Parábolas de uma Professora
sementes germinantes
baitasar e paulo e marko
uma tarde perfeita, viver uma vida perfeita, outra quinta-feira, mas em outro lugar, Com licença, peço desculpas pelo atraso. é o paulo que se anuncia num atraso, interrompendo a reunião, Estava fazendo a releitura de um texto com alguns alunos, o tempo foi passando na sua medida, mas enfim, cheguei atrasado para a reunião.
o professor paulo tem um carisma muito grande, entre todos que de alguma maneira ou por alguma razão privam da sua palavra e suas reflexões sobre educação. começa por ser um velhinho de cabelos brancos e longos, um andar calmo e curtinho como se não tivesse pressa em chegar, o que parece lhe interessar é o percurso e o caminho percorrido. sua voz é tranquila e clara, não deixa dúvidas sobre a sua intenção ao falar, seus olhinhos parecem sempre em busca de tudo que possa ser visto e aprendido na intenção de unir a ação com o pensamento
Olhamos para o mundo, mas basta olhar para a áfrica e américa latina, veremos a fome, as favelas, as desigualdades extremas e, talvez, tenhamos alguma resposta. As pessoas não estão preocupadas com justiça social, estão treinando recursos humanos para as grandes corporações, amestradores de mentes e adestradoras de corações. Essas pessoas não estão interessadas em direitos e deveres buscam privilégios.
Mas que feio professor... generalizar tanto assim. a ofélia não vai nos afastar da discussão com suas provocações. não deixo que ele se aparte da discussão
O que não deu certo?
o professor do corredor para e responde com outra pergunta, O que poderá dar certo? Uma pedagogia da esperança? Uma pedagogia do possível? O que é possível fazer em uma sociedade onde se duvida da possibilidade de pensar em solidariedade e, principalmente, como construir os conceitos de justiça e ética nesta sociedade dominada pelo consumismo e individualismo? Não queremos melhorar como pessoas, queremos ter mais qualquer coisa.
Concordo, mas não basta fazermos a leitura da realidade e dos saberes existentes em determinada comunidade. Até onde precisamos ir?
Ao céu e ao inferno, precisamos compreender como quem interpreta a sua própria realidade. Não há outra saída que não seja estar junto das pessoas mais humildes. Falar, escutar, dialogar, aceitar, meter a colher, mudar nosso modo de vê-los, deixar que nos ensinem e nos toquem. Fazer diferente. Não para teorizar em relatos de seminários, mas para mudar a nossa vida. Pensando assim, a pedagogia não é uma traição, é uma ferramenta de mudança. Desde que assim o façamos, ou melhor, desde que assim a entendemos, mas tudo isso exige disciplina e método dialético, com toda certeza.
O abismo nos espera, professor?
E nós, a quem esperamos? Um cavaleiro inexistente, o último voo do flamingo? Por quanto tempo iremos resistir partidos ao meio?
Quem sabe...
paro meus devaneios
sementes germinantes
baitasar e paulo e marko
I
uma tarde perfeita, viver uma vida perfeita, outra quinta-feira, mas em outro lugar, Com licença, peço desculpas pelo atraso. é o paulo que se anuncia num atraso, interrompendo a reunião, Estava fazendo a releitura de um texto com alguns alunos, o tempo foi passando na sua medida, mas enfim, cheguei atrasado para a reunião.
o professor paulo tem um carisma muito grande, entre todos que de alguma maneira ou por alguma razão privam da sua palavra e suas reflexões sobre educação. começa por ser um velhinho de cabelos brancos e longos, um andar calmo e curtinho como se não tivesse pressa em chegar, o que parece lhe interessar é o percurso e o caminho percorrido. sua voz é tranquila e clara, não deixa dúvidas sobre a sua intenção ao falar, seus olhinhos parecem sempre em busca de tudo que possa ser visto e aprendido na intenção de unir a ação com o pensamento
Parabéns, professor! Já é muito difícil uma leitura de frases com estes alunos, imagine uma releitura, chamo isto de magia, o máximo da bruxaria nos dias de hoje. Enfim, temos o nosso mago!
observo a enferma ofélia, não é possível que eu fique calada frente a tamanho disparate! busco com o olhar o professor do corredor. não está! como o necessito. deus havia sido a minha mais importante carência, mas a ele necessito mais que a deus. não é possível que fique calada, sempre acreditei na possibilidade da construção de uma escola diferente, voltada para as práticas da conscientização, da inclusão, da autonomia, da participação, da auto-organização, da libertação, da alegria, da cidadania. enfim, a construção de uma escola verdadeiramente democrática. deixo paulo e marko sozinhos... calei e não encontro resposta, Professora ofélia, então é verdadeira a lenda que comenta ser uma escola vazia, sem suas crianças, um imenso casarão mal-assombrado. Só ficam as bruxas!
