domingo, 28 de setembro de 2014

Poesia Africana: Antonio Cardoso (Angola)

Poesia Africana  - 02




Exílio



Eu vivo na minha terra
Mas estou exilado.
Quem vive nela não sou eu
Mas outro que em mim vive.

A minha terra está por vir
E o meu outro ser vive, vive...
...vive à espera desse porvir






Vera Duarte (Cabo Verde)


Momento VI

(desabafo)



Vai e grita pelas achadas imensas
que a vida se conquista
contra a violência e a morte.

Diz
do amor que brota das areias
do mar solitário
do abraço fecundo que nasce
dos confins de nossos seres.

Diz tudo
mas não digas que te amei
— e amo —
pois chega-me a morte pela recusa.
Não quero morrer duas vezes!






Alberto de Lacerda (Moçambique/Portugal)



Ombro



É uma sombra ligeira.

Deixa sossegar
a minha cabeça sobre o teu ombro,
como quem dorme.

Numa saudade imortal
talvez o deus que me habita
houvesse desejado a minha morte.




Somos o mal que vence o bem que também somos?

Ah! Mulher Encantada


Ah! Mulher de meus sonhos
leva-me em teus banhos,
o amor teu é encantado.
Refugia meu corpo
com olhos namorados,
molhados do amor,
nossos corpos suados.

Ah! Mulher cheia de sonhos
ensina-me o pecado,
o corpo teu é encantado.
Crescer na luz do sol
sem pressa,
mostrar meu corpo
de homem encantado.

Ah! Mulher de um sonho
cresceu demorada
nas sombras do sol.
Hoje tem pressa
também quer o mundo encantado,
ficou com as cicatrizes dos olhos
o corpo suado do amor não terminado.

baitasar



Quem somos?


Somos o mal que vence o bem
que também somos?
Não sei, talvez ecos somos
das bocas caladas
e rimos se acreditamos.

Somos o bem que vence o mal
que também somos?
Não sei, talvez tolos somos
das misérias negadas
e rimos se choramos.

baitasar

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Histórias de avoinha: Josino - Aguadeiro 10B

Josino


Aguadeiro
Ensaio 10BB – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



O neinho Josinho já tava nos mato da beirada, deu os passo sem vê qui dava, isso acontece quando ocê tá vivo num lugá qui não tá vivendo, fica esquecido das coisa qui faz, foi assim qui ele saiu das água. Não era mais peixe, mais continuava metade homem. Espichô as vista inté o padre, parecia um urubu esperando. O bicho parecia rezá, parecia não rezá. Não dava de sabê se tinha reza nem qui reza era. De qualqué maneira, com reza ou sem reza, o preto enfiado no areial da Arsenal não ia se livrá da covardia e castigação dos miliciano da Villa, eles só fazia corrê atrás dos preto fujão. Não ia tê ajuda do siô padre nem do Deus dele

Levanta o boçal!

O preto engolia o corpo das perna e braço, dobrado num abraço desesperado. Era só o qui tinha: o abraço dele mesmo pra vencê o medo. O corpo nu. O sargento tentô desmanchá o aperto, mais não teve força pra arrancá o preto da sua concha. Quanto mais força usava mais a concha se fechava, não tinha cabimento resistí. Por isso, ele resistia.

O capitão oiava tudo aquilo divertido, gostava de encontrá os preto valente, quanto mais valentia mais ele ajudava os preto entendê qui não existia coragem qui ele não arrasava, inté cortá em pedaço os resistente

Dom Miguel, parece que o sargento precisa de socorro, o ajudante de todas as ordem do capitão sorriu o contentamento da maldade, gostava de mostrá seus considerando sobre o assunto. Ergueu o varapau qui apoiava a lanterna tocha e desceu nas costa da concha, deu pro neinho Josino escutá ela se partindo

Sargento! O caramujo se entregou, o preto perdeu as força qui ainda tinha, não teve mais como resistí e desmanchô o aperto nas perna, mais não deixô escapá nenhum gemido. Inté pareceu qui fez um sorriso de deboche. O neinho Josino enfiô as vista na lua e lembrô de pedí socorro pra Oiá. Desistiu. Levô as vista inté o siô padre, descobriu qui deste já tinha desistido bem antes. O preto continuava com as mão amarrada na corda qui apertava no pescoço. Pensô qui tem vez qui rezá é mais desperdício qui dizê bem alto uma maldição, gritá mandinga. Vivê a desgraça pode sê melhó pra quem tem na mão o chicote e a cruz da enganação da vida eterna. Quem vive a desdita sem a empunhadura do chicote só vai levá mesmo é a morte eterna inté a exaustão.

O sargento pegô a corda qui prendia as mão do preto uma na outra, puxô inté ele ficá em cima das perna. Dom Miguel aproximô uma tocha no preto amarrado, parecia interessado nos estrago já feito. O neinho pode vê uma marca na testa e otra no peito do enlaçado. A marca do ferro em brasa no busto parecia sê uma cruz. Devia sê. Os preto mais antigo contava pro neinho dum tempo existido da cruz marcada. Era a certidão do batismo dos preto qui chegava nos tumbeiro e o feitio dos branco mostrá pra Deus qui os marcado merecia uma chance de tê a vida eterna. Lembrô do padre e os grito dele: O inferno é para os negros que não obedecem, era preciso vivê na obediência pra sê afortunado depois de morrê, desconfiô qui o homem de preto podia conhecê do inferno e do céu, mais só oferecia a vida qui era o inferno e pra vivê era preciso morrê.

O neinho lembrô de deitá agarrado nas perna, todo encolhido como um caramujo preto pra modo de diminuí os arrepio qui sentia. Um feitio de dormí qui ficô nas memória dos qui conseguiu vivê da viagem na estrada das água: Amontoados. Agachados. Doentes. Miseráveis. Exaustos. Rastejando por água. Prostrados ao redor da tina. Rostos esquálidos e encovados. As pálpebras entumecidas. Reduzidos a pele e osso. Curvados pela falta de espaço. Debilitados e enrijecidos até a morte, achô qui não era isso qui tinha o melhó feitio de esperá. Precisava fazê melhó qui oiá. Bem melhó ia fazê, caso fosse inté o siô padre pedí ajuda; ele inté podia, na troca de ajuda, prometê acreditá na confiança da cruz e na vontade boa qui o siô padre diz existí no céu, depois de morrê. Desistiu otra vez. Não ia adiantá. O vulto do padre fez o siná da benção e sumiu. Entrô na escuridão. Podia sê um homem bão com os branco, mais não ajudava muito os preto resistí contra a escravidão. Ele também tinha escravo.

O neinho Josino aprendeu qui era preciso fazê mandinga pra amolentá a alma dos branco, a escravatura ia custá podê passá. Achava inté qui não ia passá. Veio nas lembrança da cabeça a Siá Virgi do Céu, toda bonita e perfumada, não entendia tanta formosura e bondade... e indiferença. Credospadre. Acabava qui eles inda colocava o preto na cruz pelo desapego de sentí bondade, os preto só queria vivê como os branco, mas sem comprá e vendê gente. Usá calçado nos pé e roupa no corpo. Deixá de sê uma peça de contrabando. Ia custa podê passá.

O torturado passô arrastado, empurrado. O serviço dos branco não era humanitário, eles fazia questão de deixá o preto pendurado nas mão dos torturadô, atormentado pela pena de morte. Sabia qui ia morrê, mais não sabia quando nem como a sua vida ia cansá de divertí os torturadô. Ele balançava sem os queixume qui o capitão queria escutá

Se ocê quebrar um... quebra os demais.

Os branco não sabia qui os lamento dos preto tá na dança, nas cantoria, nas reza; os preto aprendeu não gemê por gemê, ninguém escutava os lamento. Quando os preto lastima faz com os andamento das cantoria qui vive nas mata, nas água, nas terra, no ar e no fogo, é um santo qui não vem de Deus, tá nele mesmo

Esse não grita, capitão!

A Villa também não gemia, respirava devagá, mais não reclamava. Ela fingia qui dormia. O fingimento de vivê o qui não vive. Às escura. A covardia de não querê abrí as vista, sabê da mentira, mais querê creditá. E pronto. A Villa toda escutô os grito do capitão, mais continuô disfarçando qui os grito era otra coisa: Um sono profundo e não sei o que fazer, não sei como ajudar, não quero me meter

Coloca o boçal de joelhos!

Ficô ajoelhado, mais mudo das dô do açoite. Abafado de qualqué vontade de reclamá das tira qui faltava da sua bunda saúva. O capitão puxô a cabeça do torturado pra trás e deu um só golpe nos dente podre e faiado. O estalido pareceu com osso quebrado. A pancada saiu da mão qui empunhava o seu soco mais duro e furioso. A cabeça foi inté o chão e levô o corpo mais as mão amarrada no pescoço. A Villa continuava o seu sono de fingimento profundo. Ela gostava de creditá nas mentira qui lia e escutava, ela gostava de fingí qui se importava: A escravidão mais branda do Império; como se pudesse tê candura no feitio de escravizá.

A força da batida pareceu tê quebrado todos dente do prisioneiro das mão branda. O sangue brotô, mais não faltô vontade de batê mais. Os preto atormentava o capitão Maria da Cruz

Não lhe adiantou os avisos, negro boçal? De nada lhe serviu a queimadura do F na testa ou a orelha cortada, o neinho vomitô otra vez, não entendeu por que o sofrimento daquele homem preto não diminuía a fúria das arma e dos grito. Pensô de novo no siô padre, considerô qui devia corrê inté ele e prometê esquecê os orixá da terra mãe, pra modo de sê batizado por vontade própria, pode sê qui assim o siô padre ficava animado de tirá o preto daquele feitio de carneiro no matadouro.

