Ensaio 76B – 2ª edição 1ª reimpressão
o qui é o qui foi e o qui vem vindo
depois do siná em cruiz qui o padinhum desenhava no vento enquanto anunciava o abençoamento em nome do siô pai, siô fiu e espritu santo, um coral insuspeito da meió gente arraigada da villa respondia amém. Gente firme e dona do relho pra fazê tudo continuá como tá e se fô útil queima na foguêra algum seguidô qui qué mudá a mão do relho. Pai Fiu Espritu Santo e o fim da missa era anunciado do mesmo jeito, desde sempre, Ide em Paz e que o Sinhô os acompanhe...
Damos graças à Deus! Ele é a nossa salvação!
os pretu qui tava sentado se levantava, mais continuava com as canela preta no mesmo lugá, era preciso esperá os branco tudo saí pela porta da frente. Quando num tinha mais branco na igreja calada, o pretu encarregado da portaria santa fechava a entrada da fachada respeitável e abria as duas porta do lado. Pronto, os pretu e a mulataria podia saí do curral
o parasitismo dos branco com munta vontade de sê dono de tudo num ia desmoroná pelas missa e as palavra do padinhum ou a plateia desanimada dos pretu e mulataria. No seu modo de vê, tão útil como o padinhum é as palavra cínica dos dono de tudo prus fiu dono de tudo, eles qui vai fazê pensá a villa qui vem vindo, Meu filho, não esqueça que missa demais não é bom, mas de menos pode ser mais ruim. O que ocê precisa cuidar são as palavras do Padre. Aquele sinhô sisudo de preto. É preciso investir na educação desses jovens padres cultos, inteligentes e idealistas, dotados com senso de justiça, mas atormentados por muitos sentimentos de culpa. Prosperam mais que os miseráveis a quem prometem o céu, sonhos e ilusões acerca da morte. Ajude-os a desempobrecerem. E abandonam a pobreza da cruz. Ou vivem felizes e perigosos na pobreza. É preciso promover entre eles uma educação de caráter firme com limpeza, paz, felicidade e fartura comedida, em harmonia com a realidade das pessoas como elas são: egoístas, invejosas, belicosas e cínicas. Não é fácil, meu filho, falar de amor na villa. Eu gosto mais de discutir sobre as riquezas e usar o poder das riquezas. O segredo é fazer o viúvo dever mais para ocê que para o seu Deus.
o dono de tudo nunca vai se deixá dominá pelas missa ou as palavra do padinhum. O sermancista qui ficasse com as reprimenda e a cruiz, ele ficava com as riqueza. Num ia deixá acabá sem munta luta esse feitio de dominá a villa com as leis qui ele mesmo criô pra tê o seu direito de mandá pra sempre
o parasitismo religioso nunca pareceu parasita, pelo menos, prus qui credita no céu dos branco diferente do céu reservado prus pretu. É como trocá a mão do relho. Pode inté sê qui os parasita nem credita no céu – morreu virô estátua – mais gosta de creditá na escravidão e na obrigação útil dos pretu mostrá prum deus inútil qui num existi qui eles merece o céu dos branco – o único qui eles diz qui existi – nem qui fosse pra continuá servindo os dono de tudo no céu
Só entende de fome quem passa fome, meu filho. Então, deixe-os sentir fome e os alimente. Deixe-os desejar o céu e lhes ofereça os caminhos do paraíso. Para os negros o relho e para todos a Bíblia. Não esqueça de ter as leis do seu lado e a polícia na sua contabilidade.
depois dos branco tudo saí da missa dominguêra nem o padinhum continuava na tribuna do sermão. Ninguém de importância na villa esperava os pretu ou a mulataria saí pelos lado santo. O sermancista ficava nos degrau da escadaria dando e recebendo os cumprimento apropriado e costumêro pra continuá sua obra de salvação, apertava as mão e sorria e pensava, Agudeza e a argúcia dos argumentos não é suficiente, precisa ter Conciliação, Concórdia e Paz – CCP – ser engenhoso com moderação e saber esperar o tempo da colheita, Bonito sermão, sinhô Padre.