eis uma reunião que promete, a lia mostra sua capacidade de combate na ironia que brinca com o deboche, tudo é dito sem ingenuidade. eis as manobras das forças reacionárias e progressistas durante o combate ou na iminência dele, se posicionam, medem as forças, granjeiam aliados, agrupam-se. não existe lirismo neste combater nem sangramentos aparentes, as conseqüências estão depositadas no fazer ou deixar de fazer nas aulas, os seus efeitos se concretizam nas maneiras de ensinar arrogante para alguém ou nos desejos humildes de aprender junto
Querida professora, a mim parece importante chamar a atenção para quantas e tantas vezes sucumbimos frente às falas destrutivas e desesperançadas, que nos fragmentam e nos implodem em pequeninos pedaços voadores, transformando em poeira nossas tentativas íntimas. Nas muitas e mais tantas oportunidades em que isto acontece, não o sabemos se ocorre por intenção deliberada ou por não sabermos pensar e sentir diferente. guardamos silêncio para o enfrentamento final quando o bem vencerá definitivamente o mal. Eis o imobilismo na crença que haverá somente um embate e que todos os desgastes dos afrontamentos anteriores se dão sem razão. Ao assumir uma posição critica e não lírica deixamos de assumir os defeitos e dificuldades dos outros para estabelecer parcerias razoáveis de comprometimento com a esperança, dentro de uma práxis libertadora do outro em mim que retorna ao outro que está fora de mim.
é isso, concordo com o paulo, mas continuo calada, não há fadas ou benfeitores, todos e todas precisamos caminhar com as próprias pernas, errando ou acertando, mas nos basta o movimento para começar. parando vez que outra para estabelecer diálogos íntimos, produzindo alguns enfrentamentos pessoais, fixando regras de ação e deixando o coração livre para voar os maiores e melhores sentimentos da esperança, não se deixar vencer pela insônia do medo e ficar escondido. levantar da cômoda cadeira e retirar o disco do toca-disco, virar o vinil e tocar o lado b, movimento e reflexão, quanta sonoridade no vinil, nem tudo que é novo supera em qualidade o antigo, Não se opta pelo novo apenas como conseqüência da novidade, decide-se pelo novo através da reflexão que temos do velho e do desejo de fazer nascer diferente do antigo.
Concordo com você, lia. o professor paulo está solto e falante, não se preocupa com os olhares azedos ou vazios, Aquilo que é novo, a notícia ou a colheita, não nos embaraça tanto, quanto o novo que chega pelas idéias de fazer diferente. Não se diz querer o novo das ideias por astúcia ou ingenuidade, pois tanto uma como a outra farão da novidade mentiras diárias. Cresceremos com as ideias do novo fazer e pensar, na discussão permanente entre mim e o eu, entre o eu e o nós, entre o nós e o todo, entre o todo e o que repito que é meu, pois sempre retorno ao início que sou eu. Minha dor não é nova, mas meu sorriso está diferente. Estou refletido em mim mesmo, clareando e esclarecendo minhas próprias perguntas. Sou astuto, ingênuo ou progressista? Por ora, já me basta estar permanentemente atento, mesmo que sofrendo muito com o esforço, mas em movimento.
fico animada e penso que precisamos superar estes papéis mágicos e autoritários. precisamos de novos olhares sobre o nosso quê fazer na escola, sacudindo a poeira do tempo e descobrindo aos poucos um novo eu que já existia, permanecia escondido pela poeira da imperturbabilidade ingênua ou solércia medrosa, Professor paulo, por favor, sente-se. Vamos continuar. esse é o altíssimo, nosso diretor organizador
ele senta-se calmamente na fórmica verde e menos dura e menos fria e menos pedagógica, Se eu pudesse acabaria com a pedagogia. Pior que a possibilidade de matar as pessoas, é a maneira como transforma todos em bonecos de pau! a sala fica em silêncio, penso comigo mesma, chateada com meu descontrole, Calma, anita... sua idiota, isso é apenas parte da contenda. Não é uma traição. sinceramente, quero ficar quieta em meu cantinho. não sei se a pedagogia é uma traição - ou seu uso ou desuso. acredito que sua intencionalidade desvela as diferentes concepções de mundo que cada pedagogo carrega consigo... Anita, somos pedagogos do acaso?
não identifico quem me fez a pergunta, mas não posso voltar atrás em meu silêncio, Por acaso ou por intenção? O que é ser um pedagogo? Qual seu objeto de estudo? O que é afinal a pedagogia? Uma ciência pensada para dar conta de muitas ciências dentro de uma instituição chamada escola? paro para tomar fôlego, apenas isso, meu rumo já está tomado, Aí começa o emaranhado, o lio. Como podemos dar conta de todo o saber científico para ensiná-lo na escola? Criamos os programas, os conteúdos, os métodos, as estratégias... eis o começo da traição aos miseráveis. olho para o professor paulo. ele me sorri e enfia os dedos em sua barba branca. queria aquela paz. seus olhos me conduzem a continuar
Sei, através dos tempos, de acordo com os diferentes momentos históricos, tivemos construções importantes no campo da pedagogia no sentido de transformar as práticas coercitivas, disciplinadoras e autoritárias. Lembro de citar gramsci com sua pedagogia crítica, frenet com a escola nova, makarenko com a pedagogia socialista, paulo freire com a pedagogia libertadora. Outros de agora, outros que virão. Mas me interessa perguntar se eles foram traidores...