O capitão parecia tá no último estágio da exaustão do ódio, respirava ligeiro e curto, oiô dois miliciano e ordenô

Juntem o macaco!

O neinho pediu o fervô das reza do siô padre contra as força da impiedade. Ele não tinha a coragem daquele homem preto, mais viu qui nenhum exército dos anjo branco nem dos demônio preto ia acabá aquele martírio. Um zumbido de abelha lhe chegô nos ouvido, tinha vez qui parecia qui era, otras não parecia qui era, mais era sim, o siô padre escondido atrás da porta fechada, repetindo no meio das reza: Morrer não importa, morrer não importa, todos iremos ressuscitar dos mortos.

Dois da soldadesca agarrava o torturado. Um verme num braço, um parasita no otro braço. Dom Miguel dava firmeza pra cabeça do preto. O polegá de cada mão apertava a testa e puxava a cabeça pra trás, inté a boca ficá aberta.

O neinho Josino qui pisava nos próprio vomitado, chamava o siô padre pra modo dele escutá sua confissão, Siô padre... se fô pra vivê essa vida da escravidão de novo, não quero ressuscitá, já chega dessa merda qui os preto não escolheu vivê!

Abre a boca, criolo!

O capitão Maria da Cruz atravessô na boca do preto um gáio do mato. O neinho empurrô as perna mais na frente, caminhô e rastejô o mais qui podia sem dá siná do seu oiá de testemunha. Escutô quando o capitão quebrô os dente qui tinha ficado inteiro. Uma estaca de madeira na mão, na otra usava o martelo. Não foi canseira, mais bisbilhotice quando largô o martelo e agarrô o alicate

Acho que arrancar é mais humano. Ocê não acha, dom Miguel?

Arrancô um, dois, e arrancava mais se mais tivesse, o liberto babando sangue, mais sem um gemido. O capitão aproximô do preto pra lhe avisá do perigo qui corria

Agora, ocê pode correr...

Ganhô uma cusparada de sangue na testa qui lhe lavô de preto

Corre, negro! Corre!

O neinho Josino levantô como um homem inteiro e correu inté o capitão, se atirô com as força qui tinha

Chega! Chega! Deixa ele descansá!

A soldadesca levô o susto do ataque traiçoeiro e se colocô na posição defensiva, esperava os otros negro. As pistola, os mosquete e adaga apareceu nas mão branca, mais não havia exército de preto, nunca houve. O neinho mordeu a bochecha do capitão, deixô a marca da lua. O ajudante das ordem precisô se repara do susto, não era nenhuma assombração, correu e arrancô o neinho de cima do capitão

De onde veio isso?

Não sei, capitão.

Negrinho, filho de muitas putas negras, o neinho continuava esperneando, gritando suas mandinga, dom Miguel coloca no filho-da-puta a gargalheira de ferro. Escolha a mais pesada, depois iremos dar um destino para o piá, recomendô antes de voltá sua atenção ao escravo recém liberto e atirado nas areia da Arsenal

Solta as mão dele, suplicava o neinho enquanto as água dos óio descia, solta as mão, solta...

O capitão chegô perto do homem caído e chutô uma, duas, três vez no meio das perna nua

Corre desgraçado!

O homem ergueu a cabeça do areial e tentô fugí. Correu e caminhô um pouco, caiu. Os negro acorrentado gritava pra levantá e fugí.

O capitão Maria da Cruz oiô na direção do sargento. Sorria de prazê. Mostrava pra quem quisesse vê qui gostava da ocupação qui tinha. O sargento oiava tudo de longe, tava misturado na escuridão, mais não tava sozinho. Foi e voltô sem ninguém tê conhecimento pra buscá os três cachorro de perseguição do capitão.

O liberto correu mais otro tanto, caiu com o rosto nas água. O capitão sabia qui era um momento crítico, qui nem o chicote ou os grito resolvia. O liberto tava decidido ficá debaixo d’água inté se afogá

Solta os cachorros!

Dois cachorro logo chegô no liberto. Ele tentô batê com os pé enquanto entrava nas água mais e mais. Gritô. Latiu. O terceiro lhe atacô atrás. Não parecia metê medo nos assassino. As mordida não doía, mais queria os pedaço qui perdia. Fez corrida nas água da Arsenal. Muitas mordida os cachorro errava e só rasgava as água barrenta, otras acertava e abocanhava o couro preto do liberto. Despedaçava. O capitão Maria da Cruz latia como a cachorrada, eles se entendia naquela infâmia: perseguí, cercá e encurralá, inté a caça desistí.

O liberto continuava entrando nas água.

A cachorrada não lhe largava. Mordia os garrão, as perna, as costa, onde dava no jeito de mordê. Tentô afundá enquanto os canino branco arrancava mais pedaço. Inté qui agarrô um cachorro e passô a corda no pescoço do soldado. Apertô. Não ia mais soltá. E afundô.

Desceu como um tumbeiro nas tempestade, direto pro fundo. Pesado e partido ao meio.

Dois cachorros voltô pras mão do capitão. Mastigando

O que é isso?

Dom Miguel se juntô com os três e arriscô palpite pra pergunta do capitão

Acho que esse arrancou parte do charuto das pernas do negro.

Os cachorro sacudindo os pelo. O capitão ajoelhô pra abraça seus dois miliciano. As lágrima caia das vista. Chorava a tristeza de tê perdido um amigo

Aguadeiro!

O aguadeiro correu e se parô como sempre, oiando o chão, esperando as ordem em silêncio

Água para os meus homens! Esses são os homens com quem arrisco minha própria vida. Os três se lambia. Os canino branco na cara barbuda e a boca com os dente podre nos focinho arreganhado. Enfiô a mão num saco e retirô as duas tira da bunda do saúva liberto e atirô pra cima

Agora vão dormir... já têm com o que sonhar!

A Villa suspirô de alívio e continuô no seu adorável silêncio. Os cachorro se calaram.




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Aguadeiro 2
Ensaio 24B – 2ª edição 1ª reimpressão

As Casa do Comércio na Villa 1
Ensaio 26B – 2ª edição 1ª reimpressão

Pablo Neruda (Chile)

20 poemas de amor y una canción desesperada






Poema 1


Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.

Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.

Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
Ah los vasos del pecho! Ah los ojos de ausencia!
Ah las rosas del pubis! Ah tu voz lenta y triste!

Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.
Mi sed, mi ansia sin límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito.






Vinícius de Moraes (Brasil)


Soneto de la desesperación



De repente la risa se hizo llanto,
silencioso y blanco como la bruma;
de las bocas unidas se hizo espuma,
y de las manos dadas se hizo espanto.

De repente la calma se hizo viento
que de los ojos apagó la última llama,
y de la pasión se hizo el presentimiento
y del momento inmóvil se hiso el drama.

De repente, no más que de repente,
se volvió triste lo que fuera amante,
y solitario lo que fuera contento.

El amigo próximo se hizo distante,
la vida se volvió una aventura errante.
De repente, no más que de repente






Mario Benedetti (Uruguay)


Asunción de tí

1

Quién hubiera creído que se hallaba
sola en el aire, oculta,
tu mirada.
Quién hubiera creído esa terrible
ocasión de nacer puesta al alcance
de mi suerte y mis ojos,
y que tú y yo iríamos, despojados
de todo bien, de todo mal, de todo,
a aherrojarnos en el mismo silencio,
a inclinarnos sobre la misma fuente
para vernos y vernos
mutuamente espiados en el fondo,
temblando desde el agua,
descubriendo, pretendiendo alcanzar
quién eras tú detrás de esa cortina,
quién era yo detrás de mí.
Y todavía no hemos visto nada.
Espero que alguien venga, inexorable,
siempre temo y espero,
y acabe por nombrarnos en un signo,
por situarnos en alguna estación
por dejarnos allí, como dos gritos
de asombro.
Pero nunca será. Tú no eres ésa,
yo no soy ése, ésos, los que fuimos
antes de ser nosotros.
Eras sí pero ahora
suenas un poco a mí.
Era sí pero ahora
vengo un poco a ti.
No demasiado, solamente un toque,
acaso un leve rasgo familiar,
pero que fuerce a todos a abarcarnos
a ti y a mí cuando nos piensen solos.

2

Hemos llegado al crepúsculo neutro
donde el día y la noche se funden y se igualan.
Nadie podrá olvidar este descanso.
Pasa sobre mis párpados el cielo fácil
a dejarme los ojos vacíos de ciudad.
No pienses ahora en el tiempo de agujas,
en el tiempo de pobres desesperaciones.
Ahora sólo existe el anhelo desnudo,
el sol que se desprende de sus nubes de llanto,
tu rostro que se interna noche adentro
hasta sólo ser voz y rumor de sonrisa.


