quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Os filhos do Criadô do mundo e os bode

Ensaio 22B
baitasar
A Milagres voltava do trabalho na mata, trazia junto, agarradinha nela, a alegria da mulhé emprenhada, era o qui queria tê, vinha satisfeita com os caminho aberto, ainda não tinha pisado no chão da terra com todo o seu corpo, parte dela flutuava do transe, sonhava com o banho de cachoeira qui tinha escutado da boca da Rita, A pancada da água nas costa tinha  força pra espantá as coisa ruim do corpo, é assim, desde qui tudo existiu, a terra, o baobá, mais houve um tempo antes qui só tinha água, nada vivia ou morria. Sentava na noite adentro pra escutá Rita, qui escutô da mãe qui atentô de ouví da mãe da mãe, Foi preciso Olorum se cansá da solidão do além-mundo e decidí criá o mundo e os orixá, os seus filhos, pra conduzí e aconselhá as coisa desencaminhada no mundo recém criado. Por isso, deu a cada orixá um conhecimento, pra juntos mandá e controlá os descontrolado, guiá e influenciá os desorientado. Oxalá, o filho mais velho, recebeu a bolsa da Criação. Então, veio ao mundo recém criado com as terra e o baobá junto na sacola. A vida se transformava na saco da criação e pesava nas costa de Oxalá, qui esqueceu a recomendação de seu Pai, não pediu ajuda ao seu irmão mais novo, Exu, qui tinha a habilidade de modificá a lagarta em borboleta, o reviramento da imaginação em aparência. Oxalá esqueceu Exu, só pensava na sua criação do mundo. Não fez oferenda ao irmão mais novo e começô a perdê tempo com os acidente qui Exu preparava no seu caminho, té qui dormiu cansado. Odudua, outro filho de Olurum, ofereceu a Exu um obó de presente. Depois de agradá o irmão mais novo, pegô a sacola da Criação qui tava dormindo ao lado de Oxalá e seguiu pro lugá da amamentação da infância. A mão-cheia de terra qui tirô da sacola de Oxalá jogô sobre as água: a terra se expandiu. Foi quando Oxalá acordô e viu qui o mundo existiu. Ele foi procurá Olurum, tava triste, ele sabia qui foi enganado pelo seu desdém e vaidade. Na casa do Pai foi repreendido, mais ganhô outra missão: criá as pessoa qui devia admirá o encanto de tudo o qui tinha sido feito: os humano.
Não fez nenhum ruído quando entrô no casarão. Rita sentiu sua chegada, e sem levantá as vista do chão, foi avisando
—        A siá lhe aguarda com os preparativo do banho.
Milagres olhô o vapô das água aquecida, reparô nas brasa viva do fogão de barro, parecia qui aquelas brasa lhe queimava por dentro, incendiava a desarrumação dos pensamento
—        Vô avisá do banho.
—        Precisa de ajutório?
—        Não, ocê já fez parte da minha parte.
—        Então, boa noite. Vô me recolhê.
—        Boa noite, qui o Pai lhe acompanhe. — a mulhé se virô e saiu arrastando os pé e resmungando as despedida do seu dia, se oferecendo pra amamentá a nascença do outro dia, outro filho pra carregá de cuidado e carinho, agradecendo Olurum a sua bondade de criá tudo qui existe e oferecê os seus filho pra povoá o mundo. Cada uma tomô o rumo do seu destino.
A escrava se fez anunciá com duas batidinha na porta do quarto da siá
—        Entre.
Empurrô a porta com cuidado e, antes de entrá toda, enfiô o olhá com jeito cuidadoso, a siá tava sentada na frente do espelho, escovava os cabelo na claridade das vela. A escrava fez o ruído calmo da sua voz anunciá a sua chegada
—        A Rita me falô da sua vontade... — a siá lhe interrompeu sem virá o olhá do espelho, sem pará de escová — O que ela lhe falou?
A mulhé preta deu um passinho pra dentro do quarto, largô a porta e deixô as vista no chão, os braço largado ao lado do corpo, os pé descalço firmava Milagres no assoalho amortecido. Sentiu vontade de contá as história do seu povo praquela mulhé qui podia fazê o seu filho livre, mais não sabia o qui fazê com as sua regalia da cô. Depois pensô qui não ia tê serventia nenhuma pras duas, era melhó calá pra modo de precaução
—        A siá queria tomá o seu banho.
Siá Casta largô a escova na mesa do espelho, levantô e se virô toda pra sua escrava, pensô em lhe fazê confidência de mulhé, falá do seu medo de não conseguí o filho do esposo, o desalento de não ser mãe, deu um passo e pareceu qui lhe dizia tudo de uma só vez, o desabafo de um só fôlego, sem chance de arrependimento, as mãos ajuntava os dedo da outra mão e ficava enlaçando uma na outra. Não conseguiu mais nenhum passo à frente, ficô onde já tava, incompleta
—        Pois é isso mesmo.
