Ensaio 22B
baitasar
A
Milagres voltava do trabalho na mata, trazia junto, agarradinha nela, a alegria
da mulhé emprenhada, era o qui queria tê, vinha satisfeita com os caminho
aberto, ainda não tinha pisado no chão da terra com todo o seu corpo, parte
dela flutuava do transe, sonhava com o banho de cachoeira qui tinha escutado da
boca da Rita, A pancada da água nas costa tinha força pra espantá as coisa ruim do corpo, é
assim, desde qui tudo existiu, a terra, o baobá, mais houve um tempo antes qui
só tinha água, nada vivia ou morria. Sentava na noite adentro pra escutá Rita,
qui escutô da mãe qui atentô de ouví da mãe da mãe, Foi preciso Olorum se cansá
da solidão do além-mundo e decidí criá o mundo e os orixá, os seus filhos, pra
conduzí e aconselhá as coisa desencaminhada no mundo recém criado. Por isso,
deu a cada orixá um conhecimento, pra juntos mandá e controlá os descontrolado,
guiá e influenciá os desorientado. Oxalá, o filho mais velho, recebeu a bolsa
da Criação. Então, veio ao mundo recém criado com as terra e o baobá junto na
sacola. A vida se transformava na saco da criação e pesava nas costa de Oxalá,
qui esqueceu a recomendação de seu Pai, não pediu ajuda ao seu irmão mais novo,
Exu, qui tinha a habilidade de modificá a lagarta em borboleta, o reviramento
da imaginação em aparência. Oxalá esqueceu Exu, só pensava na sua criação do
mundo. Não fez oferenda ao irmão mais novo e começô a perdê tempo com os
acidente qui Exu preparava no seu caminho, té qui dormiu cansado. Odudua, outro
filho de Olurum, ofereceu a Exu um obó de presente. Depois de agradá o irmão
mais novo, pegô a sacola da Criação qui tava dormindo ao lado de Oxalá e seguiu
pro lugá da amamentação da infância. A mão-cheia de terra qui tirô da sacola de
Oxalá jogô sobre as água: a terra se expandiu. Foi quando Oxalá acordô e viu
qui o mundo existiu. Ele foi procurá Olurum, tava triste, ele sabia qui foi
enganado pelo seu desdém e vaidade. Na casa do Pai foi repreendido, mais ganhô
outra missão: criá as pessoa qui devia admirá o encanto de tudo o qui tinha
sido feito: os humano.
Não
fez nenhum ruído quando entrô no casarão. Rita sentiu sua chegada, e sem
levantá as vista do chão, foi avisando
— A siá lhe aguarda com os preparativo do
banho.
Milagres
olhô o vapô das água aquecida, reparô nas brasa viva do fogão de barro, parecia
qui aquelas brasa lhe queimava por dentro, incendiava a desarrumação dos
pensamento
— Vô avisá do banho.
— Precisa de ajutório?
— Não, ocê já fez parte da minha parte.
— Então, boa noite. Vô me recolhê.
— Boa noite, qui o Pai lhe acompanhe. — a
mulhé se virô e saiu arrastando os pé e resmungando as despedida do seu dia, se
oferecendo pra amamentá a nascença do outro dia, outro filho pra carregá de
cuidado e carinho, agradecendo Olurum a sua bondade de criá tudo qui existe e
oferecê os seus filho pra povoá o mundo. Cada uma tomô o rumo do seu destino.
A
escrava se fez anunciá com duas batidinha na porta do quarto da siá
— Entre.
Empurrô
a porta com cuidado e, antes de entrá toda, enfiô o olhá com jeito cuidadoso, a
siá tava sentada na frente do espelho, escovava os cabelo na claridade das
vela. A escrava fez o ruído calmo da sua voz anunciá a sua chegada
— A Rita me falô da sua vontade... — a siá
lhe interrompeu sem virá o olhá do espelho, sem pará de escová — O que ela lhe
falou?
A
mulhé preta deu um passinho pra dentro do quarto, largô a porta e deixô as
vista no chão, os braço largado ao lado do corpo, os pé descalço firmava
Milagres no assoalho amortecido. Sentiu vontade de contá as história do seu
povo praquela mulhé qui podia fazê o seu filho livre, mais não sabia o qui fazê
com as sua regalia da cô. Depois pensô qui não ia tê serventia nenhuma pras
duas, era melhó calá pra modo de precaução
— A siá queria tomá o seu banho.
Siá
Casta largô a escova na mesa do espelho, levantô e se virô toda pra sua escrava,
pensô em lhe fazê confidência de mulhé, falá do seu medo de não conseguí o
filho do esposo, o desalento de não ser mãe, deu um passo e pareceu qui lhe
dizia tudo de uma só vez, o desabafo de um só fôlego, sem chance de
arrependimento, as mãos ajuntava os dedo da outra mão e ficava enlaçando uma na
outra. Não conseguiu mais nenhum passo à frente, ficô onde já tava, incompleta
— Pois é isso mesmo.
