Hilda Hilst
comecemos pela poesia...
As coisas que procuro
Não têm nome.“Me fizeram de pedra/ quando eu queria/ ser feita de amor”
As coisas que procuro
A minha fala de amor
Não tem segredo.
Perguntam-me se quero
A vida ou a morte.
E me perguntam sempre
Coisas duras.
Tive casa e jardim.
E rosas no canteiro.
E nunca perguntei
Ao jardineiro
O porquê do jasmim
— Sua brancura, o cheiro.
Queiram-me assim.
Tenho sorrido apenas.
E o mais certo é sorrir
Quando se tem amor
Dentro do peito.
[17, Roteiro do silêncio]
As asas não se concretizam.
Terríveis e pequenas circunstâncias
Transformam claridades, asas, grito,
Em labirinto de exígua ressonância.
Os solilóquios do amor não se eternizam.
E no entanto, refaço minhas asas
Cada dia. E no entanto, invento amor
Como as crianças inventam alegria.
[18, Roteiro do silêncio]
Respiro e persigo
uma luz de outras vidas
E ainda que as janelas se fechem, meu pai
É certo que amanhece.
Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas.
Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas.
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.
Porque assim é preciso
Para que tu vivas.
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