3

Puedes querer el alba
cuando ames.
Puedes
venir a reclamarte como eras.
He conservado intacto tu paisaje.
Lo dejaré en tus manos
cuando éstas lleguen, como siempre,
anunciándote.
Puedes
venir a reclamarte como eras.
Aunque ya no seas tú.
Aunque mi voz te espere
sola en su azar
quemando
y tu dueño sea eso y mucho más.
Puedes amar el alba
cuando quieras.
Mi soledad ha aprendido a ostentarte.
Esta noche, otra noche
tú estarás
y volverá a gemir el tiempo giratorio
y los labios dirán
esta paz ahora esta paz ahora.
Ahora puedes venir a reclamarte,
penetrar en tus sábanas de alegre angustia,
reconocer tu tibio corazón sin excusas,
los cuadros persuadidos,
saberte aquí.
Habrá para vivir cualquier huida
y el momento de la espuma y el sol
que aquí permanecieron.
Habrá para aprender otra piedad
y el momento del sueño y el amor
que aquí permanecieron.
Esta noche, otra noche
tú estarás,
tibia estarás al alcance de mis ojos,
lejos ya de la ausencia que no nos pertenece.
He conservado intacto tu paisaje
pero no sé hasta dónde está intacto sin ti,
sin que tú le prometas horizontes de niebla,
sin que tú le reclames su ventana de arena.
Puedes querer el alba cuando ames.
Debes venir a reclamarte como eras.
Aunque ya no seas tú,
aunque contigo traigas
dolor y otros milagros.
Aunque seas otro rostro
de tu cielo hacia mí.


terça-feira, 23 de setembro de 2014

23 de Setembro de 1973 - "Da morte renasceremos"

Pablo Neruda



O CARTEIRO E O POETA
(IL POSTINO)






Canto GeneraL




AMÉRICA



El hombre tierra fue, vasija, párpado
del barro trémulo, forma de la arcilla;
fue cántaro caribe, piedra chibcha,
copa imperial o sílice araucana.
Tierno y sangriento fue, pero en la empuñadura
de su arma de cristal humedecido,
las iniciales de la tierra estaban escritas.
Nadie pudo
recordarlas después: el viento
las olvidó, el idioma del agua
fue enterrado, las claves se perdieron
o se inundaron de silencio o sangre.
No se perdió la vida, hermanos pastorales.
Pero como una rosa salvaje
cayó una gota roja en la espesura,
y se apagó una lámpara de tierra




Documental "Yo no voy a morirme"




Discurso de recibimiento del Premio Nobel 1971




Te Amo




Te Amo

Pablo Neruda


Te amo
Te amo de uma maneira inexplicável
De uma forma inconfessável
De um modo contraditório

Te amo
Te amo, com meus estados de ânimo que são muitos
E mudar de humor continuadamente
Pelo que você já sabe
O tempo
A vida
A morte

Te amo
Te amo com o mundo que não entendo
Com as pessoas que não compreendem
Com a ambivalência da minha alma
Com a incoerência dos meus atos
Com a fatalidade do destino
Com a conspiração do desejo
Com a ambiguidade dos fatos
Ainda quando digo que não te amo, te amo
Ate quando te engano, não te engano
No fundo levo a cabo um plano
Para amar-te melhor

Te amo
Te amo sem refletir, inconscintemente
Irresponsavelmente, espontaneamente
Involuntariamente, por instinto
Por impulso, irracionalmente
De fato não tenho argumentos lógicos
Nem sequer improvisados
Para fundamentar esse amor que sinto por ti
Que surgiu misteriosamente do nada
Que não resolveu magicamente nada
E que milagrosamente, pouco a pouco, com pouco e nada
Melhorou o pior de mim

Te amo
Te amo com um corpo que não pensa
Com um coração que não raciocina
Com uma cabeça que não coordena
Te amo
Te amo incompreensivelmente
Sem perguntar-me porque te amo
Sem importa-se porque te amo
Sem questionar-me porque te amo


Te amo
Simplesmente porque te amo
Eu mesma não sei porque te amo.







Un poema de Pablo Neruda declamado por Gian franco Pagliaro...
Todo lo que podriamos decir al amor de nuestra vida, lo expresa muy bien Neruda en este maravilloso poema que le escribio a su adoraba Matilde Urrutia.

Te Amo

Te amo,
te amo de una manera inexplicable,
de una forma inconfesable,
de un modo contradictorio.

Te amo
con mis estados de ánimo que son muchos,
y cambian de humor continuamente.
por lo que ya sabes,
el tiempo, la vida, la muerte.

Te amo…
con el mundo que no entiendo,
con la gente que no comprende,
con la ambivalencia de mi alma,
con la incoherencia de mis actos,
con la fatalidad del destino,
con la conspiración del deseo,
con la ambigüedad de los hechos.

Aún cuando te digo que no te amo, te amo,
hasta cuando te engaño, no te engaño,
en el fondo, llevo a cabo un plan,
para amarte mejor.

Te amo…
sin reflexionar, inconscientemente,
irresponsablemente, espontáneamente,
involuntariamente, por instinto,
por impulso, irracionalmente.

En efecto no tengo argumentos lógicos,
ni siquiera improvisados
para fundamentar este amor que siento por ti,
que surgió misteriosamente de la nada,
que no ha resuelto mágicamente nada,
y que milagrosamente, de a poco, con poco y nada
ha mejorado lo peor de mí.

Te amo,
te amo con un cuerpo que no piensa,
con un corazón que no razona,
con una cabeza que no coordina.

Te amo
incomprensiblemente,
sin preguntarme por qué te amo,
sin importarme por qué te amo,
sin cuestionarme por qué te amo.

Te amo
sencillamente porque te amo,
yo mismo no sé por qué te amo.



domingo, 21 de setembro de 2014

Amorosidade e Luta!

Mercedes Sosa


Nestes tempos de luta (como em outros tempos e as mesmas lutas e os mesmos ódios!) é bom revisitar pessoas amorosas, cantantes, falantes e lutadoras!


Inconsciente colectivo





Inconsciente colectivo
de Charly García.

Nace una flor, todos los días sale el sol
de vez en cuando escuchas aquella voz.
Cómo de pan, gustosa de cantar, en los aleros de mi mente con las chicharras.
Pero a la vez existe un transformador
que te consume lo mejor que tenés
te tira atrás, te pide más y más
y llega un punto en que no querés.
Mamá la libertad, siempre la llevarás
dentro del corazón
te pueden corromper
te puedes olvidar
pero ella siempre está
Mamá la libertad, siempre la llevarás
dentro del corazón
te pueden corromper
te puedes olvidar
pero ella siempre está
Ayer soñé con los hambrientos, los locos,
los que se fueron, los que están en prisión
hoy desperté cantando esta canción
que ya fue escrita hace tiempo atrás.
Es necesario cantar de nuevo,
una vez más.



Paulo Freire


"O amanhã não é uma espera que eu chegue lá. O amanhã tá metido dentro do hoje..."








Eduardo Galeano


El derecho de Soñar


Los desesperados serán esperados y los perdidos serán encontrados porque ellos se desesperaron de tanto esperar y ellos se perdieron por tanto buscar.






¿Qué tal si deliramos por un ratito?


¿Qué tal si clavamos los ojos más allá de la infamia para adivinar otro mundo posible?

El aire estará limpio de todo veneno que no provenga de los miedos humanos y de las humanas pasiones.

En las calles los automóviles serán aplastados por los perros.

La gente no será manejada por el automóvil, ni será programada por el ordenador, ni será comprada por el supermercado, ni será tampoco mirada por el televisor.

El televisor dejará de ser el miembro más importante de la familia y será tratado como la plancha o el lavarropas.

Se incorporará a los códigos penales el delito de estupidez que cometen quienes viven por tener o por ganar, en vez de vivir por vivir no más, como canta el pájaro sin saber que canta y como juega el niño sin saber que juega.

En ningún país irán presos los muchachos que se nieguen a cumplir el servicio militar sino los que quieran cumplirlo.

Nadie vivirá para trabajar pero todos trabajaremos para vivir.

Los economistas no llamarán nivel de vida al nivel de consumo, ni llamarán calidad de vida a la cantidad de cosas.

Los cocineros no creerán que a las langostas les encanta que las hiervan vivas.

Los historiadores no creerán que a los países les encanta ser invadidos.

Los políticos no creerán que a los pobres les encanta comer promesas.

La solemnidad se dejará de creer que es una virtud, y nadie nadie tomará en serio a nadie que no sea capaz de tomarse el pelo.

La muerte y el dinero perderán sus mágicos poderes y ni por defunción ni por fortuna se convertirá el canalla en virtuoso caballero.

La comida no será una mercancía ni la comunicación un negocio, porque la comida y la comunicación son derechos humanos.

Nadie morirá de hambre porque nadie morirá de indigestión.

Los niños de la calle no serán tratados como si fueran basura porque no habrá niños de la calle.

Los niños ricos no serán tratados como si fueran dinero porque no habrá niños ricos.

La educación no será el privilegio de quienes puedan pagarla y la policía no será la maldición de quienes no puedan comprarla.

La justicia y la libertad, hermanas siamesas, condenadas a vivir separadas, volverán a juntarse, bien pegaditas, espalda contra espalda.

En Argentina las locas de Plaza de Mayo serán un ejemplo de salud mental porque ellas se negaron a olvidar en los tiempos de la amnesia obligatoria.

La Santa Madre Iglesia corregirá algunas erratas de las tablas de Moisés y el sexto mandamiento ordenará festejar el cuerpo.

La Iglesia también dictará otro mandamiento que se le había olvidado a Dios, “amarás a la Naturaleza de la que formas parte”.

Serán reforestados los desiertos del mundo y los desiertos del alma.

Los desesperados serán esperados y los perdidos serán encontrados porque ellos se desesperaron de tanto esperar y ellos se perdieron por tanto buscar.

Seremos compatriotas y contemporáneos de todos los que tengan voluntad de belleza y voluntad de justicia, hayan nacido cuando hayan nacido y hayan vivido donde hayan vivido, sin que importe ni un poquito las fronteras del mapa ni del tiempo.

Seremos imperfectos porque la perfección seguirá siendo el aburrido privilegio de los dioses.

Pero en este mundo, en este mundo chambón y jodido seremos capaces de vivir cada día como si fuera el primero y cada noche como si fuera la última.

