Poesia Africana - 16
Angulares
Canoa frágil, à beira da praia,
panos presos na cintura,
uma vela a flutuar...
Calema, mar em fora
canoa flutuando por sobre as procelas das águas,
lá vai o barquinho da fome.
Rostos duros de angolares
na luta com o gandú
por sobre a procela das ondas
remando, remando
no mar dos tubarões
p'la fome de cada dia.
Lá longe, na praia,
na orla dos coqueiros
quissandas em fila,
abrigando cubatas,
izaquente cozido
em panelas de barro.
Hoje, amanhã e todos os dias
espreita a canoa andante
por sobre a procela das águas.
A canoa é vida
a praia é extensa
areal, areal sem fim.
Nas canoas amarradas
aos coqueiros da praia.
O mar é vida.
P'ra além as terras do cacau
nada dizem ao angolar
"Terras tem seu dono".
E o angolar na faina do mar,
Tem a orla da praia,
as cubatas de quissandas,
as gibas pestilentas,
mas não tem terras.
P'ra ele, a luta das ondas,
a luta com a gandú,
as canoas balouçando no mar
e a orla imensa da praia.
Lá no Água Grande
Lá no "Agua Grande" a caminho da roça
negritas batem que batem co'a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.
Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.
Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.
As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes...
Velam no capim um negrito pequenino.
E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso...
Jazem quedos no regresso para a roça.
Descendo o Meu Bairro
Eu vou trazer para o palco da vida
Cpedaços da minha gente,
a fluência quente da minha terra dos trópicos
batida pela nortada do vendaval de Abril.
Eu vou descer a Chácara
subir depois pelos coqueiros do pântano
ao coração do Riboque,
onde o Zé Tintche, tange sua viola
neste findar dum dia de cais
com gentes de longe
na Ponte Velhinha
num dia de passageiros
E vou subir dum lado a outro da estrada barrenta
com gentes sentadas nos caminhos
vendendo cana, azeite, micócó*,
com uma candeia acesa em cada porta
aproveitando o lucro, na gente que desce,
que sobe e desce
com policiais parados,
à espreita da briga certa
neste bairro populoso,
onde nos juntamos à porta
no findar de cada dia.
Vou recordar...
As farras onde se bebe e dança,
os ritmos estuantes da nossa gente,
cabeças juntinhas num ritmo maluco
e a festa linda do Carnaval passado
com "Rosa Branca" tangendo viola
seguido do povo, rindo e cantando
como a gente só topa
no burburinho
do nosso bairro antigo,
onde a gente de carro
passa a ver
o formigar do nosso ritmo estuante,
até no futebol
do grupo bulhento
juntinho ao domingo
na folga da tarde,
juntando gente como milho
a mirar a nossa vida
e a ver,
num vaso oco de barro
escoar o nosso bairro
onde bem lá juntinho ao mato,
passa o sopro dum socopé de gozo
e os ritmos arrepiantes
dum batuque de encomendação
plo Mé Zinco
que a vida não ajuda
a descer a ladeira
onde hão-de chover em caudal
a água estuante do nosso bairro Riboquense,
filho da população heterogénea
brotada pela conjuntura
duma miscelânea curiosa
de gentes das áfricas mais díspares,
da África una dos nossos sonhos
de meninos já crescidos.
S. Tomé e Príncipe – em Lisboa,
Angulares
Canoa frágil, à beira da praia,
panos presos na cintura,
uma vela a flutuar...
Calema, mar em fora
canoa flutuando por sobre as procelas das águas,
lá vai o barquinho da fome.
Rostos duros de angolares
na luta com o gandú
por sobre a procela das ondas
remando, remando
no mar dos tubarões
p'la fome de cada dia.
Lá longe, na praia,
na orla dos coqueiros
quissandas em fila,
abrigando cubatas,
izaquente cozido
em panelas de barro.
Hoje, amanhã e todos os dias
espreita a canoa andante
por sobre a procela das águas.
A canoa é vida
a praia é extensa
areal, areal sem fim.
