quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Meus cúmplices são os negros de todas as raças!

Missa dos Quilombos





"Ofertório"





(Recitado)

Na cuia das mãos 
trazemos o vinho e o pão, 
a luta e a fé dos irmãos, 
que o Corpo e o Sangue do Cristo serão.

(Recitado)

O ouro do Milho 
e não o dos Templos, 
o sangue da Cana 
e não dos Engenhos, 
o pranto do Vinho 
no sangue dos Negros, 
o Pão da Partilha 
dos Pobres Libertos. 

(Recitado)

Trazemos no corpo 
o mel do suor, 
trazemos nos olhos 
a dança da vida, 
trazemos na luta, 
a Morte vencida. 
No peito marcado 
trazemos o Amor. 
Na Páscoa do Filho, 
a Páscoa dos filhos 
recebe, Senhor. 

(Coro-Cantado)

Trazemos nos olhos, 
as águas dos rios, 
o brilho dos peixes, 
a sombra da mata, 
o orvalho da noite, 
o espanto da caça, 
a dança dos ventos, 
a lua de prata, 
trazemos nos olhos 
o mundo, Senhor!

(Recitado)

–Na palma das mâos trazemos o milho, 
a cana cortada, o branco algodão, 
o fumo-resgate, a pinga-refúgio, 
da carne da terra moldamos os potes 
que guardam a água, a flor de alecrim, 
no cheiro de incenso, erguemos o fruto 
do nosso trabalho, Senhor! Olorum!

(Coro-Cantado)

O som do atabaque 
marcando a cadência 
dos negros batuques 
nas noites imensas 
da Africa negra, 
da negra Bahia, 
das Minas Gerais, 
os surdos lamentos, 
calados tormentos, 
acolhe Olorum!

(Recitado)

-Com a força dos bracos lavramos a terra 
cortamos a cana, amarga doçura 
na mesa dos brancos.

- Com a força dos braços cavamos a terra, 
colhemos o ouro que hoje recobre 
a igreja dos brancos.

-Com a força dos braços plantamos na terra, 
o negro café, perene alimento 
do lucro dos brancos.

-Com a força dos braços, o grito entre os dentes, 
a alma em pedaços, erguemos impérios, 
fizemos a América dos filhos dos brancos!

(Coro–Cantado)

A brasa dos ferros lavrou-nos na pele, 
lavrou-nos na alma, caminhos de cruz. 
Recusa Olorum o grito, as correntes 
e a voz do feitor, recebe o lamento, 
acolhe a revolta dos negros, Senhor!

(Recitado)

-Trazemos no peito 
os santos rosários, 
rosários de penas, 
rosários de fé 
na vida liberta, 
na paz dos quilombos 
de negros e brancos 
vermelhos no sangue. 
A Nova Aruanda 
dos filhos do Povo 
acolhe, Olorum!

(Recitado)

Recebe, Senhor 
a cabeça cortada 
do Negro Zumbi, 
guerreiro do Povo, 
irmão dos rebeldes 
nascidos aqui, 
do fundo das veias, 
do fundo da raça, 
o pranto dos negros, 
acolhe Senhor!

(Coro-Cantado)

Os pés tolerados na roda de samba, 
o corpo domado nos ternos do congo, 
inventam na sombra a nova cadência, 
rompendo cadeias, forçando caminhos,
ensaiam libertos a marcha do Povo, 
a festa dos negros, acolhe Olorum!




Cenas "Louvação à Mariama" e "Marcha Final de Banzo e Esperança"





- Mariama,
Iya, Iya, ô,
Mão do Bom Senhor!

Maria Mulata,
Maria daquela
colônia favela
que foi Nazaré.

Morena formosa,
Mater dolorosa,
Sinhá vitoriosa,
Rosário dos pretos mistérios da Fé.

Mãe do Santo, Santa,
Comadre de tantas,
liberta mulhé.

Pobre do Presépio, Forte do Calvário,
Saravá da Páscoa de Ressurreição,
Roseira e corrente do nosso Rosário,
Fiel Companheira da Libertação.

Por teu Ventre Livre, que é o verdadeiro,
pois nos gera livres no Libertador,
acalanta o Povo que está em cativeiro,
Mucama Senhora e Mãe do Senhor.

Canta sobre o Morro tua Profecia,
que derruba os ricos e os grandes, Maria.

Ergue os submetidos, marca os renegados,
samba na alegria dos pés congregados.

Encoraja os gritos, acende os olhares,
ajunta os escravos em novos Palmares.

Desce novamente às redes da vida
do teu Povo Negro, Negra Aparecida!




Missa dos Quilombos - Cia. Ensaio Aberto - 2002








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