qui parecia qui era, otras não parecia qui era, mais era sim, o siô padre escondido atrás da porta fechada, repetindo no meio das reza: Morrer não importa, morrer não importa, todos iremos ressuscitar dos mortos.
Dois da soldadesca agarrava o torturado. Um verme num braço, um parasita no otro braço. Dom Miguel dava firmeza pra cabeça do preto. O polegá de cada mão apertava a testa e puxava a cabeça pra trás, inté a boca ficá aberta.
O neinho Josino qui pisava nos próprio vomitado, chamava o siô padre pra modo dele escutá sua confissão, Siô padre... se fô pra vivê essa vida da escravidão de novo, não quero ressuscitá, já chega dessa merda qui os preto não escolheu vivê!
Abre a boca, criolo!
O capitão Maria da Cruz atravessô na boca do preto um gáio do mato. O neinho empurrô as perna mais na frente, caminhô e rastejô o mais qui podia sem dá siná do seu oiá de testemunha. Escutô quando o capitão quebrô os dente qui tinha ficado inteiro. Uma estaca de madeira na mão, na otra usava o martelo. Não foi canseira, mais bisbilhotice quando largô o martelo e agarrô o alicate
Acho que arrancar é mais humano. Ocê não acha, dom Miguel?
Arrancô um, dois, e arrancava mais se mais tivesse, o liberto babando sangue, mais sem um gemido. O capitão aproximô do preto pra lhe avisá do perigo qui corria
Agora, ocê pode correr...
Ganhô uma cusparada de sangue na testa qui lhe lavô de preto
Corre, negro! Corre!
O neinho Josino levantô como um homem inteiro e correu inté o capitão, se atirô com as força qui tinha
Chega! Chega! Deixa ele descansá!
A soldadesca levô o susto do ataque traiçoeiro e se colocô na posição defensiva, esperava os otros negro. As pistola, os mosquete e adaga apareceu nas mão branca, mais não havia exército de preto, nunca houve. O neinho mordeu a bochecha do capitão, deixô a marca da lua. O ajudante das ordem precisô se repara do susto, não era nenhuma assombração, correu e arrancô o neinho de cima do capitão
De onde veio isso?
Não sei, capitão.
Negrinho, filho de muitas putas negras, o neinho continuava esperneando, gritando suas mandinga, dom Miguel coloca no filho-da-puta a gargalheira de ferro. Escolha a mais pesada, depois iremos dar um destino para o piá, recomendô antes de voltá sua atenção ao escravo recém liberto e atirado nas areia da Arsenal
Solta as mão dele, suplicava o neinho enquanto as água dos óio descia, solta as mão, solta...
O capitão chegô perto do homem caído e chutô uma, duas, três vez no meio das perna nua
Corre desgraçado!
O homem ergueu a cabeça do areial e tentô fugí. Correu e caminhô um pouco, caiu. Os negro acorrentado gritava pra levantá e fugí.
O capitão Maria da Cruz oiô na direção do sargento. Sorria de prazê. Mostrava pra quem quisesse vê qui gostava da ocupação qui tinha. O sargento oiava tudo de longe, tava misturado na escuridão, mais não tava sozinho. Foi e voltô sem ninguém tê conhecimento pra buscá os três cachorro de perseguição do capitão.
O liberto correu mais otro tanto, caiu com o rosto nas água. O capitão sabia qui era um momento crítico, qui nem o chicote ou os grito resolvia. O liberto tava decidido ficá debaixo d’água inté se afogá
Solta os cachorros!
Dois cachorro logo chegô no liberto. Ele tentô batê com os pé enquanto entrava nas água mais e mais. Gritô. Latiu. O terceiro lhe atacô atrás. Não parecia metê medo nos assassino. As mordida não doía, mais queria os pedaço qui perdia. Fez corrida nas água da Arsenal. Muitas mordida os cachorro errava e só rasgava as água barrenta, otras acertava e abocanhava o couro preto do liberto. Despedaçava. O capitão Maria da Cruz latia como a cachorrada, eles se entendia naquela infâmia: perseguí, cercá e encurralá, inté a caça desistí.
O liberto continuava entrando nas água.
A cachorrada não lhe largava. Mordia os garrão, as perna, as costa, onde dava no jeito de mordê. Tentô afundá enquanto os canino branco arrancava mais pedaço. Inté qui agarrô um cachorro e passô a corda no pescoço do soldado. Apertô. Não ia mais soltá. E afundô.
Desceu como um tumbeiro nas tempestade, direto pro fundo. Pesado e partido ao meio.
Dois cachorros voltô pras mão do capitão. Mastigando
O que é isso?
