Poesia Africana - 28
língua portuguesa
Um sentimento de amor pátrio sobe no meu coração,
Em espírito demando o meu país natal,
E lembro aquela floresta africana,
Cheia de caça e de verdura;
Lembro as suas imensas árvores gigantes,
A folhagem verde ou amarela
Que nos perfuma
A FONTE
I
Eis-me perto da Fonte, muito perto.
Vejo brotar a água,
Uma água clara e límpida,
Boa, amável!
Eis a Fonte:
Fica perto de Badiopor.
Junto dela nasci:
Eis a Fonte da minha infância.
Sim, eu amo essa Fonte,
Admiro-a,
Brinco,
Eu e meus irmãos, à sua beira.
Fica, fica perto de Badiopor,
Desse lugar quase sagrado,
Desse lugar ensombrado;
Badiopor, fonte de nossas almas.
A sua água nos atrai,
E acarinha-nos.
Vemo-la noite e dia;
E a Fonte que está mais perto.
Olha: a água a brotar da nascente,
Como de fonte,
Como um regato!
(Sim, parece-se mais com um regato.)
II
Mais pequena ainda que a Fonte,
É a nascente onde tudo vem beber.
A nascente, nossos pais, amamo-la.
Nossa.
A nascente é fonte das árvores e das folhas.
Olhamos a nascente, o ribeiro,
Manancial de nossos pais.
É verdade:
Esta Fonte é mui antiga,
Nascente da Tradição,
Fonte da Historia; eis
O manancial do Reino,
Tão perto de Badiopor!
Bem me lembro:
Ha muito que ela se conserva no mesmo lugar,
Manando água cristalina.
Eis, eis a Fonte do Reino.
Ela protege-nos,
Ela é a alma das crianças;
Fonte do Reino, força nossa,
Ela é a nossa protectora.
As chaves do Reino onde estão?
Nessa Fonte,
Onde meus irmãos e eu vemos às vezes monstros
E trememos então de medo,
Ou choramos.
(Nós, filhos do Reino,
Nos, príncipes desse seu Reino.)
III
É verdade, como príncipes,
De tudo cantamos,
Nos, príncipes de Baboque
Bem amados,
Pelo sangue
Oriundos daquele Rei,
Daquele que é Rei dos Reis;
Nos que vimos do seu Reino,
De todos o mais poderoso e vasto,
Como o Reino de Baçarel.
(E Baçarel é um grande Reino,
Onde príncipes vêm a luz;
Baçarel, terra bem nobre,
Seu lugar de nascimento.)
O MAR
Olhai: o Mar tem influência singular
Sobre mim. Os animais aquáticos são tantos
Valia a pena persegui-los no mar alto;
Valia a pena vê-los saltar através das ondas.
O Mar, esse mundo que os homens não habitam,
É imenso, tão belo e tão perfeito!
O Mar tem influência singular
Sobre mim. Eu bem queria ir ver as ondas;
Valia a pena olhá-las a correr
Loucamente; valia a pena
Ver qual delas primeiro entrava na baía.
Ah!, o Mar vasto, no entanto, aqui nos fala
Sim, fala-nos interiormente,
E nos compreendemos a sua língua:
E uma língua que se entende.
(Ah!, que impressão nos faz o Mar!)
INFÂNCIA
Eu corria através dos bosques e das florestas
Eu corno o ruído vibrante de um bosque desvendado,
Eu via belos pássaros voando pelos campos
E parecia ser levado por seus cantos.
Subitamente, desviei os meus olhos
Para o alto mar e para os grandes celeiros
Cheios da colheita dos bravos camponeses
Que, terminando o dia, regressavam à noite entoando
Canções tradicionais das selvas africanas
Que lhes lembravam os ódios ardentes
Dos velhos. Subitamente, uma corça gritou
Fugindo na frente dos leões esfomeados.
Aos saltos, os leões perseguiram a corça
Derrubando as lianas e afugentando os pássaros.
A desgraçada atingiu a planície
E os dois reis breve a alcançaram
PAÍS NATAL
Um sentimento de amor pátrio sobe no meu coração,
Em espírito demando o meu país natal,
E lembro aquela floresta africana,
Cheia de caça e de verdura;
Lembro as suas imensas árvores gigantes,
A folhagem verde ou amarela
Que nos perfuma.
Revejo a minha infância,
Toda cheia de alegrias:
Eu corria pelo mato,
Espiava os animais selvagens,
Sem medo;
E olhava os lavradores nos campos,
E, no mar, os pescadores,
Que lutavam contra o vento, para agarrar o peixe,
E que eu, atento, seguia com o olhar:
Como gostava de os ver no oceano
Domar as vagas, que lhes queriam virar as barcas!
(Ah!, bem me lembro, bem me lembro do meu país natal!)
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António Baticã Ferreira nasceu em Texeira Pinto no Canchungo (Guiné-Bissau) no ano de 1939. Estudou em França onde concluiu o liceu.
Na Suíça formou-se em medicina na Universidade de Lausana. Sabe-se que exerceu medicina no Hospital de Santa Maria em Lisboa (Portugal), mas desconhece-se quanto tempo viveu em Portugal.
De acordo com Luís Graça (bloguer), Albano de Matos disse-lhe que conheceu António Baticã na Sociedade da Língua Portugues e que este ter-lhe-á publicado colectânea de poesia de nominada “Poesia & Ficção".
Em 1945 António Baticã Ferreira e Amílcar Cabral estavam ligados ao partido PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) na luta pela independência da Guiné-Bissau contra o domínio Português e com a denominada “poesia de combate” que incitava a luta pela libertação
No que diz respeito a musica cabo verdiana, Baticã também teve grande relevo, pois no período que antecedeu a libertação os seus escritos foram considerados com forma de expressão fizeram cultural na Guiné-Bissau.
A sua poesia está dispersa por diversas publicações francesas e portuguesas, nomeadamente La Tribune Internacional des Poètes, L’Afrique Nouvelle e La Croix; Poesia & Ficção, Diário Popular e Debate.
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