quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

XII – Mitologia dos Orixás: Oquê [91] [92]

Oquê
Reginaldo Prandi
Oquê surge do fundo do mar
No princípio, Olocum reinava só no mundo.
Olofim fez o mundo de água e Olocum o governava.
No princípio, tudo era o mar, tudo era Olocum. E Olofim andava entediado com a vastidão sem fim das águas. Foi então que Oraniã, com a força que lhe dera Olofim, fez surgir do fundo do oceano o primeiro monte de terra, a primeira colina sobre as águas, a montanha Oquê.
Oquê, que quer dizer montanha na língua dos antigos, surgiu das profundezas dos mares para o prazer de Olofim e desde então, além das águas, passou a existir a terra de Oquê.
Assim nasceu Oquê, o orixá do monte, e sobre o monte a vida do homem foi possível, porque antes estava tudo submerso e todo o poder era do mar, de Olocum.
Logo depois, tendo o homem já se espalhado na Terra, Olofim-Olodumare reuniu os demais orixás em cima de Oquê e indicou a cada um onde seria seu domínio nesse mundo novo. Os orixás tornaram-se então muito poderosos, mas muitos daqueles que vieram depois dos orixás se esqueceram de Oquê.
Sem Oquê nenhum dos orixás teria podido fazer nada e é por isso que sempre se deve fazer oferendas a ele. O que aconteceria se Oquê voltasse para o fundo das águas e deixasse Olocum dominando o mundo sozinha? [91]

Oquê salva seus súditos dos invasores
Logo no começo do mundo, quando toda terra era plana, Oquê era o rei de um pacato povo que habitava uma feliz aldeia. Um dia um feroz exército estrangeiro veio em direção à cidade de Oquê.
Por onde passavam, os invasores matavam todos os que encontravam, não poupando homens, mulheres ou crianças. Destruindo, saqueando e incendiando tudo, os inimigos já estavam prestes a alcançar as portas da cidade.
Nem Oquê nem seu povo tinha armas.
O rei Oquê foi à casa do babalaô em busca de conselho. Fui recomendado a ele que fizesse um ebó, que deveria colocar nos quatro cantos da cidade. Assim fez Oquê e ficou esperando, sentado em seu trono bem no centro da praça, com todo seu povo reunido silenciosamente em torno dele.
Quando os invasores chegaram bem perto da entrada da aldeia, ouviu-se um estrondo surpreendente. A terra tremeu e se agitou. Oquê foi crescendo e crescendo, até numa montanha transformar-se, levando consigo, no seu cimo, todo o seu povo. Os inimigos ficaram lá embaixo e o povo de Oquê no alto da montanha em segurança.

Agora a Terra já não era mais uma vastíssima planície. Morros, colinas e serras faziam parte deste mundo. [92]

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Leia também:
XI – Mitologia dos Orixás : Orô [89] [90]
XIII – Mitologia dos Orixás: Nanã

Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileiraMorte nos búziosIfá, o AdivinhoXangô, o TrovãoOxumarê, o Arco-ÍrisContos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundoMinha querida assombraçãoJogo de escolhas e Feliz Aniversário.

Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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