segunda-feira, 2 de novembro de 2020

mulheres descalças: gostar sem resistir

mulheres descalças



gostar sem resistir
Ensaio 127Bzn – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



Por que o sinhô Augusto casou comigo? Não entendo. Nunca teve nada antes, num teve pedido nem aviso. Foi um jeito de comprar sem pagar? Um negócio de ocasião?

a conversa dusdois sempre terminava assim: sangramento invisível dum lado, tristeza agoniada dotro lado, uqui falava num chegava inté o curação duqui escutava, uma vida sem sentido qui usdois teimava continuá

se pruguntá prusdois nenhum sabe dizê pruqui continua junto nem pruqui se ajuntô, num tem formigamento 
– nem parece qui já teve , só tem custume mais aborrecimento descabido, uma dô pra sempre quando tá junto e quando num tá, uma ferida qui num fecha, tá lá, sempre avivando e estragando purulenta, só faz tê gosto ditá notro tempo, notro lugá qui nunca vai tá, A alforria da Antônia vai trazer muitos benefícios para a casa, inclusive para dona Rosinha...

Para mim? Por que para mim, o siô augusto sorriu da própria esperteza, como se tivesse agarrado alguma preta como sempre quis, a resposta tava pronta na ponta da língua, animada pra se soltá, e se soltô, Dona Rosinha vai precisar se movimentar mais na casa, verdade seja dita, a preguiça não é uma boa companhia. Um pouco do serviço da casa vai lhe ajudar aa manter os calcanhares longe do chão. E assim, quem sabe, por meio das linhas tortas, dona Rosinha recupera um pouco da antiga formosura das curvas suaves.

quanto mais dona rosinha gritá ou reclamá mais o siô augusto vai torcê ou distorcê meió pra enfeitá as vontade escondida das lembrança duqui fez ou num fez, mais num sentia remorso das coisa feita ruim ou boa, tinha o silêncio da casa qui num pruguntava sobre uqui fez ou num fez, do mesmo jeito qui alguma das puta do beco dos pecado qui ele imaginava conhecê como a palma da mão qui lhe esfregava pra cima e pra baixo inté moiá as virilha

depois da travessura oiava pra canhota e acusava ela disê atrevida e desassossegada, recomendava qui ela, 
pelo menos, podia sê mais cuidadosa e demorada enquanto a destra apalpava o fundo do vaso, Usar das mãos e não precisar pagar é melhor que barato, conversava animado cuas mão, e o prazer de me dar é muito gostoso. Não tem como fugir. Maravilha! É como espremer com a unha um pulgão e vê explodir o sangue, apertar um piolho ou um criolo assombrado. É gostar sem resistir.





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é bão lê tumbém:
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida 
histórias de avoinha: o feitiço das trança 
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa... 
mulheres descalças: Mas você devia! 
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: a perigosa é ela 
mulheres descalças: uma resposta deboche
mulheres descalças: buraco do barranco


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