EDUARDO GALEANO – extracto de “EL DERECHO AL DELIRIO” (texto completo)




Pablo Neruda


Amor América


Antes de la peluca y la casaca
fueron los ríos, ríos arteriales,
fueron las cordilleras, en cuya onda raida
el cóndor o la nieve parecían inmóviles:
fue la humedad y la espesura, el trueno
sin nombre todavía, las pampas planetarias.

El hombre tierra fue, vasija, párpado
del barro trémulo, forma de la arcilla,
fue cantaro caribe, piedra chibcha,
copa imperial o silice araucana.
Tierno y sangriento fue, pero en la empunadura
de su arma de cristal humedecido,
las iniciales de la tierra estaban escritas.

Nadie pudo
recordarlas después: el viento
las olvidó, el idioma del agua
fue enterrado, las claves se perdieron
o se inundaron de silencio o sangre.

No se perdió la vida, hermanos pastorales.
Pero como una rosa salvaje
cayo una gota roja en la espesura
y se apagó una lámpara de tierra.

Yo estoy aquí para contar la historia.
Desde la paz del búfalo
hasta las azotadas arenas
de la tierra final, en las espumas
acumuladas de la luz antártica,
y por las madrigueras despenadas
de la sombría paz venezolana,
te busque, padre mío,
joven guerrero de tiniebla y cobre
o tú, planta nupcial, cabellera indomable,
madre caimán, metálica paloma.

Yo, incásico del legamo,
toqué la piedra y dije:
¿Quién me espera? Y aprete la mano
sobre un punado de cristal vacío.
Pero anduve entre flores zapotecas
y dulce era la luz como un venado,
y era la sombra como un párpado verde.

Tierra mía sin nombre, sin América,
estambre equinoccial, lanza de púrpura,
tu aroma me trepó por las raíces
hasta la copa que bebía, hasta la más delgada
palabra aún no nacida de mi boca.

Cinema (1)

Stromboli 
1950


Ingrid Bergman

Um doce pecado





Sugestão do baitasar para este final de domingo...

Jazz (2)

Art Blakey


A bateria bebop








Art Blakey & Ginger Baker Drum Duo







The Egyptian (1965)
Art Blakey







A Night In Tunisia - 1958
Art Blakey & The Jazz Messengers







I Remember Clifford - 1958
Art Blakey & The Jazz Messengers








Whisper Not - 1958
Art Blakey & The Jazz Messengers







Leverkusen Jazzfest - Oct. 9, 1989
Art Blakey's Jazz Messengers and Special Guests







Moanin
Art Blakey & The Jazz Messengers



sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Histórias de avoinha: Josino - Aguadeiro 09B

Josino

Aguadeiro
Ensaio 09B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar


Não entendi, repete! Vamos, negro... repete!

O aguadeiro escutô o desentendimento dos grito do siô Maria da Cruz e as ideia da cabeça ficô agitada, procurava sabê nas lembrança o qui falô e o qui não falô, o qui devia tê dito ou qui não devia tê dito, ou então... Merda, vai abrí minhas costa de novo.

Pegô o varapau do outro preto e anunciô com o feitio qui pensô sê o certo de dizê

Negro mijando!

Dom Miguel, continuo não entendendo esse aguadeiro que ocê me arrumou. Ele carece de ser melhor ensinado, o ajudante das ordem do capitão abriu a melhó gargalhada sinistra. O aguadeiro já sentia os lanho antes dele acontecê. O capitão Maria da Cruz deu dois passo na direção do preto com a tina nas mão, curvô as costa pra frente, inté chegá perto do aguadeiro. Daí fez a voz tão suave e quieta qui o aguadeiro parô de respirá pra modo de podê escutá e tê a maió presteza nas palavra

Escuta bem, neguinho. Eu vou explicar só mais uma vez. Escravo fujão não é gente... é macaco, o capitão juntô pra mais perto a voz, o aguadeiro sentiu a fedentina podre qui parecia com as palavra do capitão, essa negrada tá acorrentada porque imaginou que podia viver num lugar só de negro sem prestar juízo por terem fugido. Não podem e nunca vão poder, entendeu? Ocês têm dono e quem tem dono não se governa.

As mão do aguadeiro segurava firme a tina qui tremia toda. Inclinô a cabeça pra baixo, fez assim uma, duas, três vez, pra confirmá qui tinha entendido. Largô um e pegô o seguinte

Macaco mijando...

Não escutei direito o aguadeiro, dom Miguel. Esse negro deve estar com a língua estragada, o ajudante das ordens parô de arrastá, mais continuô agarrado nos pé do desacordado, ele gostava da conveniência de amedrontá

Capitão, acho melhor arrancar a língua do negro...

Macaco mijando!

Tudo qui era branco riu alto. O Josino qui espiava, não riu. Ele mijô nas calça. Inté a lua se encafurnô envergonhada. Os varapau com as tocha foi enfiado nas areia. Elas fazia brilhá o ódio e desescondê o pavô. Ele aprendeu qui tinha qui gritá. Fez mais um serviço e mais otro. O aguadeiro passô da mulhé acorrentada como se ela não tivesse ali. As tira do chicote estalô do seu lado

As macacas, também!

Ele voltô inté a mulhé. Colocô a tina entre as perna da preta acorrentada. Ela não lhe oiô. Dobrô os joelho. O aguadeiro ergueu as vista e oiô as água qui caia da lua. Oiá chorava e as água do choro descia na tina

Macaca mijando!

O capitão Maria da Cruz mostrô seu riso de maió alegria, parecia um professô se alegrando do qui ensinô: um punhado de desnecessidades.

E desse feitio foi o serviço do aguadeiro. Depois do último preto perfilado pelo pescoço tê abarrotado a tina, foi a vez do aguadeiro

Macaco aguadeiro mijando!

Ele voltô inté o capitão-do-mato com a tina quase cheia. Parô na frente do Maria da Cruz, mais com o cuidado de continuá com o feitio de não tê vida

Deixe-me ver... Muito bom, mas não encheu como eu quero, o vapô da quentura do mijo parecia fazê uma nuvem de chuva, dom Miguel, se essa porcaria valer alguma coisa, essa negrada vai ter mais valor comigo.

Chamô o sargento

Pronto, capitão!

Desague na tina, não tá do jeito que eu quero.

Mas sinhô, misturá o meu com o mijo dessa negrada...

O capitão colocô o braço nos ombro do mestiço, lhe falô quase ao pé do ouvido. Uma conversa de pai pra fio

Meu filho, tá faltando mais dessa água de benzedura curativa dos negro na tina...

Mas por que eu, sinhozinho?

Não se pode dizer que o seu é mijo de branco. O seu pode ser misturado com o dos macacos, o sargento era cumpridô das ordem, mais aquela lhe pareceu uma obrigação em demasia, não se entristeça, sargento.

O cumpridô das ordem foi inté a tina e ajudô o volume com o qui saiu da bexiga. Tinha perdido o brilho das vista, parecia tê encontrado com algum embaraço. O aguadeiro não se atreveu anunciá nada.

O capitão oiô o aguadeiro e ordenô

Joga!

O aguadeiro não entendeu, na dúvida, sempre ficava parado. Aguardô o reforço da ordem

Joga no fujão! Quero esse macaco acordado!

O aguadeiro continuô parado. O ajudante aproximô do preto sem nome, conhecido como aguadeiro, e gritô, mais não tão alto como os grito do siô Maria da Cruz

Ocê não ouviu, negro! Está esperando mais o quê? As ordens por escrito?

O capitão colocô as mão nas costa de dom Miguel, soltô seu sorriso de compreensão e mais ternura pra falá no limite do divertimento

E negro sabe ler, dom Miguel?

Os dois oiavam um no otro, um feitio qui fez desconfiança de rivalidade no sargento, Eles é que sabem ler e fazer conta no papel, mas é a minha empunhadura firme com as tiras de couro trançada que faz a diferença.

Joga!

O aguadeiro jogô.

Precisô jogá. O capitão Maria da Cruz aproximô do negro acordado. Nenhum gemido. Esse jeito desaforado do preto atiçô ainda mais os ódio do capitão. Otro pontapé forte, mais otro, as batida tava descontrolada, era o seu feitio de atacar o silêncio

Esse é para o macaco gemer com vontade, não gemeu, foi um homem maió qui os grito e as raiva qui o capitão jogava nele. Não lamentô da dô, resistiu aos gemido e suspiro. Resistí a dô era mostrá mais qui a falta de lamentação, era dizê qui o branco não podia tudo, tinha lugá qui o branco não entrava. Entre os dois só podia tê um homem e o silêncio se encarregava de mostrá a verdade. Ele não lamentô a dô, continuô onde foi largado desacordado.

Estendido no chão das terra perto da Arsenal, oiando a própria morte, as mão amarrada nas costa.

Dois da tropa do capitão levô os negro acorrentado inté mais perto das água da Arsenal, quando ainda não era Arsenal

Capitão Maria!

O que foi, sargento?

Tô achando que hoje, nenhum negro dorme depois de assistí o corretivo, vão pensá melhor antes de planejá alguma fuga, o sargento daquela milícia de catação e apresamento, se dava no feitio de escolhê matá ou não matá os preto qui fugia. Era o homem qui cumpria as ordem qui depois qui era dada precisava sê cumprida. Fazia questão de sê o primeiro a entrá no esconderijo dos preto e o qui saia depois do serviço completo. Um sargento mestiço. Era otro pardo desamparado do cuidado desde criança, solto pra escolhê os caminho no feitio qui precisava pra vivê. Gostava de repetí qui a sua salvação foi o dia qui o capitão lhe achô. Aprendeu a respeitá autoridade. Gabava qui também aprendeu não tê pena nem dó. Deu uns passo pra frente e oiô no seu redô. Puxô pelo faro. Tudo tava tranquilo, a milícia cuidava dos preto e carregava a tocha qui desenfiô das terra.

