quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Maradona

Eduardo Galeano



Maradona


Nenhum jogador consagrado tinha denunciado sem papas na língua os amos do negócio do futebol. Foi o esportista mais famoso e popular de todos os tempos quem rompeu barreiras na defesa dos jogadores que não eram famosos nem populares.

Esse ídolo generoso e solidário tinha sido capaz de cometer, em apenas cinco minutos os dois gols mais contraditórios de toda a história do futebol. Seus devotos o veneravam pelos dois: não apenas era digno de admiração o gol do artista, bordado pelas diabruras de suas pernas, como também, e talvez mais, o gol do ladrão, que sua mão roubou.

Diego Armando Maradona foi adorado não apenas por causa de seus prodigiosos malabarismos, mas também porque era um deus sujo, pecador, o mais humano dos deuses. Qualquer um podia reconhecer nele uma síntese ambulante das fraquezas humanas: mulherengo, beberrão, comilão, malandro, mentiroso, fanfarrão, irresponsável.

Mas os deuses não se aposentam, por mais humanos que sejam.

Ele jamais conseguiu voltar para a anônima multidão de onde vinha.

A fama, que o havia salvo da miséria, tornou-o prisioneiro.

Maradona foi condenado a se achar Maradona e obrigado a ser a estrela de cada festa, o bebê de cada batismo, o morto de cada velório.

Mais devastadora que a cocaína foi a sucessoína. As análises, de urina ou de sangue, não detectam essa droga.


um gol normal pq humano





um gol genial pq derrotou a guerra




rindo sozinho,,,





02 abril, maio e junho de 1982...

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Marco Leite


"Bom vamos lá, Maradona era sim um dependente químico, e daí?

Eu também sou, tem gente que se entope de remédios legalizados e vai tomar uísque junto. 

A tá, mas é legal, né?

Eu sou um alcoólico cruzado em recuperação, você sabe o que é isso?

A grande maioria não vai saber responder, pois não viveu a tragédia da dependência química. 

Maradona, além de um grande futebolista, foi um lutador contra a dependência. Não julgue o que você não conhece. E é bom que não conheça, você não sabe o quanto é doloroso. 

É fácil condenar um dependente, mas entender e estender a mão é muito mais difícil. 

Mais empatia, respeitem a morte de alguém, não maldiga um dependente, pois de repente ele pode ser uma pessoa amada sua, ou até você mesmo. Pois, a dependência é consequência de abandono e desamor."



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