Ensaio 13B
baitasar
Gabriela
Milagre voltô pras tarefa na casa grande e na senzala. Deixô as lembrança lhe
amornando, mais parava qui caminhava. Abeirava os alarido dos preto qui se
confundia com as ordem do trabalho. Escutava, a cada pouco mais junto, o jovem
Capitão, ele gritava as tarefa de cada um dos preto. Um negro qui se dava
consideração de importância como coletô de preto fujão. Uma cabeça carrerista,
um caçadô farejadô, tinha o jeito pra rastreá, o faro pra acossá e o gosto de
aprisioná
— Cadê a escrava Gabriela?
Ela
não dormiu nos grilhão, chegava devagá, sem pressa, as perna mole num corpo
alegre com os mimo qui recebeu do Josino, vinha da pedra do amô, Gostei de ficá
com ocê, meu preto gostoso, ela sabia qui aquele preto encantado pelo amô,
tinha força de lhe deitá em cima, lhe fazê as carícia do amô no próprio gosto,
Ainda bem, qui pra ocê, mais lhe dá gosto vê a sua preta montada na sela de
cavalgá. Ela aproveitô até antes do nascê do sol sem as corrente, um soltura de
fingimento, continuava com dono, não podia saí pra onde queria, sentia as
corrente sem tê lugá de fugí, Se é assim qui é, assim é qui vai sê. Os dois
foram perto de perdê o sono da terra, saíram de barco na rua larga das água,
até chegá nos pai e nas mãe, subiram na árvore fincada até enraizá, no dia qui
o primeiro preto saiu acorrentado dali, arrancado com a lágrima da saudade dos
pai e das mãe, espalhado dos fiô e das fiá, sem voltá, esquecido, as vista perdendo
a terra até qui só tinha aquela largura das água pra olhá. Por isso, porque os
dois tinha encontrado o lugá de plantá a árvore, um não deixava o outro afrouxá
o nó, um jeito de fazê o amô e provocá as lembrança da terra das árvore
fincada, crescendo, esperando os dois, mais era preciso fazê o outro gozá
primeiro. Enraizá a terra. Perdia as lembrança quem se derramava antes,
Apressa, apressa, meu preto, não deixa eu sozinha nessa alegria, apressa,
apressa... Ele apressô o apetite, mais na intenção de ficá pronto depois dela,
Apressa, assim, assim, apressa, mais, mais, apressa. Ele desapressô, não queria
lhe soltá. A muié lhe bateu na perna, Não para, não para. Até qui ele caiu na
tocaia da sua preta, To indo, to indo, Assim, assim é melhô, meu preto.
Apressô, apressô e desatô. Ela lhe sorriu e desafiô, Continua, não para,
continua, continua, até qui ela também se desatô, Ocê é maluca, É só imaginação
— Quem qué sabê?
Parô
na frente do Capitão, serena entre os alarido e a agitação da senzala. Não
podia evitá aquele preto e branco agressivo, amargurado, ele sabia qui não era
branco, tudo qui queria sê. Tinha um pedaço do siô, mais uma lasca não fazia
dele um branco inteiro, inda mais se o naco qui parecia sê do pai no fiô era só
o viço da verdura no olho, nem era nas duas vista, a outra vista era na cô dos
olho dos preto. Dois mundo nas vista e a sanha do mundo todo no coração. O qui
podia lhe fazê entendê melhô as pessoa, separava o Capitão em dois, não era de
nenhum lado, não era de nenhum amô, era todo desapego, só tinha uma lasca da
alegria quando o siô lhe tratava como um desbravadô, Esse guri não foge da
doença, nem do sol, entra no mato com gosto atrás dos negro, nada lhe mete medo
— A sinhá Casta!
A
siá perdia o sono cedo e chamava sua mucama da predileção, O marido já reparou
com a escrava Gabriela Milagre é limpa, não tem cheiro de negro, E eu, lá tenho
tempo para perder com isso, os negros são raça inferior, a culpa é deles de
serem escravos, deviam agradecer tudo o que fazemos por eles, A Gabriela é
diferente se parece com uma princesa, Agora chega, dona Casta, pare com essa
conversa de mau gosto, macaco não tem princesa, precisa ter é um dono, são raça
de menor importância. Enquanto durava a estima da siá, a nêga Gabriela era
apaniguada da casa grande, mais carregava nas costa o olhá da desconfiança dos
preto qui ficava na palha da senzala
— Lhe chama no quarto, qué um banho de
quentura, coisa pra espantá a preguiça.