Um quis aprendê, o otro quis ensiná.

Se ocê quiser continuar desemburrando é só obedecer. Ocê foi muito bem na ação de hoje.

Obrigado, capitão, ele deixô de sê o menino atirado nas ruas e nos mato, mais continuava oiando nas mão do Maria da Cruz o punhado de coisa pra acreditá e obedecê, o sinhô tá de conhecimento que gosto de mostrá aos homens como se faz. O meu apetite é entrá primeiro no covil da negrada e sê o último que sai. O sinhô sabe que o melhoramento do jeito de ensiná é mostrá como fazê. Ensiná pelo exemplo, o sargento gostava de ensiná acatamento.

O menino Josino escondia as vista e a pele negra, o mato da beirada do rio não lhe mostrava. Queria saí, mais não conseguia. Não podia abandoná de vê aquela maldade. Foi ali, naquela noite, enfiado metade peixe e a otra metade homem, qui ele descobriu qui a brutalidade, a estupidez e a selvageria empunhava a chibata, guardava as chave das corrente e não tinha medo das lei feita pra protegê as mercadoria dos branco: os preto. Havia de contá o qui oiava... recontá e de novo contá, inté um branco sem maldade escutá, alguém sem destemô pra ajudá. Desviô as vista pro lado, tava assustado. As luz da Villa tinha desaparecido. Viu o padre no lugá qui ainda ia tê o pelourinho de pedra, apegado na cruz. Um urubu oiava de longe, pousado na árvore dos enforcado. Um espiava, otro rezava enquanto as luz da Villa esperava.

O menino chorava o assombramento qui não ia nunca se apagá nem lhe deixá: a perversão da crueldade e a fúria qui a iluminura tolerante das tocha não conseguia escondê. A indiferença com a dô do otro. O sargento qui tinha se afastado pra examiná o desacordado voltô inté o Maria da Cruz

Capitão!

Espera, sargento, o capitão examinava as carne da negra Peneira, mulhé do desacordado. Tava com as mão na saúva, tateava as carne, solta essa...

Empurrô a mulhé preta no chão e mandô qui ficasse de quatro

Fica como uma cadela negra! Assim, bem assim, a cadelinha do capitão. Pronto, já podem coloca a corrente de volta, subiu as vestimenta das perna inté a cintura e uivo como um lobo

Tudo pronto, dom Miguel?

Tudo pronto, capitão.

Como um comandante imperial passô revista na tropa acorrentada, num qui otro bateu com o cabo da chibata, mirava no varapau da virilha

Quando voltarem para o catre, cada negro terá o que lembrar e contar, ninguém mexia as vista, cada preto respirava bem pouquinho

Tragam aqui... esse fujão!




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Aguadeiro 3
Ensaio 25B – 2ª edição 1ª reimpressão


León Felipe (España)

Los Poetas del Amor (8)



Como tú...

Así es mi vida,
piedra,
como tú. Como tú,
piedra pequeña;
como tú,
piedra ligera;
como tú,
canto que ruedas
por las calzadas
y por las veredas;
como tú,
guijarro humilde de las carreteras;
como tú,
que en días de tormenta
te hundes
en el cieno de la tierra
y luego
centelleas
bajo los cascos
y bajo las ruedas;
como tú, que no has servido
para ser ni piedra
de una lonja,
ni piedra de una audiencia,
ni piedra de un palacio,
ni piedra de una iglesia;
como tú,
piedra aventurera;
como tú,
que tal vez estás hecha
sólo para una honda,
piedra pequeña
y
ligera...






Atahualpa Yupanqui (Argentina)





Caminito del indio


Caminito del indio,
sendero coya
sembrado de piedras.
Caminito del indio
que junta el valle
con las estrellas.

Caminito que anduvo
de sur a norte
mi raza vieja
antes que en la montaña
la Pachamama
se ensombreciera.

Cantando en el cerro
llorando en el río,
se agranda en la noche
la pena del indio.

El sol y la luna
y este canto mío
besaron sus piedras,
camino del indio.

En la noche serrana
llora la quena
su honda nostalgia.

Y el camino sabe
cuál es la coya
que el indio llama.
Se levanta en la noche
la voz doliente
de la baguala.
Y el camino lamenta
ser el culpable
de la distancia.






León Felipe (España)


Credo

Aquí estoy...
En este mundo todavía... Viejo y cansado... Esperando
a que me llamen...
Muchas veces he querido escaparme por la puerta maldita
y condenada
y siempre un ángel invisible me ha tocado en el hombro
y me ha dicho severo:
No, no es la hora todavía... hay que esperar...
Y aquí estoy esperando...
con el mismo traje viejo de ayer,
haciendo recuentos y memoria,
haciendo examen de conciencia,
escudriñando agudamente mi vida...
¡Qué desastre!... ¡Ni un talento!... Todo lo perdí.
Sólo mis ojos saben aún llorar. Esto es lo que me queda...
Y mi esperanza se levanta para decir acongojada:
Otra vez lo haré mejor, Señor,
porque... ¿no es cierto que volvemos a nacer?
¿No es cierto que de alguna manera volvemos a nacer?
Creo que Dios nos da siempre otra vida,
otras vidas nuevas,
otros cuerpos con otras herramientas,
con otros instrumentos... Otras cajas sonoras
donde el alma inmortal y viajera se mueva mejor
para ir corrigiendo lentamente,
muy lentamente, a través de los siglos,
nuestros viejos pecados,
nuestros tercos pecados...
para ir eliminando poco a poco
el veneno original de nuestra sangre
que viene de muy lejos.
Corre el tiempo y lo derrumba todo, lo transforma todo.
Sin embargo pasan los siglos y el alma está, en otro sitio...
¡pero está!
Creo que tenemos muchas vidas,
que todas son purgatorios sucesivos,
y que esos purgatorios sucesivos, todos juntos,
constituyen el infierno, el infierno purificador,
al final del cual está la Luz, el Gran Dios, esperándonos.
Ni el infierno... ni el fuego y el dolor son eternos.
Sólo la Luz brilla sin tregua,
diamantina,
infinita,
misericordiosa,
perdurable por los siglos de los siglos...
Ahí está siempre con sus divinos atributos.
Sólo mis ojos hoy son incapaces de verla...
estos pobres ojos que no saben aún más que llorar.


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

"Sou simplesmente como você"

Indiferença









Sérgio SAL



"Como definir esse filme? É uma pintura da natureza humana ou, se preferirem, um livro expresso em película retratando os dramas, os temores e as diversas circunstâncias que orientam e determinam o agir humano. Traz como protagonista um PROFESSOR e sua didática alternativa para seus alunos momentâneos e problemáticos. Mas não se resume apenas a isso - o que já seria um grande tema - vai além: aborda cruamente os fatos diretores de cada ser nas transações do dia a dia, em seus inte-relacionamentos, dos mais frugais aos mais intrincados.

Na visão do existencialismo, no qual a obra é exposta, o ponto de partida do indivíduo é caracterizado pelo que se tem designado por "atitude existencial", ou uma sensação de desorientação e confusão face a um mundo aparentemente sem sentido e absurdo, o que pode denotar, a toda vista e num olhar superficial, um filme deprimente e de desesperança, o que não é verdade: a obra buscou o facho de luz no meio do caos. Caos que a maioria não vê, seja porque não quer, seja pelo "emburrecimento" a que foi e é levada todos os dias.

É, em síntese, uma verdadeira visão de nosso cotidiano, em que muitos sequer sabem de sua não-existência e preferem continuar simulando passageiras e entorpecidas felicidades, enquanto outros alcançam uma autoconsciência, que não obstante e às vezes desesperadora, abrem as portas para um verdadeiro sentido para vida. Essa observação remete ao clássico conto de Luís fernando Veríssimo, FINITUDE, que, engraçado, trata do mesmo tema de uma forma cômica. Enfim, trata-se, na verdade, da verdadeira condição humana e de seu verdadeiro fim último.

Outra obra de arte!"

domingo, 14 de setembro de 2014

Se pudesse rezar

Um tempo possível


Num mundo transtornado
vivo o melhor dia da minha vida
porque estou vivo ainda!
De quantos mundo tenho escapado?
Acaso
ou seria o teu descaso?
Num homem transformado
vivo a melhor vida do meu dia
com muito humor,
queria que fosse alegria.
Mas a quantos mundo tenho voltado?
Descaso, sinto o teu acaso
com a minha vinda.
Num sonho transportado
em vidas que não são minhas
corro atrás enquanto caminhas.




As chaves


Se pudesse rezar
pediria
Senhor, faz um homem amigo
e filhos com corações de amor,
guarda na mulher as chaves
todas
e te revela a mais bela delas.

baitasar

Jazz (1)

John Coltrane


Sax tenor


Alabama




So What
Miles Davis John Coltrane




Impressions
John Coltrane Quartet




Spiritual
John Coltrane




Love
John Coltrane



in Jazz Casual
John Coltrane Quartet




1965

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Histórias de avoinha: Josino - Aguadeiro 08B

Josino

Aguadeiro
Ensaio 08B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



Já ia bem tarde o fim do dia quando Josino chegô na Villa, vindo da fazenda Humaitá. Foi direto ao porão na Casa dos Lampião, precisava dá descanso pras carne qui cobria a juntura dos osso. As perna é qui sofria os desregramento daquela caminhada de dia inteiro, inda mais qui ele não gostava de usá a trilha já feita e de uso dos caminhante caminhadô. Tinha o costume de fazê o próprio caminho. Inventá distração e conhecimento na distância qui separava as terra da Humaitá inté a Villa.