ele sabia rezá pelo sonho do céu, a esperança na otra vida. Otra chance de vivê na morte. Otra sorte. Otro fantasma. Otra vida morta. Ameaçava com o apavoramento do fogo eterno. O inferno é prus amotinado, desobediente e teimoso. Ninguém podia discutí a reputação sagrada do padinhum, longa e duramente treinado nas palavra de deus, pra num brincá no serviço. Nas terra do céu num tem rebelião, resistência ou rebeldia, nem vaidade, egoismo ou exploração. Isso pode sê antes de subí, depois num pode
mais num é bem assim, num é pra tudo... num podia tê perdão prus tumbêro, a chibata, o enforcamento, o defloro das neinha, o capitão-do-mato. E teve. Bastava fazê doação. E faz. Sobre a otra vida? Num posso me explicá, num tô esclarecida. Ainda tô de limpeza da vida vivida
de todo jeito, o céu coberto de pretu qui existi na terra-mãe num acabô com a chegada dos branco, mais fez subí munto mais pretu antes da velhice, obrigando eles perdê sua dignidade humana, seus hábito, suas plantação, seus amigo, suas criação e suas crença. Prus pretu escravizado num restô nada além da vida de saudade e lágrima, depois qui os dono de tudo desembarcô nas terra do céu pretu, com a fome qui devora a terra, a água, o céu e num deixa de experimentá a carne humana. Arrancava tudo do lugá. Um monstro caridoso qui nunca perde a fome e a sede qui a fé exalta atrás da pimenta com assassinatos e incêndios, morticínios e naufrágios; as armas numa mão, a balança na otra, a cruiz no peito e as mentira na língua. Anarquia e depredação: o saque na terra da África pela fidalguia merdêra com os capacho armado inté os dente
a delicadeza era o canhão, o espritu era o adubo
os grande navegante dos grande descobrimento foi criando ferida, esquecimento, pobreza e fome pra munto tempo. Junto viajava os capacho dos dono de tudo
é dos capacho dos dono de tudo a purugunta qui tirô a humanidade e fez deles os merdêro qui é qui foi e vem vindo, Por que precisamos trabalhar se os negros podem fazer o trabalho da terra e das cidades?
E tudo isso por comida, roupa e estadia, remendô os dono de tudo, as risada inté hoje se escuta carregada pelo tempo e pelo vento
o trabaio dos pretu escravizado passô valê tanto quanto a prata e o ouro das mina. Ninguém achava estranho, só os pretu numerado por cabeça como o gado solto no campo cercado
virô vício comprá e tê escravo. O consumo do hábito qui dava consideração, prestígio e renome de dono do mundo, pelo menos, um pedaço do mundo qui nunca quis perdê a posição vantajosa dos direito e das oportunidade
o casarão com muntas porta e janela, o jardim colorido com rosas, jasmins, cravos, a frescura das árvore, as borboleta, os beija-flô, os sabiá, o murmúrio das água, as fruta fresca, o leite morno, a portêra com o nome da fazenda dava orgulho no peito, as criança brincando, as correria do rio e casa de detenção dos pretu
uma porta de entrá e saí trancada com cadeado. Chão de terra batida e os pé pretu. Uma arapuca. O cão cacarejava e gotejava ovo, a galinha latia e roia osso. Um mundo coçando perebas. Uma fábula. O ranho, o lanho e as mosca. A sineta do acordamento. A estufa morna das brasa e a promiscuidade do ajuntamento forçado, o suô dos grande escorria nas criança pelo chão da terra batida. As cadela no choco, o galo grunindo disfarçado. Os bocejo. O café aguado. O pão véio mofado e teso. A mandioca. As víscera no chão e os cuidado com o labor
a terra, a água, o tempo e o vento fecundado pelos pretu
