quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O preto se transformô num pombo

Ensaio 21
baitasar
Começô o começo de tudo pro siô Barros, ele havia de tê o qui siá Casta costurô, com tanto cuidado, desde a morte do pai, o Conde Cantão: a iniciação do esposo na Irmandade. Ela mesma cobiçava sê daquela união, chegô se oferecê pra fazê esse começo solene e reservado, mais foi avisada qui a associação não era lugá da mulhé. O seu paradeiro de direção na vida era cuidá dos conforto do marido e a continuação da vida. Foi rejeitada. Ficô com o esposo, mais ainda não deu continuação na vida. Não existe perfeição, cada coisa tem seu tempo e seu jeito.
E assim, lá estava ele, o marido. Aprovado.
Nos assunto da Irmandade, ele tava sozinho, a siá Casta não podia sê útil, não era conhecimento pra mulhé. Naquele mundo, a sabedoria era do homem e a ignorância da mulhé; no território do casarão, ele precisava se curvá pra sabedoria da mulhé, té fazia questão de mostrá sua inocência, não era abelhudo, mostrava o seu exemplo, Dona Casta, cada um fica no cercado que Deus criou, é a vontade Dele, um mundo do homem, e outro, o da mulher. Um mundo branco, outro preto, gente qui come, gente qui morre de fome, branco qui lê, preto qui nem sabe se tem nome, não devia de sê dividido assim, mais vai continuá assim, enquanto Deus não virá mulhé ou ficá preto.
O padrinho daquele batizado do siô Cabral era o padre da obra santa, mais não tinha sermão pra sê dado, apenas qui todos precisava se juntá no redô da cada um, Meu filho, se a Vila lucra, a vida de cada um tem um benefício, então, a Irmandade ganha. A Vila é um negócio que precisa se manter em nome de Deus
—        O que é a Irmandade, padre? — o homem vestido de preto já tava pronto, com a resposta na ponta da língua, gostava da decifração qui tinha pronta, quase abriu o sorriso da satisfação, não abriu pra não deixá escapá o ruído revelado da cobra, o guizo-de-cascavel na preparação do bote. Não queria espantá, tinha qui convencê, gostava demais de tá no controle
—        A Irmandade cuida da Vila... — ele é um caminho qui a Irmandade usa pra paralisá a gente da Vila, escondê o conhecimento dos cordeiro e amarrá os pensamento do medo. Ele sabe sussurrá segredos de arrepiá e de salvá da morte, gosta de engaiolá as pessoa. Carrega na língua a promessa da vida eterna e o fracasso da morte — ... é uma confraria discreta, destinada aos homens com fé no progresso da Vila e fé em Deus, uma festa discreta
—        E o que eu tenho que fazer? — o siô de bobo não tinha nada, não era coco, não era chocolate, não tava ali obrigado, nem brigado. Sabia qui precisava aceitá os mistério e fingí querê as revelação, descobrí os caminho das pedra, nunca mais sê pobre ou fraco — Estou aqui por mim, e minha esposa, dona Casta.
—        Muito bem, o sinhozinho precisa passar à iniciação. — o siô Cabral não conhecia esse tal começo. Lembrô da estreia com as puta, sabia o qui era fingimento, o qui era verdade, não importava, tava pagando pelo divertimento, Se é parecido, acho que vou gostar, não tinha como sabê, não tinha como fugí, era hora de enfiá o seu nome na goela abaixo daquela gente, com a própria língua, do jeito qui eles achava qui era melhó
—        E o que é isso, padre? — parecia pergunta pra adiá o começo, não queria aparentá sê tão fácil de pescá, nem parecê um pescado sem valô
—        Vosmecê entra como noviço, até chegar ao grau de artífice. — o siô quase perdeu a paciência com as palavra do padre, a aparência qui fala, mais não diz nada.
Um pequeno triná veio da sala do lado, fez pará as conversa e os resmungo. O padre endireitô o corpo curvado e alterô a voz
—        Sinhô Barros Cabral... é preciso colocar essa venda. — o siô não sabia dessa parte, caminhá com as vista tapada era oferecê muita confiança pra quem não merecia, pelo menos, não merecia por enquanto, mostrô hesitação. O homem de preto curvô as costa, parecia lhe dizendo algum segredo — Pode ficar manso, estarei do seu lado.
