Ensaio 61B – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
na reunião dos donativo do siô padre, feita na continuação dos brinde com sangue do bode, ficô dito qui num se podia fazê obrigação dos donativo dado em nome da obra santa, Caridade é só caridade. Ela tem mais mérito e relevância que qualquer outra contribuição imposta aos cidadãos de bem para manter o Império com suas caridades, gostamos de escolher as nossas caridades, sentô depois do dito, tumbém num queria falá a mais nem chamá atenção além da medida, num queria provocá ciumêra nos calado e o medo nos dono de tudo. E assim ficô, ouvindo o qui num tava querendo. Arrotando o vinho, soluçando as vontade de tá com as menina da rua dos pecado. Oiô pru padre e soltô otro um pouco da língua qui guarda escondida
Rezar é bom quando se está doente ou vamos morrer, mas construir uma igreja com nosso dinheiro para os miseráveis rezarem é como rezar a esmo. Eles merecem? Não precisamos desta igreja tão grande. Miseráveis não têm futuridade nem precisam pensar no Paraíso, muito menos acreditar na sorte.
E quem vai aquietar seus corações?
O Chefe da Polícia! E quem mais havia de ser?
quem mais calejado e treinado pra ensiná essa narrativa do caos que gente egoísta e canalha? Na continuação o siô da hora pensô em mandá o siô padre se fudê, mais só pensô, não quero e não vou sustentar os pedaços da sua igreja, padreco de merda. o que foi isso, conde? não se meta, bode! meu amigo, onde estiverdes reunidos em meu nome, ali estarei eu. eu quem? eu. bode, sua voz parece com a voz de um velho indecente e castrador. a minha? sim, a sua. parece que o conde anda ouvindo vozes demais. você é o bode, filho-da-puta. conde! ainda acabo com ocê, bode. somos prisioneiros um do outro. você não é real, bode.
Acho que o Chefe da Polícia não consegue aquietar tantos corações.
Já que fui citado, tenho uma sugestão como Chefe da Polícia.
Pois fale, retrucô o siô padre
num queria nem começá ouví, mais ali tava, ali ia continuá. Pensava nas moça da maria da cobra e uma tempestade desacomodava as virilha vigilante. Aquela reunião lhe parecia coisa de vigarista com truque de palavra, sabia fazê meió com venda nas vista; juramento na escuridão é coisa de criança que se deixa fasciná pelo mistério; e o vinho de sangue, um engodo, Honestidade quem tinha era maria cobra, colocava um valô nas menina e cobrava o preço. essa cobra é real, conde? é um prêmio.
E qual é a sugestão do Chefe da Polícia?
O sinhô Conde da Hora não escutou?
Ah, sim. Desculpe a soltura dos pensamentos, num pareceu embaraçado e pediu qui o chefe das pulícia continuasse
Sugiro que o sinhô Padre faça uma lista com os nomes dos responsáveis pelo ajutório e a ajuda dada.
o siô da hora levô otro susto, num gostava nada de tê ou num tê o seu nome nesta lista de vigilância. Num podia tê nem queria tê o nome marcado na paleta de qualqué inventário, O gosto de hoje é o desgosto de amanhã. bobagem, conde. não vou ficar calado, bode. é melhor o conde pensar, duas ou três vezes, antes de atacar o padre e o chefe da polícia.
num escutô os próprios consêio. Pediu a palavra, mesmo qui ali num queria tá ele tava, resmungava com os próprio pensamento, Esse é um bom homem porque dá, esse outro é um egoísta avarento que não dá um tostão, esse é um filho-da-puta que finge que dá. cuidado com as palavras ditas, conde. caridade é caridade, dou o que eu quero e quando eu quero. cuidado, conde.
levantô a mão pra falá, um conde num ia se calá prum consêio do bode, Por que fazer uma lista se o Sinhô Deus sabe tudo e vê tudo? É chover no molhado, falô mais num passô o limite do bão senso
foi a veiz do siô padre levantá pra dá as explicação devida pelo assunto levantado, oiô nas vista do afilhado, mais falô pra tudo qui foi bode, O verdadeiro valor é o fim que queremos alcançar. Os nomes servem para os agradecimentos na missa, mostrar que o amor à Deus não é um saco de palavras vazias. Precisamos de um Deus misericordioso para nos proteger dos cínicos. Chegará o dia e a hora do chimarrão com o Sinhô das Terras de Cima, vai ser bom estar na lista dos doadores declarados, conferidos, descarregados e usados na construção da nossa igreja.