Dom Miguel se juntô com os três e arriscô palpite pra pergunta do capitão
Acho que esse arrancou parte do charuto das pernas do negro.
Os cachorro sacudindo os pelo. O capitão ajoelhô pra abraça seus dois miliciano. As lágrima caia das vista. Chorava a tristeza de tê perdido um amigo
Aguadeiro!
O aguadeiro correu e se parô como sempre, oiando o chão, esperando as ordem em silêncio
Água para os meus homens! Esses são os homens com quem arrisco minha própria vida. Os três se lambia. Os canino branco na cara barbuda e a boca com os dente podre nos focinho arreganhado. Enfiô a mão num saco e retirô as duas tira da bunda do saúva liberto e atirô pra cima
Agora vão dormir... já têm com o que sonhar!
A Villa suspirô de alívio e continuô no seu adorável silêncio. Os cachorro se calaram.
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baitasar
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Levanta o boçal!
O preto engolia o corpo das perna e braço, dobrado num abraço desesperado. Era só o qui tinha: o abraço dele mesmo pra vencê o medo. O corpo nu. O sargento tentô desmanchá o aperto, mais não teve força pra arrancá o preto da sua concha. Quanto mais força usava mais a concha se fechava, não tinha cabimento resistí. Por isso, ele resistia.
O capitão oiava tudo aquilo divertido, gostava de encontrá os preto valente, quanto mais valentia mais ele ajudava os preto entendê qui não existia coragem qui ele não arrasava, inté cortá em pedaço os resistente
Dom Miguel, parece que o sargento precisa de socorro, o ajudante de todas as ordem do capitão sorriu o contentamento da maldade, gostava de mostrá seus considerando sobre o assunto. Ergueu o varapau qui apoiava a lanterna tocha e desceu nas costa da concha, deu pro neinho Josino escutá ela se partindo
Sargento! O caramujo se entregou, o preto perdeu as força qui ainda tinha, não teve mais como resistí e desmanchô o aperto nas perna, mais não deixô escapá nenhum gemido. Inté pareceu qui fez um sorriso de deboche. O neinho Josino enfiô as vista na lua e lembrô de pedí socorro pra Oiá. Desistiu. Levô as vista inté o siô padre, descobriu qui deste já tinha desistido bem antes. O preto continuava com as mão amarrada na corda qui apertava no pescoço. Pensô qui tem vez qui rezá é mais desperdício qui dizê bem alto uma maldição, gritá mandinga. Vivê a desgraça pode sê melhó pra quem tem na mão o chicote e a cruz da enganação da vida eterna. Quem vive a desdita sem a empunhadura do chicote só vai levá mesmo é a morte eterna inté a exaustão.
O sargento pegô a corda qui prendia as mão do preto uma na outra, puxô inté ele ficá em cima das perna. Dom Miguel aproximô uma tocha no preto amarrado, parecia interessado nos estrago já feito. O neinho pode vê uma marca na testa e otra no peito do enlaçado. A marca do ferro em brasa no busto parecia sê uma cruz. Devia sê. Os preto mais antigo contava pro neinho dum tempo existido da cruz marcada. Era a certidão do batismo dos preto qui chegava nos tumbeiro e o feitio dos branco mostrá pra Deus qui os marcado merecia uma chance de tê a vida eterna. Lembrô do padre e os grito dele: O inferno é para os negros que não obedecem, era preciso vivê na obediência pra sê afortunado depois de morrê, desconfiô qui o homem de preto podia conhecê do inferno e do céu, mais só oferecia a vida qui era o inferno e pra vivê era preciso morrê.
O neinho lembrô de deitá agarrado nas perna, todo encolhido como um caramujo preto pra modo de diminuí os arrepio qui sentia. Um feitio de dormí qui ficô nas memória dos qui conseguiu vivê da viagem na estrada das água: Amontoados. Agachados. Doentes. Miseráveis. Exaustos. Rastejando por água. Prostrados ao redor da tina. Rostos esquálidos e encovados. As pálpebras entumecidas. Reduzidos a pele e osso. Curvados pela falta de espaço. Debilitados e enrijecidos até a morte, achô qui não era isso qui tinha o melhó feitio de esperá. Precisava fazê melhó qui oiá. Bem melhó ia fazê, caso fosse inté o siô padre pedí ajuda; ele inté podia, na troca de ajuda, prometê acreditá na confiança da cruz e na vontade boa qui o siô padre diz existí no céu, depois de morrê. Desistiu otra vez. Não ia adiantá. O vulto do padre fez o siná da benção e sumiu. Entrô na escuridão. Podia sê um homem bão com os branco, mais não ajudava muito os preto resistí contra a escravidão. Ele também tinha escravo.