As duas deu o mesmo passo pra trás
—        Então, vô lhe prepará. — curvo as costa pra frente, as vista no chão e saiu de costas, os dedo dos pé esborrachando no assoalho
—        Quero o meu banho com os cheiros do mato.
—        Já lhe apronto. — fechô a porta e correu té a cozinha, encontrô as água evaporando pelo calô do fogaréu. Carregô uma das tina té o quarto do banho. Derramô té esvaziá a água da tina, sentia o vapô subindo da banheira da siá lhe queimando a pele. O siô Menino mandô ví  da Vila aquela peça de louça para o banho da siá. Milagre esperô qui o vapô pudesse sê desvendado, queria vê o tamnaho da água quente. Saiu com a tina vazia e voltô com mais duas tina, uma pra cada mão, uma fria e outra quente. Despencô de uma vez a tina com água fria, depois foi experimentando a quentura e colocando mais um tanto da fervida, té chegá no ponto. Abriu um pequeno saco de pano qui carregava amarrado na cintura e retiro os cheiros do mato pra perfumá as água do banho. Separô as toalha do banho, olhô na sua volta, a claridade das vela e o nevoeiro do vapô dava uma penumbra amarelada. Tava tudo pronto. Bateu na porta do quarto da siá
—        Entra, Milagres.
Entrô
—        Sinhá, o banho tá pronto.
A siá Casta se levantô, parecia querê perguntá, parecia querê pedi
—        Algum dos cavaleiros da Irmandade se opõe a candidatura do senhor Barros Colombo como membro da nossa loja?
Nenhum respiro, não teve mexida com as mão, as vista não tremeu, ninguém tinha o que mostrá, tem vez qui não é preciso da paisagem, basta deixá borbulhá o miolo da atenção, escutá a respiração, ele tava aceito.
O maió qui ficava no meio fez outra interrogação solene, parece qui ele era o funcionário perguntadô da Irmandade, o celebrante qui aliviava os outro de falá, pra dizê o qui os outro pensava ele tinha a voz e o pensamento de tudo
—        O senhor Menino Barros Cabral, possuidor das terras no Caminho Novo, denominadas Fazenda Humaitá, está presente?
—        Sim, esse sou eu!
O padre o acompanha té a mesa, qui tá mais parecendo um altá, pronto pra recebê o sacrifício, tem vez qui não é bão a visão da paisagem, ela assusta mais do qui precisa e espanta os argumento da inteligência, faz sumí  sem motivo o juízo e a justiça, na verdade, a causa desse espanto com o panorama das vista é o medo de sabê qui o cordeiro servido é ocê
—        A partir de hoje, vosmecê será um bode.
O siô inclinô a cabeça pro lado qui lhe pareceu sê da respiração do padre, esperô té qui a respiração lhe colocava atenção e perguntô com a voz mais silenciosa qui podia inventá de fazê
—        Padre, que mal lhe pergunte, mas por que passei a ser um bode?
O padre aproximô a respiração da orelha do siô, com os modo mais secreto qui a ocasião permitia, coisa parecida com as confissão, gostava dos sussurros do confessionário, lugá dos mais interessante, qui lhe conferia um podê divino: acumulá na memória as parte mais ruim das pessoa. Ninguém confessa as coisa boa qui fez, essas é anunciada sem disfarce, mais mostrá o lado diferente da bondade dos beato faz o esmoladô da indulgência, ajoelhado no degrau da confessionário do padre, vacilá das própria intenção do arrependimento
—        Um bode não trai os outros bodes, e mais importante, um bode guarda os segredos que ouve e vê, se preciso for com a própria vida.
—        Como os serviços do padre nas confidências e declaração de culpa...
—        Mais ou menos...
O do meio alterô a voz
—        Feito o juramento de servir aos interesses da Irmandade... retirem a venda.
O siô teve vontade dele mesmo retirá o pano qui tapa as vista, mais esperô, sabia qui não perdia nada pro esperá. As mão do padre soltô a venda. Abriu as vista e uma iluminação intensa lhe obrigo fechá a cena, abriu novamente, té qui acostumo, recuô um passo quando viu os três qui lhe apontavam as espada
—        As espadas apontadas para o senhor significam sua proteção pela Irmandade, em caso de perigo.
Todos se juntam, té fazê um círculo com as espada apontada no siô, o centro, o alvo da proteção ou da ameaça, não podia sabê, mais podia senti qui a encenação tudo tinha dois lado, cabia a ele escolhê.
O mais quieto e menô dos três encapuzado degolô um bode e verteu o sangue do animal numa bacia, depois colocô o líquido morno num cálice qui foi bebido por todos os presente
 —       Não existe iniciação sem morte.

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