O sinhô Padre que me desculpe, não vejo necessidade de controlar o que é dado. Isso não pode ser o começo de tudo. Estamos criando um monstro, daqui a pouco a Villa nos controla tudo, inclusive os lucros!
a confraria num tava no acordo com um lado nem com otro. Num sabia se queria separá a verdade da falsidade. O siô padre procurô o governadô qui já num tava mais. Saiu no meio da confusão começada. Um frôxo piadista. Mais encontrô as vista do aconseiadô do governadô. Os dois oiô firme um notro. Nenhum desviô. O siô padre puxô pra conversa o siô lobomanso cinza, E o sinhô Aconselhador do Excelentíssimo Governador?
Sim...
O que o sinhô Pensavento pode nos dizer? O que Vossa Excelência aconselharia?
o citado e puruguntado num fez um movimento de nervosismo nem desconforto, parecia tá com os pensamento longe, abandonado de ficar ali. Jogô um laço numa das palavra do padre e se deixô ir. Saiu voando pela fresta da janela, achô qui foi a palavra aconselharia qui uso de montaria pra saí dali, desviô do arvoredo e rebateu-se no varapau do acendedô das luminária da parte alta da villa. Um assopro, uma cambalhota e caiu. Desceu no rumo do chão. Bateu as vestimenta com o pó da terra e seguiu com os pé. Passeô inté a sacristia. Só ele e o padre
O problema mais preocupante são os amigos descuidados e indecentes, se o padre disse otras coisa dita num lembra, num sabe se a conversa começô da lembrança qui tem, mais num importa
Eu sei, meu amigo.
Vamos caminhar?
os dois saiu da sacristia. Num era cedo da manhã, mais tumbém num era tarde. Era metade. O calô da iluminura do sol já tava alto e continuava levantando. O movimento da vida tumbém num parava. Levantava. Ficava mais forte. O rumô das rua anunciava otro dia cheio na villa. As rua tem vida qui estranha com a vida das casa. Num entendi o qui acontece lá dentro nem as coisa lá de dentro entendi o qui se passa cá fora
Escute a nossa volta... o amigo está ouvindo?
o aconseiadô parô pra atendê a purugunta do siô padre. Na primêra vista da escutação num escutô. Oiô na sua volta, num viu nada fora do lugá, tudo tava onde devia tá
O quê o amigo Pensavento vê?
Sei lá... miseráveis, derrotados, negros, escravos, estúpidos, bêbados, vagabundos. O que há mais para ver? Nestas horas do dia?
Feche os olhos e escute, pronto, o aconseiadô estava com os óio fechado, ele num sabia o qui o padre queria prová, mais num ia se acovardá
Imagine o significado do que o amigo está ouvindo.
o aconseiadô tava com as vista fechada, mais num parecia fazê cara de espanto ou estranheza, num parecia tá num horripilante pesadelo ou doce paraíso. A procissão dos baruio passava misturada com o vozerio daquela gente morta, capacho da boa vida dos hôme e muié do bem, Não havia me dado conta desse cheiro. É um fedor insuportável.
Não abra os olhos, continue.