os fidalgo lusitano dotro lado das estrada das água treinô os fiu dono de tudo da villa qui teve vontade de aprendê. As lição variava com os gosto e as recomendação, mais nenhum deixô de gostá das artimanha do uso do trabáio escravizado pra tê sua vida de merdêro apática, desleixada e preguiçosa. Essa gente num gosta de gente, só qué comprá capacho. Inté se empanturrá com os assanhamento e as tocaia obscena. O gosto dos fiu dono de tudo é seviciá o corpo das preta neinha e fazê elas engolí as lágrima, mas maió mesmo é o seu gosto pelo uso do relho nos pretu
eles tem a mão arrogante
a língua mentirosa
usa e abusa dos capacho caluniadô
no lugá do coração é só rancô
tudo apoiado na estima materna de sabê qui o fiu dono de tudo já era hôme – o renascimento do pai – a continuação de tudo como é: fariscando fêmea e enxotando pretu, estuprando, forçando, gabando, tudo sem arrependimento
os dono de tudo – das lei e das oportunidade – precisa qui assim seja pra sempre
entendeu pur qui ocê tá sentado no banco do cobradô das passagem? E num tá sentado no banco vazio da escola? Umifiuneto, tendeu? Ninguém acha estranheza no pretu varrendo as rua, fazendo buraco no chão, catando lixo, assaltando, roubando, morrendo ou matando as pulícia, mais acha munta desconsideração tê médico pretu ou obedecê a preta doutô juíza. Os dono de tudo resmunga um palpite depois da estranheza de vê os pretu sentado no banco da escola, Esses negros são as excessões que confirmam a regra. Com certeza receberam algum auxílio espúrio, isso só faz sentido assim. O lugar deles é a porta dos fundos, no máximo, entram e saem pela porta do lado.
os dono de tudo continuará dono de tudo qui se vende, inté do seu juízo se ocê deixá
Avó, eu não posso lhe colocá atenção.
Bobice.
é só ele escutá com o coração a razão das coisa sê como é. Ele sabe, mais precisa sabê qui sabe, Os fidalgo lusitano abriu a estrada das água da África pra villa com o contrabando dos pretu. Isso num é novidade. O neinho sabe. Eles renunciô aos hábito do trabáio. Isso eles num aceita qui é dito. Na verdade, os dono de tudo – das lei, das oportunidade e das riqueza – nunca foi gente de trabaiá
é uma fidalguia ignorante, egoísta, devassa, preguiçosa e beata. Ela continua perdia dos trabáio, inventando e reinventando a escravidão, sossegada na sua vida abençoada de comerciante da carne humana. Num é expulsa do paraíso nem tá ameaçada, continua vindo
as estrada das água pode sê usada pra coisa boa, mais pode tê uso pras maldade. As coisa da devoção, tumbém. Elas pode tê devotamento pra vida, mais pode relinchá ódio em nome de deus: fingindo amô, justiça e bondade. Nesse mundão tem de tudo. Ocê vai encontrá devoto insensato acocado prum demente egoísta e autoritário qui se anuncia dono de tudo – das lei, das oportunidade, das riqueza e dos espritu – e reza pela extinjunta ou perde do seu quadro é uma nova obra de beleza ou feiura
o muriquinhu qui aceita tudo, perdoa tudo por dinhêro
depois de abrí os óio pra modo de vê o neinho – num posso falá tanto com as vista vendo. Avoinha entende as fessora qui precisa tê conversa com muntos muriquinhu, os óio bem aberto e atenta pras novidade de cada um
cada muriquinhu é um mundo carregado dos qui já foi, dos qui tá e dos qui vem vindo. Isso num tem parada nem sossego
Tá escuitando, mifiuneto? Onde ocê tá?
silêncio
Ocê precisa sabê quem é, donde veio. Onde ocê tá?
parece qui foi tirado do banco do cobradô
Presta atenção, onde ocê tá? Vô repetí a lição bem lentinha: ocê é os qui já foi e tá nos qui vem vindo. Onde ocê tá?ção de qualqué desafeto, seja quem fô. O dono qui junta os vivo com os morto. Entendeu?
