Nanã
Reginaldo
Prandi
Nanã fornece
a lama para a modelagem do homem
Dizem
que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o
orixá tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu
certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura
ficou dura. De pedra ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se
consumiu. Tentou azeite, água e até vinho-de-palma, e nada.
Foi
então que Nanã Burucu veio em socorro.
Apontou
para o fundo do lago com seu ibiri,
seu cetro e arma, e de lá retirou uma porção de lama. Nanã deu a porção de lama
a Oxalá, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é
Nanã.
Oxalá
criou o homem, o modelou no barro.
Com
o sopro de Olorum ele caminhou.
Com
a ajuda dos orixás povoou a Terra. Mas tem um dia que o homem morre e seu corpo
tem que retornar à terra, voltar à natureza de Nanã burucu. Nnã deua matéria no
começo mas quer de volta no final tudo que é seu.
[93]
Nanã esconde o filho feio e exibe o filho belo
Conta-se
que Nanã teve dois filhos.
Oxumarê
era o filho belo e Omulu, o filho feio.
Nanã
tinha pena do filho feio e cobriu Omulu com palhas, para que ninguém o visse e
para que ninguém zombasse dele.
Mas
Oxumarê era belo, tinha a beleza do homem e tinha a beleza da mulher. Tinha a
beleza de todas as cores.
Nana
o levantou bem alto no céu para que todos admirassem sua beleza.
Pregou
o filho no céu com todas as suas cores e o deixou lá para encantar a Terra para
sempre. E lá ficou Oxumarê, à vista de todos.
Pode
ser admirado em seu esplendor de cores, sempre que a chuva traz o arco-íris.
[94]
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Leia também:
XIV – Mitologia dos Orixás: Obaluaê – Omulu – Xapanã - Sapatá [97] [98]
Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor
titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de
livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do
Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a
Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma
brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o
Trovão; Oxumarê, o
Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida
assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.
Prandi, Reginaldo.
Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São
Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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