escutava em silêncio. Abriu os óio e viu o barbêro-sangradô, pela primêra veiz. O preto cortava os cabelo dos preto, raspava a barba dos preto, sabia tumbém, tirá o sangue doente dos preto. Gostava de fazê uso das chamichunga. Isso dava pra vê só de oiá. Num precisava nem puruguntá. O adoentado sentado na calçada, ou em pedra solta com tamanho de banco, entregue nas habilidade do barbêro com as bicha parasita, inté terminá a sangria do veneno do sangue sarará ou criolo. Num era coisa bunita de vê, mais dava de vê qui fazia o qui gostava de fazê
mais adiante, tinha os tambô e as cantoria feita no céu aberto da luz livre. A rua da floresta era a rua do batuque com os pé no chão, sem os assoáio das tábua. Os preto batuquêro só precisava tê cuidado com os pulícia. Já vem antes desse tempo, os pulícia existe pra cuidá de protegê a vida e os bão costume dos branco de sangue bão. Foi feita pra protegê os qui manda. Os pulícia da villa tinha nas filêra de subalterno os preto forro. Pru preto era um jeito de meiorá a vida de negro forro jogado na rua. Os preto da pulícia qui era preto avisava das batida nas festa dos batuque; mais tumbém, tinha os negro virado pulícia qui queria esquecê qui era preto e num avisava das batida nos batuque. Num tinha muito desses negro, mais qui tinha isso tinha. Desses qui fingia sabê da vida dos branco, esquecido da vida dos preto. Na sabedoria qui eu sei, um qui otro desembestô de sê dono de preto escravo, mais num conseguiu. Os branco num deixô, inda bem, essa maldade dependia da vontade dos dono de tudo. E os dono de tudo num divide nada com ninguém, muito menos ia dividí escravo com negro forro
seguido chegava nas pulícia as denúncia contra os batuque dos tambô, quase sempre nos domingo. Os pulícia saia pra cumprí as lei do imperadô. Fazê os bão costume vingá a razão branca. As recomendação era uma só: serená os divertimento dos preto forro; silenciá as batucada; pará as dança. Aquele gritedo causava estranheza. Os branco nunca entendeu qui aquele bailado num era briga nem desordem, mais o feitio dos preto encontrá o oiá dos mais antigo qui os antigo. Oiá de ajuda e de amparo dos preto já partido e reconhecimento dos enredo já vivido. Ouví os aconseiamento qui tá na volta, mais escondido dos óio com desusança pra oiá o qui num se mostra. Lutá pra resistí a luz maldosa das treva qui engana o oiá com a luz sombria da caridade qui faz mais prisionêro qui liberta os aprisionado
a gaivota azul voando, os preto cantando o canto dos escravo, muriquinho piquinino, ô parente, muriquinho piquinino de quissamba no cacunda. Purugunta aonde vai, ô parente. Purugunta aonde vai pru quilombo do Dumbá: ei, chora-chora mgongo ê devera chora, mgongo, chora. O moleque de trouxa nas costa, fugindo pru quilombo Dumbá, os otro chora qui num pode ir junto
o aconseiadô mais um tanto pensativo, distraído do próprio silêncio, chegô na beirada das água. Num escutava os canto dos escravo. Parô os passo, mais num parô a tramóia dos pensamento. Ele era o hôme qui alargava ou encurtava as vontade do governadô, ou caminhava a esmo, ou se vestia de paiaço, ou um louco, ou um sábio, ou um abutre. Aprendeu qui podia passeá com a solidão e num parecê enjoado ou idiota. Sabia qui os queixume do siô padre precisava sê oiado com cuidado. Num tinha solução de simplicidade, mais havia de encaminhá alguma providência, O sinhô Padre sabe que o rigor das leis para os negros e miseráveis é fácil!
Sim, meu amigo. Eles já sabem que a primeira tarefa da espada do Imperador é cortar todos, os dois continuava parado na beirada das água, são como os peixes no rio: livres para ficarem nas águas até serem aprisionados nas redes dos pescadores.
E o sinhô Padre me parece um dos melhores pescadores da Villa, o aconseiadô virô as vista inté o siô padre, o pescadô das água num se mexeu, continuô oiando pras água com as rede nas mão
O amigo dá mais importância que mereço e esquece a sua contribuição mais imediata e decisiva: arrasar com os contrários ao Imperador.