O neinho Josino aprendeu qui era preciso fazê mandinga pra amolentá a alma dos branco, a escravatura ia custá podê passá. Achava inté qui não ia passá. Veio nas lembrança da cabeça a Siá Virgi do Céu, toda bonita e perfumada, não entendia tanta formosura e bondade... e indiferença. Credospadre. Acabava qui eles inda colocava o preto na cruz pelo desapego de sentí bondade, os preto só queria vivê como os branco, mas sem comprá e vendê gente. Usá calçado nos pé e roupa no corpo. Deixá de sê uma peça de contrabando. Ia custa podê passá.
O torturado passô arrastado, empurrado. O serviço dos branco não era humanitário, eles fazia questão de deixá o preto pendurado nas mão dos torturadô, atormentado pela pena de morte. Sabia qui ia morrê, mais não sabia quando nem como a sua vida ia cansá de divertí os torturadô. Ele balançava sem os queixume qui o capitão queria escutá
Se ocê quebrar um... quebra os demais.
Os branco não sabia qui os lamento dos preto tá na dança, nas cantoria, nas reza; os preto aprendeu não gemê por gemê, ninguém escutava os lamento. Quando os preto lastima faz com os andamento das cantoria qui vive nas mata, nas água, nas terra, no ar e no fogo, é um santo qui não vem de Deus, tá nele mesmo
Esse não grita, capitão!
A Villa também não gemia, respirava devagá, mais não reclamava. Ela fingia qui dormia. O fingimento de vivê o qui não vive. Às escura. A covardia de não querê abrí as vista, sabê da mentira, mais querê creditá. E pronto. A Villa toda escutô os grito do capitão, mais continuô disfarçando qui os grito era otra coisa: Um sono profundo e não sei o que fazer, não sei como ajudar, não quero me meter
Coloca o boçal de joelhos!
Ficô ajoelhado, mais mudo das dô do açoite. Abafado de qualqué vontade de reclamá das tira qui faltava da sua bunda saúva. O capitão puxô a cabeça do torturado pra trás e deu um só golpe nos dente podre e faiado. O estalido pareceu com osso quebrado. A pancada saiu da mão qui empunhava o seu soco mais duro e furioso. A cabeça foi inté o chão e levô o corpo mais as mão amarrada no pescoço. A Villa continuava o seu sono de fingimento profundo. Ela gostava de creditá nas mentira qui lia e escutava, ela gostava de fingí qui se importava: A escravidão mais branda do Império; como se pudesse tê candura no feitio de escravizá.
A força da batida pareceu tê quebrado todos dente do prisioneiro das mão branda. O sangue brotô, mais não faltô vontade de batê mais. Os preto atormentava o capitão Maria da Cruz
Não lhe adiantou os avisos, negro boçal? De nada lhe serviu a queimadura do F na testa ou a orelha cortada, o neinho vomitô otra vez, não entendeu por que o sofrimento daquele homem preto não diminuía a fúria das arma e dos grito. Pensô de novo no siô padre, considerô qui devia corrê inté ele e prometê esquecê os orixá da terra mãe, pra modo de sê batizado por vontade própria, pode sê qui assim o siô padre ficava animado de tirá o preto daquele feitio de carneiro no matadouro.
O capitão parecia tá no último estágio da exaustão do ódio, respirava ligeiro e curto, oiô dois miliciano e ordenô
Juntem o macaco!
O neinho pediu o fervô das reza do siô padre contra as força da impiedade. Ele não tinha a coragem daquele homem preto, mais viu qui nenhum exército dos anjo branco nem dos demônio preto ia acabá aquele martírio. Um zumbido de abelha lhe chegô nos ouvido, tinha vez qui parecia qui era, otras não parecia qui era, mais era sim, o siô padre escondido atrás da porta fechada, repetindo no meio das reza: Morrer não importa, morrer não importa, todos iremos ressuscitar dos mortos.
Dois da soldadesca agarrava o torturado. Um verme num braço, um parasita no otro braço. Dom Miguel dava firmeza pra cabeça do preto. O polegá de cada mão apertava a testa e puxava a cabeça pra trás, inté a boca ficá aberta.
O neinho Josino qui pisava nos próprio vomitado, chamava o siô padre pra modo dele escutá sua confissão, Siô padre... se fô pra vivê essa vida da escravidão de novo, não quero ressuscitá, já chega dessa merda qui os preto não escolheu vivê!
Abre a boca, criolo!
