segunda-feira, 9 de novembro de 2020

mulheres descalças: buraco do barranco

 mulheres descalças




buraco do barranco
Ensaio 127Bzo – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



ele podia tudo, e mais importante, o siô augusto inté podia se gostá sem desapontamento, tanto podia usá a direita tanto se dava se usava a canhota, ele se ria fácil ditudo – ou quase tudo, sabia qui mandava só da porta pra dentro –, num podia matá, mais podia mandá forte e frio, libertá ou prendê pra sempre, usá ou desusá, abusá ou pouco cuidá, Tudo tem dono e todo dono é correntista, prefere amarrar do que soltar os desgraçados. Fodam-se, desafortunados! Assim como a mulher está destinada ao prazer do homem, o destino da negrada é ser usada até ser jogada fora. Nunca vão ser gente!

maisqueria sê falado e comentado como caridoso e refém da decência, Fazer caridade faz subir o nome do caridoso com as pessoas de bem – gente caridosa e decente da Villa –, mais na solidão da noite num tem saída sabê qui a cama fica vazia sem o calô da vontade qui dá vontade ditá junto, a grandeza disê hôme se desfaz na solidão sem solução

a caridade num tem desejo pra curá ou fazê justiça nem apetece pru caridoso fazê a vida ficá diferente, reclama e pisa na pobreza quié uma invenção dusqui qué mais e mais duqui precisa tê, gente soberba qui precisa das esmola quidá pra se aliviá das morte qui tem nas mão, precisa descarregá a dô na barriga mofando nas gaveta das lembrança qui parece coisa simples

tem veiz qui num dá pra disfarçá tanta gente em ruína qui brota nas ruela da villa, as abelha aumenta o mel e as formiga trabáia dia e noite carregando nas costa as tripa, pedaço à pedaço, enquanto as larva desova nuqui já viveu e foi descartado no lodaçal dos barranco da morte qui num fica limpo ditê gente branca e preta desmanchando, estendida cuspé junto, gente qui já foi gente e num vive mais, tudo enfiado nos barranco do barranco da morte pra sossego e apetite das larva caridosa qui vive das carne de gente branca e preta – carne sem cô, sem soberba, sem calô da vontade, na solidão sem solução, pele e osso qui fede e chêra do mesmo feitio qui gosto podre



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é bão lê tumbém:

histórias de avoinha: Sinto-me tão só
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o feitiço das trança
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: a perigosa é ela
mulheres descalças: uma resposta deboche
mulheres descalças: gostar sem resistir 

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