Não prestei muita atenção.
Então, oia pra véia. As água da vida é um quebra-cabeça qui ocê vai juntando enquanto vai se derramando. Os pedacinho é esparramado. Tudo munto misturado. O neinho precisa descobrí o gosto da sua pintura e montá o retrato da vida qui vai experimentando e maisquerendo, vestido e desvestido, despistando e encaminhando. Ocê vai chorá saudade, munta veiz; e arrependimento, otras veiz. Lembra qui avoinha já lhe disse, ocê é o qui já foi, mais tumbém é o qui tá vindo, precisa escoiê a vida qui qué tê e deixá prus qui tá vindo. Tem munta pintura já feita e munto mais pedacinho solto nas água. Cada lasca qui ocê junta ou perde do seu quadro é uma nova obra de beleza ou feiura
o muriquinhu qui aceita tudo, perdoa tudo por dinhêro
depois de abrí os óio pra modo de vê o neinho – num posso falá tanto com as vista vendo. Avoinha entende as fessora qui precisa tê conversa com muntos muriquinhu, os óio bem aberto e atenta pras novidade de cada um
cada muriquinhu é um mundo carregado dos qui já foi, dos qui tá e dos qui vem vindo. Isso num tem parada nem sossego
Tá escuitando, mifiuneto? Onde ocê tá?
silêncio
Ocê precisa sabê quem é, donde veio. Onde ocê tá?
num tá no banco do cobradô... onde se enfiô esse neinho
Presta atenção, onde ocê tá? Vô repetí a lição bem lentinha: ocê é os qui já foi e tá nos qui vem vindo. Onde ocê tá?
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Leia também:
Histórias de avoinha: as preta a escravidão e o descabaço do piá dono de tudo
Ensaio 75B – 2ª edição 1ª reimpressão
Histórias de avoinha: onde ocê tá, Fumaça?
Ensaio 77B – 2ª edição 1ª reimpressão
o qui é o qui foi e o qui vem vindo
baitasar
depois do siná em cruiz qui o padinhum desenhava no vento enquanto anunciava o abençoamento em nome do siô pai, siô fiu e espritu santo, um coral insuspeito da meió gente arraigada da villa respondia amém. Gente firme e dona do relho pra fazê tudo continuá como tá e se fô útil queima na foguêra algum seguidô qui qué mudá a mão do relho. Pai Fiu Espritu Santo e o fim da missa era anunciado do mesmo jeito, desde sempre, Ide em Paz e que o Sinhô os acompanhe...
Damos graças à Deus! Ele é a nossa salvação!
os pretu qui tava sentado se levantava, mais continuava com as canela preta no mesmo lugá, era preciso esperá os branco tudo saí pela porta da frente. Quando num tinha mais branco na igreja calada, o pretu encarregado da portaria santa fechava a entrada da fachada respeitável e abria as duas porta do lado. Pronto, os pretu e a mulataria podia saí do curral
o parasitismo dos branco com munta vontade de sê dono de tudo num ia desmoroná pelas missa e as palavra do padinhum ou a plateia desanimada dos pretu e mulataria. No seu modo de vê, tão útil como o padinhum é as palavra cínica dos dono de tudo prus fiu dono de tudo, eles qui vai fazê pensá a villa qui vem vindo, Meu filho, não esqueça que missa demais não é bom, mas de menos pode ser mais ruim. O que ocê precisa cuidar são as palavras do Padre. Aquele sinhô sisudo de preto. É preciso investir na educação desses jovens padres cultos, inteligentes e idealistas, dotados com senso de justiça, mas atormentados por muitos sentimentos de culpa. Prosperam mais que os miseráveis a quem prometem o céu, sonhos e ilusões acerca da morte. Ajude-os a desempobrecerem. E abandonam a pobreza da cruz. Ou vivem felizes e perigosos na pobreza. É preciso promover entre eles uma educação de caráter firme com limpeza, paz, felicidade e fartura comedida, em harmonia com a realidade das pessoas como elas são: egoístas, invejosas, belicosas e cínicas. Não é fácil, meu filho, falar de amor na villa. Eu gosto mais de discutir sobre as riquezas e usar o poder das riquezas. O segredo é fazer o viúvo dever mais para ocê que para o seu Deus.