Foram traídos... me responde o professor do corredor
observo a enferma ofélia, não é possível que eu fique calada frente a tamanho disparate! busco com o olhar o professor do corredor. não está! como o necessito. deus havia sido a minha mais importante carência, mas a ele necessito mais que a deus. não é possível que fique calada, sempre acreditei na possibilidade da construção de uma escola diferente, voltada para as práticas da conscientização, da inclusão, da autonomia, da participação, da auto-organização, da libertação, da alegria, da cidadania. enfim, a construção de uma escola verdadeiramente democrática. deixo paulo e marko sozinhos... calei e não encontro resposta, Professora ofélia, então é verdadeira a lenda que comenta ser uma escola vazia, sem suas crianças, um imenso casarão mal-assombrado. Só ficam as bruxas!
eis uma reunião que promete, a lia mostra sua capacidade de combate na ironia que brinca com o deboche, tudo é dito sem ingenuidade. eis as manobras das forças reacionárias e progressistas durante o combate ou na iminência dele, se posicionam, medem as forças, granjeiam aliados, agrupam-se. não existe lirismo neste combater nem sangramentos aparentes, as conseqüências estão depositadas no fazer ou deixar de fazer nas aulas, os seus efeitos se concretizam nas maneiras de ensinar arrogante para alguém ou nos desejos humildes de aprender junto
Querida professora, a mim parece importante chamar a atenção para quantas e tantas vezes sucumbimos frente às falas destrutivas e desesperançadas, que nos fragmentam e nos implodem em pequeninos pedaços voadores, transformando em poeira nossas tentativas íntimas. Nas muitas e mais tantas oportunidades em que isto acontece, não o sabemos se ocorre por intenção deliberada ou por não sabermos pensar e sentir diferente. guardamos silêncio para o enfrentamento final quando o bem vencerá definitivamente o mal. Eis o imobilismo na crença que haverá somente um embate e que todos os desgastes dos afrontamentos anteriores se dão sem razão. Ao assumir uma posição critica e não lírica deixamos de assumir os defeitos e dificuldades dos outros para estabelecer parcerias razoáveis de comprometimento com a esperança, dentro de uma práxis libertadora do outro em mim que retorna ao outro que está fora de mim.
é isso, concordo com o paulo, mas continuo calada, não há fadas ou benfeitores, todos e todas precisamos caminhar com as próprias pernas, errando ou acertando, mas nos basta o movimento para começar. parando vez que outra para estabelecer diálogos íntimos, produzindo alguns enfrentamentos pessoais, fixando regras de ação e deixando o coração livre para voar os maiores e melhores sentimentos da esperança, não se deixar vencer pela insônia do medo e ficar escondido. levantar da cômoda cadeira e retirar o disco do toca-disco, virar o vinil e tocar o lado b, movimento e reflexão, quanta sonoridade no vinil, nem tudo que é novo supera em qualidade o antigo, Não se opta pelo novo apenas como conseqüência da novidade, decide-se pelo novo através da reflexão que temos do velho e do desejo de fazer nascer diferente do antigo.
Concordo com você, lia. o professor paulo está solto e falante, não se preocupa com os olhares azedos ou vazios, Aquilo que é novo, a notícia ou a colheita, não nos embaraça tanto, quanto o novo que chega pelas idéias de fazer diferente. Não se diz querer o novo das ideias por astúcia ou ingenuidade, pois tanto uma como a outra farão da novidade mentiras diárias. Cresceremos com as ideias do novo fazer e pensar, na discussão permanente entre mim e o eu, entre o eu e o nós, entre o nós e o todo, entre o todo e o que repito que é meu, pois sempre retorno ao início que sou eu. Minha dor não é nova, mas meu sorriso está diferente. Estou refletido em mim mesmo, clareando e esclarecendo minhas próprias perguntas. Sou astuto, ingênuo ou progressista? Por ora, já me basta estar permanentemente atento, mesmo que sofrendo muito com o esforço, mas em movimento.