Não achô na sua vontade e, por certo, nem no capricho do padre, nenhuma necessidade de avisá da sua chegada. O siô padre já devia tê se retirado pras reza de salvamento dos branco, não havia de tê ganho e utilidade recebê um preto ardido e cansado. Naquelas horas do escurecimento os preto só assustava. Dava os cumprimento do siô Clemente no dia depois.

Baixô as vista inté os pé, eles dava aviso qui tinha cansado de levá e trazê sua corpulência pelos caminho da Villa e da Humaitá. As vista servia de guiamento, o faro avisava os cheiro do costume, a escutação alertava os barulho estranho e as mão ajudava apoiá aqui e ali, mais era os pé qui fazia as estrada se mexê.

Sentô no chão da terra. Dobrô um dos joelho e agarrô o pé inté ele ficá acomodado no otro joelho. Precisava arrancá os ferrão do mato. Os embaraço dos gáio caído, os aguilhão qui ficava escondido embaixo de cada pegada qui deixava marcada com sangue vermêio. As trilha nova qui fazia experimentava com o próprio sangue. Só ele estudava os caminho qui não tinha, mais esse era seu tino, gostava de podê escolhê onde pisava.

Algum dos pedaço fincado tirô, um qui otro deixô, tudo coisa com desimportância. A dô qui mais importava não conseguia arrancá, ela queimava sempre, provocava o desassossego de tê qui fugí sem tê pra onde, Vivê embaraçado nos branco não é vivê, mais uma, duas ou três morte profundamente cansativa. Não tem alegria, não tem graça, não tem cantoria. Eles só têm maldade, parece qui eles odeia todo mundo, mais finge qui gostá de todo mundo. Eles não cospe fogo, vomita fumaça, o Josino fechô as vista pra modo de pará com aquele modo de pensá.

Trocô o pé da limpeza e fez exame com as vista molhada, puxô um qui otro resmungo junto com os ferrão do mato. A carne preta havia de comê os estorvo espinhoso qui ficô.

Sentiu vontade de refrescá o couro. Saiu do porão como entrô: secreto. Ninguém lhe viu entrá nem reparô qui saiu. Preto caminha camuflado na escuridão. Encoberto. Inté pode existí, mais tem forma de sombra. É como tá invisível, dormí e não sonhá. Não tê nem o sonho pra vivê.

Josino não sonhava inté qui teve Milagres na pedra do amô. E, pela primeira vez, conseguiu lembrá o qui sonhô, A minha preta tinha se feito com cera, queria ficá disfarçada numa vela pra iluminá os caminho dos pé fugidiço. A cada vez qui eu colocava fogo na vela, oiava a claridade dos caminho da viagem. Mais Milagres se derramava a cada pouco na vela derretida. Não podia tê as duas. Acordava trombudo do sonho.

Ele pedia qui não queria sonhá, mais não resolvia. O sonho ia durá inda muito tempo. A vela derretida, os preto acorrentado e ele um estranho envergonhado no próprio sonho. Um tempo terrível, tudo na mais perfeita ordem: escravo e siô. Um homem preto qui sustentava o homem branco com a força dos braço. Era preciso sê forte. Ninguém foi mais forte qui esse homem preto. Ninguém foi mais perverso e cruel qui esse homem branco.

Chegô no rio e mergulhô.

Gostava de entrá nas água, mais escolhia as qui ficava mais afastada da Arsenal. Não tinha simpatia pelo Largo da Forca. Ficô enfiado nas água fria, longe do Largo. A água inté a cintura. Ele e mais ninguém no meio da escuridão molhada, entranhado com a sola dura dos pé no lodo. Podia não sê, e não era, mais parecia livre. Gostava das noite quando ficava ajuntado com Milagres, A linha d’água dela na cintura me dava uma vontade maluca de mergulhá e subí com a cara marcada com o amô melado da muié encantada.

A saudade ficava danada e esperá incomodava, agitava o dormí. Assanhava o sono. O siô padre não usava nos trabaidô escravizado da obra santa as corrente de fazê dormí. O siô Clemente aceitô assim, sabia qui o Josino não fugia sem Milagres. Os canela preta agradecia aquela tolerância desacorrentada. Josino mergulhô nas água do rio e subiu, passô as mão na cara marcada. Teve vontade de gritá o grito mais forte qui aquelas água já escutô. Oiô a barriga da lua pendurada igual a rede de Oiá boiando nas estrela. Continuava cismado com o feitiço da saudade, Essa preta me tira o amansá e finge qui não sabe qui me tira o sossego. Fingindo de inocente. Ah, muié dos meu encantamento!

Se Josino pudesse dava a terra mais o céu e esse rio pra mulhé qui lhe despertô o milagre do amô. Levava Milagres pras terra dos preto livre, Elas deve existí em algum lugá. Ali, não era um lugá de vivê com serenidade e descanso, Milagres, ocê tá no coração desse preto dum feitio qui não quero mais ninguém, só tu. Quero sê só de ocê.

Ele não sabia se as água nos óio era do rio ou se as água do rio nascia dos óio. Uma abarrotava com a otra

Saia dessas águas, negro safado!

Não deu tempo de obedecê ou desobedecê. A trança de couro firmada no cabo pela mão apressada do jovem pirata com o ôio verde andô sobre as água, alcançô o Josino e bateu uma, duas, depois três, não escolheu lugá pra acertá. O inesperado da dô fez o Josino gritá num feitio implacável e feroz qui assustô o siô

Cuidado, Capitão! Não me estrague a mercadoria. Não quero o negro desarranjado para o uso, o fio do siô Clemente com a escrava Rita tinha o distintivo do pai numa vista e a marca da mãe na otra vista, carregava os dois mundo num feitio de ódio qui só cabia nele. Um ôio verde e um ôio preto. Não conseguia entrá no mundo branco qui não queria ele: o mestiço sem pai, o fio da negra Rita. Não queria entrá no mundo da mãe qui só apanhava. Queria prová, a cada pouco, o seu amô pelo mundo do pai. Recolheu com contragosto o cipó do boi. No seu feitio de vê, o preto Josino precisava de mais corretivo

Sinhô, assim a negrada fica manhosa...

Perto dali, entre a Arsenal e o Largo da Forca, depois do pelourinho, num otro tempo, num otro prazo de vida, o menino Josino viu otro preto recebê nas carne o açoite qui lhe fazia cortá em tira as costa, mais nenhum dos homem branco qui lhe batia arrancô um grito do coitado.

O capitão-do-mato Maria da Cruz parô cansado de batê sem resultado, queria ouví os gemido do negro. Mandô cortá uma tira de cada lado do rabo de saúva do negro acorrentado. O ajudante das suas ordenação lhe obedecia com rigô e cuidado, mais não escondia as expressão de prazê e os riso

É preciso prudência de desinfetar com salmoura e pimenta, depois é preciso estancar a sangria com pólvora e brasa. Ocê escutô, dom Miguel?

O capitão Maria da Cruz gostava de dá algum título de nobreza aos ajudante mais chegado e competente. Assim, ele tinha o seu pequeno reinado de terrô mais a sua milícia

Sim, meu capitão!

O tormento da descontaminação ia pegá o negro desmaiado. O capitão mandô acordá o negro

Acorda o negro! O safado precisa saber que vai ter os cuidados da salmoura avermelhada mais as ervas mágicas do nosso amigo, dom Miguel.

O ajudante das ordenação do capitão se aproximô do desacordado, dobrô os joelho e deu grito no ouvido desatencioso

Acorda, negro fujão!

O corpo do escravo não obedecia os grito do ajudante. O capitão veio vê de perto a encenação do negro. Chutô as costa do desacordado. Nenhum gemido, nenhuma cara de dô. Deu dois passo pra trás e chamô

Aguadeiro!

O negro qui cuidava de levá água pros negro se apresentô. Ficô parado na frente do capitão, as vista enfiada no chão e a tina da água em uma das mão. Cuidava de respirá devagá pra não incomodá o capitão com o seu alento do fôlego

Joga fora a água da tina!

O negro lançô a água da tina no chão da terra, não tinha atrevimento de oiá pra cima, continuava com os óio enfiado no soalho de terra, tremia mais qui as vara verde qui é chacoalhada com força nas criança negra

Ocês e o fujão vão dormir com sede, o aguadeiro continuava como uma estaca afundada no chão, sem feitio de tê vida, desamparado, quebrado

Agora, ocê recolhe no lugar da água o mijo malcheiroso dos macacos... é pra já! Quero a tina cheia, o aguadeiro correu na direção dos negro acorrentado no pescoço, as mão atada com corda nas costa. Um no lado do otro, parecia tropa de soldado preto. Eles precisava desaguá na tina

O macaco que se negar vai receber o mesmo tratamento da castelhanada aprisionada, os preto agarrado pelo pescoço com as corrente, colocado lado a lado, como as tropa de soldado qui vai sê fuzilada, precisava enchê a tina pra tê feitio de fugì de mais crueldade e selvageria.

O aguadeiro ajoelhado pegava o varapau das virilha de cada escravo e enfiava na tina, ordenhava inté escutá o derrame e anunciava

Tá mijando!