Nas canoas amarradas
aos coqueiros da praia.
O mar é vida.
P'ra além as terras do cacau
nada dizem ao angolar
"Terras tem seu dono".
E o angolar na faina do mar,
Tem a orla da praia,
as cubatas de quissandas,
as gibas pestilentas,
mas não tem terras.
P'ra ele, a luta das ondas,
a luta com a gandú,
as canoas balouçando no mar
e a orla imensa da praia.
Lá no Água Grande
Lá no "Agua Grande" a caminho da roça
negritas batem que batem co'a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.
Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.
Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.
As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes...
Velam no capim um negrito pequenino.
E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso...
Jazem quedos no regresso para a roça.
Descendo o Meu Bairro
Eu vou trazer para o palco da vida
Cpedaços da minha gente,
a fluência quente da minha terra dos trópicos
batida pela nortada do vendaval de Abril.
Eu vou descer a Chácara
subir depois pelos coqueiros do pântano
ao coração do Riboque,
onde o Zé Tintche, tange sua viola
neste findar dum dia de cais
com gentes de longe
na Ponte Velhinha
num dia de passageiros
E vou subir dum lado a outro da estrada barrenta
com gentes sentadas nos caminhos
vendendo cana, azeite, micócó*,
com uma candeia acesa em cada porta
aproveitando o lucro, na gente que desce,
que sobe e desce
com policiais parados,
à espreita da briga certa
neste bairro populoso,
onde nos juntamos à porta
no findar de cada dia.
Vou recordar...
As farras onde se bebe e dança,
os ritmos estuantes da nossa gente,
cabeças juntinhas num ritmo maluco
e a festa linda do Carnaval passado
com "Rosa Branca" tangendo viola
seguido do povo, rindo e cantando
como a gente só topa
no burburinho
do nosso bairro antigo,
onde a gente de carro
passa a ver
o formigar do nosso ritmo estuante,
até no futebol
do grupo bulhento
juntinho ao domingo
na folga da tarde,
juntando gente como milho
a mirar a nossa vida
e a ver,
num vaso oco de barro
escoar o nosso bairro
onde bem lá juntinho ao mato,
passa o sopro dum socopé de gozo
e os ritmos arrepiantes
dum batuque de encomendação
plo Mé Zinco
que a vida não ajuda
a descer a ladeira
onde hão-de chover em caudal
a água estuante do nosso bairro Riboquense,
filho da população heterogénea
brotada pela conjuntura
duma miscelânea curiosa
de gentes das áfricas mais díspares,
da África una dos nossos sonhos
de meninos já crescidos.
S. Tomé e Príncipe – em Lisboa,
jantar-convívio- música típica e poesia de Alda Espírito Santo
S. Tomé e Príncipe do 2º jantar convívio de São-Tomenses, na Diáspora, organizado pela Associação das Mulheres de S. T. P. em Portugal, Mén Nón, que decorreu, no último dia de Abri 2016, véspera do dia de trabalhador, na sede da ACOSP, na cidade de Lisboa, em ambiente de muita alegria e de entusiasmo, muito acolhedor e fraterno, como é timbre das gentes das maravilhosas Ilhas Verdes do Equador fraternidade – Com a sala completamente cheia, na qual puderam ser apreciados alguns dos mais saborosos pratos típicos da gastronomia, ao som da música da terra e também apreciados alguns momentos de poesia, com a leitura de belos poemas de Alda Neves da Graça do Espírito Santo, lidos pela voz da moçambicana ,Elsa de Noronha.
Muitos São-Tomenses, uns radicados há muitos anos na capital portuguesa, outros que estavam em curto período de férias ou de trabalho, alguns mesmo vindos de outros países da Europa, em boa verdade, reuniu-se um grupo muito representativo e heterógeno, desde crianças aos adultos, gente feliz, com muita emoção, extravasando um grande sentimentos de fraternidade e de familiaridade, ou não fossem todos “primos, naquelas que são consideradas as mais luxuriantes e paradísicas Ilhas do Golfo da Guiné.
