sexta-feira, 1 de outubro de 2021

parábolas de uma professora: silenciar o outro não é educar

parábolas de uma professora


silenciar o outro não é educar
Ensaio 015B – 3ª.ed



baitasar e paulus e marko e kamilá




Nos basta acomodar ventos e desejos no quartinho dos fundos? Estamos descobrindo que gritos não bastam, Cala a boca, senta, copia, não incomoda, silêncio, escuta, não pode, não!

invejo professoras e professores – que na sua coragem de ter esperança – mobilizam com determinação a realidade à sua volta com alegria e convencimento, acreditam na ternura, na palavra amorosa, têm medo da prepotência e da maneira como ela se infiltra nas pessoas, mesmo naquelas transbordando de boas intenções

querida, eu as invejo

minha inveja não é invejosa – espero que não –, não despreza nem é melancólica, é resiliente e transgressora da vontade estabelecida, desde muito antes, do esquecimento aprisionado no passado sem margens na história, gentes incorporadas e desincorporadas da vida sem o reconhecimento da sua existência – quero ver a justiça se fazer justiça para essas gentes –, destruídas sem nenhuma narração da sua destruição

ninguém educa com o chicote na mão, silenciar o sonho do outro e a alegria da outra não é educar, é o autoritarismo pedagógico do mais forte com seu olhar de ceticismo e medo de ser rejeitado, quando falham os argumentos recorre às armas para sustentar seus pontos de vista

precisamos pensar e ser esperança

queridas, os momentos de desilusão com o cotidiano foram e são e serão muitos, não podemos permitir sem luta a invasão da desesperança do mundo no outro, na nossa própria dor e desalento, sem luta murcharemos

Para, Marko! Essa gente só quer comer!

haja paciência, é preciso muita ternura e um pote sem fundo de esperança

E por acaso – e só por acaso –, nós não queremos comer, também? Às vezes, até um pouco a mais do que deveríamos do picadinho de angu, né?

Picadinho de angu, cruzes!

bem no alvo – e nas periferias do alvo –, eu também não consigo controlar meus desejos por doçuras – minhas travessuras – quando estou ansiosa, agora mesmo, comeria uma barra de chocolate e um sonho fofinho – e redondinho – com creme

Tira a comida e acaba com essa lei comunista que obriga os pais mandarem a ninhada à escola... e voltamos a conversar!

mais difícil de tudo isso é aguentar essa enxurrada de amargura, desencanto e frustração sem um sonho de acolhimento, preciso da amorosidade do chocolate

que tempo difícil, e ao mesmo tempo desafiante, ser professora de história, já tivemos pelo mundo muitas elites com mais ou menos valia, engenhos diversos e explicações sortidas para sua formação e suas categorias, posse econômica concentrada, qualificação educacional, mas todas têm em comum serem formadas por homens brancos que preservam com unhas e dentes os padrões que qualificam o alistamento ao grupo, concedendo à mulherada o papel de cuidadora da casa e da infância como sentido para suas vidas

Será isso mesmo, Rodolfo?

Vagabundos e preguiçosos! Precisamos diminuir os impostos! Amar a Pátria acima de tudo, temer à Deus acima de todos! Menos direitos e mais deveres é o que essa gente precisa!

bem... conseguimos, as elites da idade média ressurgiram aos gritos do seu adormecimento

Eu gosto mais, Rodolfo, daqueles versos que cantamos – acho que você já cantou, também –, A gente não quer só comida, lembra? A gente quer a vida como ela quer, é isso, né? Queremos diversão, música e balé. Vocês têm medo do quê, mesmo? De fazer amor? Têm medo do prazer que alivia a dor? Queremos inteiro ou só pela metade?

O desejo injusto é pecado!

Malditas as religiões que se armam do ódio, da ganância e da ignorância para sustentar seus pontos de vista!



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