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Poesia africana: Agostinho Neto (Angola)

Poesia Africana  - 01




O Choro de África

O choro durante séculos
nos seus olhos traidores pela servidão dos homens
no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticas
nos batuques choro de África
nos sorrisos choro de África
nos sarcasmos no trabalho choro de África

Sempre o choro mesmo na vossa alegria imortal
meu irmão Nguxi e amigo Mussunda
no círculo das violências
mesmo na magia poderosa da terra
e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas
e das hemorragias dos ritmos das feridas de África

e mesmo na morte do sangue ao contato com o chão
mesmo no florir aromatizado da floresta
mesmo na folha
no fruto
na agilidade da zebra
na secura do deserto
na harmonia das correntes ou no sossego dos lagos
mesmo na beleza do trabalho construtivo dos homens

o choro de séculos
inventado na servidão
em historias de dramas negros almas brancas preguiças
e espíritos infantis de África
as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas

o choro de séculos
onde a verdade violentada se estiola no circulo de ferro
da desonesta forca
sacrificadora dos corpos cadaverizados
inimiga da vida

fechada em estreitos cérebros de maquinas de contar
na violência
na violência
na violência

O choro de África é um sintoma

Nos temos em nossas mãos outras vidas e alegrias
desmentidas nos lamentos falsos de suas bocas - por nós!
E amor
e os olhos secos.





Yolanda Marazzo (Cabo Verde)

Contraste

A minha alma trema em tuas mãos
debruçada na varanda desta tarde

Silêncio da cor em teus contornos
o adeus do mar dentro de mim

Para além do ilhéu dos pássaros da ilha
o sol morre aos poucos devagar

A minha alma treme em tuas mãos
debruçada na varanda desta tarde

Vejo os barcos ao longe na baía
as lanchas negras dos trabalhadores
a torre da capitania ao lusco-fusco

Lentamente uma a uma na cidade
vão acendendo as luzes da cidade

Na fábrica de bolacha do Matos
na padaria do Jonas depois

Só no cemitério ao lado é tudo escuro...

Branqueiam ainda as campas dos mortos
e os nomes vou ler à hora do sol
mas agora fazem medo à minha infância

Em casa dos meus vizinho perto
nh´ugénia de Sena e nhã Nê Grande
acenderam os candeeiros de petróleo





Mia Couto (Moçambique)



Poema da despedida

Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.


Éle Semog (Brasil)

Poetas Negros (1)



Eu e o não eu


Eu nessa minha parcimônia,
vestida com escancarada elegância,
jamais hei de ocultar tão evidentes,
a tribo, o atabaque, o axé,
o orixá, o ori, o ancestral.

Eu e a minha carapinha cheia de bochicho,
minha erva de guiné, minha aroeira,
meu samba no pé e outras literaturas.

Eu nessa parcimônia vestida com toda a vida
e seus acontecimentos,
nem só por um momento quero me perder dessa cor.

O não eu, o outro. Tão fino, tão delicado,
chega a me deixar tonto, encabulado,
com seu vampirismo, seus diabos, suas taras...

Tão racional e exótico nas cerimônias,
esse outro, estranho outro,
faz buracos no céu da Terra,
sente prazer, se lambuza com as guerras,
pensa que respirar é um estorvo,
prende os gestos ao corpo, e berra, e berra, e berra.
Tudo por falta de melanina.




Cruz e Sousa (Brasil)



Afra


Ressurges dos mistérios da luxúria,
Afra, tentada pelos verdes pomos,
Entre os silfos magnéticos e os gnomos
Maravilhosos da paixão purpúrea.

Carne explosiva em pólvoras e fúria
De desejos pagãos, por entre assomos
Da virgindade--casquinantes momos
Rindo da carne já votada a incúria.

Votada cedo ao lânguido abandono,
Aos mórbidos delíquios como ao sono,
Do gozo haurindo os venenosos sucos.

Sonho-te a deusa das lascivas pompas,
A proclamar, impávida, por trompas,
Amores mais estéreis que os eunucos!






quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Frederico García Lorca (España)

Los Poetas del Amor (7)



Zorongo

Las manos de mi cariño
te están bordando una capa
con agremán de alhelíes
y con esclavina de agua.

Cuando fuiste novio mío,
por la primavera blanca,
los cascos de tu caballo
cuatro sollozos de plata.

La luna es un pozo chico,
las flores no valen nada,
lo que valen son tus brazos
cuando de noche me abrazan.
lo que valen son tus brazos
cuando de noche me abrazan.




Gabriela Mistral (Chile)

Besos

Hay besos que pronuncian por sí solos
la sentencia de amor condenatoria,
hay besos que se dan con la mirada
hay besos que se dan con la memoria.

Hay besos silenciosos, besos nobles
hay besos enigmáticos, sinceros
hay besos que se dan sólo las almas
hay besos por prohibidos, verdaderos.

Hay besos que calcinan y que hieren,
hay besos que arrebatan los sentidos,
hay besos misteriosos que han dejado
mil sueños errantes y perdidos.

Hay besos problemáticos que encierran
una clave que nadie ha descifrado,
hay besos que engendran la tragedia
cuantas rosas en broche han deshojado.

Hay besos perfumados, besos tibios
que palpitan en íntimos anhelos,
hay besos que en los labios dejan huellas
como un campo de sol entre dos hielos.

Hay besos que parecen azucenas
por sublimes, ingenuos y por puros,
hay besos traicioneros y cobardes,
hay besos maldecidos y perjuros.

Judas besa a Jesús y deja impresa
en su rostro de Dios, la felonía,
mientras la Magdalena con sus besos
fortifica piadosa su agonía.

Desde entonces en los besos palpita
el amor, la traición y los dolores,
en las bodas humanas se parecen
a la brisa que juega con las flores.

Hay besos que producen desvaríos
de amorosa pasión ardiente y loca,
tú los conoces bien son besos míos
inventados por mí, para tu boca.

Besos de llama que en rastro impreso
llevan los surcos de un amor vedado,
besos de tempestad, salvajes besos
que solo nuestros labios han probado.

¿Te acuerdas del primero...? Indefinible;
cubrió tu faz de cárdenos sonrojos
y en los espasmos de emoción terrible,
llenáronse de lágrimas tus ojos.

¿Te acuerdas que una tarde en loco exceso
te vi celoso imaginando agravios,
te suspendí en mis brazos... vibró un beso,
y qué viste después...? Sangre en mis labios.

Yo te enseñé a besar: los besos fríos
son de impasible corazón de roca,
yo te enseñé a besar con besos míos
inventados por mí, para tu boca.




Mario Benedetti (Uruguay)


Allende
Para matar al hombre de la paz
para golpear su frente limpia de pesadillas
tuvieron que convertirse en pesadilla
para vencer al hombre de la paz
tuvieron que congregar todos los odios
y además los aviones y los tanques
para batir al hombre de la paz
tuvieron que bombardearlo hacerlo llama
porque el hombre de la paz era una fortaleza

para matar al hombre de la paz
tuvieron que desatar la guerra turbia
para vencer al hombre de la paz
y acallar su voz modesta y taladrante
tuvieron que empujar el terror hasta el abismo
y matar más para seguir matando
para batir al hombre de la paz
tuvieron que asesinarlo muchas veces
porque el hombre de la paz era una fortaleza

para matar al hombre de la paz
tuvieron que imaginar que era una tropa
una armada una hueste una brigada
tuvieron que creer que era otro ejército
pero el hombre de la paz era tan sólo un pueblo
y tenía en sus manos un fusil y un mandato
y eran necesarios más tanques más rencores
más bombas más aviones más oprobios
porque el hombre del paz era una fortaleza

para matar al hombre de la paz
para golpear su frente limpia de pesadillas
tuvieron que convertirse en pesadilla
para vencer al hombre de la paz
tuvieron que afiliarse para siempre a la muerte
matar y matar más para seguir matando
y condenarse a la blindada soledad
para matar al hombre que era un pueblo
tuvieron que quedarse sin el pueblo.



segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Café Musical

Pina Bausch







Dead Can Dance





Orfeu e Eurídice





Sagração da Primavera





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Documentário sobre Pina Bausch


domingo, 7 de setembro de 2014

Histórias de avoinha: Josino - A vingança é uma comida que precisa ser servida fria 07B

Josino

A vingança é uma comida que precisa ser servida fria
Ensaio 07B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar


A preta subiu as vista na siá Casta. A mulhé branca continuava parada no meio do quarto de dormí com o seu feitio de vestida pro banho. Parecia engaiolada, mesmo com toda sua belezura. E quando tem belezura, inté os trabáio mais desasseado parece qui dá mais capricho de fazê. As duas parada, na frente uma da otra, pensando em acordá da imaginação e descobrí qui não é mais escrava, mais com raiva de sabê qui ninguém vai devolvê os dia e as noite desencaminhado

Siá Casta... a água vai desamorná e perdê as qualidade da quentura, a siá pareceu acordá dum sonho qui não parecia sê bão, os óio bem decotado, a boca retorcida, como se um gosto ruim lhe tivesse subido das entranha inté chegá na língua

A vingança é uma comida que precisa ser servida fria, a mucamba escutô silenciosa, achô qui precisava ficá na sua quietude, longe do desassossego da mulhé branca com seu espírito tumultuoso de dona de tudo, controladora de toda gente preta qui comprô. Gente assim não cansa de se serví, só vê qui as coisa e os preto existi pra deixá elas mergulhada na felicidade, vez qui otra, elas diz alguma palavra sem importância com um vaporoso afago na cabeça, apenas uma tentativa de enchê os momento sem castigo, injúria ou tarefa

Tudo bem, Grabiela, a mucamba escutô de novo na boca da siá o seu nome do batizado remexido, mais não disse nada, continuô escutando, o sinhô me fez uso como sua mulher, quem sabe se a minha barriga bem amornada consegue segurar e fazer brotar a sementinha do sinhô meu marido, baixô as vista nas duas mão qui acarinhava o centro das entranha, misturava no seu feitio de oiá a sua vergonha e a culpa de não sê uma terra de fertilidade, um lugá apropriado e bão de fazê os fio qui o siô esperava tê.

