sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Dava com uma das mão, tirava com a outra

Ensaio 18B
baitasar
O Capitão continuava sentado nas pedra da beirada do rio, a chibata enrolada e protegendo a cintura. Não era homem de confiá nos outro, muito menos, deixá a incumbência do serviço na vontade dos negro, Escravos sem índole, se deixo por conta, ficam enfiados em cantorias e danças, as feitiçarias desses negros só respeitam a mão que controla o rebenque. O olhá do Capitão ia do palheiro té os dois preto qui desembarcava as madeira da carroça. Ele montava o fumo e a palha embaixo da lua crescente. O barco do siô Barros tava encostado na esquina das água, no meio do capinzal, embalava com as ondulação do rio enquanto recebia as madeira atabafada.
Não tinha chilique no jeito de enrolá a palha, era pacientoso, não alarmava por susto, tava sempre preparado pros avisado e desavisado, mais, naquela noite, ansiava pelo seu chimarrão qui precisava sê atrasado. Sentia falta do mate amargo e a água quente. Na incumbência de vigiá aquele serviço secreto, não tinha razão iluminá a escuridão, a fogueira podia esperá, não era o causo de fazê o fogo pra fervura a água da chaleira. Não podia chamá atenção de algum espiadô, não queria se arriscá com bisbilhotice, O serviço deve ser secreto, no escuro e longe da ponte, Entendi, siô Barros, o patrão lhe metia nos apuro, não lhe perguntava nada, nem lhe chamava pelo apelido: fiô.
O coração lhe subia a garganta, mais não mexia nenhum nervo, te qui explodia a fúria
—        Criolo, cuidado! As tábuas não podem molhá! — ele quebrava o silêncio das tábuas sendo desembarcada, não conseguia evitá, parecia qui o bastardo precisava alertá qui ele mandava, existe gente assim, não basta comandá, subí na vida, tem qui dominá a esperança do outro. O Capitão queria um pouco mais, ele queria branqueá. Sabia qui ia morrê sem o nome do siô e sem o reconhecimento do pai, mais queria a confiança do siô, queria sê alforriado, queria podê casá com moça branca.
Não mostrava os dente pros negro se não fosse pra mordê, um infame aborrascado. Tudo era causo de castigo no modo de pensá do bastardo, era e não era nada, tinha e não tinha nada, filho sem pai da escrava Rita, a nêga Rita do siô, qui fez questão de levá junto, té a siá Casta lhe deu pouca importância, Vosmecê pode ter as escravas que quiser, mas não me arrume uma amante branca. A mãe do bastardo também não era nada. Dava importância mostrá pros olho do siô qui não sentia pena nem dó dos negro, riscava o couro com sangue e sal, Hoje, acordei com o pensamento de não acabá o dia sem fazê salmora rosada. Lembrô das ordem do pai, Me façam o desembarque do jeito escondido. E ordem do siô é ordem qui precisa de cumprimento.
O Josino aproveitô o descuido do grito, o desconcerto do bastardo
—        Capitão... — o adulterado qui carregava na cara a vista verde do pai, num olho, e a vista preta da mãe, no outro olho, não parô de vigiá os dois negro carregadô, não interrompeu os trabalho com o palheiro, nem mudô a boca ou a posição das vista, a verde nos escravo, a preta no palheiro
—        O que é, negro? — o Josino qui começô aquela conversa arriscada, chegô a pensá qui seria melhó adiá ou esquecê a prosa, mais a língua não conseguiu ficá escondida na boca, Meu preto, tem tempo pra tudo, é preciso paciência, Não quero mais proteção, quero reparação, Ocê é o meu siô, o siô da Milagres, escutá o siô dos Milagres qui ocê tem dentro
—        Posso lhe fazê uma pergunta? — o adulterado não mexeu com nada na cara, esperô terminá o fumigadô, mais não lhe olhô o tempo duma piscadela, enfiô o palheiro terminado na saca dos pronto, começô outro
—        Fale, logo. — nenhum podia mais recuá do palavrório, nem o qui ia perguntá, nem o outro, qui não ia respondê