Confiado o siô só fica quando tá na casa da Maria Cobra, no entretenimento das menina, sente qui tá em casa, um lugá qui não precisa fingí vontade de fazê, nem de dizê, Que assim seja.
O padre colocô a venda nas vista do siô, depois pegô na sua mão e o levô té a sala do lado, recheada com os homem do salão, podia sentí na carne e no osso qui tudo olhava ele e o padre, sentiu vontade de rí e contá alguma história da Maria Cobra, sabia qui não ia fazê isso, mais qui deu vontade, deu
—        O senhor pode nos apresentar o candidato.
O padre parô no centro do salão, na frente dos três mascarado, o do meio, mais grande na altura, parecia sê o dono da cerimônia de acolhimento, o padrinho do siô se dirigiu pra ele
—        Este é o sinhô Menino Barros Cabral, casado com dona Casta Cantão Barros Cabral, filha do finado Conde Cantão, possessor das terra do Humaitá, no caminho para a Aldeia dos Anjos.
O maió dos três encapuzado foi o único faladô
—        O senhor deve jurar que não vai falar a ninguém sobre o que ouvir aqui, e também, sobre o que vier a ver.
Queria olhá nas vista de cada um e fazê aquele juramento de compromisso com todos, um comprometimento de honra da palavra dada, coisa qui nem cogitava de pedí pros negro de sua posse, Os negros não têm palavra, não têm honra, precisam sentir medo, é preciso o acoite mais as correntes para prender, controlar, corrigir, educar e ensinar: quem manda e quem tem a obrigação de obedecer.
Quando a noite fez menção de descê na fazenda Humaitá, a siá Casta deu ordem pra preta Rita retirá a louça do jantá e chamá a Milagres
—        Siá Casta, a Milagres foi fazê serviço de mato, recolhê lenha...
—        Quando voltar avise que quero lhe ver, para as recomendações do dia de amanhã. E ocê quando terminar pode se retirar.
—        O recado vai sê dado.
Depois qui siá se retirô, ela balançô o olhá pra longe, na direção do mato
—        Ô meu Pai, mensageiro dos segredo, pra quem nada é novidade, tudo qui acontece já foi acontecido antes.
A Milagres tava ali cantando, dançando e conversando, levava o problema e pedia a solução, um remédio mágico, para o mais novo feito o mais velho, louvaminhando aquele qui deveria sê louvado antes de qualqué empreitada
—        Trouxe para sua fome: frutas, doces e pimenta, vinho e o sangue desse animal de penas.
Milagres degolô o animal e verteu o sangue nos lugares da mata, depois colocô junto dos alimento, na cabaça
—        Peço, ao meu Pai, qui leve té minha mãe o pedido de tê um filho, qui pode sê uma filha.

Ela bailava como o vento, seu corpo desprendia o perfume do amô qui levava té Josino a dança, o vento flutuava com o assopro qui dava a cada giro, té  qui o preto se transformô num pombo, ganhando a liberdade pra voá té as carne irresistível da Milagres. Ela dançava, ele enlouquecia. Os dois tava em transe, lambuzados com o gosto do outro. Ela balançava pelos cantos da mata as dança do amô e da sedução. Josino se deixava atraí por tanto encanto. Não via o rosto da Milagres, escondido pela cascata de contas. O seu olhá curioso antecipava sua belezura e o prazê do amô. Tinha vindo a pedido, no propósito de enraizá as terra da sua bela esposa, tava com o corpo tomado em possessão pelo baobá. Os dois entoava as cantiga de Oxum, amante ardorosa de formas finas, qui oferecia momentos de raro prazer aos amantes em seu leito, té parecia castigá os homem qui lhe sucumbia pela sede do deleite. Sem Oxum e as mulhé, o homem não tem podê sobre a fecundidade, fica sem filho pra criá, sem braço novo pra guerreá, sem linhagem pra contá suas memória. A mulhé faz a vida prosperá.
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