Isso
era o qui saia da boca da siá e chegava nos ouvido de surdo do siô, mais o qui
ela não podia lhe dizê, por medo, falta de ousadia, era qui as mão da Gabriela
Milagre, limpando as sujeira do sió na sua carne, lhe dava mais alegria e
contentamento qui as mãos grosseira dele, as mão preta chegava perto de acabá
com a eterna fartura da fome de sê comida
— Já vô!
Olhô
as vista colorida do Capitão e não quis odiá, não queria se desgrudá das
lembrança da noite, as mão do Josino, o jeito como ela o deixô entrá, as súplica
do seu homem encantado, Eu quero ocê, muié, Ocê qué as minha virilha, Também
quero, mais quero a muié toda, quero ocê faiscando, como as pedra se batendo, O
qui ocê gosta, Gosto de ocê me dizendo qui sô ansiado, apreciado nas tua vista
de muié, Então, para de dizê o qui qué, mostra qui qué. Gostava de senti, até
tê o perfume do amô do Josino dentro da carne, Tu tem o cheiro da vida
— É coisa de fazê agora, pra já!
Ela
desistiu de retrucá, foi pra cozinha avivá o brazeiro. Depois carregô a água
aquecida até a tina no quarto do banho
— Siá... o banho... tá pronto...
A
siá da casa grande saiu do quarto de dormí, tava dentro dum camisolão branco
qui descia até os pé
— Bom dia, Gabriela Milagre.
Gostava
quando a siá lhe usava o nome, parecia qui não era invisível, Josino, ocê sabe
o qui é sê invisível, É sê assim, como tu, como eu, até pode tê existido, mais
não existiu de verdade
— Bom dia, siá Casta.
A
cor da pele, o nariz, o cabelo, não era o mesmo, duas muié diferente, a siá
parecia destinada a sê livre e a mandá; a Gabriela Milagre, a sê escrava, a sê
mandada, nada ficava ao acaso, a siá tinha o direito de tê sua escrava, Dona Casta,
a sinhá pode ter uma escrava de uso próprio, mas precisa dar jeito de controlar
o relaxamento e o desânimo da negra, é gente incapaz de raciocinar, O que eu
não conseguir, o sinhô, meu marido, há de ensinar
— Hoje, quero um banho demorado, o sinhô
me fez uso como sua mulher, quem sabe se a minha barriga, bem amornada,
consegue segurar e faz brotar a sementinha? O que você acha, Gabriela?
— Quem pode sabê o qui acontece na barriga
da muié?
A
siá Casta deixô o camisolão lhe caí até os pé, a brancura da pele marcava o
lugá da plumagem preta. A nêga Gabriela lhe ajudô entrá no banho, mais a água
morna não lhe conseguia despertá da tristeza
— Não existe justeza na vida... o sinhô
faz os seus filhos às pencas com as negras, encarapinhadas, nariz largo,
fedidas, mas na sua esposa nenhuma semente, nada me ficou das vezes que tentou
me plantar.
Gabriela
Milagre lhe esfregava as costa, a pela tão branca, tão fina, delicada, tão sem
cheiro da vida, Josino, a siá tá aprisionada pelo fiô qui não vem, O guri deve
tá perdido em algum lugá, Tem gaiola pra todo gosto
— O qui tem qui sê, vai sê.
A
siá levanto pra qui a Gabriela Milagre pudesse esfregá as parte logo acima das
perna, virô as vista pra baixo, olhava as mão da muié negra qui lhe limpava dos
cheiro do siô
— Vou pedir ao santo padre que reze missa,
numa coisa de tanta importância, como um filho legítimo para o sinhô, a Virgem
há de interceder.
Abriu
a perna, para que a mão da Gabriela Milagre pudesse lhe alcançá toda. Desceu as
mão até os joelho, ficô dobrada pra qui a negra pudesse lhe alcançá por trás
— Se cada sinhá da casa grande pudesse ter
uma negra como você, não pensaria duas vezes para ter.
Sentô
na água e reclamô do esfriamento
— Vô lhe colocá mais quentura...
A
siá lhe segurô o braço, mirava o espelho da água
— Não saia, deixe como está...
Pegô
a mão da mucama e colocô no peito
— Passe sua mão, me lave do sinhô.
Os
bico arrebitado lhe deixava desconfiança das vontade da siá. Ela desceu as
vista, parecia resignada, triste da falta de um fiô. Culpada. Assim, desse
jeito, ninguém sente as coisa direito. A siá lamentava não tê um branquela pra
amamentá. O lamento não ajudá pensá, não deixa sentí. Tava com dó da siá.
Desceu a mão e lhe fez sabê, lhe fez vê o brazeiro. Ensinô o qui procurá com o
siô.
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