Lá vimos, entre outros rostos, além das sempre amáveis e dedicadas, mulheres da Mé Nón, Solange Pinto, Rosalina Silva, Carlos Menezes, Abigal Tiny, Carlos Crisóstomos e até o próprio Diretor da Rádio nacional de São Tomé, Braçanan Santos.
Elsa de Noronha, natural de Moçambique, (22 de Agosto de 1934), filha do poeta moçambicano Rui de Noronha, declamadora e também ela autora de poesia, tem sido uma verdadeira paladina para a divulgação da poesia africana em língua portuguesa.
__________________
Alda do Espírito Santo, Alda Neves da Graça do Espírito Santo (São Tomé e Príncipe 1926 - 9 de Março de 2010), conhecida como Alda do Espírito Santo, foi uma escritora e poetisa de língua portuguesa.
Quando São Tomé e Príncipe conseguiu a independência de Portugal em 1975, ela ocupou vários altos cargos no governo como Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura, Presidente da Assembleia Nacional e Secretária-Geral da União Nacional de Escritores e Artistas de São Tomé e Príncipe.
Ela é também autora da letra do hino nacional, Independência total.
É autora dos livros de poemas “O Jogral das Ilhas”, de 1976, e “É nosso o solo sagrado da terra”, de 1978.
S. Tomé e Príncipe do 2º jantar convívio de São-Tomenses, na Diáspora, organizado pela Associação das Mulheres de S. T. P. em Portugal, Mén Nón, que decorreu, no último dia de Abri 2016, véspera do dia de trabalhador, na sede da ACOSP, na cidade de Lisboa, em ambiente de muita alegria e de entusiasmo, muito acolhedor e fraterno, como é timbre das gentes das maravilhosas Ilhas Verdes do Equador fraternidade – Com a sala completamente cheia, na qual puderam ser apreciados alguns dos mais saborosos pratos típicos da gastronomia, ao som da música da terra e também apreciados alguns momentos de poesia, com a leitura de belos poemas de Alda Neves da Graça do Espírito Santo, lidos pela voz da moçambicana ,Elsa de Noronha.
Muitos São-Tomenses, uns radicados há muitos anos na capital portuguesa, outros que estavam em curto período de férias ou de trabalho, alguns mesmo vindos de outros países da Europa, em boa verdade, reuniu-se um grupo muito representativo e heterógeno, desde crianças aos adultos, gente feliz, com muita emoção, extravasando um grande sentimentos de fraternidade e de familiaridade, ou não fossem todos “primos, naquelas que são consideradas as mais luxuriantes e paradísicas Ilhas do Golfo da Guiné.
Lá vimos, entre outros rostos, além das sempre amáveis e dedicadas, mulheres da Mé Nón, Solange Pinto, Rosalina Silva, Carlos Menezes, Abigal Tiny, Carlos Crisóstomos e até o próprio Diretor da Rádio nacional de São Tomé, Braçanan Santos.
Elsa de Noronha, natural de Moçambique, (22 de Agosto de 1934), filha do poeta moçambicano Rui de Noronha, declamadora e também ela autora de poesia, tem sido uma verdadeira paladina para a divulgação da poesia africana em língua portuguesa.
__________________
Alda do Espírito Santo, Alda Neves da Graça do Espírito Santo (São Tomé e Príncipe 1926 - 9 de Março de 2010), conhecida como Alda do Espírito Santo, foi uma escritora e poetisa de língua portuguesa.
Quando São Tomé e Príncipe conseguiu a independência de Portugal em 1975, ela ocupou vários altos cargos no governo como Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura, Presidente da Assembleia Nacional e Secretária-Geral da União Nacional de Escritores e Artistas de São Tomé e Príncipe.
Ela é também autora da letra do hino nacional, Independência total.
É autora dos livros de poemas “O Jogral das Ilhas”, de 1976, e “É nosso o solo sagrado da terra”, de 1978.
Nenhum comentário:
Postar um comentário