—        Essas madeira se parece com as madeira qui foi largada no Largo da Quitanda... não faz muitos dia.
O Capitão do olho verde ficô acautelado, nenhum naco do peçonho se mexeu. A voz não saiu do jeito qui queria, não foi grito, vontade não lhe faltava, não foi sussurro, mais se pareceu com o chocalho da boiquira antes do bote
—        Isso não foi pergunta, é conversa de assunto qui não interessa nos olho do negro. Ocê só tem uma obrigação no pensamento, no caso de ocê pensá, é claro, apenas um cuidado: obedecê, fazê os serviços pra não sofrê os horrores do inferno. Eu sô o inferno!
—        Pensava qui as tábua era pra obra santa...
—        E desde quando criolo pensa? — tem vez qui é preciso sabê do perigo qui pode deitá o fogo na casa. O Josino não parõ pra escutá o capitão esverdeado, continuava descarregando no barco as tábua em questão, E pelo jeito das prancha, pensô Josino, esse reparte nem chegô descê no canteiro das obra santa. Ficô encilhada, esperando as providência da retirada, parte do donativo voltava pro doadô, qui dava com uma das mão, tirava com a outra.
O Capitão acabô mais um cigarro de palha, levantô da pedra, parô na frente do Josino, a prancha apoiada nas costa do escravo
—        Criolo não mete o nariz onde não é devido. Isso é assunto do siô e não cabe na boca do criolo, se o criolo insistì com essa curiosidade, aquela negra, qui parece não sabê o qui é melhó pra ela, vai recebê notícia qui não é boa... — os pé do Josino afundava na areia da água, parecia qui a prnacha lhe enfiava pra dentro da garganta da terra molhada — ... vai sabê qui o criolo dela fugiu e não voltô. Deixô ela pra trás. E o siô vai precisá colocá outro criolo na rede da negra Milagres.
Os dois preto se olhava, nos olho as faísca pulava, Tem tempo, Josino, tem tempo pra tudo, Mais minha preta, Tem hora, meu preto, essa não é a boa hora. A brisa carregava a fedentina dos peixe morto, os resto do pescado qui foi perdido com as miudeza desentranhada, tudo boiava, o fedô e as entranha
—        Ocê qué o meu lugá na rede?
—        Eu não sou negro!
—        Eu sei, ocê é um bastardo.
As faísca devorava os olho um do outro. Quem sabe pescá não degenera pela fome, sabe escutá o encantamento suave do rio lambendo as perna do pescadô, É preciso sabê esperá, respeitá as vontade do intestino, ele tem hora e tempo pra funcioná.
O Josino desviô do bastardo do mato, entrô na água e embarcô outra tábua. Não soltô o suspiro qui queria. Ergueu as vista e viu as lanterna amarela brilhando, anunciando as ruas da vila. O Betobento já tava na sua lida. A brisa apodrecida, o barulho das águas conformada em chegá e partí, nenhum desespero
—        Um tempinho de descanso? — a pergunta inesperada do Tição desconcertô o capitão bastardo, a primeira vez qui um negro se atrevia tanto
—        É claro que não... não tem necessidade do descanso, quanto antes ocês terminam o serviço mais cedo tiram os pé do rio. — desenrolô a chibata e estalô na água, tinha recuperado a força da mão, depois acertô os dois, alvo fácil, tavam afundado té os joelho. Os dois balançaram descontrolado e desceram na água té as virilha — terminem o que foi começado.
As prancha parecia com os osso raspado de um cadáver maldito qui ninguém reclama. Os dois preto na água parecia o cadáver maldito qui todo branco qué escondê, mais antes, precisá usá, esfolá, fatiá té perdê a serventia. Josino sentiu qui a brisa vinha com aviso da sua preta, endireitô as costa e ficô parado, a prancha deitada por cima, té qui ela lhe encontrô, coçô o carinho qui carregava, Meu preto, ocê precisa tê mais cuidado, tem gente com gosto só em odiá.

Mais um estalo do chicote.

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