O capitão Maria da Cruz atravessô na boca do preto um gáio do mato. O neinho empurrô as perna mais na frente, caminhô e rastejô o mais qui podia sem dá siná do seu oiá de testemunha. Escutô quando o capitão quebrô os dente qui tinha ficado inteiro. Uma estaca de madeira na mão, na otra usava o martelo. Não foi canseira, mais bisbilhotice quando largô o martelo e agarrô o alicate
Acho que arrancar é mais humano. Ocê não acha, dom Miguel?
Arrancô um, dois, e arrancava mais se mais tivesse, o liberto babando sangue, mais sem um gemido. O capitão aproximô do preto pra lhe avisá do perigo qui corria
Agora, ocê pode correr...
Ganhô uma cusparada de sangue na testa qui lhe lavô de preto
Corre, negro! Corre!
O neinho Josino levantô como um homem inteiro e correu inté o capitão, se atirô com as força qui tinha
Chega! Chega! Deixa ele descansá!
A soldadesca levô o susto do ataque traiçoeiro e se colocô na posição defensiva, esperava os otros negro. As pistola, os mosquete e adaga apareceu nas mão branca, mais não havia exército de preto, nunca houve. O neinho mordeu a bochecha do capitão, deixô a marca da lua. O ajudante das ordem precisô se repara do susto, não era nenhuma assombração, correu e arrancô o neinho de cima do capitão
De onde veio isso?
Não sei, capitão.
Negrinho, filho de muitas putas negras, o neinho continuava esperneando, gritando suas mandinga, dom Miguel coloca no filho-da-puta a gargalheira de ferro. Escolha a mais pesada, depois iremos dar um destino para o piá, recomendô antes de voltá sua atenção ao escravo recém liberto e atirado nas areia da Arsenal
Solta as mão dele, suplicava o neinho enquanto as água dos óio descia, solta as mão, solta...
O capitão chegô perto do homem caído e chutô uma, duas, três vez no meio das perna nua
Corre desgraçado!
O homem ergueu a cabeça do areial e tentô fugí. Correu e caminhô um pouco, caiu. Os negro acorrentado gritava pra levantá e fugí.
O capitão Maria da Cruz oiô na direção do sargento. Sorria de prazê. Mostrava pra quem quisesse vê qui gostava da ocupação qui tinha. O sargento oiava tudo de longe, tava misturado na escuridão, mais não tava sozinho. Foi e voltô sem ninguém tê conhecimento pra buscá os três cachorro de perseguição do capitão.
O liberto correu mais otro tanto, caiu com o rosto nas água. O capitão sabia qui era um momento crítico, qui nem o chicote ou os grito resolvia. O liberto tava decidido ficá debaixo d’água inté se afogá
Solta os cachorros!
Dois cachorro logo chegô no liberto. Ele tentô batê com os pé enquanto entrava nas água mais e mais. Gritô. Latiu. O terceiro lhe atacô atrás. Não parecia metê medo nos assassino. As mordida não doía, mais queria os pedaço qui perdia. Fez corrida nas água da Arsenal. Muitas mordida os cachorro errava e só rasgava as água barrenta, otras acertava e abocanhava o couro preto do liberto. Despedaçava. O capitão Maria da Cruz latia como a cachorrada, eles se entendia naquela infâmia: perseguí, cercá e encurralá, inté a caça desistí.
O liberto continuava entrando nas água.
A cachorrada não lhe largava. Mordia os garrão, as perna, as costa, onde dava no jeito de mordê. Tentô afundá enquanto os canino branco arrancava mais pedaço. Inté qui agarrô um cachorro e passô a corda no pescoço do soldado. Apertô. Não ia mais soltá. E afundô.
Desceu como um tumbeiro nas tempestade, direto pro fundo. Pesado e partido ao meio.
Dois cachorros voltô pras mão do capitão. Mastigando
O que é isso?
Dom Miguel se juntô com os três e arriscô palpite pra pergunta do capitão
Acho que esse arrancou parte do charuto das pernas do negro.
Os cachorro sacudindo os pelo. O capitão ajoelhô pra abraça seus dois miliciano. As lágrima caia das vista. Chorava a tristeza de tê perdido um amigo
Aguadeiro!
O aguadeiro correu e se parô como sempre, oiando o chão, esperando as ordem em silêncio
Água para os meus homens! Esses são os homens com quem arrisco minha própria vida. Os três se lambia. Os canino branco na cara barbuda e a boca com os dente podre nos focinho arreganhado. Enfiô a mão num saco e retirô as duas tira da bunda do saúva liberto e atirô pra cima
Agora vão dormir... já têm com o que sonhar!
A Villa suspirô de alívio e continuô no seu adorável silêncio. Os cachorro se calaram.
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