as água continuava mansa, mais num escondia o fedô dos peixe morto, os resto qui num prestava da limpeza feita, sem lápide, as mariposa engolindo pedaço de mais tamanho qui elas pra depois voá distorcida inté as flores para suavizá o gosto podre da civilização
No império não precisamos do embaraço e sofrimento dos contrários. O que eu faço? Nada. O Chefe da Polícia é quem prende e solta. Prende e solta e prende. Solta e prende e solta. até quebrar as resistências do mais fraco. Outros só querem ser comprados. Mas nem todos são assim, como crianças que se negam obedecerem. Os casos mais extremos de enfrentamento só fazendo desaparecer, o siô padre pediu qui num lhe fosse dito os detalhe das víscera boiando embaixo das mariposa. A mão desgrudô da otra e subiu inté a testa, pai fiô santo, amém. A cruiz da salvação, Não tem quem mande no sujeito que não quer respeitar, nos casos assim, é melhor dar sumiço, pai fiô santo, amém
os dois hôme de importância pras tramóia na villa continuava parado, oiando as mariposa do rio. Um rezava, o otro lembrava das conversa com o governadô. Na cabeça de gente cabe tanta coisa junta, O problema mais preocupante sua Excelência são os amigos indecentes e descuidados!
Eu sei, Pensavento. Os amigos da fidalguia não podem receber o rigor das leis, nascemos acostumados com tantas bondades. Não nascemos para capacho dos miseráveis, mas precisamos ter quem mande, nosso Imperador precisa tranquilidade para governar.
E na Villa parece que toda fidalguia é aparentada. Todos têm algum interesse que merece cuidado especial.
eu sabia que as notícias novas assustavam, ninguém queria perder as posições que já tinham conquistado depois de tantas intrigas, mentiras, traições e mortes. Não estava em questão estrago desnecessário, Os nossos amigos, não todos, mas quase todos, estão roubando das doações que fazem à construção da igreja do sinhô Padre.
O que fazem de tão grave?
Isso. Roubam o que foi dado. Eles fazem a doação durante o dia do material para construção da igreja.
E...
E à noite, voltam para levar parte do que foi doado. Fingimento de bom amigo e o reconhecimento nas domingueiras do sinhô Padre. Uma disputa de poder e prestígio. Mostrar quem doa mais. A retórica que se impõe pelo discurso e imagens.
Quem fez a acusação?
O sinhô Padre.
Ele garante o que viu?
fiz um pequeno silêncio que pareceu indecisão, mas foi só um jogo de tempo para melhorar minhas palavras a serem ditas, Ele garante que quem viu usava os olhos dele.
o governador não aparentava preocupação, sabia que sentar na cadeira de governador tem um preço, Não podemos deixar esse justiçamento com as Leis Divinas? Afinal, não é roubo de muita gravidade. E caso isso venha a ser considerado roubo. Como acusar de roubo se essas pessoas generosas apenas mudaram de ideia? Eu não me preocuparia com isso.
É um jeito de não fazer o que é preciso ser feito, mas a questão é o sinhô Padre e o sermão das domingueiras.
olhamos a esmo, um ao otro, cada um com a sua solidão. Sabíamos que a traição não faz uma coisa ruim ficar boa, mas faz algo bom quebrar, Deixe-me ver a lista com os nomes.
estendi o papel, o governador se estendeu na leitura além do tempo, Têm nomes que podem aparecer e nomes que não podem ser revelados.
os maus são tão egoístas e os bons tão ingênuos, quase sempre; mas não valem as moedas em meu bolso, são aborrecidos. Gosto de gente boa e má quando é preciso. Sem medo do inferno, inquietos com o paraíso, Excelência, do mesmo jeito que o povo escuta o sermão do sinhô Padre, o Imperador tem ouvidos para escutar. Não faltarão línguas para contar.
balançou a cabeça confirmando o que havia lhe dito. Não me considero um gênio, mas gosto de entender desta arte de mentir enquanto a verdade cochila. Cada dia que escapo das armadilhas, juro que nunca mais mentirei, mas não consigo, Eu sei eu sei, o padreco tem muitos olhos e ouvidos na volta do Imperador.
É muito arriscado fechar os olhos. Sua Excelência ainda estava na reunião quando o pequeno bode, recém-nascido pelo batizado, fez soar o alarme.