o dono de tudo nunca vai se deixá dominá pelas missa ou as palavra do padinhum. O sermancista qui ficasse com as reprimenda e a cruiz, ele ficava com as riqueza. Num ia deixá acabá sem munta luta esse feitio de dominá a villa com as leis qui ele mesmo criô pra tê o seu direito de mandá pra sempre
o parasitismo religioso nunca pareceu parasita, pelo menos, prus qui credita no céu dos branco diferente do céu reservado prus pretu. É como trocá a mão do relho. Pode inté sê qui os parasita nem credita no céu – morreu virô estátua – mais gosta de creditá na escravidão e na obrigação útil dos pretu mostrá prum deus inútil qui num existi qui eles merece o céu dos branco – o único qui eles diz qui existi – nem qui fosse pra continuá servindo os dono de tudo no céu
Só entende de fome quem passa fome, meu filho. Então, deixe-os sentir fome e os alimente. Deixe-os desejar o céu e lhes ofereça os caminhos do paraíso. Para os negros o relho e para todos a Bíblia. Não esqueça de ter as leis do seu lado e a polícia na sua contabilidade.
depois dos branco tudo saí da missa dominguêra nem o padinhum continuava na tribuna do sermão. Ninguém de importância na villa esperava os pretu ou a mulataria saí pelos lado santo. O sermancista ficava nos degrau da escadaria dando e recebendo os cumprimento apropriado e costumêro pra continuá sua obra de salvação, apertava as mão e sorria e pensava, Agudeza e a argúcia dos argumentos não é suficiente, precisa ter Conciliação, Concórdia e Paz – CCP – ser engenhoso com moderação e saber esperar o tempo da colheita, Bonito sermão, sinhô Padre.
ele sabia rezá pelo sonho do céu, a esperança na otra vida. Otra chance de vivê na morte. Otra sorte. Otro fantasma. Otra vida morta. Ameaçava com o apavoramento do fogo eterno. O inferno é prus amotinado, desobediente e teimoso. Ninguém podia discutí a reputação sagrada do padinhum, longa e duramente treinado nas palavra de deus, pra num brincá no serviço. Nas terra do céu num tem rebelião, resistência ou rebeldia, nem vaidade, egoismo ou exploração. Isso pode sê antes de subí, depois num pode
mais num é bem assim, num é pra tudo... num podia tê perdão prus tumbêro, a chibata, o enforcamento, o defloro das neinha, o capitão-do-mato. E teve. Bastava fazê doação. E faz. Sobre a otra vida? Num posso me explicá, num tô esclarecida. Ainda tô de limpeza da vida vivida
de todo jeito, o céu coberto de pretu qui existi na terra-mãe num acabô com a chegada dos branco, mais fez subí munto mais pretu antes da velhice, obrigando eles perdê sua dignidade humana, seus hábito, suas plantação, seus amigo, suas criação e suas crença. Prus pretu escravizado num restô nada além da vida de saudade e lágrima, depois qui os dono de tudo desembarcô nas terra do céu pretu, com a fome qui devora a terra, a água, o céu e num deixa de experimentá a carne humana. Arrancava tudo do lugá. Um monstro caridoso qui nunca perde a fome e a sede qui a fé exalta atrás da pimenta com assassinatos e incêndios, morticínios e naufrágios; as armas numa mão, a balança na otra, a cruiz no peito e as mentira na língua. Anarquia e depredação: o saque na terra da África pela fidalguia merdêra com os capacho armado inté os dente
a delicadeza era o canhão, o espritu era o adubo
os grande navegante dos grande descobrimento foi criando ferida, esquecimento, pobreza e fome pra munto tempo. Junto viajava os capacho dos dono de tudo
é dos capacho dos dono de tudo a purugunta qui tirô a humanidade e fez deles os merdêro qui é qui foi e vem vindo, Por que precisamos trabalhar se os negros podem fazer o trabalho da terra e das cidades?
