Oraniã
Reginaldo Prandi
Oraniã nasce negro e branco e tem dois pais
Ogum venceu a guerra contra Ogotum. Do espólio da guerra trouxe sete escravas. Uma delas era Lacangê, mulher de rara beleza. Ogum amo-a em segredo, escondendo-a para si. Mas seus falsos amigos revelaram o segredo a seu pai Odudua. O pai ordenou a Ogum que trouxesse a escrava à sua presença. Encantado com ela, Odudua a fez sua esposa.
Nove meses depois, Lacangê teve um filho. O menino deixou a todos espantados. Do lado direito, tinha a pela negra, como a de Ogum; do lado esquerdo, a mesma pele alva de Odudua. Ogum e Odudua entreolharam-se, sem nada dizer. Esse menino recebeu o nome de Oraniã. Um dia foi um grande guerreiro, fundou o reino de Oió e foi pai de Xangô.
[249]
Oraniã cria a Terra
No começo só havia água sob o céu e nenhum ser vivente. Olodumare, Deus Supremo, Senhor de Todas as Coisas, criou primeiro sete príncipes e depois alguns artefatos. Em sete sacos pôs búzios, tecidos, pérolas, pedras preciosas. Criou um pano preto e nele embrulhou uma misteriosa substância. Criou uma galinha e uma corrente e sete barras de ferro. Na corrente pendurou os artefatos e os sete príncipes. Pela corrente desceu tudo pelas águas e do alto do Céu deixou cair uma semente. Da semente cresceu uma palmeira, e a palmeira abrigou os sete príncipes. Cada príncipe ganhou uma cidade para governar: Oloú ganhou o reino de Egbá. Onixabé, o reino de Savé. Orangum foi o soberano de Ilá. Oni o rei de Ifé. Ajerô recebeu Ijerô. Alaqueto reinou em Queto. Oraniã, o caçula, foi feito rei de Oió.
Antes de sair para suas cidades, os irmãos repartiram entre si o que lhes havia dado Olodumare. Os mais velhos ficaram com os búzios, o dinheiro, com as pedras preciosas e as joias, os tecidos preciosos e outras riquezas. O mais jovem, que era Oraniã, ficou com a galinha, as sete barras de ferro e o embrulho de pano preto. Quando Oraniã abriu o pano, deparou com uma escura e estranha substãncia, que jogou na água. a substância boiou na superfície e a galinha, voando sobre o montículo, pôs-se a ciscar a tal matéria. O montículo cresceu e cresceu e assim a Terra foi criada. Oraniã desceu à Terra e tomou posse dela. Mas os irmãos mais velhos viram a Terra e pretenderam tomar posse dela. Oraniã tomou suas sete barras de ferro como armas e com elas defendeu a Terra da cobiça dos irmãos. Oraniã venceu os irmãos e poupou suas vidas. Todos foram reis. todos deveram subserviência a Oraniã.
Oraniã foi o grande rei de Oió e Oió, a capital de todas as cidades.
[250]
___________
Leia também:
XXVII – Mitologia dos Orixás: Odudua [245] [247]
XXIX – Mitologia dos Orixás: Orunmilá - Ifá [253] [254]
Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.
Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Reginaldo Prandi
Oraniã nasce negro e branco e tem dois pais
Ogum venceu a guerra contra Ogotum. Do espólio da guerra trouxe sete escravas. Uma delas era Lacangê, mulher de rara beleza. Ogum amo-a em segredo, escondendo-a para si. Mas seus falsos amigos revelaram o segredo a seu pai Odudua. O pai ordenou a Ogum que trouxesse a escrava à sua presença. Encantado com ela, Odudua a fez sua esposa.
Nove meses depois, Lacangê teve um filho. O menino deixou a todos espantados. Do lado direito, tinha a pela negra, como a de Ogum; do lado esquerdo, a mesma pele alva de Odudua. Ogum e Odudua entreolharam-se, sem nada dizer. Esse menino recebeu o nome de Oraniã. Um dia foi um grande guerreiro, fundou o reino de Oió e foi pai de Xangô.
[249]
Oraniã cria a Terra
No começo só havia água sob o céu e nenhum ser vivente. Olodumare, Deus Supremo, Senhor de Todas as Coisas, criou primeiro sete príncipes e depois alguns artefatos. Em sete sacos pôs búzios, tecidos, pérolas, pedras preciosas. Criou um pano preto e nele embrulhou uma misteriosa substância. Criou uma galinha e uma corrente e sete barras de ferro. Na corrente pendurou os artefatos e os sete príncipes. Pela corrente desceu tudo pelas águas e do alto do Céu deixou cair uma semente. Da semente cresceu uma palmeira, e a palmeira abrigou os sete príncipes. Cada príncipe ganhou uma cidade para governar: Oloú ganhou o reino de Egbá. Onixabé, o reino de Savé. Orangum foi o soberano de Ilá. Oni o rei de Ifé. Ajerô recebeu Ijerô. Alaqueto reinou em Queto. Oraniã, o caçula, foi feito rei de Oió.
Antes de sair para suas cidades, os irmãos repartiram entre si o que lhes havia dado Olodumare. Os mais velhos ficaram com os búzios, o dinheiro, com as pedras preciosas e as joias, os tecidos preciosos e outras riquezas. O mais jovem, que era Oraniã, ficou com a galinha, as sete barras de ferro e o embrulho de pano preto. Quando Oraniã abriu o pano, deparou com uma escura e estranha substãncia, que jogou na água. a substância boiou na superfície e a galinha, voando sobre o montículo, pôs-se a ciscar a tal matéria. O montículo cresceu e cresceu e assim a Terra foi criada. Oraniã desceu à Terra e tomou posse dela. Mas os irmãos mais velhos viram a Terra e pretenderam tomar posse dela. Oraniã tomou suas sete barras de ferro como armas e com elas defendeu a Terra da cobiça dos irmãos. Oraniã venceu os irmãos e poupou suas vidas. Todos foram reis. todos deveram subserviência a Oraniã.
Oraniã foi o grande rei de Oió e Oió, a capital de todas as cidades.
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Leia também:
XXVII – Mitologia dos Orixás: Odudua [245] [247]
XXIX – Mitologia dos Orixás: Orunmilá - Ifá [253] [254]
Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.
Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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