Eu lembro, Pensavento. Por isso, lhe chamei aqui. O filho-da-puta deu a deixa para o padreco. Lembre-se de ter cuidado com esse bodinho.
a gaivota azul voando, os preto cantando o canto dos escravo, Ia uê ererê aiô gombê: com licença do curiandamba, com licença do curiacuca, com licença do sinhô môço, com licença do dono de terra
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Histórias de avoinha: A vida num termina. Nem a poesia
Ensaio 60B – 2ª edição 1ª reimpressão
Histórias de avoinha: Vigiar e prender é a minha tarefa, a sua é vigiar e rezar
Ensaio 62B – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
na reunião dos donativo do siô padre, feita na continuação dos brinde com sangue do bode, ficô dito qui num se podia fazê obrigação dos donativo dado em nome da obra santa, Caridade é só caridade. Ela tem mais mérito e relevância que qualquer outra contribuição imposta aos cidadãos de bem para manter o Império com suas caridades, gostamos de escolher as nossas caridades, sentô depois do dito, tumbém num queria falá a mais nem chamá atenção além da medida, num queria provocá ciumêra nos calado e o medo nos dono de tudo. E assim ficô, ouvindo o qui num tava querendo. Arrotando o vinho, soluçando as vontade de tá com as menina da rua dos pecado. Oiô pru padre e soltô otro um pouco da língua qui guarda escondida
Rezar é bom quando se está doente ou vamos morrer, mas construir uma igreja com nosso dinheiro para os miseráveis rezarem é como rezar a esmo. Eles merecem? Não precisamos desta igreja tão grande. Miseráveis não têm futuridade nem precisam pensar no Paraíso, muito menos acreditar na sorte.
E quem vai aquietar seus corações?
O Chefe da Polícia! E quem mais havia de ser?
quem mais calejado e treinado pra ensiná essa narrativa do caos que gente egoísta e canalha? Na continuação o siô da hora pensô em mandá o siô padre se fudê, mais só pensô, não quero e não vou sustentar os pedaços da sua igreja, padreco de merda. o que foi isso, conde? não se meta, bode! meu amigo, onde estiverdes reunidos em meu nome, ali estarei eu. eu quem? eu. bode, sua voz parece com a voz de um velho indecente e castrador. a minha? sim, a sua. parece que o conde anda ouvindo vozes demais. você é o bode, filho-da-puta. conde! ainda acabo com ocê, bode. somos prisioneiros um do outro. você não é real, bode.
Acho que o Chefe da Polícia não consegue aquietar tantos corações.
Já que fui citado, tenho uma sugestão como Chefe da Polícia.
Pois fale, retrucô o siô padre
num queria nem começá ouví, mais ali tava, ali ia continuá. Pensava nas moça da maria da cobra e uma tempestade desacomodava as virilha vigilante. Aquela reunião lhe parecia coisa de vigarista com truque de palavra, sabia fazê meió com venda nas vista; juramento na escuridão é coisa de criança que se deixa fasciná pelo mistério; e o vinho de sangue, um engodo, Honestidade quem tinha era maria cobra, colocava um valô nas menina e cobrava o preço. essa cobra é real, conde? é um prêmio.
E qual é a sugestão do Chefe da Polícia?
O sinhô Conde da Hora não escutou?
Ah, sim. Desculpe a soltura dos pensamentos, num pareceu embaraçado e pediu qui o chefe das pulícia continuasse
Sugiro que o sinhô Padre faça uma lista com os nomes dos responsáveis pelo ajutório e a ajuda dada.
o siô da hora levô otro susto, num gostava nada de tê ou num tê o seu nome nesta lista de vigilância. Num podia tê nem queria tê o nome marcado na paleta de qualqué inventário, O gosto de hoje é o desgosto de amanhã. bobagem, conde. não vou ficar calado, bode. é melhor o conde pensar, duas ou três vezes, antes de atacar o padre e o chefe da polícia.
num escutô os próprios consêio. Pediu a palavra, mesmo qui ali num queria tá ele tava, resmungava com os próprio pensamento, Esse é um bom homem porque dá, esse outro é um egoísta avarento que não dá um tostão, esse é um filho-da-puta que finge que dá. cuidado com as palavras ditas, conde. caridade é caridade, dou o que eu quero e quando eu quero. cuidado, conde.
levantô a mão pra falá, um conde num ia se calá prum consêio do bode, Por que fazer uma lista se o Sinhô Deus sabe tudo e vê tudo? É chover no molhado, falô mais num passô o limite do bão senso
foi a veiz do siô padre levantá pra dá as explicação devida pelo assunto levantado, oiô nas vista do afilhado, mais falô pra tudo qui foi bode, O verdadeiro valor é o fim que queremos alcançar. Os nomes servem para os agradecimentos na missa, mostrar que o amor à Deus não é um saco de palavras vazias. Precisamos de um Deus misericordioso para nos proteger dos cínicos. Chegará o dia e a hora do chimarrão com o Sinhô das Terras de Cima, vai ser bom estar na lista dos doadores declarados, conferidos, descarregados e usados na construção da nossa igreja.