E tudo isso por comida, roupa e estadia, remendô os dono de tudo, as risada inté hoje se escuta carregada pelo tempo e pelo vento
o trabaio dos pretu escravizado passô valê tanto quanto a prata e o ouro das mina. Ninguém achava estranho, só os pretu numerado por cabeça como o gado solto no campo cercado
virô vício comprá e tê escravo. O consumo do hábito qui dava consideração, prestígio e renome de dono do mundo, pelo menos, um pedaço do mundo qui nunca quis perdê a posição vantajosa dos direito e das oportunidade
o casarão com muntas porta e janela, o jardim colorido com rosas, jasmins, cravos, a frescura das árvore, as borboleta, os beija-flô, os sabiá, o murmúrio das água, as fruta fresca, o leite morno, a portêra com o nome da fazenda dava orgulho no peito, as criança brincando, as correria do rio e casa de detenção dos pretu
uma porta de entrá e saí trancada com cadeado. Chão de terra batida e os pé pretu. Uma arapuca. O cão cacarejava e gotejava ovo, a galinha latia e roia osso. Um mundo coçando perebas. Uma fábula. O ranho, o lanho e as mosca. A sineta do acordamento. A estufa morna das brasa e a promiscuidade do ajuntamento forçado, o suô dos grande escorria nas criança pelo chão da terra batida. As cadela no choco, o galo grunindo disfarçado. Os bocejo. O café aguado. O pão véio mofado e teso. A mandioca. As víscera no chão e os cuidado com o labor
a terra, a água, o tempo e o vento fecundado pelos pretu
os fidalgo lusitano dotro lado das estrada das água treinô os fiu dono de tudo da villa qui teve vontade de aprendê. As lição variava com os gosto e as recomendação, mais nenhum deixô de gostá das artimanha do uso do trabáio escravizado pra tê sua vida de merdêro apática, desleixada e preguiçosa. Essa gente num gosta de gente, só qué comprá capacho. Inté se empanturrá com os assanhamento e as tocaia obscena. O gosto dos fiu dono de tudo é seviciá o corpo das preta neinha e fazê elas engolí as lágrima, mas maió mesmo é o seu gosto pelo uso do relho nos pretu
eles tem a mão arrogante
a língua mentirosa
usa e abusa dos capacho caluniadô
no lugá do coração é só rancô
tudo apoiado na estima materna de sabê qui o fiu dono de tudo já era hôme – o renascimento do pai – a continuação de tudo como é: fariscando fêmea e enxotando pretu, estuprando, forçando, gabando, tudo sem arrependimento
os dono de tudo – das lei e das oportunidade – precisa qui assim seja pra sempre
entendeu pur qui ocê tá sentado no banco do cobradô das passagem? E num tá sentado no banco vazio da escola? Umifiuneto, tendeu? Ninguém acha estranheza no pretu varrendo as rua, fazendo buraco no chão, catando lixo, assaltando, roubando, morrendo ou matando as pulícia, mais acha munta desconsideração tê médico pretu ou obedecê a preta doutô juíza. Os dono de tudo resmunga um palpite depois da estranheza de vê os pretu sentado no banco da escola, Esses negros são as excessões que confirmam a regra. Com certeza receberam algum auxílio espúrio, isso só faz sentido assim. O lugar deles é a porta dos fundos, no máximo, entram e saem pela porta do lado.
os dono de tudo continuará dono de tudo qui se vende, inté do seu juízo se ocê deixá
Avó, eu não posso lhe colocá atenção.
Bobice.