Milagres não se atrevia dizê qui era feliz com o seu homem, o seu rei preto, nas vez qui tinha ele na perseguição das suas carne com as mão. Elas não parava quieta, as mão do Josino era inconformada de não podê tá nos agarramento da sua preta quando era do seu gosto; nem siá Casta podia dizê qui chorava de tê o homem qui tinha, nas vez qui tinha. Nunca ia podê reclamá das dô qui sentia. Não tinha com quem falá

O que ocê acha, Grabiela Milagres?

A mucamba oiô a mulhé qui guardava as palavra e as chave das corrente pra usá no feitio de querê usá. Ela não queria respondê pra siá, mais ficá silenciosa

Então, Grabiela Milagres... o rato comeu a sua língua, a preta ficô mais entranhada na raiva qui sentiu. A mulhé branca lhe prendeu inté nas palavra qui não queria dizê. Ela colocô as vista nas parte da barriga e rezô pra Siá dos vento assoprá as boa nova dentro do bojo daquela mulhé. Queria odiá com mais vontade qui os branco destruía a vida dos preto qui eles já tinha e dos preto qui ia tê. Inté era bem fácil odiá, mais não queria perdê a chance daquela juntura com a siá. Podia sê uma arrumação da vida pra ajudá o Josino. Então, escolheu as palavra qui sabia das história antiga de ouví dos mais velho, respondeu perguntando

Quem pode sabê o qui contece na barriga da muié?

As vista das duas mulhé teve um momento de tristeza. Nenhuma tinha alegria pra mostrá. Inté parecia qui as duas sofria do mesmo feitio de sê mulhé, mais era só nas figuração, não passava das tentativa de entendê qui o feitio da preta podia tê o feitio da branca. Mais não podia nem devia sê pensado assim, as vida de uma e de otra não era as mesma vida.

A vida das mulhé branca não era fácil de sê vivida nas fazenda, nas cidade, em qualquer lugá elas tinha qui sabê respeitá o siô seu marido, mais compará com a história das mulhé preta é tá cego das cô da vida

Tá escutando a história, mifioneto?

Tô sim, avoinha...

Avoinha subiu na mesa das passagens, pulou no agarrador aéreo, balançava de um lado ao outro, tava incomodado com avoinha balançando pendurada, aquilo tudo me deixava embaraçado e desconfortável

Avoinha tem que parar com esse seu jeito de ser... ainda vão lhe chamar de macaca, ela sorriu e fez um giro completo, as pernas voaram pelo teto do 69, onde era o lugar das pernas tava a cabeça e onde era o lugar da cabeça tava as pernas. Quando voltou a ficar pendurada balançando, uma vez com uma das mãos, depois com a outra, ela recomeçou a falar

Mifioneto, essa palavra macaca é uma atrapalhação de doença menô, o embaraço mais problemático é o qui não é dito, mais é ensinado.

E o que é ensinado, avoinha?

Ela largou o corrimão aéreo e ficou flutuando como as folhas esvoaçam na brisa suave do vento, parecia bailando com Vivaldi

Ocê não sabe, mifioneto?

Avoinha, acho que isso dos negros terem sofrido na escravidão... muito triste. É uma história de tristeza e dor que precisa ser contada, mas hoje, não é mais assim, o negro tem que correr atrás, fazer por merecer. Estudar. Deixar de ser vagabundo e trabalhar. As oportunidades são iguais para todos. Os negros podem fazer tudo o que quiserem, reparei que avoinha não aboiava na brisa que entrava das janelas. Olhei na volta da minha poltrona de cobrador das passagens, todos os passageiros nos seus lugares sentados ou em pé desacomodados

E ocê, pelo visto e ouvido, aprendeu a lição direitinho: cabelo bão do preto é o cabelo espichado; o feitio dos branco rezá é bão, já as reza dos preto é coisa do demônio; o xadrez dos branco é o jogo do tabuleiro, mas o xadrez dos preto é o embaraço das corrente nos punho e o oiá atrás das grade. Não sei, mifioneto, mais escuta sua avó, ainda vão inventá um lugá de não ensiná só pros preto...

Por favor, avoinha... essas coisas estão longe de acontecer, novamente.

Só não contece porque os preto luta pra não contecê, depois do dito, avoinha resmungou que não me escutava e pulou no meu colo

Avoinha...

Não tô escutando.

Avoinha só escuta o que lhe dá gosto, ela se ajeitou como uma filha se aninha no colo da mãe procurando calor e conforto

Tô cansada de tanta falação de ódio e desconsideração com as vontade dos preto, tô quebrantada com as mentira e as palavra vazia e cheia de tanto fingimento. Quero a vida colorida da alegria e do amô qui a cobiça, a gula e a ignorância joga no abismo da indiferença, da repulsa e da negligência.

Ela continuava no meu colo, mas parecia afundada de tanto peso e de tanta dô, parecia carregar as dores do mundo sem jamais esquecer quem ela é

Mifioneto, queria mais voadura colorida e menô cobiça. A gula e a ignorância, mais não quero dizê da ignorância das palavra escrita, tô falando da inocência de não sabê das coisa qui contece, como contece, por que contece, a ignorância qui deixa ocê cego e faz dizê qui o otro é qui tá na cegueira. Tem as pessoa qui gosta de tê os passarinho aprisionado na gaiola pra tê alguma cantoria na vida. E vivê feliz com aquela cantoria triste, qui elas jura qui é a cantoria da felicidade.

Avoinha... tá comparando os passarinho com os negros?

Não! Passarinho é passarinho, preto é preto, mais a gaiola é a mesma. Depois vai nas cantoria bonita das igreja e canta as oração do Menino Francisco. E chora. Jura qui isso é felicidade. Dão as mão e canta tudo de novo, as mão é as mesma qui pendura as gaiola. Acho qui não tem falta das palavra bonita pra sê dita no mundo nem pra sê rezada, precisa tê mais as mão qui abre a porta das gaiola.

A minha doce avoinha parou os resmungos e pareceu estar adormecida, cansada da falação. Não sabia se chamava ou deixava ela assim, descansando no meu colo. Eu sentia um gosto que nunca tinha experimentado com aquela avoinha tão doce no colo

Avoinha, tá muito poética.

Rapazinho, levei um susto e quase deixei avoinha cair do colo, as pessoa tá precisada de escutá e rezá com o coração.

E avoinha pode ensinar?

Tem qui aprendê tudo junto, vê com os ouvido e falá com os óio. Depois precisa pará de falá com ódio em nome do amô. O amô dá esperança qui não se acostuma com o ódio. Os dois não se mistura. As pessoas engana os passarinho e diz qui eles canta de felicidade. Quem nunca saiu da gaiola canta sua tristeza, assim não é cantá feliz.

A siá Casta deixô o camisolão caí inté nos pé. A brancura da pele marcava o lugá da plumagem negra. Grabiela lhe ajudô entrá no banho, mais a água morna não lhe conseguia despertá da tristeza. A mulhé fantasma, qui não gostava da má influência do seu homem na cama, parecia apreciá os banho de limpeza da preta Grabiela

Não existe justeza na vida, a siá já tava toda mergulhada nas água, não parecia tá mais serenada e confortada com as coisa qui não tinha, o sinhô faz os seus filhos às pencas com essas negras encarapinhadas, nariz largo e achatado, fedidas, mas na sua esposa não deixa nenhuma semente. Nada me ficou das poucas vezes que tentou me plantar.

Grabiela Milagres lhe esfregava as costa. A pela branca da siá era fina e delicada, mais tão sem cheiro da vida. A siá tava feita prisioneira do fio qui não veio. O guri tava perdido em algum lugá-gaiola, tem paragem pra todo gosto e cô, inté pra quem nem nasceu

Siá... o qui tem qui sê vai sê.

A siá levantô pra qui a Grabiela pudesse esfregá as parte da perna e as peça qui tão logo acima. Ficô arrepiada, mais não virô as vista pra baixo, não oiava as mão da mucamba qui limpava os cheiro do siô

Vou pedir ao santo padre que reze missa. Em coisa de tanta importância, como um filho legítimo para o sinhô, a Virgem Santa há de interceder e estender a sua benção, abriu a perna e a mão da mucamba lhe alcançô toda. Inclinô o corpo pra diante e desceu as mão inté os joelho, ficô dobrada pra preta lhe alcançá atrás

Se cada sinhá da casa grande pudesse ter uma negra como ocê, não pensariam duas vezes para terem uma ou duas, sentô na água e reclamô do esfriamento

Vô colocá mais quentura, a siá lhe segurô o braço, mirava o espelho d’água

Não saia, deixe como está, pegô a mão da mucamba e colocô no seu colo arredondando, passe sua mão... me lave do sinhô.

Os bico espetado pra diante não lhe deixava desconfiança das vontade da siá. Ela desceu as vista, parecia resignada. Culpada. Triste da falta de um fio. Assim, desse feitio, ninguém sente as coisa de sentí diferente. A siá lamentava não tê um branquela pra amamentá. O lamento não ajuda pensá, não se achega com prazê. Grabiela parô de pensá. Desceu as mão e lhe fez sabê e sentí o braseiro. Ensinô o qui procurá com o sinhô.




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Ensaio 23B – 2ª edição 1ª reimpressão