quinta-feira, 5 de novembro de 2015

pegadas

Bebeto Alves






Nas pegadas das minha botas
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade de meus versos
O sonho dos meus amigos
Caminhando pelas ruas de
uma cidade americana
Eu percebo que não quero migalhas
Nem tampouco medalhas
Isso tudo é ilusão
Vendo as mesmas mentiras
num país desenvolvido
Armado até os dente para a guerra
Me dói o coração
Perceber a situação que estamos
envolvidos sem perspectivas
De qualquer solução
Nas pegadas...
É quando penso na razão que nos leva a acreditar
Que estamos mudando um país
Uma voz vem lá de dentro que me diz
Que o sistema no fundo é o mesmo
e em nós se perpetua
E não cabe mais aqui e agora
essa máquina que nos fez aprendiz
De um poder vagabundo
Nas pegadas das...
E não podemos mais
desperdiçar energia
Com uma vazia retótica estética
amordaçando o grito de um coração
Que luta contra toda falta de perspectiva
e informação do pensamento
Abatido pelos mísseis imperialistas
dentro de sua própria nação
com toda falta de cultura, sensibilidade,
amor, respeito e educação
Nas pegadas...
E fico puto ao constatar que
desperdiçamos tempo parados em segredo
Bebendo num bar que nos feriu
a memória e nos tirou a força humana
O único sentido de revolução de um ser
O objetivo intrínseco de um homem
novo de qualquer geração
Para toda e qualquer falta de possibilidade
Tem que haver reação
Nas pegadas...
E agora eu sei que o que nos ensinou a esperar inutilmente
Foi a burocracia, o misticismo e a religião
Esperar por Deus, por alimento, pão
Esperar que as coisas mudem num próximo momento
E eu atento contra a culpa e o sofrimento
judaico-cristão
Contra toda dúvida e medo
Com muita insatisfação
Nas pegadas...
Caminhando pelas ruas de uma cidade americana
Eu lembro o poeta Duclós que disse-me estar a salvo -
não é se salvar
E eu complementaria, hoje em dia
se sentir salvo é esperar pela salvação
E nada nos salvará
Um dia, ainda, nos aniquilarão
Parodiando Russians do Tting
eu também diria
Então espero que os brasileiros amem seus filhos,
de coração
Nas pegadas...


Autor: Bebeto Alves




Depois da chuva



Bebeto Alves, guitarra e vocais
Everton Pires, baixo
Bebeto Mohr, bateria
Fernando Corona, teclados

Gravado ao vivo no Porto de Elis, 1987



Não vou morrer
Depois da chuva
Como um domingo
Não vou morrer
Não vou morrer
Isso é um insulto
Sob esse viaduto
Não vou morrer

A cidade escura
E imunda é que está
A apodrecer
Mas vem a chuva, vem
As pedras rolar
Rolam pedras, sim...
Rolam em mim

Eu não vou morrer,
Desaparecer...
Na palavra "fim", baby
Escrita em algum lugar



Composição: Bebeto Alves




Silêncio Catedral





A riqueza das tuas ideias
Construíram um silêncio catedral
Mesmo que a luta tenha sido inglória
Violenta, como foi, como nos conta a história
Ela nos silencia

A nossa pobreza não te alcança?
Não te soa uma palavra nova?
Não te vale mais o risco, a prova
Quem de nós te assustaria
- isso é um assalto!
E ao contrario, te sustenta
O teu sonho revigora
Abre o teu caminho
Vem te despejar de ti
Vem te por pra fora
E com a minha pistola
Recarregada no desassossego
Te dou a sentença,
Com um pé na tormenta
E outro na alegria
Chega de putaria!
Pois estou condenado a ser melhor
Do que já fui um dia
Do que já fui dia



Composição: Bebeto Alves




Chamamecero
Mandando Lenha






Como se a escuridão trouxesse luz
Como se o coração fosse explodir
Mastiguei a fala, negaceei a mágoa
Só pra ver a lágrima feliz

Quis amansar a dor, me vi pela vida
Quis conhecer o amor, fiz um chamamé
Cheio de carinho, louco de faceiro
Mas que chamameceiro me senti

Coisa de bom menino abraçando o pai
Coisa de mão saudosa mimando o filho
Fui me emocionando a mando do gaiteiro
Mas que chamameceiro, repeti

A mão vem me dando um soco,
E eu prendo-lhe um sapucay,
O pé pisoteia a marca,
Que a alma arrepia em pêlo
E quase arrebenta o fole,
Que torce, pra vida melhorar...



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