quinta-feira, 3 de março de 2016

Poesia Africana: Abreu Paxe (Angola)

Poesia Africana  - 06




de certo modo os destroços palavras



de igual modo as partículas invariáveis traços lábias
sempre há uma mulher no mal
por isso trepo meu olhar pelas paredes e pelo tecto
o último cruzar de pernas
zona prestigiada o eixo compreendia o acento de intensidade
junto todos os sentidos no modo algum tempo exacto
sem esquecer na via erudita expressão
o étimo uma mesa com o portal aberto
outro reino de certeza
a comunicação oficial adoptou o berço língua lençol
tanto tempo sonorizado
estava inscrito nas fronteiras este período
das alíneas funções sintácticas
diferenças dos pares vocabulares
nascem outras partículas variáveis destroços





o limão fruto do mês



no tópico a penumbra limita o céu
a deus a mesma paragem
passa em liberdade suave textura
a mulher tarde horizontal
de estrutura espessa o género substantiva camada
passa a boca espalhada pelo corpo
guarda todos os traços femininos empurram o limão
permanecem no caminho de frias letras
decifrada a edição é toda ampla pluma
os determinadores pernas no planeta as sedas
deixam de lado os factos contextuais
as luzes estendem-se até a nudez
a existência tão longa produção constrói estrelas
outro corpo
as trevas janelas inquilinos selando juros





amargos dormem tempos opostos



nas paisagens do espaço
afundava-se volumoso coração
no interior do quarto ilimitada natureza a sólida alma
próxima zona virgem a viagem das enguias
lugares de pequenas colinas ou seja:
sentem ondeadas brasas acesas noites também
permanecem transparentes
em forma de pêndulos as fragatas esperam
machucadas pêlos seus remos as algas refúgio:
atravessam os olhos cidades astrais com janelas descem
- velha sombra o basalto - lentas frestas
melhorando muito longe a idade do sol estas casas dos corpos
adoptando formas vermelhas
os pomares voltavam ardendo à teia todo tempo oposto









Adriano Botelho de Vasconcelos (Angola)




Confissão



ah, desconsolação por não poder
pedir-me em

s.o.s.!



não sei se sou sinceramente quem peregrina
nas estrofes das confissões em saber quens
ou o que resta de real em

meu ser.



Podes crer que muitas vezes
verteremos o nosso ser em avessos
de dúvidas, querendo ser outros
querendo ser nadas
violentando-nos

com espadas.



Ah, os dias saltam a sem esperarem

por mim, tudo se adia em amarelecimentos
e fico sem saber em que lugar

ficar, sem ter

em que verdade

me ouvir

e dar.



Sou um alvo, tenho procurado

atingir-me - dizem-me os dias ajoelhados nos
degraus.



Confissão



é ter que percorrer os húmidos escolhos
de meu ser, despedir-me do "eu"
crescido no teatro

da vida, despedir-me

de identidades estranhas
que moldaram o meu
rosto.

Não sei de que mortes fala o meu ser
cansado de tanto tropeçar na calçada
das desilusões. Fulmino com dor

o corpo que tenho e estou

sempre à procura

de me agarrar em pedaços

e achar a desordem das minhas idades.

Era o vazio distante de um abismo
denso de muitas noites sobre as manhãs
e eu dizia em delírio branco

que era a terra desadubada

no silêncio da

loucura! (havia ainda

fragmentos de luz pálida de sombra

nas portas de meus

olhos).

Quero sentir-me como as plantas

que no interior das casas esticam o pescoço
dos seus corpos à procura da luz

há muito que estou

atrás dos biombos das sombras em conflitos

que desconfiguram ainda mais

o meu rosto! Necessito de lentes

de luz para conhecer

a miopia do

meu ser!

Além de tanta tempestade, o que resta

se não simplesmente a recordação
de que por aqui passei em
castigos Íntimos.

Ai escutem já não posso guardar-me

nas esteiras das noites que levantam os morcegos
da minha alma mirrada

em não se conhecer.

Quero confessar-me, num só dia permitir
que minhas mãos percorram os labirintos
do meu corpo ... por isso

preciso de chaves que abram

as janelas da minha

existência.

Dicção de angústias que fendem

o mármore das quimeras em minhas mãos.
Esvaziou-me de ante os olhos a existência
nada em mim está além do agora

o ir sem saber em que lugar

sair. Os olhos espirirualizados na voz

não descodificam o sin tagma dos passos
que hermetizam o castiçal

do meu corpo.

Oh, deus destino, sentir vivo

quando me interrogo e me invade a infância

em ofertas de balões, mas se penso

espessa solidão me desperta

em culpas e confina-me

no beco trivial

da vida.



Estarei na praça pública

sem fantasias estranhas

para dizer que vivo, sob penas
de castigos em não me
aceitar. Não me acudirei

quero que vossos olhares atinjam

com pedras o meu masturbante silêncio

e que preguem em meu corpo cartazes

com dizeres que degredem

o meu ser.

Caros amigos, meus pés tenho-os rede

em mares amantizados de luas e barcos que me têm
inumado em luzes mansas de ouro

à seguir o que me é

olvidado, por não

me dar a

Viver.



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