O sinhô Padre que me desculpe, não vejo necessidade de controlar o que é dado. Isso não pode ser o começo de tudo. Estamos criando um monstro, daqui a pouco a Villa nos controla tudo, inclusive os lucros!
a confraria num tava no acordo com um lado nem com otro. Num sabia se queria separá a verdade da falsidade. O siô padre procurô o governadô qui já num tava mais. Saiu no meio da confusão começada. Um frôxo piadista. Mais encontrô as vista do aconseiadô do governadô. Os dois oiô firme um notro. Nenhum desviô. O siô padre puxô pra conversa o siô lobomanso cinza, E o sinhô Aconselhador do Excelentíssimo Governador?
Sim...
O que o sinhô Pensavento pode nos dizer? O que Vossa Excelência aconselharia?
o citado e puruguntado num fez um movimento de nervosismo nem desconforto, parecia tá com os pensamento longe, abandonado de ficar ali. Jogô um laço numa das palavra do padre e se deixô ir. Saiu voando pela fresta da janela, achô qui foi a palavra aconselharia qui uso de montaria pra saí dali, desviô do arvoredo e rebateu-se no varapau do acendedô das luminária da parte alta da villa. Um assopro, uma cambalhota e caiu. Desceu no rumo do chão. Bateu as vestimenta com o pó da terra e seguiu com os pé. Passeô inté a sacristia. Só ele e o padre
O problema mais preocupante são os amigos descuidados e indecentes, se o padre disse otras coisa dita num lembra, num sabe se a conversa começô da lembrança qui tem, mais num importa
Eu sei, meu amigo.
Vamos caminhar?
os dois saiu da sacristia. Num era cedo da manhã, mais tumbém num era tarde. Era metade. O calô da iluminura do sol já tava alto e continuava levantando. O movimento da vida tumbém num parava. Levantava. Ficava mais forte. O rumô das rua anunciava otro dia cheio na villa. As rua tem vida qui estranha com a vida das casa. Num entendi o qui acontece lá dentro nem as coisa lá de dentro entendi o qui se passa cá fora
Escute a nossa volta... o amigo está ouvindo?
o aconseiadô parô pra atendê a purugunta do siô padre. Na primêra vista da escutação num escutô. Oiô na sua volta, num viu nada fora do lugá, tudo tava onde devia tá
O quê o amigo Pensavento vê?
Sei lá... miseráveis, derrotados, negros, escravos, estúpidos, bêbados, vagabundos. O que há mais para ver? Nestas horas do dia?
Feche os olhos e escute, pronto, o aconseiadô estava com os óio fechado, ele num sabia o qui o padre queria prová, mais num ia se acovardá
Imagine o significado do que o amigo está ouvindo.
o aconseiadô tava com as vista fechada, mais num parecia fazê cara de espanto ou estranheza, num parecia tá num horripilante pesadelo ou doce paraíso. A procissão dos baruio passava misturada com o vozerio daquela gente morta, capacho da boa vida dos hôme e muié do bem, Não havia me dado conta desse cheiro. É um fedor insuportável.
Não abra os olhos, continue.