fico animada e penso que precisamos superar estes papéis mágicos e autoritários. precisamos de novos olhares sobre o nosso quê fazer na escola, sacudindo a poeira do tempo e descobrindo aos poucos um novo eu que já existia, permanecia escondido pela poeira da imperturbabilidade ingênua ou solércia medrosa, Professor paulo, por favor, sente-se. Vamos continuar. esse é o altíssimo, nosso diretor organizador
ele senta-se calmamente na fórmica verde e menos dura e menos fria e menos pedagógica, Se eu pudesse acabaria com a pedagogia. Pior que a possibilidade de matar as pessoas, é a maneira como transforma todos em bonecos de pau! a sala fica em silêncio, penso comigo mesma, chateada com meu descontrole, Calma, anita... sua idiota, isso é apenas parte da contenda. Não é uma traição. sinceramente, quero ficar quieta em meu cantinho. não sei se a pedagogia é uma traição - ou seu uso ou desuso. acredito que sua intencionalidade desvela as diferentes concepções de mundo que cada pedagogo carrega consigo... Anita, somos pedagogos do acaso?
não identifico quem me fez a pergunta, mas não posso voltar atrás em meu silêncio, Por acaso ou por intenção? O que é ser um pedagogo? Qual seu objeto de estudo? O que é afinal a pedagogia? Uma ciência pensada para dar conta de muitas ciências dentro de uma instituição chamada escola? paro para tomar fôlego, apenas isso, meu rumo já está tomado, Aí começa o emaranhado, o lio. Como podemos dar conta de todo o saber científico para ensiná-lo na escola? Criamos os programas, os conteúdos, os métodos, as estratégias... eis o começo da traição aos miseráveis. olho para o professor paulo. ele me sorri e enfia os dedos em sua barba branca. queria aquela paz. seus olhos me conduzem a continuar
Sei, através dos tempos, de acordo com os diferentes momentos históricos, tivemos construções importantes no campo da pedagogia no sentido de transformar as práticas coercitivas, disciplinadoras e autoritárias. Lembro de citar gramsci com sua pedagogia crítica, frenet com a escola nova, makarenko com a pedagogia socialista, paulo freire com a pedagogia libertadora. Outros de agora, outros que virão. Mas me interessa perguntar se eles foram traidores...
Foram traídos... me responde o professor do corredor
o meu coração se aperta e corre maluco, minhas palavras voam em sua direção, O que pensas deles? pergunto com os olhos brilhando, quero envolvê-lo em meus braços, mas preciso me contentar com essa pequena peça de oratória
Todos eles pensaram uma nova escola a partir da utopia da construção de uma sociedade baseada em princípios solidários, onde a pedagogia estaria a serviço da construção desse ideário.
minha provocação foi aceita, O que deu errado?
Todos eles pensaram uma nova escola a partir da utopia da construção de uma sociedade baseada em princípios solidários, onde a pedagogia estaria a serviço da construção desse ideário.
minha provocação foi aceita, O que deu errado?
Olhamos para o mundo, mas basta olhar para a áfrica e américa latina, veremos a fome, as favelas, as desigualdades extremas e, talvez, tenhamos alguma resposta. As pessoas não estão preocupadas com justiça social, estão treinando recursos humanos para as grandes corporações, amestradores de mentes e adestradoras de corações. Essas pessoas não estão interessadas em direitos e deveres buscam privilégios.
Mas que feio professor... generalizar tanto assim. a ofélia não vai nos afastar da discussão com suas provocações. não deixo que ele se aparte da discussão
O que não deu certo?
o professor do corredor para e responde com outra pergunta, O que poderá dar certo? Uma pedagogia da esperança? Uma pedagogia do possível? O que é possível fazer em uma sociedade onde se duvida da possibilidade de pensar em solidariedade e, principalmente, como construir os conceitos de justiça e ética nesta sociedade dominada pelo consumismo e individualismo? Não queremos melhorar como pessoas, queremos ter mais qualquer coisa.
Concordo, mas não basta fazermos a leitura da realidade e dos saberes existentes em determinada comunidade. Até onde precisamos ir?
Ao céu e ao inferno, precisamos compreender como quem interpreta a sua própria realidade. Não há outra saída que não seja estar junto das pessoas mais humildes. Falar, escutar, dialogar, aceitar, meter a colher, mudar nosso modo de vê-los, deixar que nos ensinem e nos toquem. Fazer diferente. Não para teorizar em relatos de seminários, mas para mudar a nossa vida. Pensando assim, a pedagogia não é uma traição, é uma ferramenta de mudança. Desde que assim o façamos, ou melhor, desde que assim a entendemos, mas tudo isso exige disciplina e método dialético, com toda certeza.
O abismo nos espera, professor?
E nós, a quem esperamos? Um cavaleiro inexistente, o último voo do flamingo? Por quanto tempo iremos resistir partidos ao meio?
Quem sabe...
paro meus devaneios
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