As
duas deu o mesmo passo pra trás
— Então, vô lhe prepará. — curvo as costa
pra frente, as vista no chão e saiu de costas, os dedo dos pé esborrachando no
assoalho
— Quero o meu banho com os cheiros do
mato.
— Já lhe apronto. — fechô a porta e correu
té a cozinha, encontrô as água evaporando pelo calô do fogaréu. Carregô uma das
tina té o quarto do banho. Derramô té esvaziá a água da tina, sentia o vapô
subindo da banheira da siá lhe queimando a pele. O siô Menino mandô ví da Vila aquela peça de louça para o banho da
siá. Milagre esperô qui o vapô pudesse sê desvendado, queria vê o tamnaho da água
quente. Saiu com a tina vazia e voltô com mais duas tina, uma pra cada mão, uma
fria e outra quente. Despencô de uma vez a tina com água fria, depois foi
experimentando a quentura e colocando mais um tanto da fervida, té chegá no
ponto. Abriu um pequeno saco de pano qui carregava amarrado na cintura e retiro
os cheiros do mato pra perfumá as água do banho. Separô as toalha do banho,
olhô na sua volta, a claridade das vela e o nevoeiro do vapô dava uma penumbra
amarelada. Tava tudo pronto. Bateu na porta do quarto da siá
— Entra, Milagres.
Entrô
— Sinhá, o banho tá pronto.
A
siá Casta se levantô, parecia querê perguntá, parecia querê pedi
— Algum dos cavaleiros da Irmandade se
opõe a candidatura do senhor Barros Colombo como membro da nossa loja?
Nenhum
respiro, não teve mexida com as mão, as vista não tremeu, ninguém tinha o que
mostrá, tem vez qui não é preciso da paisagem, basta deixá borbulhá o miolo da
atenção, escutá a respiração, ele tava aceito.
O
maió qui ficava no meio fez outra interrogação solene, parece qui ele era o
funcionário perguntadô da Irmandade, o celebrante qui aliviava os outro de
falá, pra dizê o qui os outro pensava ele tinha a voz e o pensamento de tudo
— O senhor Menino Barros Cabral,
possuidor das terras no Caminho Novo, denominadas Fazenda Humaitá, está
presente?
— Sim, esse sou eu!
O
padre o acompanha té a mesa, qui tá mais parecendo um altá, pronto pra recebê o
sacrifício, tem vez qui não é bão a visão da paisagem, ela assusta mais do qui
precisa e espanta os argumento da inteligência, faz sumí sem motivo o juízo e a justiça, na verdade, a
causa desse espanto com o panorama das vista é o medo de sabê qui o cordeiro
servido é ocê
— A partir de hoje, vosmecê será um bode.
O
siô inclinô a cabeça pro lado qui lhe pareceu sê da respiração do padre, esperô
té qui a respiração lhe colocava atenção e perguntô com a voz mais silenciosa
qui podia inventá de fazê
— Padre, que mal lhe pergunte, mas por que
passei a ser um bode?
O
padre aproximô a respiração da orelha do siô, com os modo mais secreto qui a
ocasião permitia, coisa parecida com as confissão, gostava dos sussurros do
confessionário, lugá dos mais interessante, qui lhe conferia um podê divino:
acumulá na memória as parte mais ruim das pessoa. Ninguém confessa as coisa boa
qui fez, essas é anunciada sem disfarce, mais mostrá o lado diferente da
bondade dos beato faz o esmoladô da indulgência, ajoelhado no degrau da
confessionário do padre, vacilá das própria intenção do arrependimento
— Um bode não trai os outros bodes, e mais
importante, um bode guarda os segredos que ouve e vê, se preciso for com a
própria vida.
— Como os serviços do padre nas
confidências e declaração de culpa...
— Mais ou menos...
O
do meio alterô a voz
— Feito o juramento de servir aos
interesses da Irmandade... retirem a venda.
O
siô teve vontade dele mesmo retirá o pano qui tapa as vista, mais esperô, sabia
qui não perdia nada pro esperá. As mão do padre soltô a venda. Abriu as vista e
uma iluminação intensa lhe obrigo fechá a cena, abriu novamente, té qui
acostumo, recuô um passo quando viu os três qui lhe apontavam as espada
— As espadas apontadas para o senhor
significam sua proteção pela Irmandade, em caso de perigo.
Todos
se juntam, té fazê um círculo com as espada apontada no siô, o centro, o alvo
da proteção ou da ameaça, não podia sabê, mais podia senti qui a encenação tudo
tinha dois lado, cabia a ele escolhê.
O
mais quieto e menô dos três encapuzado degolô um bode e verteu o sangue do
animal numa bacia, depois colocô o líquido morno num cálice qui foi bebido por
todos os presente
— Não
existe iniciação sem morte.
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