escutava em silêncio. Abriu os óio e viu o barbêro-sangradô, pela primêra veiz. O preto cortava os cabelo dos preto, raspava a barba dos preto, sabia tumbém, tirá o sangue doente dos preto. Gostava de fazê uso das chamichunga. Isso dava pra vê só de oiá. Num precisava nem puruguntá. O adoentado sentado na calçada, ou em pedra solta com tamanho de banco, entregue nas habilidade do barbêro com as bicha parasita, inté terminá a sangria do veneno do sangue sarará ou criolo. Num era coisa bunita de vê, mais dava de vê qui fazia o qui gostava de fazê
mais adiante, tinha os tambô e as cantoria feita no céu aberto da luz livre. A rua da floresta era a rua do batuque com os pé no chão, sem os assoáio das tábua. Os preto batuquêro só precisava tê cuidado com os pulícia. Já vem antes desse tempo, os pulícia existe pra cuidá de protegê a vida e os bão costume dos branco de sangue bão. Foi feita pra protegê os qui manda. Os pulícia da villa tinha nas filêra de subalterno os preto forro. Pru preto era um jeito de meiorá a vida de negro forro jogado na rua. Os preto da pulícia qui era preto avisava das batida nas festa dos batuque; mais tumbém, tinha os negro virado pulícia qui queria esquecê qui era preto e num avisava das batida nos batuque. Num tinha muito desses negro, mais qui tinha isso tinha. Desses qui fingia sabê da vida dos branco, esquecido da vida dos preto. Na sabedoria qui eu sei, um qui otro desembestô de sê dono de preto escravo, mais num conseguiu. Os branco num deixô, inda bem, essa maldade dependia da vontade dos dono de tudo. E os dono de tudo num divide nada com ninguém, muito menos ia dividí escravo com negro forro
seguido chegava nas pulícia as denúncia contra os batuque dos tambô, quase sempre nos domingo. Os pulícia saia pra cumprí as lei do imperadô. Fazê os bão costume vingá a razão branca. As recomendação era uma só: serená os divertimento dos preto forro; silenciá as batucada; pará as dança. Aquele gritedo causava estranheza. Os branco nunca entendeu qui aquele bailado num era briga nem desordem, mais o feitio dos preto encontrá o oiá dos mais antigo qui os antigo. Oiá de ajuda e de amparo dos preto já partido e reconhecimento dos enredo já vivido. Ouví os aconseiamento qui tá na volta, mais escondido dos óio com desusança pra oiá o qui num se mostra. Lutá pra resistí a luz maldosa das treva qui engana o oiá com a luz sombria da caridade qui faz mais prisionêro qui liberta os aprisionado
a gaivota azul voando, os preto cantando o canto dos escravo, muriquinho piquinino, ô parente, muriquinho piquinino de quissamba no cacunda. Purugunta aonde vai, ô parente. Purugunta aonde vai pru quilombo do Dumbá: ei, chora-chora mgongo ê devera chora, mgongo, chora. O moleque de trouxa nas costa, fugindo pru quilombo Dumbá, os otro chora qui num pode ir junto
o aconseiadô mais um tanto pensativo, distraído do próprio silêncio, chegô na beirada das água. Num escutava os canto dos escravo. Parô os passo, mais num parô a tramóia dos pensamento. Ele era o hôme qui alargava ou encurtava as vontade do governadô, ou caminhava a esmo, ou se vestia de paiaço, ou um louco, ou um sábio, ou um abutre. Aprendeu qui podia passeá com a solidão e num parecê enjoado ou idiota. Sabia qui os queixume do siô padre precisava sê oiado com cuidado. Num tinha solução de simplicidade, mais havia de encaminhá alguma providência, O sinhô Padre sabe que o rigor das leis para os negros e miseráveis é fácil!
Sim, meu amigo. Eles já sabem que a primeira tarefa da espada do Imperador é cortar todos, os dois continuava parado na beirada das água, são como os peixes no rio: livres para ficarem nas águas até serem aprisionados nas redes dos pescadores.
E o sinhô Padre me parece um dos melhores pescadores da Villa, o aconseiadô virô as vista inté o siô padre, o pescadô das água num se mexeu, continuô oiando pras água com as rede nas mão
O amigo dá mais importância que mereço e esquece a sua contribuição mais imediata e decisiva: arrasar com os contrários ao Imperador.