é só ele escutá com o coração a razão das coisa sê como é. Ele sabe, mais precisa sabê qui sabe, Os fidalgo lusitano abriu a estrada das água da África pra villa com o contrabando dos pretu. Isso num é novidade. O neinho sabe. Eles renunciô aos hábito do trabáio. Isso eles num aceita qui é dito. Na verdade, os dono de tudo – das lei, das oportunidade e das riqueza – nunca foi gente de trabaiá
é uma fidalguia ignorante, egoísta, devassa, preguiçosa e beata. Ela continua perdia dos trabáio, inventando e reinventando a escravidão, sossegada na sua vida abençoada de comerciante da carne humana. Num é expulsa do paraíso nem tá ameaçada, continua vindo
as estrada das água pode sê usada pra coisa boa, mais pode tê uso pras maldade. As coisa da devoção, tumbém. Elas pode tê devotamento pra vida, mais pode relinchá ódio em nome de deus: fingindo amô, justiça e bondade. Nesse mundão tem de tudo. Ocê vai encontrá devoto insensato acocado prum demente egoísta e autoritário qui se anuncia dono de tudo – das lei, das oportunidade, das riqueza e dos espritu – e reza pela extinjunta ou perde do seu quadro é uma nova obra de beleza ou feiura
o muriquinhu qui aceita tudo, perdoa tudo por dinhêro
depois de abrí os óio pra modo de vê o neinho – num posso falá tanto com as vista vendo. Avoinha entende as fessora qui precisa tê conversa com muntos muriquinhu, os óio bem aberto e atenta pras novidade de cada um
cada muriquinhu é um mundo carregado dos qui já foi, dos qui tá e dos qui vem vindo. Isso num tem parada nem sossego
Tá escuitando, mifiuneto? Onde ocê tá?
silêncio
Ocê precisa sabê quem é, donde veio. Onde ocê tá?
parece qui foi tirado do banco do cobradô
Presta atenção, onde ocê tá? Vô repetí a lição bem lentinha: ocê é os qui já foi e tá nos qui vem vindo. Onde ocê tá?ção de qualqué desafeto, seja quem fô. O dono qui junta os vivo com os morto. Entendeu?
Não prestei muita atenção.
Então, oia pra véia. As água da vida é um quebra-cabeça qui ocê vai juntando enquanto vai se derramando. Os pedacinho é esparramado. Tudo munto misturado. O neinho precisa descobrí o gosto da sua pintura e montá o retrato da vida qui vai experimentando e maisquerendo, vestido e desvestido, despistando e encaminhando. Ocê vai chorá saudade, munta veiz; e arrependimento, otras veiz. Lembra qui avoinha já lhe disse, ocê é o qui já foi, mais tumbém é o qui tá vindo, precisa escoiê a vida qui qué tê e deixá prus qui tá vindo. Tem munta pintura já feita e munto mais pedacinho solto nas água. Cada lasca qui ocê junta ou perde do seu quadro é uma nova obra de beleza ou feiura
o muriquinhu qui aceita tudo, perdoa tudo por dinhêro
depois de abrí os óio pra modo de vê o neinho – num posso falá tanto com as vista vendo. Avoinha entende as fessora qui precisa tê conversa com muntos muriquinhu, os óio bem aberto e atenta pras novidade de cada um
cada muriquinhu é um mundo carregado dos qui já foi, dos qui tá e dos qui vem vindo. Isso num tem parada nem sossego
Tá escuitando, mifiuneto? Onde ocê tá?
silêncio
Ocê precisa sabê quem é, donde veio. Onde ocê tá?
num tá no banco do cobradô... onde se enfiô esse neinho
Presta atenção, onde ocê tá? Vô repetí a lição bem lentinha: ocê é os qui já foi e tá nos qui vem vindo. Onde ocê tá?
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Histórias de avoinha: as preta a escravidão e o descabaço do piá dono de tudo
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Histórias de avoinha: onde ocê tá, Fumaça?
Ensaio 77B – 2ª edição 1ª reimpressão
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