as água continuava mansa, mais num escondia o fedô dos peixe morto, os resto qui num prestava da limpeza feita, sem lápide, as mariposa engolindo pedaço de mais tamanho qui elas pra depois voá distorcida inté as flores para suavizá o gosto podre da civilização
No império não precisamos do embaraço e sofrimento dos contrários. O que eu faço? Nada. O Chefe da Polícia é quem prende e solta. Prende e solta e prende. Solta e prende e solta. até quebrar as resistências do mais fraco. Outros só querem ser comprados. Mas nem todos são assim, como crianças que se negam obedecerem. Os casos mais extremos de enfrentamento só fazendo desaparecer, o siô padre pediu qui num lhe fosse dito os detalhe das víscera boiando embaixo das mariposa. A mão desgrudô da otra e subiu inté a testa, pai fiô santo, amém. A cruiz da salvação, Não tem quem mande no sujeito que não quer respeitar, nos casos assim, é melhor dar sumiço, pai fiô santo, amém
os dois hôme de importância pras tramóia na villa continuava parado, oiando as mariposa do rio. Um rezava, o otro lembrava das conversa com o governadô. Na cabeça de gente cabe tanta coisa junta, O problema mais preocupante sua Excelência são os amigos indecentes e descuidados!
Eu sei, Pensavento. Os amigos da fidalguia não podem receber o rigor das leis, nascemos acostumados com tantas bondades. Não nascemos para capacho dos miseráveis, mas precisamos ter quem mande, nosso Imperador precisa tranquilidade para governar.
E na Villa parece que toda fidalguia é aparentada. Todos têm algum interesse que merece cuidado especial.
eu sabia que as notícias novas assustavam, ninguém queria perder as posições que já tinham conquistado depois de tantas intrigas, mentiras, traições e mortes. Não estava em questão estrago desnecessário, Os nossos amigos, não todos, mas quase todos, estão roubando das doações que fazem à construção da igreja do sinhô Padre.
O que fazem de tão grave?
Isso. Roubam o que foi dado. Eles fazem a doação durante o dia do material para construção da igreja.
E...
E à noite, voltam para levar parte do que foi doado. Fingimento de bom amigo e o reconhecimento nas domingueiras do sinhô Padre. Uma disputa de poder e prestígio. Mostrar quem doa mais. A retórica que se impõe pelo discurso e imagens.
Quem fez a acusação?
O sinhô Padre.
Ele garante o que viu?
fiz um pequeno silêncio que pareceu indecisão, mas foi só um jogo de tempo para melhorar minhas palavras a serem ditas, Ele garante que quem viu usava os olhos dele.
o governador não aparentava preocupação, sabia que sentar na cadeira de governador tem um preço, Não podemos deixar esse justiçamento com as Leis Divinas? Afinal, não é roubo de muita gravidade. E caso isso venha a ser considerado roubo. Como acusar de roubo se essas pessoas generosas apenas mudaram de ideia? Eu não me preocuparia com isso.
É um jeito de não fazer o que é preciso ser feito, mas a questão é o sinhô Padre e o sermão das domingueiras.
olhamos a esmo, um ao otro, cada um com a sua solidão. Sabíamos que a traição não faz uma coisa ruim ficar boa, mas faz algo bom quebrar, Deixe-me ver a lista com os nomes.
estendi o papel, o governador se estendeu na leitura além do tempo, Têm nomes que podem aparecer e nomes que não podem ser revelados.
os maus são tão egoístas e os bons tão ingênuos, quase sempre; mas não valem as moedas em meu bolso, são aborrecidos. Gosto de gente boa e má quando é preciso. Sem medo do inferno, inquietos com o paraíso, Excelência, do mesmo jeito que o povo escuta o sermão do sinhô Padre, o Imperador tem ouvidos para escutar. Não faltarão línguas para contar.
balançou a cabeça confirmando o que havia lhe dito. Não me considero um gênio, mas gosto de entender desta arte de mentir enquanto a verdade cochila. Cada dia que escapo das armadilhas, juro que nunca mais mentirei, mas não consigo, Eu sei eu sei, o padreco tem muitos olhos e ouvidos na volta do Imperador.
É muito arriscado fechar os olhos. Sua Excelência ainda estava na reunião quando o pequeno bode, recém-nascido pelo batizado, fez soar o alarme.
Eu lembro, Pensavento. Por isso, lhe chamei aqui. O filho-da-puta deu a deixa para o padreco. Lembre-se de ter cuidado com esse bodinho.
a gaivota azul voando, os preto cantando o canto dos escravo, Ia uê ererê aiô gombê: com licença do curiandamba, com licença do curiacuca, com licença do sinhô môço, com licença do dono de terra
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